“RAUL SEIXAS
- O MUSICAL”
ou
(UMA “METAMORFOSE
AMBULANTE”
NUM PALCO DE
TEATRO.)
ou
(E NÃO É QUE,
MESMO MORTO,
O RAUL TOCOU,
“AO
VIVO”?!)
Primeiro, Renato Russo; agora, RAUL
SEIXAS. Quem será o próximo? Haverá um terceiro, um quarto, um
quinto, um sexto...? Pode haver quantos ele quiser, desde que seja mantido o mesmo
“padrão 'musical biográfico' de qualidade” que caracterizou a primeira
experiência, vestiu a segunda e, certamente, não faltará aos futuros
homenageados (?). O “ele”, no caso, é BRUCE GOMLEVSKY; o “quantos
ele quiser” refere-se aos cantores brasileiros, roqueiros ou não, aos
quais o artista deseje prestar um tributo, pelo que representaram, e ainda
representam, para a música brasileira e a nossa CULTURA. Num pobre “país
sem memória”, quando aparece alguém que não seja “desmemoriado” e que
tenha muito talento, é motivo de festa e celebração. Não o seria, se o
resultado do musical aqui comentado não satisfizesse ao público, o
que não é, absolutamente, o caso. Muito pelo contrário. A prova
disso é a sequência de lotações esgotadas, desde sua estreia, com plateias
formadas por gente de várias gerações, aqueles que testemunharam o sucesso (e
o declínio também) do grande astro da música, em vida, e os jovens
que nunca tiveram outra oportunidade de conhecê-lo, a não ser por suas
gravações e vídeos de apresentações no palco. “Renato Russo - O Musical”,
protagonizado pelo mesmo BRUCE
GOMLEVSKY, em cartaz há 18 anos, que combina grandes
sucessos do ícone do “rock” nacional com passagens
importantes de sua breve vida – Renato “foi ao encontro da luz” em 11 de
outubro de 1996, aos 36 anos de idade -, reunidos numa excelente
dramaturgia de Daniela Pereira de Carvalho, com várias temporadas no Rio
de Janeiro e que contabiliza 15 anos de estrada, tendo
percorrido mais de 40 cidades. Foi visto por acima de 30.000 espectadores,
totalizando um excedente de 430 sessões, tendo rendido, a BRUCE
e equipe de criadores, indicações a prêmios e a conquista de alguns. Como se
fizesse parte de um “repertório” do ator, como
ocorria, no passado, com as grandes companhias de TEATRO, o espetáculo estará
pronto a ser reencenado, quando e onde a produção o desejar, continuando a lotar,
invariavelmente, os espaços por onde passar. Da mesma forma, esta é a primeira
temporada de “RAUL SEIXAS – O MUSICAL”,
que vem superlotando um Teatro, dentro do Espaço
EcoVilla Ri Happy”, no interior do complexo Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, desde quando estreou, em 01 de março passado, e
assim será até 28 de abril próximo; e tudo indica que RAUL seguirá os passos de Renato. SINOPSE: Celebrando 300 anos de carreira, BRUCE GOMLEVSKY mergulha no universo
criativo, poético e crítico do “MALUCO BELEZA”, explorando as
complexidades de sua mente artística, a obra de um artista extremamente
inquieto. O espetáculo se
destaca por utilizar manuscritos originais, cedidos pela família Seixas,
revelando uma perspectiva íntima e autêntica do icônico músico. Durante 100 minutos, aceitamos
o convite do anfitrião, BRUCE, e o
acompanhamos por uma viagem onírica, inebriante, fascinante e única. Quem nunca ouviu falar do “Baú
do Raul”, tão repleto de grandes novidades, sob a guarda de uma de
suas viúvas, a quarta, Ângela Affonso Costa, conhecida
como Kika Seixas? Pois ele está presente na peça, fazendo parte da
cenografia,
inclusive. Tudo começa e acaba com um foco sobre ele, o “Baú” que contém
grandes preciosidades. É de dentro dele que sai o próprio protagonista, na
primeira cena, cantando “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”.
E é sobre sua tampa que fica depositado um dos símbolos da morte, ao final da
peça, quando sua passagem pela Terra finda e o autor
do texto, LEONARDO DA SELVA, que também dirige o musical, de forma bem
inteligente, suave e, até mesmo, poética, optou por não deixar que o
espetáculo terminasse “para baixo”. Raul (de todos os) Santos Seixas nasceu em Salvador, no dia 28 de junho de 1945, e morreu em São Paulo, em 21 de agosto de 1989, vítima de uma parada cardíaca. Seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina, na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda fulminante. Cantor, compositor, produtor musical e multi-instrumentista, é considerado, por muitos, um dos pioneiros do "rock" brasileiro e até de o “Pai do 'Rock' Brasileiro”, epíteto, às vezes, contestado. É apelidado de “Maluco Beleza”, “totalmente verdadeiro” (Momento descontração.). Seu estilo musical é tradicionalmente classificado como “rock" e baião e, de fato, conseguiu unir ambos os gêneros, em músicas como “Let Me Sing”, que concorreu a um festival de música popular brasileira. Antes da carreira solo, a partir de quando passou a ganhar notoriedade, fez parte de um grupo de roqueiros, chamado “Raulzito e os Panteras” (Consta que gostava de ser chamado, carinhosamente, de Rauzito.). Era identificado como “contestador e místico”, reconhecimento para o qual contribuíram muito as letras de um de seus parceiros musicais, o mais constante, Paulo Coelho. Era cético e agnóstico e, apesar do fracasso como estudante, interessava-se bastante por filosofia – principalmente por metafísica e ontologia -, psicologia, história, literatura e latim. Leu muito sobra tais assuntos. Tornou-se, na idade adulta, um leitor contumaz e, nas histórias que gostava de ler, e reler, encontrou um personagem que o marcou muito, um “cientista maluco” chamado “Melô”, algo como “amalucado”, o qual viajava para diversos lugares imaginários. Segundo Raul, Melô era a sua “outra parte, a que buscava as respostas, o eu fantástico, viajando, fora da lógica, em uma maquinazinha em que só cabia um só passageiro... Melô-eu.”. Pura identificação! (Mais momento descontração.) (Boa parte das informações contidas neste parágrafo foi pesquisada na Wikipédia.)
No ano de 1974, ele e Paulo Coelho criaram aquilo a que chamaram de "Sociedade Alternativa", baseada nos preceitos do bruxo inglês Aleister Crowley, praticamente
repetindo o chamado “Livro da Lei” (“Faz o que quiseres,
pois é tudo da lei” – Sociedade Alternativa – Raul Seixas e Paulo Coelho.), o que rendeu, aos
dois, problemas sérios com os “gorilões” da ditadura militar,
iniciada em 1964, levando-os, em 1987, à prisão, com “direito”
a sessões de tortura, e ao exílio, nos Estados Unidos. Agradou-me, sobremaneira, o espetáculo, que traz, no “set
list”, 22 canções do homenageado e 4 de
outros compositores que o influenciaram bastante (Luiz Gonzaga – “Vida de Viajante”, Elvis Presley – “Blue Suede
Shoes”, Little Richard – “Lucille”, e The Beatles – “Come Together”) e dramaturgia composta,
exclusivamente, por textos do próprio RAUL. Para que chegasse à organização e escrita
do texto, o diretor, LEONARDO DA SELVA, foi autorizado
pela família do músico, sem o que não teríamos tido a oportunidade de
aplaudir um grande trabalho teatral. DA
SELVA, um jovem de 35 anos,
que tinha cerca de 10,
quando RAUL morreu, teve acesso
aos manuscritos que expõem as reflexões do artista sobre sua obra, seu
país e o papel do artista na sociedade. Todas as canções são
executadas ao vivo, sendo o ator/cantor
acompanhado por uma competente e animada banda.
“SETLIST”: “Eu
Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”, “Maluco Beleza”, “Paranoia”, “Tente Outra Vez”,
“Gita”, “Vida Do Viajante” (Luiz Gonzaga), “Blue Suede Shoes” (Elvis
Presley), “Lucille”
(Little Richard), “Let Me Sing”, “Rock Do Diabo”, “Metamorfose Ambulante”, “Pluct, Plact, Zum”, "Come
Together" (The Beatles), “Rockixe”, “Sessão Das Dez” (trecho), “S.O.S.
Disco Voador”, “Ouro De Tolo”, “Sociedade Alternativa”, “Aluga-se”, “Como
Vovó Já Dizia (Letra Censurada), “Cowboy Fora
Da Lei”, “Prelúdio”, “Trem Das 7”, “Por Quem Os Sinos Dobram”, “Canto Para
Minha Morte”, “Mosca Na Sopa (Bis). Pareceu-me muito bem conduzido o roteiro,
que não deixou de fora nenhum detalhe importante da conturbada vida de RAUL, suas vitórias e fracassos,
estes não “varridos para debaixo do
tapete”. Se é verdade que, a meu juízo, o dramaturgo acertou a mão na escrita, não posso afirmar nada
diferente sobre sua direção.
Os fatos vão desfilando pelo palco, narrados e representados por um multiartista,
como BRUCE GOMLEVSKY, o qual, no decorrer
de três décadas de intensa dedicação ao TEATRO,
já nos legou excelentes trabalhos, como ator e diretor. Sem fazer distinção
entre onde ele atuou em uma ou outra função e também sem obedecer a uma cronologia,
em mais de 50 espetáculos, cito,
como seus trabalhos que muito me marcaram, “O Homem Travesseiroi”, “Uma Ilíada”, “Festa
de Família”, “Um Tartufo”,
“Sangue”, “O Diário de Anne Fkrank”, “Memórias do Esquecimento”, “A Revolução dos Bichos”, “Outra Revolução dos Bichos”, “Diário de um Louco” e, obviamente,
“Renato Russo – O Musical”.
Se me perguntassem se eu prefiro vê-lo e aplaudi-lo, num palco, atuando ou
dirigindo, minha resposta viria em forma de uma outra pergunta: “Vale dizer ‘os
dois?’”. É justo que se faça alusão também à sua vasta atuação
em muitos filme e no audiovisual (TV). Desnecessário é falar do talento de BRUCE GOMLEVSKY, o que seria uma
grande redundância. Mais uma vez, diante de um enorme desafio, para qualquer
ator, ele dá conta de sua função de intérprete e compõe o personagem RAUL SEIXAS bem próximo ao
comportamento do real, principalmente no gestual, atingindo um interessantíssimo
trabalho de corpo, com o auxílio luxuoso de MARINA SALOMON, na direção
de movimento. Senti que não houve, por parte da direção e do ator, o
desejo de imitar, total e perfeitamente, RAUL,
até porque certas pessoas não se permitem ser imitadas. Na voz, nem tanto, quando canta, chega bem próximo à prosódia de um soteropolitano, sem exagero
caricatural. No visagismo, pode
causar algum estranhamento, ao espectador, o fato de não haver semelhança
física entre BRUCE e RAUL. Parece-me que não houve mesmo
tal preocupação, entretanto, na cena em que, sobre o famoso “Baú”, é cantada a canção “Roxixe”, o ator se apresenta
com uma grande semelhança física com o homenageado, fruto de uma caracterização
feita no palco, anteriormente, pelo ator, diante dos espectadores. Aliás, a “metamorfose”,
que faz parte do primeiro subtítulo deste texto, se dá, ao longo de toda a peça, da mesma
forma, com muitas trocas de figurinos, criados por MARIA CALOU, muito ajustados a cada cena. Tão logo me acomodei em minha cadeira, olhei para o palco e vi o que,
naquele momento, me pareceu ser uma gigantesca “poluição visual”, por conta de tantos objetos
cenográficos, que até pensei que atrapalhariam a movimentação do ator em cena.
Confesso que achei “feio e exagerado” ver tanta coisa misturada. No decorrer da peça, percebi, porém, que vários objetos de
cena, utilizados pelo ator, assim como as peças do figurino, que ele ia
descartando, a cada nova cena, depositados dentro daquele “Baú”, não estavam ali por acaso. Só então, percebi que
aquilo que me pareceu um “mau
gosto” do cenógrafo, em forma de um espaço na casa de uma pessoa “acumuladora”, era proposital.
Aquele “caos” representava
o CAOS de uma mente
brilhante, mas, até certo ponto, “desgovernada”,
uma nau à deriva, num “mar tortuoso”,
e todos aqueles objetos de cena eram mesmo necessários. O fato de serem
acomodados naquela caixa, o “Baú do
Raul”, representava todo o acervo que o artista nos legou. Parabéns a
NELLO MARRESE, por mais um
precioso trabalho de cenógrafo.
Também felicito GABRIEL PRIETO,
pela iluminação que não
poderia faltar à montagem, acompanhando o clima de cada cena: calma, branca e
perene, naquelas em que assim é requisitada,, mais débil ou mais intensa, e frenética e muito colorida, durante
a execução das músicas. FICHA TÉCNICA: Dramaturgia: Leonardo da Selva Direção: Leonardo da Selva Interpretação: Bruce Gomlevsky Direção Musical: Gabriel
Gabriel Músicos: (Cantora) Sadili, (Guitarra) Ziel de Castro, (Baixo) Maninho Bass, (Teclados) Junior Monteiro e (Bateria) Carlos Oliveira Cenário: Nello Marrese Figurino: Maria Callou Iluminação: Gabriel Prieto Colaboração na Dramaturgia:
Bruce Gomlevsky Colaboração na Primeira Versão
da Dramaturgia: Guilherme Bazana Assistência de Direção: Tássia
Leite Preparação Vocal: Deco Fiori Direção de Movimento: Marina
Salomon Desenho de Som: João Paulo
Pereira Camareira: Flávia Cotta Contrarregra: Taú Fotos: Dalton Valério “Design” Gráfico: Rita Ariani Gerenciamento Redes Sociais:
Rafael Teixeira Programação Visual Redes
Sociais: Tássia Leite Consultoria de Mídia: Isabel
Caetano Assessoria Jurídica: Pedro
Eichin Amaral Direção de Produção: Gabriel
Garcia Produtores Associados: Bruce
Gomlevsky & Leonardo da Selva Realização: N.A.V.E & BG
ArtEntretenimento Ltda. Assessoria de Imprensa: JSPontes
Comunicação - João Pontes e Stella Stephany SERVIÇO:
Temporada: De 01 de
março a 28 de abril de 2024. Local: Espaço EcoVilla Ri Happy (dentro do Parque Jardim
Botânico). Endereço:
Rua Jardim Botânico, nº 1008, Jardim Botânico/Gávea - RJ. Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h. Valor dos Ingressos: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia-entrada) – Consultar sobre quem tem direito ao benefício no "link" https://www.eventim.com.br/meiaentrada Venda
de ingressos na bilheteria do Teatro (Sem cobrança de taxa de serviço.),
de 4ª feira a domingo, das 9h às 18h, ou pelo “site” EVENTIM. Duração: 100 minutos. Classificação
Etária: 12 anos. Gênero:
Musical. Não tenho dúvidas de que vou, e desejo bastante, rever o musical em outras temporadas, já que, certamente, isso é que o grande público também quer e cobrará. FOTOS: DALTON VALÉRIO VAMOS AO TEATRO! OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL! A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE;
E SALVA! RESISTAMOS SEMPRE MAIS! COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA
QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!
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