AYRTON
SENNA –
O
MUSICAL
(NEM MELHOR, NEM PIOR; APENAS
UM “MUSICAL” “DIFERENTE”.)
Quem
me conhece e acompanha o meu trabalho sabe que não escrevo sobre espetáculos que não me agradam, o que não
significa dizer que, se não escrevi sobre uma determinada peça, foi porque,
necessariamente, não tenha gostado dela. Indo ao TEATRO, praticamente, todos os dias, cinco vezes por semana, no
mínimo, assistindo, às vezes, a mais de um espetáculo no mesmo dia, todo tempo
de que eu dispusesse seria insuficiente, para escrever sobre tudo o que vejo e
que valeria a pena ser registrado.
Por outro lado,
se não gostei, não escrevo mesmo,
porque tenho por princípio respeitar o ser humano, em primeiro lugar, e o trabalho
de profissionais, que estão fazendo o que “julgam ser o melhor”, e não me acho
no direito de atrapalhar a vida de ninguém que está exercendo sua profissão
honestamente, ainda que de forma a não ser do meu agrado. O meu silêncio me
basta; não quero magoar ninguém, menos, ainda, a mim. Quem não concordar com
esse meu posicionamento, fique na sua. Agradeço.
E
cá estou eu escrevendo sobre “AYRTON
SENNA – O MUSICAL”. Sinal de que gostei? NÃO! E por que estou escrevendo? O melhor seria dizer que gostei
até quase a página 100, de um livro
de 200. Cheguei próximo ao meio do
caminho. MAS NÃO FICO EM CIMA DO MURO.
Se
resolvi perder muitas horas – isso mesmo: HORAS,
do meu precioso tempo, porque não escrevo por escrever; pesquiso bastante –, é
porque acho que há muita coisa, sobre o espetáculo, que merece ser dita e eu
não ficaria em paz, se não exorcizasse os meus fantasmas e enaltecesse o que
deve ser enaltecido.
Sim, eu
assisti a esse espetáculo, na sessão para convidados (acho a expressão “sessão VIP” muito cafona e pedante) e saí triste
do Teatro Riachuelo, com os erros
graves que, NA MINHA VISÃO,
computei.
Li todas as
críticas publicadas, sobre a peça, e, de uma forma geral, elas me incomodaram
bastante, pela “contundência” de cada uma, embora EU RESPEITE A POSIÇÃO DE TODOS OS CRÍTICOS, MESMO QUE COM ELAS NÃO
CONCORDE, ASSIM COMO EXIJO QUE RESPEITEM A MINHA.
Pondo, numa balança, os
prós e os contras, senti que o prato dos “contras” pesou mais. Não escrevi
sobre a peça e esperei a poeira baixar. Não me deixei levar pelo emocional, uma
vez que, por experiências ruins anteriores, em espetáculos com a chancela da AVENTURA ENTRETENIMENTO – muitas -, já
parti para aquela sessão com uma expectativa muito pequena de assistir a um bom
espetáculo. Em outras palavras, levei comigo um “pré-conceito”. E não tenho vergonha nenhuma de assumir e confessar
isso. Sou humano.
Sim, eu revi “AYRTON SENNA – O MUSICAL”, no último
sábado, dia 2 de dezembro de 2017),
e resolvi escrever sobre o espetáculo, o que, até então, não estava nos meus
planos.
Tudo o que vi de
errado, SOB O MEU PONTO DE VISTA,
continua lá, errado, infelizmente, e
não vejo possibilidade de ser mudado, porque está associado a um conceito da direção / produção, porém consegui
enxergar aspectos positivos, que me fugiram, na primeira apreciação, ou que não
me pareceram tão relevantes. Revi e
mudei meus conceitos.
Embora,
para muitos leigos, possa parecer fácil e uma grande brincadeira, fazer um musical é algo muito sério, uma tarefa
dificílima, porque, além do básico, que é a parte dramatúrgica, ainda entram componentes muito complicados, o
canto e as coreografias.
Quando alguém
se propõe a montar um espetáculo musical,
deve estar consciente de que terá de quebrar muita pedra, sob um sol
escaldante, passando fome e sede, sabendo que, por melhor que possa ser o resultado,
ele nunca vai agradar a gregos e a troianos, como, aliás, acontece, também, com
qualquer outro tipo de espetáculo. Aliás, como acontece em qualquer atividade
artística. A exposição de uma obra de arte, o torná-la pública, naturalmente,
vai gerar opiniões, favoráveis ou não. Há um público e uma crítica
especializada, prontos a aplaudir ou a vaiar.
O
que acontece neste “musical” (as
aspas não foram colocadas por acaso nem para atribuir realce positivo)? É
porque foge ao MEU conceito de MUSICAL.
Em
primeiro lugar, temos de entender que a produção
do espetáculo vem com uma proposta, já posta em prática em montagens
anteriores, que agrada a uns e desagrada a outros. É necessário deixar bem
claro que o conceito de “musical”
deles não bate com o meu e dos seus críticos opositores. Até aí, nenhum
problema. Cada um que conceitue o seu musical
como bem entender. Não podemos, porém, deixar de reconhecer que a produção de “AYRTON SENNA – O MUSICAL” não quer enganar ninguém, não esconde,
de ninguém, o que pretende com suas montagens. Nesse aspecto, são autênticos e
honestos: “Buscamos realizar um musical diferente: um espetáculo atemporal,
misturando canto, dança, interpretação e circo – todas as artes cênicas num
mesmo espetáculo, apresentando músicas originais, criadas, especialmente, para
ele”.
O trecho
anterior foi extraído do programa da
peça, assinado por seus produtores,
representando a AVENTURA ENTRETENIMENTO.
O
adjetivo “diferente” é que faz toda
a diferença. “Diferente” em quê? Por
quê? “Diferente” para o positivo ou para o negativo?
Para
ser curto e direto, dois são os grandes
problemas do espetáculo, que, A MEU
JUÍZO, geraram tantas críticas negativas e que são, realmente, muito sérios.
São o texto e a direção. Esses elementos são os dois vilões da peça. Não é que não
existam outras falhas, mas a dramaturgia
é o que, antes de tudo, sustenta o TEATRO,
ao lado do dedo certo de um bom diretor,
ambos associados a outros elementos.
A
dramaturgia deixa muito a desejar. É inconsistente, as
cenas, algumas desnecessárias, mal construídas e fora do contexto, são previsíveis e desprovidas daquele elemento mágico, que faz o
espectador mergulhar na trama. Se o público se interessa pelo que está vendo no
palco, é porque se trata de AYRTON SENNA,
embora a peça não seja biográfica.
SINOPSE:
A história do brasileiro AYRTON
SENNA, tri-campeão mundial de Fórmula
1, o levou a ser reconhecido como um dos maiores pilotos de todos os
tempos, herói nacional e ídolo internacional. Mas é a essência da sua
personalidade e caráter, com espírito guerreiro e de solidariedade, que é
retratada no espetáculo.
Não se trata de um musical biográfico nem o roteiro é apresentado de
forma linear. Embora seja inspirado em fatos reais, da vida do piloto, trata-se
de uma ficção, baseada nos momentos que duraram, para ele, a fatídica corrida
do Grande Prêmio de San Marino, em 1º de maio de 1994, em Ímola, na Itália, na qual AYRTON
perdeu a vida, ao colidir com um muro de proteção, quando, inexplicável e
lamentavelmente, não conseguiu completar uma curva, a Tamburello, que, hoje, não faz mais parte do circuito.
Tudo se passa no inconsciente do piloto, durante as últimas cinco
voltas da corrida, com inúmeros momentos de “flashbacks”, e mostra o lado humano de uma pessoa, que, apesar de
viver desafiando a morte, a mais de 300 km/h ,
também sentia medo.
Antes da corrida, SENNA se
deixa abater, emocionalmente, em função de um acidente, envolvendo o colega de
pista, Rubens Barrichello, e pela
morte do piloto austríaco Roland
Ratzenberger, nos dois treinos que antecederam a prova.
Na verdade, o roteiro se
desenvolve em duas histórias paralelas, com momentos marcantes da vida de AYRTON (HUGO BONEMER) e de BECO (JOÃO VÍTOR SILVA), seu apelido,
fora das pistas.
Os bastidores de uma corrida de Fórmula
1 estão presentes nesta produção.
Para
os “sennamaníacos” ou os mais
ligados à vida pessoal do grande nome da Fórmula
1, aqueles que, pelo menos, tiveram a oportunidade de ler uma de suas
várias biografias, não é tarefa tão complicada entender a peça, desde seu
início. Para mim, por exemplo, apenas um grande admirador do piloto, que não
perdia uma de suas corridas e que, após sua morte, jamais voltou a ver uma, e,
certamente, para a maioria da audiência, fica um pouco difícil compreender o
que se passa em cena, em função da estrutura dramatúrgica eleita pelos autores da peça, principalmente até uma parte do segundo ato.
Custa-me muito
dizer isso, uma vez que o texto é
assinado por dois queridos amigos, cujos expressos talentos não consegui
reconhecer ali. Não vi um décimo da competência de CLÁUDIO LINS, o mesmo que escreveu uma obra-prima do TEATRO MUSICAL
BRASILEIRO, a vitoriosa versão musical de “Beijo no Asfalto”; menos, ainda, a genialidade de CRISTIANO GUALDA, que, a oito mãos, escreveu
uma excelente “ópera-rock”, motivo de orgulho para quem ama musicais, “Zé Com A Mão Na Porta”. Ambos os autores estão anos-luz de distância de
suas obras-primas.
Mais
comprometedora que a dramaturgia é a
equivocada direção, de RENATO ROCHA, que fez a sua opção, de
quase desprezar o TEATRO, para
privilegiar o circo, em especial o ótimo trabalho dos oito excelentes artistas acrobatas. A direção peca, e muito, pelo excesso, pelo exagero daquilo que, se
bem dosado, poderia ser um grande ganho para o espetáculo, mas que acaba
aborrecendo e, até mesmo, irritando; a mim, pelo menos.
Para que tanta
“pirotecnia” acrobática, tantos brilhos, tantos “neons”, tantos “leds”, tanto
apelo visual, em detrimento de um espetáculo
teatral? A resposta, porém, a esta pergunta está no “release” e no programa
da peça. É uma pena que a intenção de quem produziu
e dirigiu o espetáculo tenha sido
elevada à milionésima potência.
Se
formos conferir o currículo de RENATO
ROCHA, constataremos que ele é vasto e brilhante, uma vez que nele constam
trabalhos de uma bela carreira internacional, por quase dez anos, ligados ao
circo, principalmente, com destaque para espetáculos em Londres (para a Royal Shakeaspeare Company, The
Roundhouse, LIFT - Festival Internacional
de Teatro de Londres - e Circolombia),
para a Bienal Internacional de Artes de
Marselha, Teatro Nacional da Escócia,
Festival Internacional de Dança de
Leicester, União Europeia e Unicef.
Isso acontece. E só acontece com quem faz. Picasso não foi Picasso desde que lhe deram uma palmadinha no bumbum, quando, para
nosso deleite, o grande pintor veio ao mundo. Shakespeare não escreveu apenas obras-primas. Os grandes mestres do
nosso TEATRO, nas mais diversas
funções, também já cometeram seus “pecadinhos”. São todos seres humanos.
Do “release” da peça, enviado por BRUNA
TENÓRIO (MNIEMEYER ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO), extraí um trecho de uma
declaração do diretor: "Não
tem como fazer um espetáculo sobre SENNA sem muita velocidade, sons e luzes.
Teremos muitos números aéreos e pendulares. Será uma experiência sensorial,
multidisciplinar, uma grande homenagem a um dos nossos maiores heróis".
Concordo, em parte, com RENATO ROCHA, só
que não precisava pisar tão fundo no acelerador. Acelera, AYRTON! Pisa no freio, RENATO!
Sinceramente, eu achei que o plural poderia ser
mais singular.
A primeira vez em que vi a peça não
valeu muito, porque era uma sessão para convidados e isso faz uma diferença
enorme de quando o público é pagante e vai assistir ao espetáculo porque tem
interesse em fazê-lo. Na sessão para convidados, à saída, ouvi muitos comentários
desabonadores, alguns cruéis, de gente que, supostamente, entende de TEATRO e que, paradoxalmente, aplaudiu
e gritou “Bravo!”. O velho
corporativismo e a triste falsidade. Alguns, talvez, com uma pontinha de inveja.
Com relação a meia dúzia daquelas pessoas, tenho certeza disso.
Quando revi o espetáculo, cuja
audiência, que lotava os mil lugares do Teatro
Riachuelo, era composta de pagantes, tirando alguns “gatos pingados” de
convidados, como eu, só ouvi elogios, de gente que não entende, tecnicamente,
de TEATRO; de musicais, principalmente. Sim, são leigos. Mas o que isso importa?
Elas gostaram e se emocionaram, dizendo que iriam recomendar a peça a seus
parentes e amigos. Soube, também, que essa reação vem acontecendo após cada
sessão. São elas quem garante uma bilheteria, a qual, por si só, não basta,
para manter um espetáculo daquele porte em cena por muito tempo.
Mas
voltemos aos erros da direção. Não
faz o menor sentido, por exemplo, uma cena importante, um diálogo sério,
inserido no contexto da trama, quase no proscênio, sendo relegada a segundo
plano, por gente passando, de um lado para o outro do palco, ao fundo, andando
de monociclos, de patins ou se equilibrando sobre pneus, com figurinos excessivamente apelativos,
agredindo os nossos olhos, com aplicações de "leds", numa tremenda poluição visual, com um mar de luzes
brilhando, freneticamente; ou pessoas penduradas por cordas, contorcendo-se,
sem nenhuma relação com a cena, dividindo a atenção do espectador ou desviando-a,
totalmente, do foco dramatúrgico, ainda que este fosse fraco. O mais grave é
que isso se repete muitas vezes. Esse é, A
MEU JUÍZO, o pecado maior da direção.
Confesso
minha total ignorância, até que alguém me explique o porquê de colocar HUGO BONEMER, que vive o protagonista da “história”, pendurado,
de uma maneira nada confortável, conversando com os pais (de AYRTON), sentados, ou melhor, deitados
no chão. Explico: o casal está sentado em duas poltronas, com as costas destas
apoiadas no chão. Dá para visualizar a cena? Não entendi a proposta e a achei
bizarra. Alguma relação com o “cockpit”?
Repito que o problema pode estar em mim, porém divido-o com dezenas de pessoas
que me disseram a mesma coisa.
Ainda
que todos saibamos da existência de corrupção no meio policial (E como!!!), as cenas em que um “homem
da lei” exige propina do personagem BECO
(JOÃO VÍTOR SILVA), apelido de
AYRTON, em dinheiro e o seu relógio, são de um mau gosto incrível; é
conferido a elas (são dois momentos) um destaque exagerado, desnecessário
(Apareceu, do nada, por estar, infelizmente, na ordem do dia?), assim como
totalmente desnecessária é a cena em que umas moças ensaiam para um “show”, ou
coisa parecida, num clube.
Mas
é claro que também há acertos, por parte da direção, como a cena da largada de uma das corridas, feita com
acrobacias aéreas, que também servem para mostrar as várias ultrapassagens.
Isso é muito bom.
Outra boa cena
é a que trata da discussão, sobre a segurança nas corridas, entre os pilotos e
seus organizadores, a cúpula da Fórmula
1.
Também merece
destaque positivo a cena em que BECO e WANDSON (LUCAS VASCONCELOS) pegam um
táxi (Para fugir de um engarrafamento, os três – eles e o motorista - são içados,
acima dos carros, numa das corridas. É ótima essa fusão dos dois momentos.), rumo à escola do
adolescente, onde BECO se passaria
por um primo do jovem e falaria sobre sua profissão. Essa cena também é
muito boa, embora o texto seja um
pouco exagerado, caindo na pieguice, se bem que a mensagem nele presente seja
construtiva. É uma pena que, nesse momento, dois patinadores, com patins e
roupas cravejadas de “leds”, fiquem fazendo firulas, no palco, criando uma
“sombra” para o texto. Se não me
equivoco, esta cena acaba sendo suja, também, com a entrada de alguns
guarda-chuvas com aplicações de “leds”. Vai gostar de "leds" lá em Marte!!! Desperdício de imaginação.
Não
compromete a cena em que são abordados os amores de SENNA. A ex-esposa, Lílian
Vasconcelos (casaram-se em 1981) é vivida por ESTRELA BLANCO, que interpreta uma das mais belas canções da peça,
se bem que num tom, pereceu-me, muito desconfortável para ela. As duas
namoradas famosas, Adriana Galisteu
e Xuxa, aparecem nessa cena,
representadas por duas atrizes, as quais participam da canção que ilustra a
cena, sem, contudo, serem identificadas. O público percebe quem são as duas.
A
famosa rivalidade entre SENNA e ALAIN PROST, vivido por IVAN VELLAME, é bem explorada numa cena
em que ambos trocam acusações, por meio de uma canção, interpretada em dupla,
que mereceu tantas críticas negativas, mas da qual gosto muito: “Meu Rival”.
Aliás,
com relação à trilha sonora original,
com quinze canções, compostas por LINS e GUALDA, também tão criticada, dela gosto bastante, principalmente
de umas cinco ou seis. Compraria, sem pestanejar, o CD, se a trilha fosse gravada e posta à venda. Gostaria muito de poder
ouvi-la, em casa, outras vezes.
Agradou-me,
também, a cena em que AYRTON vence
um Grande Prêmio do Brasil, em Interlagos, pontuada por uma canção
muito bonita.
Um dos maiores
acertos, dos poucos, desta direção é
o tratamento poético dado à morte de SENNA.
Emociona, por ser sugerida, não mostrada, fria e cruamente, sem falar na beleza
da canção que ilustra a cena, uma das melhores letras da trilha: “E eu vou / Sem medo / Pro encontro mais bonito / É esse o meu destino
/ Eu vou / Sem medo / E levo aqui comigo / Milhões de coração de um país / Foi
onde eu aprendi que ser feliz / É sempre por um triz”.
O melhor
momento do espetáculo, para mim, é a longa cena, ligada à corrida em que AYRTON sofreu seu mais grave acidente,
no México, que retrata o seu medo, o que até parece ser estranho;
ele, que era conhecido e admirado por sua ousadia nas pistas e pela preferência
por correr sob a chuva, o que torna o esporte mais perigoso ainda. Mas AYRTON SENNA era, antes de tudo, embora obstinado pelas vitórias, um HOMEM e também tinha direito ao
sentimento do medo. A cena é brilhante,
pelo conjunto da obra: a canção, o uso de música eletrônica, a interpretação, a
coreografia, o cenário, a luz e os figurinos. “Quem tem medo do rugido dessa
fera que persegue, pronta pra te atacar? / Quem tem medo desse bicho escondido
sob a pele? / O pior rugido vem de dentro / Vem como um silêncio”.
Especialmente nessa cena, merece um destaque a atuação de NATASHA JASCALEVICH, que interpreta a metáfora da morte, cantando, de forma ímpar, a
canção “Medo”.
O que de
melhor existe, no espetáculo, é o elenco,
todos afiadíssimos, com excelentes trabalhos, sem exceção, sendo que os devidos destaques
vão para HUGO BONEMER, JOÃO VÍTOR SILVA, VICTOR MAIA, LUCAS
VASCONCELOS e IVAN VELLAME.
HUGO está perfeito, na pele do protagonista. Talhado para musicais,
ele revela, a cada trabalho novo, uma maturidade artística a olhos vistos,
dominando a interpretação, o canto e a dança. Depois de sua brilhante atuação
em “Yank – O Musical”, espetáculo em
que, infelizmente, não pôde ser indicado a prêmios, pelo fato de a temporada não ter atingido
um número mínimo de apresentações, exigido pelos diversos Prêmios de Teatro do Rio de
Janeiro, este é, sem dúvida seu melhor trabalho. O ator é exigido, física e
emocionalmente, ao extremo, durante o tempo que dura a peça, participando de
quase todas as cenas. Pareceu-me, contudo, que ele não está cantando
confortavelmente, o que poderia ser melhorado, se as canções que interpreta fossem transpostas para um tom mais baixo. É a impressão de um leigo, porém de bons
ouvidos. Mesmo assim, é um enorme prazer ouvi-lo cantando. No cômputo geral, o
resultado é muito bom.
JOÃO VÍTOR também está à altura de
representar o outro AYRTON, o BECO, seu apelido, na intimidade, antes
de sua notoriedade. Fiquei encantado com o trabalho desse rapaz, que interpreta
e canta muito bem e, além de tudo, é dono de um grande carisma e presença de
palco. É excelente a “química” entre ele e LUCAS
VASCONCELOS, responsáveis por alguns dos bons momentos da peça.
VICTOR MAIA, que vive um engenheiro, ou pode ser um chefe de equipe, o qual conversa com SENNA, passando-lhe instruções, durante
as corridas, aplica, em cena, tudo o que aprendeu em sua carreira, em musicais, pontuada de grandes sucessos.
Como ator, cantor e dançarino, VICTOR
– pode-se dizer – é um “ladrão” de cenas. Está cantando de uma forma admirável,
comovente. O seu solo, na canção “Herói
Impune” é arrebatador, embora a letra da canção seja uma das que deixam a
desejar: “Não dá pra ser herói impunemente”.
Quanto
a LUCAS VASCONCELOS, o adolescente
que está debutando, no TEATRO, com
experiência, apenas, no canto, por ter participado do programa “The Voice Kids”, chamo a atenção de
quem me lê para o seu trabalho. Como canta o rapazinho! Há de ser, certamente,
um grande nome do TEATRO MUSICAL. Na
sessão para convidados, como não poderia ser de outra forma, LUCAS demonstrou um certo nervosismo,
completamente superado. Sua atuação sofreu um grande “up”, quando o vi pela segunda vez. O jovem, que não morava no Rio de Janeiro, para cá está de mudança,
a fim de estudar e investir na carreira teatral. Tenho certeza de que nós,
amantes dos musicais, vamos lucrar muito com essa sábia decisão.
IVAN VELLAME entra, como destaque, por
seu personagem, tão marcante na vida de AYRTON.
Não são tantas as suas cenas como ALAIN
PROST, entretanto, em cada uma delas, seu trabalho é bastante notado, principalmente no canto.
FELIPE HABIB,
profissional tarimbado, acerta bastante nos arranjos, contudo deveria ser mais
aplicado na direção musical. Como já
tive a oportunidade de dizer, algumas canções me pareceram estar num tom não muito
confortável para seus intérpretes. Foi a impressão com que fiquei.
Gostei bastante dos cenários
e da direção de arte, a cargo de um
grande especialista no assunto, GRINGO
CARDIA. Quase tudo no tamanho XXG.
Todo material cênico, como não poderia deixar de ser, reporta ao universo das
pistas de corridas de Fórmula 1. São
capacetes, boxes, arquibancadas, faixas, sinalizações
e pneus, por exemplo, inclusive um gigantesco, muito bem explorado na cena do medo. Não poderia faltar um enorme
painel de “led”, ao fundo, onde são
projetadas belas imagens, em videografismo,
e dois “boxes”, montados nas duas laterais do palco, que servem para ocultar a
banda, revelada apenas ao final do espetáculo.
Dentro da proposta da peça, os figurinos, de DUDU BERTHOLINI, se encaixam perfeitamente, alguns, porém, de gosto
duvidoso, como os das duas namoradas de SENNA
(muito estranhos), em contrate, por exemplo, com a genialidade dos figurinos da cena do medo (Ela, outra vez, citada. Por que será?! Já disse, anteriormente.). Os
macacões – todos – são um espetáculo à parte. Lindos! Há de se louvar a técnica
empregada na confecção desses figurinos,
considerando os muitos movimentos dos atores em cena, daí a resistência do material
empregado e o apuro na confecção, visando a proporcionar conforto aos artistas,
facilitando-lhes o trabalho em cena.
LAVÍNIA
BIZZOTTO, com sua experiência em trabalhos com a Intrépida Trupe e a Cia. de
Dança Deborah Colker, assina uma boa coreografia,
tanto na parte do solo como no que se refere à aérea.
Um brasileiro, que faz parte da
equipe de criação do Cirque du Soleil,
RODOLFO RANGEL, foi contratado para
um trabalho, essencial, de suporte a tudo o que se refere a números circenses.
Além de contar com oito artistas profissionais da acrobacia, RODOLFO aproveitou o potencial, para
isso, de alguns atores do elenco, o que enriquece o trabalho e ajuda a que seja
atingida a proposta da peça. Um grande
acerto da produção.
O espetáculo é um “show”
e, para tanto, necessitava de uma luz de “shows”.
Essa era a proposta; assim o fez o conceituado “designer” de luz RENATO MACHADO.
Quando
as luzes da plateia do Teatro Riachuelo
se apagam, para o início do espetáculo, durante um bom tempo, antes que a ação,
propriamente, comece, são ouvidos, no escuro, os ruídos ensurdecedores do ronco
dos motores, antes da partida de uma prova, e o público começa a ser
transportado para a arquibancada de um circuito. É tudo muito real, graças ao bom
trabalho de desenho de som, de CARLOS ESTEVES, que, porém, apresentou
vários problemas, no dia da sessão para convidados, alguns já sanados. Nas duas
vezes em que assisti à peça, mais na primeira, o som da banda (esta excelente), muito alto,
abafa, por vezes, as vozes dos cantores, impedindo que sejam entendidas as
letras das canções, fundamentais, no desenvolvimento da trama. Esse
problema, creio eu, é fácil de ser resolvido, como uma boa equalização.
FICHA TÉCNICA:
Texto e Composições Originais: Cláudio Lins
e Cristiano Gualda
Direção: Renato Rocha
Assistente de Direção e Diretor Residente:
Pedro Rothe
2° Assistente de Direção: Matheus Brito
Direção Musical e Arranjos: Felipe Habib
Assistente de Direção Musical e Preparadora
Vocal: Aurora Dias
Assistente de Arranjos e Pianista Condutor:
Gustavo Salgado
Elenco: Hugo Bonemer (Ayrton Senna), João Vítor Silva
(Beco), Victor Maia (Engenheiro da Equipe), Lucas Vasconcelos (Wandson), Pepê
Santos (Wandson), Ivan Vellame (Alain Prost), Kiko do Valle (Personagens
Masculinos), Lana Rhodes (Personagens Femininos), Laura Braga (Personagens
Femininos e Elenco de Apoio), Leonardo Senna (Personagens Masculinos e Acrobata),
Adam Lee (Personagens Masculinos), Bruno Carneiro (Personagens Masculinos e
Acrobata), Douglas Cantudo (Personagens Masculinos e Acrobata), Estrela Blanco
(Personagens Femininos), Marcelinton Lima (Personagens Masculinos e Acrobata),
Marcella Collares (Personagens Femininos e Acrobata), Natasha Jascalevich
(Personagens Femininos e Acrobata), Olavo Rocha (Personagens Masculinos e
Acrobata), João Canedo (Personagens Masculinos, Acrobata e Elenco de Apoio),
Juliano Alvarenga (Personagens Masculinos e Acrobata), Karine Barros
(Personagens Femininos), Paula Raia (Personagens Femininos e Elenco de Apoio),
Will Anderson (Personagens Masculinos), Gabriel Demartine (Personagens
Masculinos e Swing), Norrana Hadassa (Swing e Acrobata) e Pedro Valério Lopes (Swing
e Acrobata)
Banda: Evelyne Garcia (Piano e Teclado / Regente), Diego
Soares (Bateria e Eletrônicos / Regente), Thiago Vieira (Guitarra), Vini Lobo (Baixo
e Sintetizador), Elias Correa (Trombone), Vander Nascimento (Trompete e
Flugel), Daniel Kaeser Merola (Saxofones e Clarinete) e Daniel Castanheira (Samplers
e Sintetizadores).
Criação Sonora: Daniel Castanheira
Cenografia e Direção de Arte: Gringo Cardia
Assistente de Cenografia: Jackson Tinoco
Figurino: Dudu Bertholini
Assistente de Figurino: Cínthia Kiste
Coreografia: Lavínia Bizzotto
Assistente de Coreografia: Roberta Serrado
Desenho de Som: Carlos Esteves
Desenho de Luz: Renato Machado
Visagismo: Anderson Montes
Assistente de Visagismo: Marcos Ribeiro
Produção de Elenco: Marcela Altberg
Direção Técnica de Efeitos de Voo e Rigging
Designer: Vincent Schonbrodt
Supervisor de Efeitos de Voo e Rigging
Designer: Daniel Araújo
Assessoria de Acrobacia e Coach: Rodolfo
Rangel
Coordenador Técnico: Tuto Gonçalves
Fotos de Cena: Caio Gallucci
Assessoria de Comunicação: MNiemeyer
Coordenação Geral de Produção: Bianca Caruso
Direção Executiva: Luiz Calainho
Direção Artística e Supervisão de Produção: Aniela Jordan
Marketing e Negócios: Fernando Campos
Direção Financeira e Leis de Incentivo: Patrícia Telles
Uma Produção AVENTURA ENTRETENIMENTO
SERVIÇO:
Temporada: De 10 de
novembro a 04 de fevereiro de 2017
Local: Teatro Riachuelo Rio
Endereço: Rua do Passeio, 40 - Cinelândia - Rio de Janeiro - RJ
Dias e Horários: 5ªs e 6ªs feiras, às 20h30min; sábados,
às 16h30min e às 20h30min; domingos, às 19h.
Vendas: www.ingressorapido.com.br
Preços (valores de
entrada inteira):
5ªs e 6ªs feiras e sábados (16h30min): Plateia: R$120,00; Balcão Nobre:
R$100,00; Balcão: R$70,00
Sábados (20h30min) e domingo (19h): Plateia: R$150,00; Balcão Nobre:
R$120,00; Balcão: R$80,00
Capacidade: 1000 lugares
Duração: 2h20min (com 15 minutos de intervalo)
Classificação Etária: Livre
Seria imperdoável terminar o espetáculo sem a execução do "Tema da Vitória", composto por Eduardo Souto Neto, a marca registrada de AYRTON SENNA.
Com
todos os altos e baixos, mais estes que aqueles, não se pode negar que o objetivo
desta montagem é alcançado, com relação ao grande público. Agrada e emociona. É
justíssima a homenagem a alguém que fazia mais coloridas as nossas manhãs de
domingo. O espetáculo toca na memória afetiva de todos, trazendo à tona uma saudade gostosa e bonita de um grande ídolo, e isso já é algo de
muito bom.
A AVENTURA ENTRETENIMENTO nos apresenta
uma proposta na qual eles acreditam e muita gente também. E tem de ser respeitada,
porque há público para todo e qualquer tipo de espetáculo. E não podemos nos
esquecer de que profissionais de variados ramos e setores, mais de uma centena
de pessoas, estão trabalhando, empregadas, neste momento de crise, graças a “AYRTON SENNA - O MUSICAL”.
Não me
arrependo, nem um pouco, de ter ido ao Teatro Riachuelo Rio, para tentar apreciar peça, menos, ainda, por duas vezes, embora não fosse aquilo a que eu
gostaria de assistir, e acho que ela merece ser vista,
sim, e que cada um tire as suas conclusões, já que NÃO DETENHO O MONOPÓLIO DA VERDADE.
(FOTOS: CAIO GALUCCI)
GALERIA PARTICULAR
(FOTOS: MARISA SÁ.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário