DA VINCI
(UM ESPETÁCULO LINDO E
DELICADO.
ou
UMA BELA HOMENAGEM
E cá estou eu, mais uma vez, fazendo o que não me é habitual: escrever sobre um espetáculo infantojuvenil. E não o faço sempre, e muito, não por falta de vontade, mas de tempo e, também, ou principalmente, porque a maioria, infelizmente, não é de boa qualidade. Quando surge algo que mereça uma crítica, como, por exemplo, “DA VINCI”, em cartaz no Teatro XP Investimentos (antigo Teatro do Jóquei) (VER SERVIÇO.), eu deixo o Teatro feliz e cheio de vontade de tornar público o meu contentamento, por ter assistido a um trabalho de alta qualidade, dentro de um nicho em que se faz muita coisa de qualquer maneira, achando-se que, “como é para criança...”. Não! Esses não contarão nunca comigo, com o meu apoio e aprovação. Na contramão disso, porém, profissionais como os envolvidos no projeto aqui analisado merecem todos os meus aplausos, pelo cuidado como se comportam na produção e montagem de uma peça para crianças e pré-adolescentes, embora, certamente, caia no agrado, também dos adultos.
Quero deixar bem claro que outros espetáculos infantojuvenis mereceriam uma crítica positiva, de minha parte, este ano, partindo dos meus critérios, porém, se não tiveram uma publicada, foi por pura falta de disponibilidade de tempo.
SINOPSE:
Na peça, uma trupe teatral
decide ensaiar um espetáculo, a partir da história de LEONARDO DA
VINCI, em função de uma homenagem pelos 500 anos de sua morte.
A decisão não é unânime nem fácil de ser concretizada.
Vários desafios se impõem, ao contar a trajetória do
gênio italiano, em cena.
DA VINCI foi um homem muito à frente do seu tempo, que conseguia transitar,
facilmente, entre Arte e Ciência, dominando desde o desvio de
curso de rios a dissecações de cadáveres, além de perspectiva e proporções dos
membros corporais.
Com isso, HORÁCIO (LEO THURLER), ISABELA
(BEATRIZ NAPOLITANI), CÉLIA (MARIA CLARA GUIM) e LAVÍNIA (ALINE
PEIXOTO) vão para um cenário medieval-renascentista, a fim de
traduzir, no palco, em cena e música, essa história.
Assim, compõem a cena com a Mona Lisa, o Homem
Vitruviano, a Última Ceia, a tentativa de voo, de DA VINCI,
seus textos apocalípticos, suas improvisações musicais, seu gibão de brocado,
seus cadernos, suas anotações, e quantas pistas mais puderam captar, ao longo
da pesquisa apaixonante que fizeram sobre o grande gênio.
Mas quem foi, afinal, e o que fez LEONARDO DA VINCI,
de tão importante, para merecer tanto reconhecimento, na História da Humanidade?
Bastaria dizer que foi um gênio. Mais fácil, talvez, é dizer o que ele
não fez. Nasceu em 15 de abril de 1452, no vilarejo de Anchiano,
na comuna italiana de Vinci, na Toscana, situada no vale do rio
Arno, dentro do território dominado, à época, por Florença. LEONARDO
não tinha um sobrenome, no sentido atual, por ser filho ilegítimo; "da
Vinci" significa, simplesmente, "de Vinci", ou seja, natural
de Vinci, que nasceu em Vinci. Morreu em Clos Lucé, no Vale do
Loire, França, em 2 de maio de 1519, aos 67 anos. Foi um polímita (indivíduo que estuda ou que conhece muitas ciências), uma das figuras
mais importantes do Alto
Renascimento, que se destacou como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Quase
nada, não é mesmo? É, ainda, conhecido como o percursor da aviação e da balística. DA VINCI, frequentemente, foi descrito como o arquétipo do homem do Renascimento, alguém cuja curiosidade insaciável era igualada apenas pela sua
capacidade de invenção. É considerado um dos maiores pintores de todos
os tempos e como, possivelmente, a pessoa dotada de talentos mais
diversos que já nasceu na face da Terra.
LEONARDO era, como até hoje, conhecido principalmente, como
pintor. Duas de suas obras, a “Mona Lisa” e “A Última Ceia” estão entre as pinturas mais famosas, mais reproduzidas e mais
parodiadas de todos os tempos. O desenho do Homem
Vitruviano, feito por ele, também é tido como um ícone cultural e é
reproduzido, até hoje, por todas as partes, e nos mais variados objetos, desde
o euro até camisetas.
É reverenciado pela sua
engenhosidade tecnológica, tendo concebido ideias muito à frente de seu
tempo, como um protótipo de helicóptero, um tanque de
guerra, o
uso da energia
solar,
uma calculadora, o casco duplo nas embarcações, e uma teoria
rudimentar das placas tectônicas. Um número relativamente pequeno de seus
projetos chegou a ser construído durante sua vida (muitos nem mesmo eram
factíveis), mas algumas de suas invenções menores, como uma bobina automática e um aparelho que testa a resistência à tração
de um fio, entraram, sem crédito algum, para o mundo da indústria. Como
cientista, foi responsável por grande avanço do conhecimento nos campos
da anatomia, da engenharia
civil,
da óptica e da hidrodinâmica.
LEONARDO DA VINCI é considerado, por uma imensidade de pessoas
notórias, o maior gênio da história, devido à sua multiplicidade de
talentos para as ciências e as artes, sua engenhosidade e
criatividade, além de suas obras polêmicas. Num estudo realizado, em
1926, seu QI foi estimado em cerca de 180. (Com adaptações
e supressões, os dados acima, pós-sinopse, foram retirados da Wikipédia.)
Tudo o que foi dito acima
consta, de forma lúdica e, às vezes, até um pouco jocosa, no ótimo texto
de ANDRÉ BRILHANTE, que soube costurar todas essas informações e
explorá-las na história que criou, bastante criativa. O texto nasceu de
uma longa pesquisa de ANDRÉ e BEATRIZ NAPOLITANI. É muito boa a
ideia de uma trupe de saltimbancos querendo homenagear o consagrado gênio
e, mais ainda, todas as dificuldades e problemas surgidos dentro de um grupo
teatral, o que é bastante normal, até nos dias de hoje, cada um querendo
fazer valer suas ideias de concepção do espetáculo. Sem apelar para
lugares-comuns ou uma linguagem simplória, sabendo respeitar o nível de
inteligência de uma criança, ANDRÉ escreveu um texto dramatúrgico
totalmente decodificado pelos menores, atingindo, por consequência, os maiores,
nos quais estão incluídos os adultos. Sem ser panfletário, ANDRÉ não
perdeu tempo – E QUE BOM ISSO!!! – de enxertar, no texto
críticas, total e infelizmente, contemporâneas, à perseguição e demonização dos
artistas, principalmente atores e músicos, e sobre o que seria a “correta” configuração
de uma família.
Sua direção também me
pareceu muito boa, inteligente, extrapolando as mesmices, normalmente
encontrados nos trabalhos de direção, quando a peça é voltada
para o público infantojuvenil, dando, à direção, um toque pessoal,
diferente, sem idiotização, com pitadas de toques de “direção para adultos”,
o que valoriza o espetáculo e estimula o público, de uma maneira geral,
a embarcar na história e a entender, facilmente, a proposta do
espetáculo. Algumas cenas se destacam, como a formação do Homem
Vitruviano, por meio da utilização de sombras. Também acho um acerto as projeções,
principalmente no que se refere às obras mais emblemáticas do artista.
“DA VINCI” é uma montagem que respeita o público, não
menospreza a inteligência das crianças e dos adultos e é rica em detalhes, de
um bom gosto inquestionável e quase indescritível, o qual passa pela cenografia,
figurinos, iluminação, adereços, programação visual
(arte do programas da peça e microlivreto), sem falar, obviamente, na interpretação
do ótimo quarteto de atores, as canções e as coreografias. É
um espetáculo de uma delicadeza a toda prova, de um requinte, sem ser
luxuoso, até porque não estamos em tempos “de fartura”. Não sei qual foi o
orçamento da peça, entretanto posso garantir que cada centavo foi muito bem
empregado, resultando numa encenação que nos encanta, que nos toca, que
mexe com a nossa sensibilidade. Que cumpre sua função, enfim.
Quando as cortinas se abrem e
nos deparamos com um cenário encantador (GABRIEL NAEGELE), nossa
acuidade visual já começa a nos provocar um certo “frisson”. O
que é aquilo?! Que beleza de cenário! Que riqueza de detalhes! E que
acabamento! Vários espaços num só, com destaque para uma cozinha medieval, com
pequenos toques contemporâneos, num dos cantos do palco. Não podia faltar um
baú enorme, de onde saem objetos de cena e serve de “palquinho”, e tantos
objetos de cena, que me consumiriam muito tempo, para serem detalhados, todos,
porém, totalmente incorporados à proposta da encenação.
Depois, quando os personagens
começam a surgir, nosso encantamento só faz crescer, diante de figurinos
belíssimos, de um acabamento de finíssimo trato, com detalhes de trajes de
época, em tons pastéis, que não deixam nenhuma dúvida, quanto ao trabalho de
pesquisa de LEO THURLER, o figurinista, que também é o
responsável pelos interessantíssimos adereços – destaque para as máscaras
- e pelo visagismo. A maquiagem, propositalmente exagerada e,
paradoxalmente, linda e delicada, lembra a que era usada pelos artistas de rua,
na Idade Média, com toques de palhaçaria e lembrança dos bufões.
O elenco se comporta com total liberdade de ação e naturalidade, comunicando-se muito bem com o público, todos no mesmo nível de interpretação. Percebe-se, em cena, a alegria de estar atuando, o quanto cada um comprou a ideia da montagem e defende seu/sua personagem.
PAULO CÉSAR MEDEIROS embarcou, totalmente, na excelente proposta de
encenação e criou uma e iluminação idem, utilizando tons bem alegres
e coloridos e lançando as luzes, em cena, nos momentos exatos, contribuindo,
assim, para a valorização do espetáculo.
Além de atuar, ALINE
PEIXOTO assina as canções da peça e a direção musical, além
de se acompanhar, a aos companheiros de elenco, ao violão e ao vivo.
Merece uma menção de louvor
o trabalho de arte, envolvendo o programa da peça e uma “lembrancinha”,
oferecida, à saída do público, que nada mais é que um belíssimo e delicado microlivrinho,
sanfonado, dentro de uma caixa de fósforos, contendo informações e ilustrações sobre
a vida de LEONARDO DA VINCI (VER FICHA TÉCNICA.).
FICHA TÉCNICA:
Direção Geral do Projeto: Milena Contrucci Jamel
Idealização do Projeto: Maíra Contrucci Jamel
Texto e Direção: André Brilhante
Assistência de Direção: Maria Clara Guim
Elenco: Aline Peixoto, Beatriz Napolitani, Leo
Thurler e Maria Clara Guim
Direção de Produção: Milena Contrucci Jamel
Cenário: Gabriel Naegele
Figurino, Adereços e Visagismo : Leo Thurler
Iluminação: Paulo César Medeiros
Direção Musical e Autoria das Músicas: Aline
Peixoto
Pesquisa Teórica: André Brilhante e Beatriz
Napolitani
Assistência de Produção: Márcia Viveiros
Ilustração: Flávia Pessoa
Versos Livreto: Maíra Contrucci Jamel
Fotografia: Flávio Salgado
Coordenação de Comunicação: Cláudia Leite
“Designer” Gráfico: Fred Toledo
“Marketing” Digital; João Paulo Vilachã
Comunicação: Ilumminatti Comunicação e “Design”
Realização: Cia. de Idéias
SERVIÇO:
Local: Teatro XP Investimentos (antigo Teatro do Jóquei).
Endereço: Avenida Bartolomeu Mitre, 1110 –
Leblon/Gávea – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 3807-1110.
Dias e Horários: Todos os sábados e domingos de
outubro (2019), às 16horas. Até o dia 27 de outubro.
Indicação Etária: Livre.
Lotação: 366 lugares.
Estacionamento (pago) no local.
Gênero: Infantojuvenil (Comédia Musical).
ENTRADA
FRANCA.
Estamos diante de um dos melhores espetáculos
infantojuvenis a que tive a oportunidade de assistir, neste ano de 2019, no Rio
de Janeiro, voltado para toda a família e com um detalhe que é do interesse
de todos: A ENTRADA É GRATUITA.
A CIA. DE IDEIAS, responsável pela montagem,
merece todos os nossos aplausos, por ter pensado em nos fazer lembrar os 500
anos da morte de Leonardo da Vinci, fazendo com que sua vida e sua obra não
sejam esquecidas sejam e possam ser celebradas por meio de um projeto da
envergadura deste.
“DA
VINCI” é tudo de bom, contando a riquíssima trajetória do
artista italiano, abordando sua paixão pela Arte e pela Ciência e
seu percurso, muitas vezes sinuoso, para alcançar o que considerava a perfeição,
já que se tratava de um esteta.
O
TEATRO já é ótimo, por si. Quando diverte e educa, como o que se vê, em “DA
VINCI”, torna-se mais atrativo ainda, motivo mais que suficiente para
que eu possa recomendar, com muito empenho, o espetáculo.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
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TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
CENSURA
NUNCA MAIS!!!
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