“WEST SIDE STORY”
ou
(“OBRA-PRIMA”
É INSUFICIENTE
PARA DEFINIR
ESTE MAGNÍFICO
ESPETÁCULO.)
Iniciei a minha segunda temporada anual
de TEATRO, referente a 2022, em São Paulo, no dia
21 próximo passado, por “WEST SIDE STORY”, no suntuoso Theatro
São Pedro. Antes de fazer a análise mais profunda possível do
espetáculo, transcrevo três publicações que fiz, numa rede social:
A
primeira, no intervalo do “show”, às 21h46min:
Intervalo
de ‘WEST SIDE STORY’. Amigos, rezem por mim, para que eu sobreviva até o final
do segundo ato e não sofra um infarto, ou enfarte, o que daria no mesmo. Deus
me proteja! QUE OBRA-PRIMA!!!
A segunda, no hotel, aos 17 minutos já do dia 22:
Acabou
“WEST SIDE STORY” e, apesar de quase ter precisado de uma tenda gigantesca de
oxigênio, EU SOBREVIVI. Não me perguntem como. A poltrona ao me lado era a
única vazia, na plateia. Mas, na verdade, ela não estava. Deus sentou-se ao meu
lado. Chorei tudo o que eu tinha para chorar, até o último dia da minha vida. E
ainda espero chegar aos 100, INDO AO TEATRO. Existe alguma classificação acima
de OBRA-PRIMA? Se houver, foi criada para “WEST SIDE STORY”. Quanto orgulho dos
meus muitos queridos e talentosíssimos amigos do elenco, de todos os artistas
de criação, dos técnicos e de CHARLES MÖELLER
e CLAUDIO BOTELHO!!!
Espero que o chafariz de adrenalina que jorra pelos sete buracos da minha
cabeça me deixe dormir.
A terceira, no hotel,
no mesmo dia da segunda, às 09h43min: Daquelas
noites que nos emocionam ao extremo, que nos transportam ao Nirvava, dão-nos a
certeza de que A ARTE SALVA e de que O ARTISTA BRASILEIRO NÃO DEVE,
ABSOLUTAMENTE, NADA A QUALQUER OUTRO. “WEST SIDE STORY”, em curtíssima, e
incompreensível, temporada, no belíssimo e centenário Theatro São Pedro, em São
Paulo, e, ATÉ O PRESENTE MOMENTO, A COISA MAIS LINDA QUE JÁ VI NUM PALCO, QUE
ME FEZ CHORAR LITROS E QUASE ENTRAR EM TRANSE, EM MUITAS CENAS. EU NÃO ESTOU
EXAGERANDO. E olha que, em mais de 50 anos dedicados ao TEATRO, eu já vi muita
coisa que pensava que jamais seria superada. Não vejo a hora de voltar para o
Rio, sentar-me diante do computador e dedicar, com certeza, mais de um dia a
escrever sobre este musical, muito mais do que uma OBRA-PRIMA.
THEATRO SÃO PEDRO
Foto: Gilberto Bartholo
THEATRO SÃO PEDRO
Foto: Gilberto Bartholo
THEATRO SÃO PEDRO
Voltei ao Rio, estou sentado em frente ao
computador e completamente sem saber por onde começar. São 17horas e
27minutos. O conjunto das três postagens, talvez, fosse o suficiente
para alguém considerar já ter eu escrito uma crítica sobre esse magnífico
espetáculo, entretanto é minha intenção seguir as características que me
identificam, como crítico, e aceitar a realidade de que levarei horas,
mais de um dia, para ficar satisfeito com o que escrevi, cônscio de que era o
que deveria ser dito, da forma mais completa e abrangente possível.
Desde minha adolescência, sou, arrebatadoramente, apaixonado
pelo musical, que conheci, primeiro no cinema (Já há alguns anos,
tenho, primeiro, em VHS e, depois, em DVD, a primeira versão
cinematográfica, na qual, a título de curiosidade, o namorado de uma amiga
minha, à época, estando em Nova Iorque, morando e trabalhando
temporariamente lá, ao passar pelo “set” de filmagem, numa rua,
foi convidado a fazer uma figuração.).
O musical conta
com libreto de ARTHUR LAURENTS, música
de LEONARD BERNSTEIN e letras de STEPHEN SONDHEIM. Já isso
seria uma “covardia” e representaria um selo de qualidade
insuperável. Embora a maioria das pessoas já o saiba, nunca deve ser
considerado irrelevante lembrar que a obra foi inspirada numa das clássicas
tragédias shakespearianas, “Romeu e Julieta”.
“WEST
SIDE STORY” estreou, em 26 de setembro de 1957,
em Nova Iorque, com uma icônica coreografia de JEROME
ROBBINS, que também assinou sua direção, e ficou em cartaz durante
quase dois anos, na Broadway, com 732 apresentações. Nas
telas, ganhou duas versões. A primeira foi em 1961, tornada um
clássico e vencedora de 10 “Oscars”. Uma verdadeira
OBRA-PRIMA!!! A segunda chegou ao Brasil em dezembro
de 2021, dirigida pelo cineasta Steven Spielberg, cuja
leitura, apesar de ser muito boa e de ter ganhado 3 “Globos de
Ouro” e 1 “Oscar”, de melhor atriz coadjuvante,
para Ariana DeBose, na minha modesta opinião, ficou bem aquém da primeira.
Ouro, a primeira; prata, a segunda. O musical é reconhecido, até
hoje, como um dos maiores títulos da história da Broadway.
SINOPSE:
A trama se passa no bairro de Upper West Side, em Nova Iorque, de minoria étnica e classe trabalhadora, em meados dos anos 1950.
O musical
explora a rivalidade entre dois grupos de adolescentes, de diferentes origens
étnicas: os “Jets”, uma gangue branca, de nascidos nos
Estados Unidos, e os “Sharks”, constituída por porto-riquenhos.
Os membros dos
“Sharks”, de Porto Rico, são insultados, perseguidos e rejeitados pelos “Jets”,
uma gangue que os considerava uma raça “inferior” e “intrusos”,
“não norte-americanos”, ainda que Porto Rico tenha se
tornado
território dos Estados Unidos, em 1898, depois que os
americanos derrotaram a Espanha, na guerra hispano-americana.
Desde então, Porto Rico faz parte dos Estados
Unidos, sendo controlado pelo governo, em Washington D.C.
Os habitantes da ilha também podem entrar, livremente, no territóriuo
norte-americano, sem necessidade de visto, transitar, à vontade, por lá e morar
naquele país.
O jovem protagonista,
TONY (BETO SARGENTELLI), ex-líder dos “Jets” e melhor
amigo do novo líder da gangue, RIFF (ANDRÉ TORQUATO), se apaixona por
MARIA (GIULIA NADRUZ), recém-chegada à América, irmã de BERNARDO (GUILHERME LOGULLO), que
lidera os “Sharks”, e é correspondido.
Os “Jets” e os “Sharks”
lutam pelo domínio do bairro, seguindo um código próprio de guerra e honra, e o
amor entre dois jovens, pertencentes a grupos rivais, vai acabar numa tragédia,
na qual três vidas são inutilmente sacrificadas.
A paixão dos dois jovens fere princípios, em ambos os
lados, acirrando, ainda mais, a disputa.
“O tema sombrio, música sofisticada, cenas estendidas de dança e foco em
problemas sociais marcaram um ponto de viragem no TEATRO MUSICAL AMERICANO”. As canções de BERNSTEIN, para o musical, como “Somewhere”, “Tonight”, “Maria” e “América”,
por exemplo, gravadas por grandes cantores de renome, tornaram-se bastante
conhecidas e ícones do cancioneiro norte-americano.
A montagem original da Broadway, de 1957,
produzida por ROBERT E. GRIFFITH e HAROLD PRINCE, marcou a estreia de STEPHEN SONDHEIM na “meca”
dos musicais. A produção do “show” que ficou por
mais tempo em cartaz foi em Londres. Houve, ainda, vários “revivals”
e montagens internacionais, incluindo o Brasil e Portugal. A primeira, em nosso país, ocorreu em 2008, no Teatro
Alfa, em São Paulo, com direção de Jorge
Takla, coreografias de Tania Nardini e direção
musical de Gustavo Petri. O elenco principal era
formado por Fred Silveira (Tony), Bianca Tadini (Maria),
Sara Sarres (Anita), Luciano Andrey (Riff), Adalberto
Halvez (Bernardo) e Francarlos Reis (Doc).
A atual montagem se dá no palco do Theatro São Pedro, também em São
Paulo, e está calcada na montagem original, para, infelizmente,
apenas 25 récitas, com direção geral de CHARLES MÖELLER e versão
brasileira de CLAUDIO BOTELHO. A direção musical está a cargo
de CLÁUDIO CRUZ, que comanda a ORQUESTRA DO THEATRO SÃO PEDRO. FABIO NAMATAME assina os figurinos, a cenografia é
de ROGÉRIO FALCÃO, a iluminação é desenhada por PAULO
CESAR MEDEIROS e a remontagem da coreografia leva o nome de MARIANA
BARROS.
Por se tratar de uma produção tão
singular e “classuda”, achei bem interessante e oportuno que o substantivo
“sessões”, no plural, que designa cada uma das vezes em que o “show”
é apresentado, tivesse sido trocado por “récitas”, termo aplicado
a apresentações em TEATRO lírico, óperas. O vocábulo escolhido,
na divulgação do espetáculo, faz jus à sua extremíssima qualidade,
importância e altivez. Pode ser um detalhe ou um comentário, aparentemente, “pueril”,
mas que representou muito para mim. Eu não assisti a uma “sessão”
de “WEST SIDE STORY”; assisti a uma “récita” (Encho o
peito, para dizer isso.)
Segundo o mestre em musicais e diretor
geral desta montagem, CHARLES MÖELLER, “WEST SIDE STORY”
é um dos maiores espetáculos da história e pode ser considerado um “divisor
de águas”, uma vez que “é a maturidade, em que o texto falado é
tão profundo e importante quanto a música cantada e a dança. É onde as três
artes se juntam por excelência”. Comentando essa afirmação de MÖELLER,
pelos modestos estudos e conhecimentos que tenho de musicais, meu
gênero teatral preferido, sou levado a concordar com ele. Não me lembro de
nada, antes, em que os três elementos se amalgamassem tão bem e com o mesmo
peso. A dramaticidade que marca a obra está presente nos perfeitos diálogos,
nas letras das belíssimas canções e em todo o desenho coreográfico.
Cada um deles corresponde, indubitavelmente, a um terço de um inteiro.
CHARLES MÖELLER
CLAUDIO
BOTELHO, responsável pela brilhante versão brasileira
atual, afirma que “WEST SIDE STORY” “é um espetáculo forte,
renovador, considerado uma dessas obras que dão o pontapé inicial em quem
decide trabalhar com teatro musical”. Com relação às palavras de BOTELHO,
têm elas a minha total aprovação. Se, num elenco desse musical,
houver algum estreante, tenho certeza de que “será mordido pelo bichinho
dos musicais” e não vai querer fazer outra coisa no palco.
CLAUDIO BOTELHO
“WEST
SIDE STORY” é atemporal, contém uma exacerbada
carga dramática (Isso não é um defeito; pelo contrário, é a sua excelente
proposta.) e representa um grande desafio, para todos os artistas
envolvidos numa de suas montagens. Além disso, talvez, seja muito mais
moderno e atual do que se possa pensar, dado que a temática muda de cara e de cores,
mas seu âmago está presente, ainda, infelizmente, nos dias de hoje. A essência
é a mesma, apresentada em “outras vestimentas”.
Há
um vocábulo, no léxico da língua portuguesa, tão na moda, “polarização”,
que se aplica à trama, envolvendo intolerância, falta de
empatia e necessidade do ser humano em demonstrar força e poder.
Trava-se um embate inglório, totalmente injustificável, desnecessário, em nome
de conquistas e demonstração de superioridade.
Assistir
à montagem de “WEST SIDE STORY”, dirigida pela dupla MÖELLER
& BOTELHO, era das minhas maiores aspirações, e aguardei, com muita
ansiedade, a chegada do grande dia. A emoção já começou a tomar conta de mim,
quando desci de um aplicativo, coloquei os pés na calçada, olhei um pouco para
o alto e vi a fachada do deslumbrante Theatro São Pedro, que eu não conhecia ainda, centenário, inaugurado em 1917, uma
instituição do Governo do Estado de São Paulo e da Secretaria de Cultura
e Economia Criativa do Estado, gerido pela organização social
Santa Marcelina Cultura, construído em estilo eclético, predominantemente
neoclássico, com detalhes em “art nouveau”. Uma casa perfeita, para abrigar um espetáculo
do nível, do quilate de “WEST SIDE STORY”.
Tudo
o que eu poderia esperar do produto final deste trabalho, que já era,
absurdamente, algo grandioso, estava lá, à minha frente, muito mais
potencializado ainda, superando todas as minhas expectativas e provocando, em
mim, um misto de uma transbordante alegria e receio de não conseguir suportar
tamanha emoção, a cada nova cena. Faço questão de dizer que não estou
exagerando nem “fazendo gênero”. O abrir das
cortinas, deixando à mostra a impactante visão do cenário, criado por ROGÉRIO
FALCÃO, os primeiros acordes da canção inicial, o som de dedos
estalando e a sequência coreográfica inicial, com cerca de dez minutos,
já eram um prenúncio de que uma OBRA-PRIMA estava sendo desenhada diante dos meus olhos
e que eu teria de ter muitas lágrimas armazenadas, para reagir àquela
apresentação.
Não
se tratava, absolutamente, de mais um ótimo musical que eu estaria
vendo. Seria algo, como, realmente foi, que marcaria a minha vida, não de crítico,
mas de espectador e amante de TEATRO, com ênfase para os musicais.
É preciso ser muito insensível, para não ficar com as palmas das mãos
vermelhas, de tanto aplaudir, e com a voz embargada, de tanta emoção e por ter
forçado as cordas vocais, bradando muitos gritos de “Bravo!”.
Tenho
uma teoria, já bem antiga, sobre este musical: a história não é
original, entretanto a transposição dos conflitos pensados por Shakespeare (“Romeu e Julieta” deve
ter sido escrita entre 1593 e 1594.) para pouco mais de três
séculos e meio depois é, e sempre será, válida, porquanto há motivações
diferentes, para a existência de tais conflitos e do tema abordado na peça.
Mas a teoria a que me referi, no início do parágrafo, é a de que “WEST
SIDE STORY” é um bolo com duas cerejas, o que considero mais importante e
lindo e emocionante no espetáculo, seja no palco, seja nas telas: a música
e a coreografia.
Não
gastarei muito tempo, para falar do texto, a não ser o mínimo
necessário, que é um elogio à versão brasileira, feita por CLAUDIO
BOTELHO, quer para os diálogos, quer para as letras das canções,
o que é mais difícil de ser feito (Encaixar palavras em compassos, fazer esse “casamento”,
mantendo o que o original quer dizer.), porém não para ele, que é um “craque”
nesse fazer.
A parte
musical, incluindo melodias e letras, é de fazer arrepiar.
Leia-se LEONARD BERNSTEIN e STEPHEN SONDHEIM, respectivamente, dois
grandes gênios. São canções bem “quentes” e um
afago nos nossos ouvidos, misturando ritmos caribenhos com americanos, sem
falar nas que são, extremamente, românticas. Todas, sem nenhuma exceção, são
mais do que ajustadas às cenas em que estão presentes e ajudam a contar a história. Algumas apresentam
momentos de grande exigência das vozes dos que as interpretam, e não é qualquer
um que consegue levar a cabo isso da forma irretocável, como se comportam todos do
elenco da montagem ora analisada. Ainda relacionado a essa parte,
seria imperdoável não render uma merecidíssima homenagem à ORQUESTRA DO
THEATRO SÃO PEDRO, sinfônica, formada por quarenta músicos, regidos
pelo maestro CLÁUDIO CRUZ, responsável pela impecável direção musical.
É muito difícil de se acreditar que isso ainda exista, nos dias de hoje, um
verdadeiro privilégio, um “luxo”.
Sem,
absolutamente, contar com uma expertise com relação à dança, falo
somente o que é de minha modesta competência: a coreografia é um primor, e
sua execução idem. Agrada-me sobremaneira, parece provocar o espectador
(Comigo,
pelo menos, é assim.), convidando-o a se
movimentar, na poltrona, com vontade de se juntar aos que executam os números
coreográficos, no palco. MARIANA BARROS se comporta com total
profissionalismo, na remontagem da coreografia original, de JEROME
ROBBINS.
Já
disse que a cenografia, de ROGÉRIO FALCÃO, é impactante,
mas isso seria muito pouco; é preciso justificar esse juízo. Como a história
se passa em vários ambientes, internos e externos, acredito ser um projeto
muito complexo para qualquer cenógrafo, mesmo para os mais conceituados,
entretanto é inacreditável ver de que forma ROGÉRIO deslindou esse “problema”, com
soluções muito criativas e, ao mesmo tempo, lindas, e tudo a serviço das cenas
e da direção. As passagens de uma ambientação a outra são feitas, em
pouquíssimos segundos, com entradas e saídas de elementos cenográficos
em cena, descidas e subidas de outros, viradas de um painel, deixando à mostra
outro, e assim por diante... Um ambiente de rua se transforma, por exemplo, num
piscar de olhos, num ginásio de esportes, onde se realiza um baile estudantil,
com uma simples subida de grades e a descida de uma tabela de basquetebol e
fitas coloridas, para compor a decoração de uma quadra de esportes,
transformada num “salão de festa”. A rapidez com que
essas trocas são feitas é importantíssima, para não comprometer o ritmo
do espetáculo, que é ótimo, diga-se de passagem, graças à maestria
de CHARLES MÖELLER, diretor desta OBRA-PRIMA.
Cada
vez mais, numa montagem teatral, faz-se necessária uma “conversa bem íntima”
entre cenografia e iluminação. E quando os responsáveis por ambas
são profissionais vencedores, em suas carreiras, o resultado mais agrada ao
público. Uma boa iluminação valoriza, mais ainda, uma boa cenografia. PAULO
CESAR MEDEIROS sabe muito bem, melhor do que ninguém, disso e criou um desenho
de luz esplêndido, abusando, no melhor sentido da palavra, de uma variada
paleta e de intensidades de luz, provocando imagens que, dificilmente, um dia,
deixarão de existir na nossa memória afetiva. Muita luz, colorida, nas cenas em
que isso é solicitado, e uma iluminação mais tênue, com sombras propositais,
nos momentos em que o tom dramático mais se faz presente, ou nas cenas de
profunda tensão emocional. Obra de outro gênio.
FABIO
NAMATAME, como sempre, foi de uma felicidade extrema,
ao desenhar e supervisionar a confecção dos inúmeros figurinos, os
quais, além de serem fiéis à época em que se dá a trama, precisariam de
uma costura especial, em função da exigência dos movimentos dos atores,
dançando ou nas cenas de luta corporal. Todas as peças são perfeitas, em todos
os sentidos, e o conjunto da obra é digno dos maiores aplausos.
E o elenco?
O que dizer dele? Apenas que é admirável, deslumbrante, esplendoroso,
portentoso, perfeito, brilhante, colossal...
(Encontrei 76 sinônimos para “magnífico”,
para tentar não repetir um epíteto que o adjetivasse.)? Se encontrasse muitos
mais que 76, acho que eu teria de criar um neologismo que se
adequasse ao trabalho do conjunto de artistas que vi em cena, dos protagonistas
aos que representaram personagens de menor relevância (Os personagens. Que
isso fique bem claro!). A impressão que nos passa é
a de que – Acho que não é impressão; é pura certeza – cada um, ao ser
convidado para representar um personagem ou selecionado numa audição,
deve ter pensado: “Esta é a grande chance da minha vida”. “Este é o meu momento”. “Eu vou incluir ‘WEST
SIDE STORY’ no meu currículo”. E, para isso, não ninguém poupou
esforços nem ocultou seu talento e apostou todas as fichas no seu trabalho. Não há um,
naquele palco, ator ou atriz, que deixe a desejar. Muito pelo
contrário; todos “conquistaram o seu território”, com
muita garra e talento. Que privilégio, para um diretor, poder contar com
tanta gente que sabe tudo de musicais!
O par
romântico de protagonistas, GIULIA NADRUZ e BETO SARGENTELLI,
dá-nos a impressão, ou certeza, de que não poderia ser outro, tais são os
talentos de ambos, interpretando, cantando e dançando, e a sintonia, para
não utilizar o já tão desgastado termo “química”, que
há entre eles. Ambos nos comovem, às lágrimas, na defesa do seu direito à
felicidade, pela verdade do amor entre os dois, na convicção de que o amor não
vê qualquer tipo de obstáculo, que, para amar, não importam diferenças, de
qualquer tipo, principalmente, talvez, as étnicas. Para o amor, não há limites,
e, por ele, deve-se lutar sempre, ainda que, por um infortúnio, algum
sacrifício, como o da morte de uma das partes aconteça. Morre um, literalmente,
e a outra metade “morre em vida”. Que seja um “dramalhão”,
para uns, que preferem outros tipos de histórias, mas a beleza e a pureza do
sentimento entre os dois nos encantam e nos comovem em grande profusão.
Tanto
BETO quanto GIULIA, são, sem a menor sombra de dúvidas, dois
dos maiores representantes de intérpretes de musicais de sua geração. São
aplicadíssimos naquilo que fazem, mergulham nas profundezas de seus personagens
– sempre agem assim -, e o resultado é algo que nos leva a crer – digo isso aos
quatro cantos do mundo, e em bom e alto som – que O ARTISTA BRASILEIRO NÃO
FICA NADA A DEVER AOS GRANDES NOMES ESTRANGEIROS, EM TERMOS DE MUSICAIS. O
som de suas vozes são bálsamos para nossas almas. Tenho muito orgulho de ambos,
da mesma forma como incenso outros do elenco, principalmente os que
interpretam os principais personagens da trama, como INGRID
GAIGHER (ANITA), ANDRÉ TORQUATO (RIFF) e GUILHERME LOGULLO (BERNARDO).
MARIA e TONY nascem das entranhas de GIULIA NADRUZ e BETO SARGENTELLI, em
interpretações viscerais.
Com relação a INGRID GAIGHER, ela – ignoro o motivo - não participou da “récita” a que assisti. Como grande admirador de seu trabalho, não posso deixar de confessar minha frustração, quando soube, na véspera do dia em que eu iria ver a peça, que tal baixa ocorreria, mas não tinha como transferir para outra data, visto que a agenda já estava preparada, e confirmada, antes mesmo de eu sair do Rio de Janeiro, rumo a Sampa. Não sabia quem a substituiria. Na verdade, não estava me interessando saber, fosse quem fosse. Não seria a INGRID. “Fiquei no vácuo”, quando anunciaram, antes da abertura da cortina que “O papel de ANITA será interpretado, esta noite, por LUANA ZEHNUN.”, que eu não conhecia, ou não estava ligando o nome à pessoa. Qual não foi a minha agradabilíssima surpresa, ao vê-la atuar! Ocorre que LUANA, creio que muito consciente de sua responsabilidade, se armou de toda a sua munição de talento, que eu, repito, não conhecia, e interpretou uma ANITA irrepreensível, trabalho reconhecido, pelo público que lotava o Theatro, na hora dos aplausos finais. Fiquei de queixo caído com sua “performance”, sua magistral atuação, o que me levou a aplaudi-la de pé; mas aguçou a minha vontade de ver INGRID também, a titular do papel. Ainda tenho esperanças de rever, muitas outras vezes, o musical, no Rio de Janeiro, ainda que essa probabilidade seja bem remota, infelizmente, segundo apurei.
Acompanho
a carreira de ANDRÉ TORQUATO, que sempre admirei, há mais de dez anos,
desde muito mais jovem, em montagens da dupla MÖELLER & BOTELHO
e de outros diretores, porém não o via atuando fazia um bom tempo, muito
por conta da pandemia de COIVID 19, que fechou os Teatros.
Fiquei deveras encantado com o seu amadurecimento profissional e como é
possível quem já é bom, no que faz, se tornar melhor, cada vez mais. Parece “ter
nascido” RIFF. Um trabalho vigoroso.
Outro
que sempre me provoca grande prazer, ao vê-lo atuar, é GUILHERME LOGULLO.
Já perdi a conta da quantidade de musicais em que o vi brilhando. Um
detalhe bastante interessante é que, em todos eles, seus papéis nunca tiveram
um peso dramático como exige seu personagem, BERNARDO. Neste espetáculo,
conheci um outro LOGULLO, que canta e dança de forma excelente, assim
como interpreta, porém só agora – acredito que seja a primeira vez – escancara
seu lado de ator dramático. É comovente sua interpretação.
Um
veterano dos musicais, dono de uma possante voz, que, neste musical,
não tem a oportunidade de mostrar, é FERNANDO PATAU (DOC), que
aliviou muito a minha tristeza, durante a fase mais crucial da pandemia –
AINDA NÃO SAÍMOS DELA - com suas “lives” diárias.
Da primeira à ultima cena, todas me encantaram e impactaram, nesta montagem, mas devo dizer que duas fizeram acelerar as batidas do meu coração. Uma delas é o momento em que RAQUEL PAULIN, como uma diva, solta sua maviosa e “robusta” voz, interpretando o clássico “Somewhere”, da sacada de uma das casas do cenário, enquanto MARIA e TONY sonham, no meio do palco com “algum lugar” onde pudessem ser felizes, apenas isso, amando um ao outro. Tive a sensação de que não suportaria tanta emoção. A outra é o momento em que, em dueto, sem a menor chance de ser descrito, MARIA e ANITA se consolam, mutuamente, depois da morte de BERNARDO. Eu não sabia que as glândulas lacrimais de um ser humano pudessem produzir tanto líquido.
Todos, do elenco, contribuem, com uma parcela de apuro
e talento, para me levar a classificar esta leitura de “WEST SIDE STORY”
como uma OBRA-PRIMA do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO.
FICHA TÉCNICA:
Baseado na concepção de Jerome Robbins
Texto: Arthur Laurents
Música: Leonard Bernstein
Letras: Stephen Sondheim
Produção original dirigida e coreografada por Jerome
Robbins (Originalmente produzido, na Broadway, por Robert E. Griffith e Harold
S. Prince, em acordo com Roger L. Stevens.)
ORQUESTRA
DO THEATRO SÃO PEDRO
Direção Geral: Charles Möeller
Versão Brasileira: Claudio Botelho
Direção Musical: Claudio Cruz
Remontagem de Coreografia: Mariana Barros
Cenografia: Rogério Falcão
Figurino: Fabio Namatame
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Fotos: Heloísa Bortz
ELENCO: Giulia Nadruz (Maria), Beto Sargentelli
(Tony), Ingrid Gaigher (Anita), André Torquato (Riff) e Guilherme Logullo (Bernardo)
JETS BOYS: Gabriel Conrad (Diesel), Thadeu Torres (Action), Diego Martins (A-Rab), Danilo Barbieri (Baby John), Bruno Boer (Big Deal), Alvinho de Pádua (Snowboy) e Caru Truzzi (Anybodys)
JET GIRLS: Andreza Meddeiros (Velma), Mari Amaral (Graziella), Nathalia Serra (Minnie) e Larissa Leão (Clarice)
SHARKS
BOYS: Victor Medeiros
(Chino), Gabriel Querino (Pepe), Cezar Rocafi (Índio), Davi Tostes (Luis), Paulo
Victor (Anxious) e Victor Vargas (Mordidelas)
SHARK
GIRLS: Carol Botelho (Rosalia),
Luana Zehnun (Consuelo), Moira Osório (Teresita) e Mariana
Montenegro (Francisca)
OS
ADULTOS: Fernando Patau (Doc),
Romis Ferreira (Schrank), Ubiracy Paraná do Brasil (Krupke), Henrique
Moretzsohn (Glad Hand) e Raquel Paulin (Uma Jovem)
SWINGS: André Gomes, Bia Freitas, Diego Fecini e Mari Nogueira
Foto: Gilberto Bartholo
Foto: Gilberto Bartholo
SERVIÇO:
Temporada: De 08 de julho a 07 de agosto de 2022.
Récitas: 08, 09, 10, 13, 14, 15, 16, 17, 20, 21, 22,
23, 24, 26, 27, 28, 29, 30 e 31 de julho; 02, 03, 04, 05, 06 e 07 de agosto.
Local: Theatro São Pedro.
Endereço: Rua Barra Funda, nº 171 – Barra Funda – São
Paulo.
Dias e Horários: terças-feiras, quintas-feiras,
sextas-feiras e sábados, às 20h; quartas-feiras, às 15h; domingos, às 17h.
Valor dos Ingressos: De R$15,00 (meia entrada) a R$80,00.
https://theatrosaopedro.byinti.com/#/event/westsidestory
Classificação Etária: 14 anos.
Gênero: MUSICAL.
Como a curtíssima temporada se encerra no próximo dia 07
de agosto (2022) e diante de uma mínima possibilidade de o musical vir
para o Rio de Janeiro ou seguir para outras cidades, ainda dá tempo
de correr ao Theatro São Pedro e ser testemunha de um dos maiores
acontecimentos da HISTÓRIA DO TEATRO MUSICAL BRASILEIRO.
Que saudade deixou!
Que
vontade de ver muito mais vezes!
Foto: Leonardo Soares Braga
FOTOS (OFICIAIS): HELOÍSA BORTZ
GALERIA PARTICULAR:
Foto: Leonardo Soares Braga
Com Giulia Nadruz
Foto: Leonardo Soares Braga
Com Beto Sargentelli
Foto: Leonardo Soares Braga
Com Giulia Nadruz e Leonardo Soares Braga
Com Beto Sargentelli e Leonardo Soares Braga
Com Moira Osório
Foto: Leonardo Soares Braga
Com Nathalia Serra
Foto: Leonardo Soares Braga
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
Nenhum comentário:
Postar um comentário