quarta-feira, 13 de setembro de 2017


“O PORTEIRO”


(HOMENAGEM

CERTA E MERECIDA,

EM FORMA

DE UM HUMOR CORRETO

E NA MEDIDA EXATA.)

 

 
 

 
            Está em cartaz, no Teatro II do SESC Tijuca (VER SERVIÇO.), um monólogo que deve ser prestigiado, não só pelo público local, mas também pelos moradores de qualquer parte da cidade. Vale a pena atravessar os túneis e ir ao simpático bairro da Tijuca.

            “O PORTEIRO”, protagonizado por ALEXANDRE LINO, traz histórias de porteiros do Rio de Janeiro, cujo destaque é o humor nordestino, com texto e direção de PAULO FONTENELLE, de acordo com o “release”, enviado por Minas das Ideias, assessoria sob a responsabilidade de CARLOS GILBERTO e FÁBIO AMARAL.

            Depois do estrondoso sucesso com outro monólogo, “Lady Christiny”, no Rio de Janeiro e em várias outras cidades, LINO nos brinda com um trabalho que diverte e, ao mesmo tempo, emociona; uma justa homenagem a um profissional tão presente e importante na vida de muita gente. Às vezes, presente até em excesso, causando-nos alguns embaraços: o porteiro do nosso prédio.

            É a terceira vez que ALEXANDRE LINO trabalha o universo das chamadas “minorias”. Foi assim com “Domésticas” e “Nordestinos”, ambas as peças mais dois grandes sucessos na carreira deste grande ator, diretor e empreendedor.

 
 



 



 
SINOPSE:
 
O espetáculo conta histórias reais, coletadas através de entrevistas, de vários porteiros nordestinos, que deixaram sua cidade natal, em busca da realização de seus sonhos no Rio de Janeiro.
 
Diante do não comparecimento do síndico do prédio em que WALDISNEY (ALEXANDRE LINO) trabalha, o porteiro assume o comando da reunião de condomínio.
 
A plateia faz as vezes de condôminos.
 


 



 
 

            Como migrante nordestino, LINO conhece bem a lida dos porteiros, já que a grande maioria deles procede do nordeste; eles que, ao buscar o Rio de Janeiro, assim como São Paulo também, na esperança de um bom emprego, que lhes garanta uma vida melhor, acabam por fazer parte, em grande escala, dessa classe profissional, já que a profissão de porteiro é uma das raras possibilidades de emprego que encontram, além da construção civil.

            LINO já interpretou vários porteiros, em sua carreira profissional, e parece ter, por eles, grande respeito e afeição, a julgar pelo modo como os interpreta. Com este personagem, WALDISNEY, de certa forma, o ator volta às suas raízes e traz um pouco da cultura nordestina, miscigenada com a carioca.

Diz o já referido “release” que ‘O PORTEIRO’ não é uma peça, propriamente dita; é uma experiência interativa, em que os espectadores são convidados a participar de um grande e divertido encontro de condôminos.”

Isso é a mais pura verdade. Partindo da liberdade ficcional que o TEATRO nos proporciona, um porteiro comanda uma reunião de condomínio, na ausência do síndico, e o texto propicia participações dos fictícios condôminos, o que se dá da forma mais natural e respeitosa possível, como se cada um que é chamado a participar das cenas voltasse à infância e brincasse de “faz-de-conta”. A plateia entra no jogo, de cabeça e, se o ator der corda, o espetáculo pode durar muito mais do que os deliciosos 60 minutos de duração.

            Ainda extraído do “release”, “Segundo LINO, é uma relação de afeto com essas pessoas, tão necessárias nas nossas vidas, que o faz nunca percebê-los da mesma forma quando vai interpretá-los.”

A peça dá sequência à linha investigativa da Documental Cia, que nasceu em 2012, com a peça ‘Domésticas’, e passa por grandes sucessos, como ‘O Pastor’ (2013), ‘Acabou o Pó’ (2014), ‘Nordestinos’ (2015), ‘Volúpia da Cegueira’  e ‘Lady Christiny’ (2016), que têm, como um de seus pilares, um compromisso com o real e a perspectiva do pertencimento para suas obras.”

O espetáculo direciona todos os focos a alguém que, infelizmente, muitas vezes, é ignorado por boa parte da sociedade, humilhado, até, e que, aqui, se torna o protagonista e reina, absoluto, conduzindo, como faz um maestro, a sua orquestra. O porteiro tem vez e voz. E poder.

O texto da peça é muito engraçado. O autor colecionou e soube costurar verdadeiras “pérolas” do “folclore porteirês”. E esse texto é muito bem explorado pelo talento de ALEXANDRE LINO, que, mais uma vez, demonstra total domínio de cena e de público. Um trabalho desse tipo exige muito do ator, uma vez que nunca se sabe qual será a reação da pessoa a quem ele se dirige, para chamar de Dona Alzira, do 307, uma velha maconheira, e de Dona Juliana, do 302, a vizinha dona de um cachorro insuportável. Ambas vivem a reclamar, uma da outra, e o porteiro promove as pazes entre as duas, culminando com um abraço. Poucos atores conseguem atingir esse nível de confiança do público.

E ainda temos a Dona Adelaide, do 504, que tem umas “manias meios estranhas”. E o morador – não me lembro de seu nome – que é inadimplente com o condomínio e vive se escondendo, passando pela entrada de serviço e fugindo das câmeras de segurança? E o rapaz que mora com um “amigo” sarado, num apartamento que só tem um quarto?

Como eu me diverti com as inúmeras vezes em que WALDISNEY se dirige ao Seu Waldemar, do 802, o ex-síndico, a quem não poupa elogios e bajulações, pelo fato de ser merecedor de grandes regalias e benesses, durante a gestão daquele senhor!

Ri-se da primeira à última cena. Por tudo. WALDISNEY faz parte de uma família numerosa, tendo como irmãos “machos” Rodney, Sidney, Fransciney e Paul Macartney (a sílaba tônica é a última, como nos nomes dos demais irmãos). Este, um verdadeiro achado, para não fugir à “criatividade” dos pais. Paul é lembrado, várias vezes, durante a peça, pois está para chegar ao Rio de Janeiro (mais um) e sempre liga para WALDISNEY, dizendo que pegou o ônibus errado, tendo ido parar nos lugares mais insólitos.

As irmãs do porteiro são Helen, Suelen, Marielen, Kellen e Roberta. Esta, a “ovelha negra”, cujo nome fugiu à sonoridade da terminação dos nomes das outras, acaba por se tornar “artista”, assumindo o pseudônimo de Michellen. Diga-se, de passagem, que a atividade artística escolhida pela moça é um tanto reprovável, porém não percebida por WALDISNEY (pelo menos, aparentemente), o que lhe confere um ar de ingenuidade, que, aliás, ele demonstra durante a peça.

Com uma produção bem barata, não há grandes destaques para o cenário, de KARLLA DE LUCA, que procura reproduzir a portaria de um prédio de classe média baixa. O figurino, também assinado por KARLLA, se resume a um uniforme de porteiro, onde se lê “EDIFÍCIO CLÍMAX”, e não poderia ser outro. A iluminação – leia-se RENATO MACHADO - é simples e não comportaria nada além do que é utilizado.
 

 

 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto e Direção: Paulo Fontenelle
Assistente de Direção:  Rodrigo Salvadoretti
 
Atuação: Alexandre Lino
 
Iluminação: Renato Machado
Cenário e Figurino: Karlla de Luca
Preparação Corporal e Voz: Paula Feitosa
Direção de Arte e Produção: Alexandre Lino
Produção Executiva: Equipe Cineteatro
Programação Visual: Guilherme Lopes Moura
Fotos: Janderson Pires
Assessoria de Imprensa: Minas de Ideias
Idealização e Realização: Documental.Cia e Cineteatro Produções
 

 
 
 


 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 08 de setembro a 01 de outubro de 2017.
Local: Teatro Sesc Tijuca- Teatro II.
Endereço: Rua Barão de Mesquita, 539 – Tijuca - Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 3238-2167.
Capacidade: 50 Lugares.
Preço: R$ 6,00 (COMERCÁRIO) R$ 12,00 (Meia) R$ 25,00 (INTEIRA).
Horários: De sexta-feira a domingo, às 19h.
Classificação: 16 anos.
Duração: 60 minutos.
Gênero: Comédia.
 

 
 
 


            Para terminar, faz-se necessário dizer que “O PORTEIRO” é um espetáculo despretensioso.

Toda vez, porém, que utilizo tal adjetivo, fico com a preocupação de que o meu leitor possa achar que o espetáculo não seja de boa qualidade, “porque não tem grandes pretensões”.

NÃO É NADA DISSO!!!

Verificando-se as várias acepções que o adjetivo contém, temos, sim, a de que pode significar “que não tem ou em que não há pretensão”, mas, também, ocorre no sentido de “sem afetação; modesto, simples”. É neste segundo viés que a peça se encaixa. E isso é muito bom!!!

            Mas não pensem que só vamos ao SESC Tijuca para dar boas gargalhadas com “O PORTEIRO”. A peça também nos faz refletir bastante, principalmente no seu final, quando, sob um único foco de luz, e sentado, ao contrário do que faz durante, praticamente, a peça inteira, WALDISNEY, praticamente, cede espaço ao ator ALEXANDRE LINO, que diz um belíssimo texto, sem o sotaque nordestino, seriamente, como se chamasse as pessoas à realidade.

Nem para todos caberá a carapuça, mas se ela couber em, pelo menos, uma cabeça, a função social da peça, do TEATRO, estará cumprida.

            Graças à gentileza de LINO, que me enviou o texto, aproprio-me de alguns trechos desse enorme “bife”:


 


 
“Vocês sabem, o único defeito que eu vejo desse serviço é que, muitas vezes, as pessoas destratam a gente, como se não fosse nada. Agem como se a gente não existisse. Isso acontece mais com gente que vem visitar. Aqui, vocês, os moradores, me tratam direitinho.”
“Aqui tem quase 100 apartamentos. Olha quanta gente? Tem de todo tipo. Branco, preto, amarelo, homem, mulher, veado, sapatão, travesti, puta, maconheiro e até gente doente da cabeça... Mas eu gosto mais é de gente da minha idade. Tem muita. É o pessoal que mais gosta de cumprimentar e dá um bom dia, boa tarde e boa noite... O pessoal mais jovem gosta disso não.”
Às vezes, o pessoal pergunta se eu sinto saudade da minha terra... Eu não sinto, não. Minha mãe e meu pai já morreram e muitos parentes também. Todos os meus irmãos e irmãs, tirando o Paul Macartiney, que já deve estar chegando, todo mundo já está aqui. Eu vou buscar o que lá? Eu já me sinto daqui. Minhas filhas nasceram aqui.”
“O porteiro é aquele que abre as portas da sua vida, da sua vida. Nós sempre sabemos as últimas do ‘Balanço Geral’. Tratamos todo mundo com respeito e estamos sempre prontos pra ajudar, com as compras, com o elevador, segurando as crianças para vocês irem buscar os carros. Não adianta ter mestrado e doutorado e não cumprimentar o porteiro. Não adianta fazer yoga e não cumprimentar o porteiro. Não adianta ser vegetariano e não cumprimentar o porteiro. Não desconte o seu mau humor no porteiro! Quando a gente não recebe um ‘bom-dia’, ao menos, a gente se sente invisível. A gente gosta, sim, de conversar; gosta, sim, de um cumprimento; até de um abraço.”
 


 

Fica a dica: um ótimo espetáculo em cartaz, no Rio de Janeiro, esperando por você, em curta temporada.
Recomendo muito!!!


(FOTOS: JANDERSON PIRES.)




 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

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