FONCHITO E A
LUA
Apesar
de adorar TEATRO INFANTIL ou INFANTO-JUVENIL, e de valorizá-lo muito,
como um elemento muito importante para a formação de um indivíduo, de pouco tempo disponho para assistir a
espetáculos desse gênero. Um outro
motivo explica a minha rara presença em peças direcionadas a tal público: é a
má qualidade dos espetáculos apresentados – a grande maioria,
infelizmente.
Tem havido um
certo avanço, com relação a uma melhoria nessa qualidade, porém raras são as peças
que merecem ser vistas pelas crianças, as quais são dignas de todo respeito e
atenção. Merecem assistir a bons espetáculos.
Isso é muito
ruim, porque, ao invés de atrair aqueles que serão o futuro público de TEATRO, afasta-os, cada vez mais.
É muito triste
ouvir, de uma criança, diante de um convite dos pais, para assistir a um
espetáculo infantil: “Não quero ir;
teatrinho é muito chato”. Até o
diminutivo, neste caso, assume uma conotação pejorativa.
É ótimo, porém,
quando me dirijo ao meu neto, Tomás, de sete anos, e o convido para uma peça
infantil, dizendo-lhe que é feita pelo mesmo ator de O MENINO QUE VENDIA PALAVRAS, que ele adorou, e a resposta é: “Claro, vovô! Adorei aquela peça!”. Na sua cabecinha, deveria estar se passando o
seguinte raciocínio: “Se aquela foi boa,
com aquele ator, esta também o será.”.
Quando,
no meio desse deserto de más e péssimas produções, floresce um oásis, consigo
sempre um tempo para assistir a esse “milagre” e não me canso de recomendá-lo
aos meus amigos que têm crianças e pré-adolescentes.
É o caso de FONCHITO E A LUA, que está em cartaz,
até o dia 16 de março, num espaço alternativo do CCBB do Rio de Janeiro.
A
peça é uma adaptação inédita, para TEATRO,
brilhantemente feita por PEDRO BRÍCIO,
do único livro infantil escrito pelo peruano MARIO VARGAS LLOSA, Prêmio Nobel de Literatura, em 2010, e não tem
como não agradar, uma vez que seu tema é a descoberta do amor.
Na
trama, o pequeno FONCHITO,
personagem vivido por PABLO SANÁBIO,
morre de vontade de dar um ingênuo beijinho no rosto de NEREIDA, personagem encarnada por THAIS BELCHIOR, “a menina mais bonita da escola”.
Mas, como nem
tudo é tão simples, ela só aceitará o carinho, se o apaixonado pretendente
puder lhe trazer, nada mais, nada menos do que a Lua.
Em Lima,
capital peruana, onde se passa a história, a Lua aparece muito pouco, já que o
céu quase sempre está nublado. Mas, como
nada é impossível, com a indispensável ajuda dos amigos LEON (FELIPE LIMA) e MARTIN
(MARINO ROCHA, que também faz uma
LHAMA), após algumas tentativas frustradas, no terraço de sua própria casa,
“numa noite de sorte”, FONCHITO
descobrirá uma maneira de conseguir o que tanto queria, uma grande surpresa, no
final da peça.
Completa o
elenco, todos muito afinados em seus papéis, RAQUEL ROCHA (PROFESSORA RONAI, LUCRÉCIA, CARMEM e MOTORISTA).
Para quem não
dispõe desta informação, quero dizer que não é tarefa fácil um adulto
representar personagens infantis, sem cair no ridículo do extremo
estereotipado. Excelentes atores que são,
os cinco, certamente com o dedo da direção, não extrapolam nos gestos nem no
timbre e no tom de voz, o que atribui mais verdade aos fictícios personagens. Bela atuação do quinteto.
O espetáculo pode ser considerado uma grande viagem
pela descoberta do primeiro amor, dentro de uma aura de pureza e ingenuidade.
A montagem explora uma experiência sensorial,
convidando os espectadores a um passeio pela rica cultura dos países da América
Latina, em especial a do Peru, onde se desenrola a história.
Pelo corredor de entrada do teatro, uma viagem por inúmeros lugares do
nosso grande continente – imagens, cheiros, melodias – nos conta um pouco mais
das nossas tradições e dos nossos vizinhos, até chegar à sala de encenação,
parada final da viagem: Lima, Peru.
FONCHITO E A
LUA é um espetáculo para todas as idades, sem jamais infantilizar a
linguagem e a narrativa. Crianças e adultos embarcarão nessa viagem e poderão
dividir, com os personagens, o aprendizado sobre o confronto dos seus desejos e
anseios e, fundamentalmente, formar um espírito crítico sobre o mundo em que
vivem.
As crianças menores não irão atingir a grande
mensagem da peça, de que sempre vale a pena lutar por um desejo, nunca crer no
impossível e que tudo vale a pena, quando se trata de um amor, entretanto vão
se extasiar com a rica plasticidade proposta pela direção de arte e os figurinos,
lindíssimos, diga-se de passagem, de RONALDO
FRAGA, estilista de renome internacional, e pela linda cenografia de CLARISSA NEVES
e PAULO WAISBERG. Aliás, eu não chamaria aquilo de “cenário”, e sim de uma “ambientação”, uma vez que explora todo
o espaço de encenação. Chão forrado por
esteiras; dezenas (creio que bem mais de uma centena) de bandeirolas pendem do
teto, com ícones da cultura sul-americana, em desenhos vazados sobre tecido (um
primor de delicadeza); e ambientação de uma escola, além de um enorme paredão,
forrado por capim seco, por onde os atores se movimentam.
A direção
da peça é assinada por um dos melhores diretores de TEATRO do Brasil, um dos fundadores da CIA. ATORES DE LAURA, DANIEL
HERZ, impecável com sua batuta. Na
sua assistência, CLARISSA KAHANE.
A trilha
sonora original, um grande detalhe à
parte, é de PAULO SANTOS e do GRUPO UAKTI.
Todo o encanto sugerido pela ambientação cenográfica
perderia um pouco de seu brilho, não fosse a linda iluminação de um grande mestre: AURÉLIO DE SIMONI. Que luz
fantástica, AURÉLIO!
Um trabalho que vem enriquecendo, cada vez mais, as
montagens teatrais, nos últimos tempos, é a chamada direção de movimentos, área dominada pelo talento de MÁRCIA RUBIN. Excelente o seu trabalho nesta peça.
A idealização
do espetáculo é de PABLO SANÁBIO
e FELIPE LIMA. Essa dupla já foi responsável por grandes
espetáculos, infantis e “de adultos”, e promete nos brindar com futuros
projetos, que serão, certamente, do mesmo altíssimo nível deste FONCHITO E A LUA.
Depois de O
MENINO QUE VENDIA PALAVRAS e FONCHITO
E A LUA, PABLO SANÁBIO passou a
ser admirado também pelo público infantil e infanto-juvenil e, por tal motivo, “está
intimado” a não abandonar os “pequenininhos”.
Por que a gente tem de crescer? Para levar nossos filhos e netos para assistirem
a espetáculos como FONCHITO E A LUA
e descobrir que a nossa criança não morre nunca; apenas dorme mais um pouquinho
que o normal, porém desperta, quando algo merece fazê-la interromper o sono.
A minha criança te agradece, PABLITO, querido, (além de carinhoso, é para rimar com FONCHITO).
EU E DANIEL HERZ
EU E PABLO SANÁBIO
EU E FELIPE LIMA
EU E MARINO ROCHA
EU E THAIS BELCHIOR
Que alegria ler suas palavras Gilberto !!!!! Com o seu olhar, vc conta esta estória conosco.
ResponderExcluirParabéns !!!
Quem ainda não viu? Corre... o último a chegar é mulher do padre!!!!!!
ResponderExcluirJá comprei os ingressos para o dia 16!!! Obaaaaa!!!
ResponderExcluirÉ muito lindo e delicado, fiquei apaixonada!!
ResponderExcluirVejo muita pela infantil, mas essa ainda não tinha visto e fiquei com muita vontade de levar minha filha depois do que você escreveu. Me impressionou muito a ficha técnica do espetáculo. Abraços
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