“32º FESTIVAL DE CURITIBA”
(ABERTURA)
“CAPRICHOSO
E GARANTIDO:
O DUELO DA AMAZÔNIA.”
ou
(O BRASIL NÃO CONHECE O BRASIL, MAS
PRECISA, URGENTEMENTE, CONHECÊ-LO.)
Inicio aqui a série de publicações sobre o “32º FESTIVAL DE CURITIBA”, principalmente as críticas, no total de 10 a 12 – ainda não me decidi - que passarei a publicar, a partir de agora e no decorrer de, no máximo, um mês, sempre agradecendo aos organizadores do evento e a todos os que me cercaram de gentilezas e atenção durante as duas semanas em que permaneci na capital paranaense, já pensando no próximo.
Esperava,
sim, que fosse uma grande noite, daquelas que ficam, indelevelmente, gravadas
na nossa memória afetiva, mas não tinha ideia da dimensão do espetáculo a que
eu iria assistir, na abertura oficial do “32º
FESTIVAL DE CURITIBA”, naquele 25
de março de 2024, num local de dimensões gigantescas, o “Viasoft Experience”, dentro do
campus da Universidade Positivo,
que recebeu, pelos meus cálculos, cerca de duas mil pessoas, convidadas para o evento.
Não
foi, certamente, o espetáculo que mais me impactou, entretanto foi dos que mais
me emocionaram e um que comprovou a velha, e triste, teoria de que “o Brasil não conhece o Brasil”; mas
precisa conhecê-lo, INCLUSIVE EU.
E com a maior urgência. Foi, entretanto, quero crer, a ação mais "ousada" por parte dos organizadores do “FESTIVAL”:
levar à capital paranaense, da longínqua cidade de Parintins,
no coração da Amazônia, a
exatos 2689 quilômetros de distância
de Curitiba, alguns artistas, uma ínfima mostra, dos grupos “CAPRICHOSO” e “GRANTIDO”, para uma demonstração do
que acontece, no meio de cada ano, quando da realização do “Festival Folclórico de Parintins”,
uma festa popular, reconhecida, pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), como "Patrimônio Cultural do Brasil", na ilha de Parintins, às margens do rio Amazonas, evento que está, para
este estado, como o carnaval,
para o Rio de Janeiro. No ano
em curso, o grandioso espetáculo, em sua 57ª
edição, ocorrerá entre os dias 28
e 30 de junho (sempre no último final de semana de junho). É uma
indescritível festa, com direito a alegorias, torcidas fanáticas, e frenéticas,
e fantasias extravagantes, além de muita música e danças, é claro.
A
palavra “DUELO” não se aplica,
absolutamente, a alguma luta ou agressão física, mas, sim, a uma competição artístico-cultural, que mexe,
principalmente, com todos os locais e a quantidade incalculável de visitantes,
turistas do Brasil e do
exterior, os quais se colocam a favor de um dos dois “duelistas”: o BOI
CAPRICHOSO, representado pela cor azul,
e o BOI GARANTIDO, pelo vermelho.
Durante um final de semana, de sexta-feira a domingo, eles competem, entre si,
por meio de algo próximo a uma representação
teatral, exaltando a cultura
indígena, cabocla e ribeirinha, tão esquecidas dos
brasileiros, em geral. Os participantes diretos dos grupos, chamados de “brincantes”, entre toadas e canções,
exaltam os mitos, crenças, lendas, ritos
e a história da região. O “FESTIVAL” acontece num espaço
especialmente construído para sua realização, no meio da cidade, chamado de “Centro Cultural de Parintins”, mais
conhecido como “Bumbódromo”,
com capacidade para 35.000 espectadores.
Na época do “Festival”, a
população de Parintins, que
gira em torno de 120.000 habitantes,
chega a quase dobrar, o que movimenta bastante a economia local e do estado do
Amazonas.
As
torcidas, rivais apenas na competição,
e jamais inimigas, ocupam, separadas uma da outra, cada metade da arena
e são fundamentais na competição, uma vez que a animação de cada uma delas vale
muito na avaliação dos juízes, os quais definirão o vencedor de cada edição da
festa. Elas se respeitam, mutuamente, e, enquanto um grupo se apresenta, a
torcida do outro é obrigada a se manter em total silêncio e, caso haja alguma
manifestação contrária, o BOI
que está se apresentando perde pontos na avaliação, o que, segundo informou um dirigente de um deles, durante a primeira entrevista coletiva de imprensa, no “32ª FESTIVAL DE CURITIBA”, jamais
ocorreu, em 56 anos de festa.
Confesso,
sem nenhum constrangimento e usando da maior sinceridade possível, que me
caracteriza, que, por duas vezes, tentei assistir, pela televisão (Ele é transmitido para o Rio de Janeiro, por uma emissora de TV.), àquele “Festival”, entretanto achava tudo muito confuso e – perdão – “CHATO”, porque tudo me parecia muito repetitivo e eu não
conseguia entender nada, porque nada sabia da estrutura e dinâmica, da representatividade e
importância da festa. Na verdade, eu estava olhando para a tela como um “turista estrangeiro”, diante de um
desfile de escolas de samba do carnaval carioca: extasiado com a plasticidade e
encantado com a beleza de luzes e cores, ainda que não muito empolgado com as
canções; apenas isso. E passei a emitir um juízo de valores precipitado, admito hoje, sobre aquela grandiosa festa
popular: “Não me interessa isso,
porque não consigo entender nada dessa coisa ‘chata’!”. Antes das
pedradas virtuais que possam chegar até mim, sugiro que as guardem para outras “marias madalenas”, visto que mudei, TOTAL e RADICALMENTE,
o meu conceito sobre o “Festival de
Parintins” e passei a ser um dos seus maiores entusiastas, o que
aconteceu por dois motivos.
Primeiramente,
fiquei emocionado e fascinado com a entrevista que alguns dos membros dos dois BOIS concederam, na manhã daquele
mesmo dia em que se apresentariam. E não pensem que estou sendo “dramático”, “piegas” ou coisa parecida, mas, escrevendo agora, arrepio-me,
de vez em quando, só de me lembrar da entrevista da manhã e do espetáculo da
noite. Naquele dia, pela boca dos artistas convidados, aprendi a dinâmica dos
“duelos”. Ali, entendi qual é
o papel de cada “brincante”
dentro do “Bumbódromo”, da mesma
forma como, sem querer fazer qualquer
comparação, numa escola de samba, dentro do “Sambódromo”, cada uma de suas “células” (comissão de
frente, passistas, destaques, mestre-sala e porta-bandeira, velha guarda,
bateria, alegorias...) tem sua função. São
quesitos julgados por técnicos em cada assunto. No “Festival Folclórico de Parintins”, dá-se o mesmo; ninguém está
ali por acaso ou para preencher espaços. Se não me equivoco, se as fontes que
consultei estiverem corretas, são 21 itens
(quesitos) a serem apreciados e avaliados, dentre os quais, dos que me
recordo, mencionados naquela entrevista, eis alguns: apresentador, marujada
ou batucada, levantador de toadas
(equivalente ao “puxador”, da escola de samba. O cantor Jamelão deve estar
dando cambalhotas no túmulo. Momento descontração.), cunhã-poranga, rainha do folclore, sinhazinha da fazenda, pajé, porta-estandarte, amo
do boi e encenação.
Para maiores informações, é só “dar um
Google”, como eu fiz, porque tive interesse em fazê-lo.
O
segundo motivo não pode ser explicado, mas apenas sentido. Eu, que, durante
muitos anos, assisti aos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro ao vivo, “in loco”, depois, durante um bom
tempo, passei a fazê-lo de casa, pela TV, e, hoje, nem me interesso mais por
eles, entendo, perfeitamente, que estar no “Sambódromo” ou, confortavelmente, deitado numa cama, ar-condicionado ligado, para amenizar o calor do verão carioca, não são, nem podem ser, a mesma coisa.
A emoção e a vibração giram em “vibes”
diferentes. E por que haveria de ser de outra forma, com relação aos BOIS? Naquela noite de abertura do “32º FESTIVAL DE CURITIBA”, eu fazia
parte da multidão que aguardava, ansiosa e com muita curiosidade, a entrada de CAPRICHOSO e GARANTIDO, segurando bandeirinhas, azuis
ou vermelhas,
que nos haviam sido oferecidas, quando adentrávamos o espaço em que se daria,
num palco (Olha o TEATRO aí, gente!),
o tão esperado “duelo”. E
quando o espetáculo começou, ninguém segurava ninguém; muito menos se segurava.
O ritmo é indescritível. A sensação de
liberdade é intensa. A alegria é contagiante. Totalmente indiferente às
regras da competição, eu, e muita gente também, agitava as bandeirinhas: ora uma,
vermelha;
ora outra, azul. Não estava nem
aí! Não torcia por ninguém. Torcia, sim, para que aquele momento não
terminasse. Só agradecia a Deus,
aos organizadores do “32º FESTIVAL DE
CURITIBA” e aos DEUSES DO
TEATRO, os quais, como pagãos, também caíam na folia, pela graça de
estar ali, testemunhando aquela efeméride, aquela integração dionisíaca.
Tão “louco” estava eu, com tão pouca
bebida ingerida (apenas duas latas de
cerveja e alguns refrigerantes) –
Podem rir à vontade!), que, quando me dei conta, havia deixado, na
mesa, a bengala que utilizo, para me dar apoio nos meus deslocamentos, e estava
pulando e cantando no meio da multidão (“Vermelhou no curral / O fogo de artifício da vitória
vermelhou” ou “Bate forte o tambor
/ Eu quero tic, tic, tic, tic, tac” – Não
deu para decorar nenhuma letra do CAPRICHOSO, mas prometo que vou aprender.).
QUE CATARSE! E como eu estava
precisando daquilo! E como eu queria estar presente, em Parintins, no próximo “Festival”,
o que, infelizmente, já vou adiantando, não será possível, uma vez que, de acordo
com o que foi dito, na já referida entrevista, desde outubro do ano passado, se
não me engano, parece que todos os ingressos, que não são nada baratos, para os padrões brasileiros, já estão
esgotados, assim como todas as acomodações, em hotéis e similares, estão
reservadas. Talvez seja até melhor mesmo que eu não assista ao “Festival” no “Bumbódromo”, já que o coração de
uma septuagenário pode, de repente, resolver “fazer greve interminável”.
(Foto Xandy Novaski.)
Uma curiosidade bastante interessante e que muito me emocionou: Os BOIS nunca fazem referência ao outro pelo nome; sempre usam o termo “contrário”. Durante a entrevista, na manhã do dia 25 de março de 2024, data histórica, pela primeira vez, em público, ambos, em comum acordo, quebraram esse hábito/pacto e um pronunciou o nome do outro, em respeito e agradecimento ao nosso “FESTIVAL” (Já me “apoderei” dele também. Outro momento descontração.), uma deferência especialíssima, numa demonstração de quão felizes estavam pelo convite. Essas presenças muito nos honraram e agregaram mais valor ao “32º FESTIVAL DE CURITIBA”.
No
mais, viva o “Festival Folclórico de
Parintins”! Viva o CAPRICHOSO! VIVA O GARANTIDO! Viva a Amazônia! Viva a
Cultura Popular Brasileira! E viva o TEATRO!
(Foto: Gilberto Bartholo.)
FOTOS: VÁRIAS FONTES (INTERNET)
GALERIA PARTICULAR
(Fotos: Gilberto Bartholo)
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
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