sexta-feira, 20 de maio de 2016


GOTA D’ÁGUA

[A SECO]

 

 

 

(MAS COM MUITO MOLHO.)

 



 

 

            Era a noite de uma 2ª feira, dia 9 de maio de 2016, e eu estava na segunda fila do Theatro NET Rio, com o objetivo de assistir, numa sessão especial, para convidados, a um espetáculo que, para mim, era uma grande incógnita. Não sabia o que esperar dele, apesar de ter a certeza de que nomes, como os de LAILA GARIN, ALEJANDRO CLAVEAUX, RAFAEL GOMES e ANDRÉA ALVES não iriam, como dizia a minha sábia avó, “meter a mão em cumbuca”.

 

            Fui, emocionei-me ao extremo e “chorei, chorei, até ficar com dó de mim” (VIVA CAUBY!) Tão logo cheguei a casa, ainda com as batidas cardíacas “fora da ordem”, postei, numa rede social:


 


 

“Oh, pedaço de mim...”

 

 

 

 
Eu ainda estou sob o impacto de um espetáculo que me levou, hoje, ao Theatro NET Rio, meio cético e muito curioso.
Como montar “GOTA D'ÁGUA” com apenas um casal de atores?
O que será esse musical “GOTA D'AGUA [A SECO]”?
Aqui está a resposta: uma OBRA-PRIMA!
Dormirei em ESTADO DE GRAÇA.
LAILA GARIN e ALEJANDRO CLAVEAUX, dois queridíssimos e talentosíssimos amigos, dando um "banho" de arte, transbordando sensibilidade e emoção.
A adaptação e direção, de RAFAEL GOMES, é sensacional!
Mais uma vez, eu te digo: Obrigado, ANDRÉA ALVES. Você é a reencarnação de Midas.
Assistam e procurem alguma falha! Não encontrarão!
Preparem os corações, porque os dez ou quinze minutos finais do espetáculo são de fazer perder o fôlego e o coração disparar.
Juro que eu pensei que não fosse aguentar.
Corto relações com quem não for assistir.




 


 

“Ah, se já perdemos a noção da hora...”

 

 

            Agora, vamos falar da peça original, com maiores detalhes e, da montagem em tela, sob uma apreciação técnica, um pouco, ainda, tomado pela emoção, pois, só de me lembrar do que vi, e que espero rever outras vezes, já fico com a visão meio turva, causada pela insistência das lágrimas, bradando pela liberdade de ganhar o exterior dos meus olhos.


            Comecemos, de forma retrospectiva, pelo ano de 1975, quando PAULO PONTES, então casado com a diva BIBI FERREIRA, juntou-se a CHICO BUARQUE, movidos por uma ideia comum: escrever um “musical”, para o TEATRO, o que era meio raro, naquela época, no Brasil, contando a tragédia clássica “Medeia”, de Eurípedes, datada de 431 a.C., só que adaptada para aquela época, década de 70, e passada num conjunto residencial, a Vila do Meio-Dia, num subúrbio do Rio de janeiro, agregando, à obra, elementos da cultura popular brasileira, como o samba e os ritos da umbanda. Os habitantes da Vila, representando o povo, funcionam, na peça, como o tradicional coro, presente nos textos dramáticos gregos.


            Na tragédia original, “Medeia”, é traçado o perfil psicológico de uma mulher, carregada de amor e ódio a um só tempo. Esposa repudiada, trocada por uma jovem bem mais nova e bonita, e “estrangeira” perseguida, ela se rebela contra o mundo que a rodeia, rejeitando o conformismo tradicional. Tomada de fúria terrível, mata os dois filhos, que teve com o marido, Jasão, para se vingar dele e buscar transformações em si mesma. É vista como uma das figuras femininas mais impressionantes da dramaturgia universal. “Medeia” é, reconhecidamente, um dos maiores clássicos da literatura dramática de todos os tempos.





A gente faz hora, faz fila, na Vila do Meio-Dia...”


 

            PAULO PONTES e CHICO BUARQUE, em plena ditadura militar, ainda que, graças a Deus, no seu ocaso, sob a clava de Geisel, o ditador de plantão, ousaram transformar a clássica tragédia numa obra-prima, plena de críticas sociais, contra a tirania do poder, implantada, no Brasil, desde o golpe militar de 1964. Mas tudo regado com muita poesia, texto em versos rimados, embalado por quatro lindas canções, que se tornaram emblemáticas, no cancioneiro popular brasileiro: “Flor da Idade”, “Bem Querer”, “Basta Um Dia” e a canção-título do espetáculo, “Gota D’Água”. Não era, propriamente, um “musical”, pela quantidade de canções nele existentes e pela carpintaria do texto, mas a peça recebeu a consagração máxima do público e da crítica, como tal gênero teatral, figurando, até hoje, na galeria dos maiores sucessos teatrais brasileiros.


            Curiosamente, a peça estreou, no Rio de Janeiro, em dezembro de 1975, no Teatro Tereza Rachel, transformado, hoje, no lindo Theatro Net Rio, onde a atual versão também estreou e está em cartaz. A direção era de Gianni Ratto. A peça ficou em cartaz até fevereiro de 1977, chegando a ir para o Teatro Carlos Gomes, onde fez temporada popular. Em abril do mesmo ano, estreou em São Paulo, e fez 650 apresentações, um recorde para a época.


            Exatamente 32 anos depois, em 2007, Izabella Bicalho protagonizou uma outra versão, dirigida por João Fonseca, com novas músicas de CHICO, inseridas no espetáculo, como O que Será (À Flor da Pele)” e Partido Alto”, além de outras canções inéditas, compostas por Roberto Burgel, a partir dos versos originais. Essa montagem já se identificava mais, em termos estruturais, com o que conhecemos, hoje, como um “musical” e representou outro grande momento do nosso TEATRO, fazendo uma carreira brilhante e longa, arrebatando o público e colecionando alguns prêmios.











                                                                                                                                                             “Te perdoo, por fazeres mil perguntas (...).
Te perdoo, por pedires perdão, por me amares demais...”



 

 
SINOPSE:
A trama se passa na Vila do Meio-Dia, um conjunto habitacional suburbano do Rio de Janeiro, na década de 70.
O foco principal da trama se concentra na relação entre JOANA (LAILA GARIN)JASÃO (ALEJANDRO CLAVEAUX), um sambista, compositor, que, depois de dez anos de vida em comum com JOANA, decide abandoná-la, e aos dois filhos, que tivera com ela, para se casar com ALMA, muito mais nova e “apresentável” que aquela, filha do inescrupuloso CREONTE, dono do conjunto habitacional, representando o opressor, o grande explorador da miséria alheia, e que, por acreditar no talento de JASÃO, que acabara de compor o samba “GOTA D’ÁGUA”, investia na carreira deste, impondo-lhe algumas “condições”, sendo a principal delas obrigar JOANA, que liderava uma reação contra o terror imposto por CREONTE, a entregar o imóvel por ela e os filhos habitado e pelo qual, quanto mais pagava, maior crescia a dívida para com o seu algoz, e a sumir daquele lugar, deixando o terreno “limpo”, para a felicidade da filha, após se casar com o compositor JASÃO.  
JOANA não se conforma com a situação, não consegue digerir a “traição” do seu homem e não para de fazer oposição às atitudes de CREONTE, o qual acaba por despejá-la da Vila, para evitar futuros “problemas”.
Para se vingar dos três, ela prepara um prato especial, para o casamento: um bolo envenenado, um “mimo” à noiva. Os dois filhos se tornam portadores desse “presente”, mas CREONTE impede a filha de comê-lo e os expulsa da festa.
Com o fracasso do plano de matar seus inimigos, ela resolve dar fim à própria vida e à dos filhos. Pega o bolo e o divide entre as duas crianças, enforcando-se, em seguida. No final, em vez do bolo, JASÃO recebe um “presente” macabro: os corpos dos três.
A vingança se cumpre.
 

 

 

Rafael elegeu o embate como o conceito central de sua montagem (Foto: Globo)

“Hoje é o dia da caça, hoje é o dia da caça e do caçador...”

 

            Jamais perderia um segundo sequer da minha vida, para tentar estabelecer uma ordem de preferência, considerando as três montagens deste espetáculo. São três obras-primas, cada uma situada num contexto de tempo e de propostas distintas. Se a versão original me levou às lágrimas e ao teatro por um número de vezes do qual não consigo me lembrar, o mesmo aconteceu com a segunda e, certamente, ocorrerá com a atual. Já me programei para rever esta obra-prima, no próximo domingo.

            Voltando à minha postagem, numa rede social, logo após ter assistido ao espetáculo, que mexeu, profundamente, comigo, com o meu emocional, quero esclarecer que o meu ceticismo, creio, era pertinente, assim como a minha curiosidade. Fui achando que havia sido feita uma adaptação em que um casal de ótimos atores se revezaria, nas quase duas dezenas de personagens, criados por PAULO e CHICO. Mas não era nada do que eu imaginava. Superou, trilhões de vezes, a minha expectativa.

Quem assistiu a alguma das duas versões anteriores, ou às duas, estará diante de um espetáculo completamente diferente, porém verá a mesma história, contada sob uma outra ótica, um novo olhar, mantendo-se a essência da trama.

 


“Te perdoo por ligares pra todos os lugares de onde eu vim.
           Te perdoo, por ergueres a mão, por bateres em mim...”

 

Trata-se de uma adaptação absolutamente inédita e absurdamente fantástica, feita pelo magnífico adaptador e diretor RAFAEL GOMES, à qual me permito aplicar uma frase, cunhada não sei por quem, sobre a escola de samba carioca Acadêmicos do Salgueiro: nem melhor, nem pior; apenas, um espetáculo (uma escola) diferente. A começar pelo título, que teve agregado, entre colchetes, a locução “[A SECO]”. A leitura de RAFAEL é focada em sua natureza política, cruelmente atual, desenvolvida por um casal de protagonistas.


Como o “[A SECO]” já indica, trata-se de uma montagem bem “enxuta”, que “busca chegar à essência da história, através dos embates entre os protagonistas, JOANA e JASÃO” (extraído do “release” da peça), ainda que outros personagens do original também sejam citados. “Mesmo com parte da trama sociopolítica reduzida, na versão, RAFAEL GOMES reitera que a sua leitura da peça é focada em sua natureza política, cruelmente atual: ‘A ‘GOTA D’ÁGUA’ original possui uma trama política bastante latente em seu embate entre opressores e oprimidos. Ao concentrar a história em JOANA e JASÃO, em suas ideologias, ações e sentimentos, eu gostaria, ainda assim, de falar sobre essa política mais essencial da vida, do dia a dia...” (extraído do “release” da peça), afirma o diretor, que manteve toda a estrutura formal da peça e inseriu novas canções e pequenas citações de letras de CHICO, em algumas passagens do texto.

 





“Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios...”




 



“Se entornaste a nossa sorte pelo chão, se, na bagunça do teu coração, 
meu sangue errou de veia e se perdeu...”


 

            Além das quatro canções originais, a montagem ganhou o acréscimo de grandes sucessos: “Caçada”, “Eu Te Amo”, “Baioque”, “Você Vai Me Seguir”, “Cálice”, “Mil Perdōes”  e “Mulheres de Atenas”, seguindo a ordem em que foram inseridas no texto. Essas canções não foram escolhidas ao acaso; foram incorporadas ao texto, para servir à dramaturgia, complementando ou esclarecendo partes do texto original.

A trama passional, que culmina na vingança de JOANA, tem, como pano de fundo, as injustiças sociais pelas quais os moradores do local passam, vítimas da exploração de CREONTE, o todo-poderoso da região. Por conta deste acúmulo de tensões, RAFAEL elegeu o embate como o conceito central de sua montagem. Não somente o embate amoroso, que está no cerne da trama do casal, mas também o social, em um sentido mais amplo, e, principalmente, o íntimo (extraído do “release” da peça). São as batalhas internas a que as circunstâncias externas nos sujeitam. JASÃO, no conflito entre o que está ganhando e o que está deixando para trás, assim como JOANA, na decisão entre ir às últimas consequências, para se vingar ou, simplesmente, seguir vivendo – o embate entre o humano e o divino, o terreno e o espiritual”, conclui o diretor (extraído do “release” da peça).

            O espetáculo, já como era, há quarenta anos, continua atemporal, visto que traição e ambição surgiram com o primeiro exemplar da raça humana. Em cena, uma tragédia carioca, marcada por embates universais.

            A alquimia utilizada por RAFAEL GOMES gerou um texto brilhante, lindo e de total compreensão, para qualquer tipo de público. Artesanato perfeito!

            Eu já o admirava, pelas adaptações de “Edukators”, outro grande e intensíssimo trabalho, e do infantil “Mas Por Quê? – A História de Elvis”. Com este texto, ele passa a ter, em mim, seu admirador maior.

 


Alejandro Claveaux, Laila Garin e Rafael Gomes.

 

            Com relação à dupla de protagonistas, terei de fazer um esforço sobre-humano, para não cair no lugar-comum, na pobreza de adjetivação, uma vez que o trabalho da dupla é merecedor de todos os elogios.

            LAILA GARIN é um fenômeno, uma artista para a qual algum epíteto novo deveria ser criado. Apaixonei-me por seu trabalho, desde que a vi, pela primeira vez, num musical, ao lado de Osvaldo Mil, “Eu Te Amo Mesmo Assim” (está na hora de remontá-lo), no qual ela esbanjava talento, quer como atriz, quer como cantora, tudo com uma sensualidade que poucas atrizes conseguem levar para o palco. É assim que ela também atua neste “GOTA D’ÁGUA [A SECO]”, depois de se tornar famosa e reconhecida, por sua brilhante criação para o mito Elis Regina, em “Elis – A Musical”, espetáculo que a consagrou e garantiu seu espaço entre as maiores cantrizes do Brasil e que lhe rendeu muitos prêmios e indicações a outros, depois de ter passado por espetáculos interessantes, como “Sarau das Putas”, por exemplo. Seu trabalho anterior ao atual, da mesma forma, merecedor dos maiores elogios, foi na estupenda adaptação, para um musical, feita por Cláudio Lins, de um clássico de Nelson Rodrigues: “O Beijo no Asfalto”. A sensualidade de LAILA, em cena, no espetáculo alvo desta crítica, é contagiante, atingindo seu ápice, a meu juízo, quando interpreta a canção “Baioque”.

Não há a menor dúvida de que o papel da protagonista, uma personagem intensa, de temperamento forte, corajosa, desafiadora, autêntica e que não faz concessões, tinha de ser bem defendido por LAILA. Ela construiu uma JOANA com tudo o que a personagem tem em si: uma mulher que é capaz das maiores loucuras, pondo a emoção acima de qualquer grau de razão, pelo homem amado e por garantir sua dignidade, de mulher, de fêmea e de mãe. Ninguém faria melhor o papel de JOANA, nesta versão, do que LAILA GARIN! Não sei se a aplaudi mais em seus solilóquios ou em suas interpretações para as belas canções do espetáculo. A voz de LAILA é um bálsamo para os ouvidos e os corações.

 


“Quando o meu bem querer me vir, estou certa que há de vir atrás.
Há de me seguir por todos, todos, todos, todos os umbrais...”






“E qualquer desatenção (Faça não!) pode ser a gota d’água...”

 

Qualquer ator sabe que dividir o palco com LAILA GARIN é um desafio dos maiores, principalmente se ele é o único, além dela, no elenco. ALEJANDRO CLAVEAUX também tinha, e tem, ainda, essa certeza, mas não “amarelou”. Topou ser o JASÃO e não decepciona ou deixa a desejar. Interpreta o personagem com muita competência e verdade, pondo em destaque, com o corpo e as modulações de voz, tudo o que ele concentra de apaixonado, traidor, egoísta, sedutor... JASÃO, ainda que visto como um vilão, talvez seja tão digno de pena quanto JOANA, por vieses diferentes. Ele fica, claramente, dividido entre o verdadeiro amor, que tinha pela companheira, e seu desejo, ambicioso, de se tornar famoso, por seu trabalho como compositor. Ele é um “pau-mandado”, um intermediário do poder, um porta-voz da força. Interpretar tudo isso não é para qualquer ator e ALEJANDRO passeia, de um extremo a outro, em cena, com muito desembaraço e força persuasiva.



“Pra mim, basta um dia, não mais que um dia, um meio-dia...”

 

ALEJANDRO CLAVEAUX é um ótimo ator e tem consciência de que, como cantor, não pode ter o seu potencial vocal comparado ao de LAILA, entretanto cumpre a parte que lhe cabe, nas canções, com correção e, principalmente, com a emoção do intérprete, não a de um cantor técnico. É óbvio que, para atuar num musical, o ator precisa saber cantar, mas não, necessariamente, ser dono de um vozeirão. É verdade que alguns papéis, em determinados espetáculos, exigem um ator/cantor com grande experiência em musicais e muita consistência vocal, quando o trabalho de ALEJANDRO poderia vir a ser comprometido, porém, dentro da proposta deste “GOTA D’ÁGUA”, sua “performance” é perfeita, mais que satisfatória; a alma fala mais alto que a extensão vocal; a emoção extrapola a técnica. O resultado é uma excelente química entre ele e LAILA.

 


“Te perdoo por te trair...”

 


“Você vai me seguir aonde quer que eu vá...”

 

As duas figuras, em cena, do ponto de vista de beleza estética, de postura cênica e de plasticidade, são colírios para o olhar do público. A entrega da dupla aos seus personagens é total e comovente. É impossível não ficar com a respiração comprometida, não entrar em estado de taquicardia, diante da atuação dos dois, principalmente nos dez ou quinze minutos finais do espetáculo, sobre os quais não falarei, para não quebrar a surpresa de quem for assistir ao espetáculo. Haja coração!

 


“Se nós, nas travessuras das noites eternas,  já confundimos tanto as nossas pernas...”



“Não, acho que estás te fazendo de tonta,  te dei meus olhos pra tomares conta. 
Agora, conta como hei de partir...”

Além da magnífica adaptação, RAFAEL GOMES dirige o espetáculo e o faz de forma irretocável, contribuindo para que a peça já possa ser considerada uma das grandes surpresas deste primeiro semestre de 2016 e, certamente, um dos melhores espetáculos da temporada teatral deste ano, no Rio de Janeiro.

Convidado por ANDRÉA ALVES (Sarau Agência de Cultura Brasileira Ltda.), que produz o espetáculo, e por LAILA GARIN, produtora associada, este é o primeiro espetáculo que dirige, fora de sua companhia, a Empório de Teatro Sortido, de onde trouxe alguns colaboradores para esta montagem, como o cenógrafo ANDRÉ CORTEZ e o iluminador WAGNER ANTÔNIO, sobre cujos trabalhos discorrerei adiante, os três, ainda, sob o efeito do grande sucesso do espetáculo, ainda em cartaz em São Paulo, “Um Bonde Chamado Desejo”, um grande sucesso de público e de crítica, ao qual assistirei, em duas semanas e pelo qual RAFAEL foi premiado, como melhor diretor.

O diretor considera “GOTA D’ÁGUA [A SECO]” o seu primeiro musical, embora prefira pensar na montagem como uma “peça com música”, detalhe que pouco interessa, diante da grandeza da montagem.



“Não conheço seu nome ou paradeiro, adivinho seu rastro e cheiro...”

 

Se PAULO e CHICO foram ousados, ao escrever o original, mais ainda o foi RAFAEL, nesta releitura, juntado a adaptação e a direção, na qual ele valoriza o potencial do seu par de atores, tanto nas cenas mais “suaves” como nas que demandam maior vigor e agressividade. Suas marcações são precisas, criativas e originais.

Também não revelarei os detalhes, por motivos óbvios, mas as soluções encontradas, pela direção, para algumas cenas são daquelas que ficarão, indelevelmente, gravadas nas nossas mentes, como a da preparação do bolo envenenado – a “macumba” -, a da morte dos dois filhos e a do suicídio de JOANA. A imagem de JASÃO, arrastando-se, por todo o palco, na cena do suicídio, numa expressão de arrependimento e culpa é de cortar o coração. Arrepio-me, escrevendo isto.

O leigo, que assiste a este espetáculo, não sabe que foram três meses de ensaios, total dedicação de uma equipe, liderada pelo diretor, que estabeleceu a linha-mestra do trabalho, em consonância com seus pares, é claro, até que o pano se abrisse, para o nosso deleite.

Como eu disse, na minha postagem, logo após ter assistido à peça, ASSISTAM E PROCUREM UMA FALHA! NÃO ENCONTRARÃO!

O cenário, de ANDRÉ CORTEZ, é fantástico. Ele optou por uma “estilização” do que seria um conjunto habitacional, ou uma favela, na visão de outros, e montou uma grande estrutura, móvel e fartamente movida e modificada pelos atores, em diferentes patamares - parte fixa, parte móvel -, com portas, janelas, basculantes, placas de metal, com predomínio do alumínio (a impressão que se tem) e de vidro (ou plástico que o imite), além de muitos galões de água mineral, vazios, daqueles bem grandes, transparentes e azulados, que funcionam muito bem, sob a linda luz, de WAGNER ANTÔNIO, com bastantes variações, intensa, reveladora, quente, que põe em relevo detalhes sutis do cenário e dos atores.

Os figurinos são apaixonantes, obra de KIKA POPES. Não há muitas variações, com destaque para uma peça, no figurino de JOANA, de suma importância, com a qual a personagem “contracena”. Trata-se de uma pesada e exagerada saia rodada, em termos proporcionais, que a atriz prende ou dela se desfaz, fazendo uso de umas alças, ao traje que usa, durante todo o espetáculo, um vestido cor da pele, leve a ligeiramente transparente. A referida saia é utilizada quase que como uma “arma”, em momentos de fúria da personagem. Algo indescritível e fantástico. Além disso, fica, como fator surpresa, um outro detalhe do figurino feminino, na última cena. ALEJANDRO veste uma calça estilizada, farta em detalhes, e camisetas, em tons pastéis, lembrando camuflagem. Em algumas cenas, tem uma espécie de paletó, no mesmo estilo, sobre as camisetas. Nas viagens poéticas a que me permito, sem, jamais, me arvorar a considerar verdade absoluta, percebi, talvez, uma semelhança a um traje militar (Será que chegarei a entrar em órbita, com esse voo?).

 


“Lembrem-se do exemplo daquelas mulheres de Atenas...”

 

Ninguém que se propõe a escrever sobre este espetáculo poderá esquecer o nome de FABRÍCIO LICURSI, responsável pelo sensacional trabalho de direção de movimento, que acumula com o de assistente de direção, ao lado de DANIEL CARVALHO FARIA.

Outro nome que merece destaque, nesta produção, é o de PEDRO LUÍS, que assina a direção musical, envolvendo, aí, o excelente trabalho de arranjos para as canções da peça, em releituras formidáveis, trabalho dividido com seus excelentes músicos: ANTÔNIA ADNET (violão de 7 cordas, violão de aço e vocal), DUDU OLIVEIRA (sax soprano, sax tenor, flauta em sol, pandeiro e bandolim), ÉLCIO CÁFARO (bateria e percussão), MARCELO MÜLLER (baixo acústico, baixo elétrico, trombone e vocal) e PEDRO SILVEIRA (guitarra, bandolim e vocal).

Palmas para o visagismo, de ROSE VERÇOSA, o desenho de som, de GABRIEL D’ÂNGELO e a preparação vocal de MARCELO RODOLFO e ADRIANA PICCOLO!

 




                                                                                                                                                           “Pai, afasta de mim esse cálice,
Pai, afasta de mim esse cálice,
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue!”







 




 
FICHA TÉCNICA:

Texto: PAULO PONTES e CHICO BUARQUE

Adaptação e direção: RAFAEL GOMES

Elenco: LAILA GARIN e ALEJANDRO CLAVEAUX

Músicos: ANTÔNIA ADNET, DUDU OLIVEIRA, ÉLCIO CÁFARO, MARCELO MÜLLER e PEDRO SILVEIRA

Direção Musical: PEDRO LUÍS

Cenografia: ANDRÉ CORTEZ

Iluminação: WAGNER ANTÔNIO

Figurinos: KIKA LOPES

Visagismo: ROSE VERÇOSA


Direção de Produção: ANDRÉA ALVES

Diretor Assistente e Direção de Movimento: FABRÍCIO LICURSI

Assistente de Direção: DANIEL CARVALHO FARIA

“Design” de Som: GABRIEL D’ÂNGELO

Preparação e Arranjos vocais: MARCELO RODOLFO e ADRIANA PICCOLO

Assistente de Direção Musical: ANTÔNIA ADNET

Assistente de Cenografia: RODRIGO ABREU

Coordenação de Produção: Leila Maria Moreno

Produção Executiva: Monna Carneiro

Marketing Cultural: Ghéu Tibério
 







“Como beber dessa bebida amarga?...”

 








                                                                                                                                                     “Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas!
Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas...”

 


 

 
SERVIÇO:

Temporada: De 6 de maio a 26 de junho.

Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h; domingo, às 20h.

Local: THEATRO NET RIO.

Endereço: Rua Siqueira Campos, 143 / 2º piso – Copacabana – Rio de Janeiro.

Valor dos Ingressos: R$150,00 (plateia e frisa), R$100,00 (Balcão 1) e R$50,00 (Balcão 2, com visão parcial).

Duração: 90 minutos.

Classificação Etária: 14 anos.

Informações para a Imprensa: Factoria Comunicação
Pedro Neves (pedro@factoriacomunicacao.com)
Vanessa Cardoso (vanessa@factoriacomunicacao.com)
(21) 2249-1598 / 2259-0408
 

 

 

 


 

“Bravi!”

 



 

Consagração!

 

 

FOTOS DE ESTÚDIO,

APENAS PARA DIVULGAÇÃO (no espetáculo, não há cenas de nudez):

 

 

Laila Garin e Alejandro Claveaux reviverão no palco Joana e Jasão, personagens de Bibi Ferreira e Paulo Pontes na primeira montagem (Foto: Divulgação )

 


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Com Alejandro Claveaux e Laila Garin (Foto: Pablo Sanábio.)

 



 

 

(FOTOS: SILVANA MARQUES (cena), CHRISTIAN GAUL (estúdio) e

RICARDO BRAJTERMAN (cena) – DIVULGAÇÃO.)

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