terça-feira, 12 de março de 2024

 

“NARA”

OU

(ELA NUNCA

FOI APENAS

“UM PAR DE JOELHOS”.)

ou

(É MUITA BELEZA,

POESIA

E DELICADEZA

NUM PALCO SÓ.)


 

NOTA INTRODUTÓRIA: 

Assisti a este MAGNÍFICO ESPETÁCULO no dia 29 de fevereiro próximo passado, quando de sua estreia, e deixei o Teatro Firjan SESI Centro, no Rio de Janeiro, de tal forma encantado com o que vi, que logo me pus a escrever esta crítica. 

No dia seguinte, terminei o meu trabalho, ávido por publicá-lo, entretanto não o fiz, por só ter recebido 3 fotos de estúdio e nenhuma de cena, o que só ocorreu hoje (apenas mais 3 fotos), 11 de abril.

Como gosto de ilustrar bastante, com imagens de cenas da peça, as minhas modestas críticas, fiquei aguardando recebê-las, com a promessa de que seriam feitas num dos dias do fim de semana seguinte ao da estreia, o que me parece não ter acontecido. 

Sendo assim, com muita insatisfação, publico uma crítica quase sem fotos, fugindo ao padrão que sempre procuro seguir, e que muito me agrada fazer. 




        Até se provar o contrário, só se chega a uma certeza por meio da concretude, substantivo feminino que equivale à “qualidade do que é concreto, real, palpável material”. Comigo, essa máxima não funciona sempre, quando o assunto é TEATRO, visto que são incontáveis as vezes em que parti para assistir a uma peça já com a certeza de que retornaria a casa feliz e, muitas vezes, com a vontade de rever o espetáculo, como ocorreu numa quarta-feira, 29 de fevereiro de 2024, um dia a mais, num ano bissexto. Coincidência ou não, foi num dia especial, que só incide no calendário gregoriano de quatro em quatro anos, que estreou, no Teatro Firjan SESI Centro (VER SERVIÇO.) um musical especialíssimo: “NARA”, com o qual MIGUEL FALABELLA presta uma singela e merecida homenagem à cantora NARA LEÃO, que nos deixou muito precocemente, em 1989, aos 47 anos de idade, a qual voltou a “ganhar vida”, num palco de um Teatro, tendo como “cavalo” ZEZÉ POLESSA.

            Eu, FALABELLA e ZEZÉ temos alguma coisa em comum (Eu e MIGUEL, certamente, outras mais, aplicadas à CULTURA e à ARTE.): somos, sempre fomos e, eternamente, seremos fãs de NARA LEÃO, muito embora eu, pelo menos, vivesse sendo criticado por gostar de ouvir “aquela moça que canta pra dentro”, “aquela que só mia, quando canta” ou a “João Gilberto de saias”, como se isso fosse uma ofensa. Eram críticas das pessoas que estavam acostumadas a ouvir – o que só admitiam, em música – cantores e cantoras que “soltavam a voz”, que se repetiam em estupendos agudos, “botando o gogó pra funcionar”, contra os quais, absolutamente, nada tenho, como Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Leny Everson e Lana Bittencourt, por exemplo, no “time” feminino, e Vicente Celestino, Orlando Silva, Jorge Goulart e Cauby Peixoto, no lado masculino, apenas para citar alguns dos grandes nomes. Não entendiam aqueles críticos, os quais eu tinha dentro da minha própria casa, que cantar não era só atingir notas altíssimas, agudos admiráveis e desafiadores, até conseguir quebrar copos de cristal. Não percebiam que o canto dos anjos era diferente: baixo, suave e delicado. Não conseguiam perceber que ninguém cantava “aos berros” para provar que ainda estava vivo, embora o grande poeta moçambicano Mia Couto diga que “cantar é um afastamento da morte”.

           Confesso, e não creio isso que vá me render alguns “cancelamentos”, para o que, diga-se de passagem, estou pouco me importando, que fui um adolescente meio “rebeldinho”, para não fugir à regra, a ponto de falsificar uma carteira de estudante, valendo-me do fato de ser alto e aparentar ter mais idade, para poder entrar em teatros e cinemas que apresentassem algumas atrações proibidas para menores de 18 e até 21 anos, o que acontecia bastante naquela época, com o nefasto golpe militar de 1964 a todo vapor. Convenhamos que "foi por uma boa causa" (Momento descontração.). Quando quis assistir ao icônico “show” “Opinião”, não exclusivamente para ver e ouvir NARA de perto, no extinto Teatro de Arena, no Rio de Janeiro, o qual estreou em 11 de dezembro de 1964, não logrei êxito e ainda tive de ouvir um sermão do porteiro. Não consegui enganá-lo. Eu tinha 15 anos completos de idade, 18 ou 19 de aparência e 21 de carteirinha escolar falsificada. Mas não desisti, deixei passar um tempo e lá voltei. E consegui ver Zé Kéti, João do Vale e... Maria Bethânia. Sim, NARA, por problemas “de saúde” (Será que foi só isso mesmo?), havia abandonado o espetáculo, tendo sido substituída por essa outra “deusa” da MPB, em início de carreira.



              Fiquei só um pouquinho frustrado, porque Bethânia é Bethânia, com a força de seu canto e sua visceral interpretação. E adorei o espetáculo. Mas, como, de vez em quando, a sorte me procura, nem tanto tempo depois - dois anos -, a convite do tio de uma grande amiga, o qual era um “graudão” da extinta TV Record, de São Paulo, a maior emissora de TV do país, à época (A "Vênus Platinada" começava a engatinhar.), eu, já com 17 anos, fui, pela primeira vez, a São Paulo, de terno e gravata, ao antigo Teatro Paramount, atual Teatro Renault, para assistir à final do Festival de Música Popular Brasileira”, em sua segunda edição, no dia 10 de outubro de 1966, quando, por fim, vi e ouvi NARA LEÃO, a alguns metros de mim, cantando, com Chico Buarque, o autor da canção, “A Banda”, que se sagrou vencedora do certame, empatada com “Disparada”, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, defendida por Jair Rodrigues, Trio Novo e Trio Marayá. Confesso que torci por esta, mas disparado ficou meu coração, também, por “A Banda”. Ou teria sido por NARA?

             No ano passado, por esta mesma época, assisti a um outro musical sobre a cantora – “Nara – A Menina Disse Coisas” -, no Teatro Ipanema, que me pareceu, infelizmente, um grande equívoco. Fiquei bastante triste com o que vi. Ela merecia alguma coisa muito mais do que aquilo; muito mais mesmo. E já não era sem tempo, motivo de sobra, e que já bastava, para eu aplaudir, vigorosamente, a iniciativa de ZEZÉ POLESSA e MIGUEL FALABELLA, porque é preciso apresentar, às novas gerações, os grandes artistas brasileiros do passado, a fim de que eles continuem “vivos”, no presente, e assim seja por todo o futuro. Podemos dizer que, naquela linha paradoxal de “a pandemia de COVID foi um horror, mas, felizmente, deixou algumas coisas boas, positivas”, o espetáculo aqui analisado é uma delas, dado que a ideia de sua concepção surgiu naquele triste e indelével momento, quando ZEZÉ, isolada em casa, como os que não eram ignorantes, passou a se interessar mais por NARA, depois de ter lido sua biografia, “Ninguém Pode com Nara Leão”, que já estou me agilizando para comprar, do jornalista, escritor e crítico musical Tom Cardoso, logo encomendando ao MIGUEL um texto-solo para ela interpretar a personagem.

 

 SINOPSE:

Ao longo de toda a sua trajetória, NARA LEÃO (1942-1989) assumiu um compromisso intenso com a liberdade e se eternizou como uma das grandes personalidades brasileiras do século passado.

ZEZÉ POLESSA revive agora o mito dessa mulher pioneira, que marcou época, quebrou tabus, lançou modas e esteve no centro de movimentos como a Bossa Nova, o Tropicalismo, os grandes festivais, o resgate do samba e as canções de protesto durante a ditadura militar.

Escrito e dirigido por MIGUEL FALABELLA, “NARA”  traz de volta a cantora, que retorna do passado – ou do futuro – para dividir, com a plateia, as suas lembranças e reflexões, além de reviver seus muitos sucessos radiofônicos, como “A Banda”, “Diz Que Fui Por Aí”, “Corcovado” e “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”.

A carreira e a trajetória de vida de NARA LEÃO acabam por nos conduzir a dois substantivos que parecem pertencer a seu legado: substância e estilo.

E são eles que norteiam o espetáculo, uma homenagem a esta cantora originalíssima, de extremo bom gosto e fraseado e, acima de tudo, uma mulher do seu tempo. 

NARA foi uma das mais contundentes vozes a favor das liberdades individuais e dos direitos civis, numa das mais violentas e opressivas eras da nossa recente história.

Não foi por acaso que um de seus grandes sucessos tenha sido o "show" “Opinião”, já um clássico do gênero, em que, além do resgate musical, NARA dizia textos de Armando Costa, Ferreira Gullar e Oduvaldo Vianna Filho, defendendo a liberdade de pensamento. 

A artista trouxe uma voz instigante e atuante, na sua bagagem, até o fim de seus dias.

Sempre curiosa, em busca de caminhos que, talvez, nem ela mesma soubesse quais eram, mas que sempre se provavam consistentes e originais.

 


              Não vou me deter muito, como poderia fazer, em detalhes da vida da cantora, porque, como se trata de um musical biográfico, tudo o que lhe aconteceu de mais importante, na vida pessoal e artística de NARA LEÃO, está no texto, para quem quiser saber. É só “dar um GOOGLE”, como a própria personagem diz, num determinado momento da peça. - Quem não for ao Teatro Firjan SESI Centro não pode imaginar o que estará perdendo -, mas é muito importante dizer que NARA pertencia à alta burguesia carioca, moradora num amplo apartamento, em plena Avenida Atlântica, Copacabana, no edifício Champs-Elysées, um dos endereços mais nobres do Rio de Janeiro, na sua época. E o porquê da importância de lembrar esse detalhe? É para que possamos alcançar a relevância dessa mulher, a qual, indo na direção oposta à da irmã, Danuza, um exemplo de “socialite”, não era dada a luxos e ostentações e se aproximou, o quanto pôde, das classes sociais menos favorecidas, em atitudes pioneiras e revolucionárias, sem medo de se expor em suas críticas, nada veladas, aos “milicos de plantão”, “gorilões” da ditadura, e ao regime bárbaro e cruel, em si, imposto aos brasileiros, que custou o sangue e a vida de muita gente.

            NARA foi uma cantora eclética, tendo circulado por vários ritmos, gêneros e movimentos musicais, não dando a mínima importância às críticas que recebia, demonstrando uma personalidade muito forte. Era determinada em fazer o que lhe desse vontade, sempre com a ideia fixa de liberdade. Destarte, reinou, “quase soberana” (Ou majestosamente mesmo?), na Bossa Nova (Silvinha Teles “lhe fazia uma certa sombra”, mas não a ocultava. Não era um eclipse total.). Reza a lenda que o título de “Musa da Bossa Nova” foi creditado a NARA pelo cronista Sergio Porto, mas nem a homenageada sabia, ao certo, de onde surgiu tal reconhecimento. De Musa da Bossa Nova”, passa a ser cantora de protesto e simpatizante das atividades dos Centros Populares de Cultura da UNE (União Nacional dos Estudantes). Não hesitou em cantar sambas, músicas românticas, as “de protesto” e até canções de Roberto e Erasmo Carlos, da turma da “Jovem Guarda”, movimento execrado pelo “xiitas” da MPB. Ainda merece registro sua passagem pela “Tropicália”, quando aderiu ao "Movimento Tropicalista", tendo participado da gravação do disco-manifesto do movimento, “Tropicália ou Panis et Circenses, lançado pela gravadora Philips, em 1968. Sua interpretação para a faixa “Lindonéia” (grafia da época), um bolero (acelerado) de Caetano Veloso e Gilberto Gil, é um primor de gravação. Não deixem de ouvir (o disco inteiro)! (“Ah, meu amor, a solidão vai me matar de dor!”)

    Quando, no segundo subtítulo que escolhi para esta crítica, eu disse que “É MUITA BELEZA, POESIA E DELICADEZA NUM PALCO SÓ”, não fiz uso de nenhum exagero. Ative-me, somente, ao que vi sobre as tábuas, desde o texto, passando pelo trabalho de todos os artistas de criação, a direção e a interpretação de ZEZÉ POLESSA.



    Como dramaturgo, MIGUEL FALABELLA criou mais um texto que, por mim, vai para o mesmo baú onde deve guardar, com muito carinho e cuidado, muitas das OBRAS-PRIMAS que escreveu para o TEATRO. “A Partilha”, “Veneza”, “Império” (em parceria com JOSIMAR CARNEIRO), “O Homem de La Mancha” e “O Som e a Sílaba” são algumas delas, as minhas favoritas. Apesar de ter vivido, relativamente, pouco, NARA teve sua vida marcada por grandes e inesquecíveis momentos, bons e ruins, quase todos retratados na peça (Seria impossível fazer caber todos no tempo médio de uma peça de TEATRO, principalmente num monólogo). Para tanto, o autor mergulhou numa profunda pesquisa e soube “pescar” o que ele achou ser mais significativo e que poderia ser mais bem explorado dramaturgicamente. MIGUEL transita, igualmente bem, no drama e na COMÉDIA, de sorte que, nesta peça, ele soube dosar muito bem elementos daquele e deste gênero teatral, de uma forma poética, doce, delicada, criativa e inteligente. Até a morte é pintada de uma forma leve. Frases ternas se alternam com outras que carregam uma dose de humor ingênuo e “bem temperado”. O autor não perde a oportunidade de trazer à tona alguns temas dos quais NARA foi testemunha ou personagem diretamente ligada, como a repressão sofrida no período da ditadura militar, o exílio, o avanço do debate feminista, a revolução comportamental das décadas de 60 e 70, a maternidade, os célebres casos de amor e as demais paixões da cantora.

    Assistindo à peça ou lendo a biografia de NARA, fica-se sabendo que ela adorava namorar, o que justifica a considerável quantidade de namoros, namoricos, flertes e “crushes” que lhe atravessaram o caminho. Ela procurava seguir sua vida numa estrada em linha reta e bem pavimentada, porém, sempre, em cada encruzilhada com alguma “via vicinal”, encontrava alguém que mexia com o seu coração. Aproveitando esse “gancho”, FALABELLA não se preocupou em traçar detalhes “quentes” desses encontros e, aproveitando-se do fato de, alguma vez na vida, NARA ter manifestado o desejo de trabalhar no cinema, como montadora de filmes, criou uma marca, que arranca risos e gargalhadas do público: Toda vez que a personagem vai falar sobre um desses novos encontros "calientes", ela interrompe o texto, faz um gesto e diz: “CORTA PARA...!”, passando a descrever paisagens bucólicas, deixando à plateia o direito e a oportunidade de exercer a imaginação. A cena em que fala do nascimento de Isabel, (28 de setembro de 1970), sua primeira filha com Cacá Diegues, em Paris, onde se encontrava exilada com o marido, é de uma beleza indescritível. Há outras também no mesmo nível. Em 17 de janeiro de 1972, já de volta ao Rio de Janeiro, nasceu Francisco, o segundo filho do casal. Um adendo importantíssimo: é belíssima e rica a escrita de FALABELLA, que se estende ao trecho que ele criou para o lindo programa da peça, uma raridade, nos dias de hoje. MIGUEL e eu quase fomos contemporâneos, na Faculdade de Letras da UFRJ, na Avenida Chile (Acho que eu estava no último ano, quando ele entrou, meu calouro.). Além de muito culto, FALABELLA sabe como escrever e traduzir suas emoções em palavras, sendo muito preciso, e "precioso", ao colocar o verbo na boca de seus personagens.

     MIGUEL também assina a direção da peça, da mesma maneira brilhante como a escreveu, conforme ocorre, via de regra, em todos os espetáculos em que exerce essa função (De seus quase 40 trabalhos como diretor, talvez uma meia-dúzia não me tenha arrebatado tanto.). A liberdade de pensamento e expressão, em função da qual NARA vivia, parece ter ter sido concedida a ZEZÉ POLESSA, no exercício de sua atuação. Todas as marcações são precisas e nem um pouco previsíveis. Não gosto, quando o(a) ator(atriz) está dando um texto e já percebo para onde ele vai se deslocar, nos segundos seguintes. O óbvio, em termos de marcações, pareceu-me não existir nesta montagem.



     A atuação de ZEZÉ POLESSA é irretocável, um encantamento só, pelo tom de voz, a interpretação das canções que fazem parte da trilha sonora, pelos gestos elegantes, milimetricamente estudados, um trabalho que contou, efetivamente, com a indispensável e esplendorosa orientação de MARINA SALOMON, a qual, além de assinar a delicada e harmoniosa direção de movimento, ainda se presta a fazer a assistência de direção. De acordo com a concepção do autor/diretor, a grande protagonista surge, no palco, “como se estivesse vindo de algum lugar do futuro – ou do passado –, para compartilhar, com o público, algumas lembranças e reflexões. Através de um grande fluxo de consciência, o texto relembra momentos e canções da cantora sem preocupação com cronologias, datas ou qualquer outra formalidade, bem no estilo NARA, uma intérprete que sempre foi fora da caixa, quando esta expressão nem era tão usada assim.”. Tudo isso existe no solo, graças ao “privilégio do TEATRO” (Eu substituo "privilégio" por "magia".), como a própria personagem justifica sua presença ali, e a formidável atuação desta. Importante é dizer que a atriz não procura imitar o jeito de falar ou cantar da homenageada, mas lembra muito a cantora, no geral.

  Também me parece não ter havido, por parte de MARCELO DIAS, responsável pelo ótimo visagismo do musical, a intenção de transformar, por fora, ZEZÉ em NARA, porém a imagem da atriz/personagem, em cena, se aproxima bastante do verdadeiro visual da NARA, que conhecemos, das lembranças da cantora em registros fotográficos e em imagens cinéticas. ZEZÉ, ainda que não seja uma exímia cantora, o que não lhe lhe subtrai um centímetro de acerto na composição da personagem, soube tirar partido de sua voz e, contando com aulas de canto e a preparação vocal, feita esta por MARIANA BALTAR, consegue interpretar todos os 13 números musicais com graciosidade e, principalmente, muita emoção. Gosto de todos, entretanto confesso ter sentido os olhos úmidos, quando ela interpretou a canção “Com Açúcar, Com Afeto”, de Chico Buarque, uma canção belíssima, porém, para os dias de hoje, de letra completamente “politicamente incorreta”, mostrando todo o alto grau de submissão de uma mulher para com seu marido adúltero. A música é interpretada só até a metade, o que já foi suficiente para me fazer sacar o lenço (Mentira! Não uso lenço de tecido. Seria a manga da camisa mesmo. Momento descontração.) Estou certo de que tenha sido um grande desafio para a atriz, com 50 anos de carreira e muitos sucessos no seu portfólio, interpretar NARA LEÃO, compromisso que assumiu com garra e fé, e do qual dá conta da melhor forma possível. ZEZÉ/NARA nos comove (O verbo fica mesmo no singular, porque a pessoa e a “persona” se confundem numa só.).

  Texto lindo e interpretação impecável, o que dizer dos elementos de criação responsáveis pela plasticidade da peça: Nada menos que “belíssimos”, tudo acompanhando o toque de – vou repetir – BELEZA, POESIA E DELICADEZA, marcas registradas desta montagem. É bem possível que DINA SALEM LEVY, que desenhou o cenário, quando se lançou ao trabalho, tenha se questionado: “O que posso bolar, em termos de cenografia, para uma peça em que a única personagem, física, no palco é alguém que poderia ser chamada de 'Garota de Copacabana', da mesma forma como Helô Pinheiro se tornou a eterna 'Garota de Ipanema'?”. Sem dúvida, NARA era a representante mais perfeita do bairro onde morou a maior parte de sua vida. Por conta disso, a cenógrafa desenhou uma espécie de “caixa”, dentro da caixa preta do palco, para simbolizar o lugar, físico, de voz da personagem, não se sabe se no passado ou no futuro. E, ocupando boa parte do espaço cênico, uma escada e um pequeno escorrega, colocados ao fundo do palco, e inúmeras ondas gigantes, recortadas em madeira compensada, quero crer, as quais sugerem movimentos plácidos e criam um ambiente onírico, quando realçadas pela esplêndida luz, desenhada, a quatro mãos, por RICARDO VIVIAN e SARAH SALGADO, os quais fazem uso abundante de tons pastéis (azul, verde, amarelo, rosa...), criando uma ambientação quase indescritível, de tão bela.



    NATHALIA DURAN desenhou um único traje para a personagem, um vestido de caimento perfeito, uma lindíssima peça, num tom azul-bebê, muito pálido, suave como a ‘‘modelo“ que o veste, quase se aproximando do branco, que absorve todas as demais cores que incidem sobre ele, para a alegria dos nossos olhos. A roupa traz um rasgo, no lado esquerdo, que deixa à mostra um dos tão ‘‘cobiçados“ joelhos, em várias cenas, detalhe muito bem explorado pela direção, sem qualquer tipo de ‘‘apelação“. Para interpretar algumas canções, a atriz vai buscar, na coxia, trazendo para o palco, para cada uma delas, um elemento cenográfico diferente, que eu não sei como nomear, uma espécie de um ‘‘totem“, em tamanho natural, como aquelas peças de brinquedo, ‘‘que servem para vestir bonecas“, sempre uma diferente para cada cena, dependendo do teor delas. Uma excelente ideia que deve ter brotado do talento do diretor e que funciona muito bem. As pinturas dos trajes são creditada a MARINA BARROCAS e LUCAS CHEWIE 

    Para encerrar os comentários sobre os artistas de criação que fazem parte da FICHA TÉCNICA do musical, não poderia omitir, sob hipótese alguma, os mais que corretos trabalhos de direção musical, arranjos e produção musical, assinados por JOSIMAR CARNEIRO, um velho parceiro de FALABELLA. Todas as canções são cantadas sobre um ‘‘playback“, cuja gravação da base contou com o próprio JOSIMAR (violão), ANTÔNIO GUERRA (piano e acordeão), PEDRO AUNE (contrabaixo), RUI ALVIM (saxofone, clarinete e clarone) e ANDRÉ BOXEXA (bateria e percussão).


 FICHA TÉCNICA:

Texto: Miguel Falabella

Direção: Miguel Falabella

Direção Musical, Arranjos e Produção Musical: Josimar Carneiro


Atuação: Zezé Polessa


Assistência de Direção e Direção de Movimento: Marina Salomon

Cenografia: Dina Salem Levy

Figurino: Nathalia Duran

Desenho de Luz: Ricardo Vivian e Sarah Salgado

Desenho de Som: Arthur Ferreira

Visagismo: Marcelo Dias

Preparação Vocal: Mariana Baltar

Operação de Luz: Luana Della Crist

Operação de Som e Microfonista: João Gabriel Mattos

Assistência de Cenografia: Alice Cruz

Cenotécnico: Rodrigo Shalako

Contrarregras: Nivaldo Vieira e Rahira Coelho

Camareira: Maninha Xica

Assessoria de Comunicação: Pedro Neves

Comunicação Digital: Bruna Paulin        

Concepção Visual | Projeto Gráfico: Gringo Cardia

"Designer" Gráfico: Matheus Meira

Fotografias: Flavio Colker

Audiovisuais | Comunicação Digital: Gil Tuchtenhagen

Produção: Quintal Produções

Direção de Produção: Verônica Prates

Coordenação de Projetos: Valencia Losada

Produção e Administração: Letícia Vieira

Produção Executiva: Camila Camuso

Assistência de Produção: Ellen Miranda

Realização: Ministério da Cultura, Governo Federal

Patrocínio: Petrobras


 



 


 SERVIÇO:

Temporada: De 29 de fevereiro a 21 de abril de 2024.

Local: Teatro Firjan SESI Centro.

Endereço: Rua Graça Aranha, nº 01 – Centro – Rio de Janeiro.

Telefone: (21) 2563-4163.

Dias e Horários: 5ªs e 6ªs feiras, às 19h; sábados e domingos, às 18h.

Valor dos Ingressos: Plateia Baixa = R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada); Plateia Alta (ingressos populares) = R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada).

Vendas de ingressos "on-line" pela plataforma SYMPLA (com taxa de conveniência) ou, presencialmente, na bilheteria do Teatro (sem taxa de conveniência).

Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 2ª a 6ª feira, das 12h às 19h; sábados, domingos e feriados, 2h antes do início do espetáculo.

Acessibilidade: Nos dias 28 de março e 07 de abril, sessões com intérprete de libras.

Duração: 80 minutos.

Classificação Etária: Livre.

Gênero: Monólogo Musical.


 

         “NARA” é um espetáculo onírico, que emociona e diverte, informa e provoca reflexões, o qual eu não poderia deixar de recomendar, e com o maior empenho. NARA nos deixou ao meio-dia de uma quarta-feira de junho, que não era a “de Cinzas”, canção que ela interpretava com tanta graciosidade - “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”, de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes: E, no entanto, é preciso cantar. / Mais que nunca, é preciso cantar. / É preciso cantar e alegrar a cidade”. E o espetáculo termina com NARA deixando o palco e nos alegrando, ao som de “Diz Que Fui Por Aí”, de Zé Kéti: “Se alguém perguntar por mim, / Diz que fui por aí, / Levando o violão debaixo do braço.”. E ela está mesmo por aí. E sempre estará.



 

FOTOS: FLAVIO COLKER

  

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