MOJO
MICKYBO
(A PERDA DA
INOCÊNCIA
E A CONSTRUÇÃO
DE DUAS IDENTIDADES.
ou
A GUERRA PERDE
PARA UMA AMIZADE
PURA E VERDADEIRA.)
O ótimo fato de vir assistindo a tantos espetáculos
teatrais de boa ou excelente qualidade, no Rio de Janeiro, neste
segundo semestre, obriga-me a mudar minhas características, ao escrever uma crítica,
e me desafia a ser conciso, o que muito me custa. Não é, exatamente, a concisão
o que torna minhas críticas extensas, e sim o desejo de me aprofundar, o
máximo possível, nos detalhes que o espetáculo me apresenta. Por algum
tempo, em virtude de uma “fila” de peças a serem analisadas, vou me ater
aos detalhes mais importantes, nas montagens por mim selecionadas, para
os devidos comentários críticos.
E
começo por um excelente espetáculo, “MOJO MICKYBO”, em cartaz no Teatro
XP Investimentos (VER SERVIÇO.).
SINOPSE:
Numa cidade dividida, onde as pessoas vivem
amedrontadas e trancadas em suas casas, nasce uma improvável amizade entre dois
garotos, com cerca de dez anos, MOJO (PEDRO HENRIQUE LOPES) e MICKYBO
(CIRILLO LUNA), que pertencem a lados opostos.
Eles se conhecem quando cruzam a ponte que separa o Norte
do Sul da cidade onde vivem.
A admiração pelo novo e a vontade de ser o outro faz
com que se unam e criem sua própria “gangue”, para enfrentar seus inimigos
particulares.
Obcecados pelos heróis de faroestes Butch Cassidy
e Sundance Kid, os garotos vivem em um mundo quase irreal, de fantasia,
que é interrompido pela cruel realidade do conflito que eles são obrigados a
enfrentar.
Trata-se de uma história de aventura, cheia de
coragem, bom humor, emoção e lições de vida, que narra o encontro entre duas
crianças, cuja infância ficaria marcada para sempre.
A
primeira curiosidade que me surgiu, tão logo tive conhecimento do espetáculo,
se voltou para o título. Dois nomes totalmente estranhos, para mim. O
que significariam aquelas duas palavras? Depois que soube que eram os nomes dos
dois protagonistas, surgiu outra, com relação à ausência da conjunção
aditiva “E”, que deveria ligar os dois nomes próprios. Por que não “Mojo
E Mickybo”? Assistam à peça e entenderão, sem nenhum problema, a
intencional falta do conectivo.
O
espetáculo deve ser visto por vários motivos, porque reúne muitas
qualidades que saltam aos nossos olhos, a começar pelo ótimo texto, do
premiado dramaturgo irlandês OWEN MCCAFERTY. A peça já foi
representada em vários países e recebeu, entre nós, a tradução de LUCIANA
KEZEN e uma perfeita adaptação, de PEDRO HENRIQUE LOPES, o
qual também interpreta um dos protagonistas. Por ter nascido na Irlanda,
e testemunhado o horror de uma guerra civil, a trama se passa,
originalmente, naquele país, durante o maior conflito étnico, religioso e
político da Irlanda do Norte, conhecido como “The Troubles”.
Intencionalmente, o adaptador optou por não situar, geograficamente, o
local em que se passa a história, “o que amplia a discussão sobre o mundo
polarizado, a divisão social nas cidades, as diferenças culturais e a
complexidade das relações humanas”, como consta no “release”,
enviado por RACHEL ALMEIDA (RACCA COMUNICAÇÃO). Considero muito boa essa
ideia e concordo, plenamente, com o motivo que levou PEDRO HENRIQUE a tal
opção.
O
universo em que transcorre a história dos dois meninos se concentra numa cidade
deteriorada, partida, consequência de uma guerra que girava em torno de questões
econômicas, sociais e religiosas, na qual se desconhecia, por completo, o
sentido da palavra “empatia”. Ainda extraído do “release”:
“MOJO MICKYBO mostra as consequências das desigualdades socioeconômicas,
em uma mesma população, e os embates gerados pelas diferenças culturais. É um
espetáculo que fala sobre a perda da inocência e como todos os heróis podem ser
esvaziados em algum momento”, nas palavras do diretor, DIEGO
MORAIS. É nesse ambiente inóspito que os dois personagens desenvolvem
uma grande amizade, celebrada em torno de um desejo comum dos dois: tornarem-se
heróis, como os dois que eles tanto admiravam nas telas do velho cinema local: Butch
Cassidy (MOJO) e Sundance Kid (MICKYBO). Durante os 75 minutos
de duração da peça, percebe-se um processo de amadurecimento das duas
crianças, imposto pelas condições em que viviam, o que é narrado com
sensibilidade e o humor ingênuo das crianças.
Já
tendo sido, também, levada às telas, no filme “Mickybo And Me” (Em português,
“Eternos Heróis”), a trama nos mostra dois personagens que são,
ao mesmo tempo, seres opostos e complementares, sentindo (Ou, talvez nem
percebendo, mas os espectadores sim.) que o mundo de fantasia em que vivem vai
escoando para o ralo, à medida que vão, paulatinamente, perdendo a pureza e a inocência
infantil, invadidas pela crua realidade que os cerca. Esta se configura em muitos
problemas, como a falta de dinheiro, o alcoolismo, a infidelidade, a depressão,
a violência e, principalmente, a divisão social. O sonhar em ser heróis do
cinema, no fundo, é uma grande tentativa de fuga, quando se sentem
pressionados, espremidos, soterrados pelo mundo real. O texto prende
bastante a atenção da plateia e provoca reflexões, além de uma grande empatia,
com relação aos dois personagens, que são, interiormente, lindos.
DIEGO
MORAIS, que, apesar de muito jovem, já acumula, em seu
currículo, vários trabalhos de destaque, para o TEATRO e a TV, pelos
quais recebeu prêmios e indicações a, partiu para uma estética de direção
bastante moderna e arrojada, abusando, no melhor sentido da palavra, de uma “linguagem
cênica ágil e perspicaz que, ao mesmo tempo, diverte e provoca o questionamento”.
Eu diria que, antes de tudo, se trata de uma direção inteligente e criativa,
propondo soluções que exigem muito da dupla de atores. O resultado é
excelente, uma vez que estes respondem às exigências da direção.
PEDRO
e CIRILLO, os quais não se conheciam, pessoalmente, até o encontro para
a formação do elenco da peça, parecem já ter trabalhado juntos
anteriormente, tal é a cumplicidade dos dois, a “química’ que há entre eles,
ambos ótimos atores. Além dos protagonistas, ainda interpretam outros
15 personagens, em passagens curtas, porém marcantes, o que exige, de
ambos, um trabalho de corpo e voz, para a construção dos pais, das mães, dos
inimigos... O mais interessante, na brilhante interpretação da dupla, é
que as mudanças de personagens se dão em cena, num átimo, bastando (Aí
entra o dedo de Midas da direção.) uma leve mudança de posição,
que varia entre ficar de frente ou de costas para o público, ou, até mesmo, com
uma simples virada de cabeça, complementada com um pequeno detalhe do figurino.
Além disso, os atores também funcionam como narradores,
passando-nos as rubricas do autor. Ambos são dignos dos meus calorosos aplausos,
uma vez que é fácil perceber quão difícil é fazer o espetáculo, do ponto
de vista técnico e físico.
Não
se trata de uma produção dispendiosa, mas, quando não se pode contar com
um generoso orçamento, o negócio é se envolver com ótimos profissionais de
criação e atraí-los para um projeto. Dessa forma. CLÍVIA COHEN
e JOSÉ COHEN, que já assinaram tantos trabalhos vitoriosos, criados e
produzidos por DIEGO e PEDRO HENRIQUE, idealizadores do Projeto
“Músicos para Pequenos”, se fazem presentes, nesta encenação, como
responsáveis pelo cenário, os figurinos e os adereços da peça.
Sobre estes, pouco tenho a dizer, a não ser que são bastante pertinentes ao texto
e, especialmente, que o figurino do personagem MOJO apresenta
detalhes interessantes, para ajudar no visagismo dos outros que o ator
representa. Já com relação ao cenário, muito me agradou a ideia de
reproduzir parte de uma cidade semidestruída, degradada, pelos efeitos deixados
pelos conflitos bélicos, quase que uma cidade fantasma, na qual se destaca um parquinho
bem tosco. Os andaimes, espalhados por todo o espaço cênico, causam um
impactante efeito visual e permitem, ao diretor, explorar ótimas
marcações.
Outro
grande destaque desta montagem é a fantástica iluminação,
assinada por PAULO CÉSAR MEDEIROS. Afirmo que este é um dos melhores
trabalhos do consagrado profissional. MEDEIROS criou áreas de sobras
necessárias, uma luz “metafórica”, para contribuir na construção do ambiente
que o texto sugere. Não é fácil fazer a escuridão “brilhar” mais que a
luz. Além disso, encontrou algumas situações muito específicas, para valorizar
e pôr em evidência detalhes da montagem. Quando assistirem ao
espetáculo, atentem bem para o rico desenho de luz!
GABRIEL
D’ANGELO se ocupou do desenho de som, que funciona a
contento, se considerarmos que os atores se movimentam muito, e
abruptamente, em cena, e não há – pelo menos, na sessão a que assisti – nenhum comprometimento
com relação ao som, audível do início ao final do espetáculo.
Auxilia
bastante, na emoção que cada cena provoca, a trilha sonora, selecionada
por DIEGO MORAIS e GABRIEL D’ANGELO.
FICHA TÉCNICA:
Texto Original: Owen McCafferty
Tradução: Luciana Kezen
Adaptação Brasileira: Pedro Henrique Lopes
Direção: Diego Morais
Assistência de Direção: Marina Mota
Elenco: Pedro Henrique Lopes e Cirillo Luna
Cenário, Figurinos e Adereços: Clívia Cohen e José
Cohen
Desenho de Luz: Paulo César Medeiros
Desenho de Som: Gabriel D’Angelo
Trilha sonora: Diego Morais e Gabriel D’Angelo
Programação Visual: Yucky “Designs” e Ideias
Fotografias: Junior Mandriola
Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida (Racca
Comunicação)
Produção Executiva: Heder Braga
Produção e Realização: Entre Entretenimento
SERVIÇO:
Temporada: De 27 de setembro a 27 de outubro de 2019.
Local: Teatro XP Investimentos (antigo Teatro do
Jóquei).
Endereço: Avenida Bartolomeu Mitre, 1.110 – Leblon/Gávea
– Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 3807-1110.
Dias e Horários: Às 6ªs feiras e sábados, às 21h; aos
domingos, às 20h.
Ingressos: R$70,00 e R$35,00 (meia entrada).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: 3ª feira, das
13h às 17h; de 4ª a 6ª feira, das 17h às 21h; sábados, das 13h30min às 21h; e domingos,
das 13h30min até a hora do espetáculo em cartaz.
Lotação: 366 pessoas.
Duração: 75 minutos.
Classificação Etária: Livre.
Gênero; Drama.
Há estacionamento (pago) no local.
Pela grande qualidade do
espetáculo, não posso deixar de recomendá-lo com bastante ênfase, na
certeza de que o apreciador do bom TEATRO ficará satisfeito em ter ido
assistir à peça e a recomendará também. E isso, nos dias de hoje, é de
suma importância. Refiro-me à divulgação e recomendação pelo processo de
boca em boca.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS OFICIAIS: JUNIOR MANDRIOLA.)
(FOTOS ADICIONAIS: ALBERTO MAURÍCIO.)
(GALERIA PARTICULAR:
FOTO JÚLIO CÉSAR
FARIAS)
Com Cirillo Luna, Pedro Henrique lopes e Diego Morais.
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