terça-feira, 17 de maio de 2016


BOQUINHA –

E ASSIM SURGIU O MUNDO

 

 

(CIÊNCIA x POESIA, TUDO JUNTO E MISTURADO,

EM PROL DO BOM TEATRO.)

 

 

 


 

 

 

            Cá estou eu, mais uma vez, atrevendo-me a escrever sobre TEATRO INFANTIL, que não é bem a minha “praia” e que só faço, bissextamente, quando o espetáculo muito me encanta, como foi o caso deste “BOQUINHA – E ASSIM SURGIU O MUNDO...”, o mais recente texto de TEATRO, para crianças (e para adultos também), escrito por LÁZARO RAMOS, um monólogo estrelado por ORLANDO CALDEIRA, com direção do próprio LÁZARO e de SUZANA NASCIMENTO, em cartaz, em meteórica temporada, no Mezanino do Espaço SESC.

 

            Este é o terceiro espetáculo infantil que sai da cabeça (e do coração) de LÁZARO RAMOS. Os dois anteriores fizeram boas temporadas, no Rio de Janeiro e em São Paulo, “A Menina Edith e a Velha Sentada” e “As Paparutas”, tendo merecido ótimas críticas, casas lotadas e indicações a prêmios, com algumas concretizações.

 



Descoberta.

 

  


            O TEATRO INFANTIL de LÁZARO não visa apenas a divertir; são textos didáticos e voltados para temas profundos, que recebem um tratamento capaz de encantar crianças e adultos. No caso do espetáculo em tela, considero excelente a ideia e bom o texto, o qual me pareceu um pouco confuso, hermético, para o entendimento dos pequeninos, já que, desta vez, o mote é a criação do mundo, mas não apenas sob a visão cristã, e sim contada, também, pela ótica de outras crenças, como a yorubá, tupi-guarani, hindu e chinesa, não deixando de abordar a clássica visão científica do Big Bang.  

 

Apesar do pouco tempo de duração do espetáculo, 40 minutos, neles há uma grande concentração de informações e nomes não familiares ao universo infantil, os quais podem atrapalhar o raciocínio das crianças. Por outro lado, da mesma forma que “qualquer maneira de amor vale a pena”, acrescente-se que qualquer interpretação para a origem do mundo é válida, quer voltada para a ciência, quer numa abordagem mítico-religiosa. O importante é que todas sejam respeitadas e admiradas, na poética que cada uma carrega em si.

 

            Uma prova de que alguns detalhes não são decodificados pelas crianças, no texto, pode ser dada por um testemunho meu. No dia em que assisti à peça, mal terminou o espetáculo, uma senhora, sentada atrás de mim, com seu filho, de uns oito ou nove anos, perguntou a ele se havia gostado da peça e sua resposta foi afirmativa, acrescentado que achou tudo “muito bonito e engraçadão”, mas que não entendera bem a “história”. Imediatamente, a mãe passou a explicar-lhe o objetivo do texto. Ele deve ter gostado mais da peça, a partir de então.

 

 

 


Habilidades circenses.

 

 

 

 
SINOPSE:
 
           “BOQUINHA - E ASSIM SURGIU O MUNDO...” é uma peça, para crianças e adultos, que conta a história do surgimento do mundo, inspirado em contos e lendas de diversas culturas, por meio de um ser, feito de dobraduras de papel, que guiará as crianças em uma mágica viagem, em busca de respostas para muitas dúvidas.
 
           Na escola, a professora pergunta: "Como surgiu o mundo?". No sótão de sua casa, JOÃO VICENTE acha a caixa de pesquisas do avô, escritor, e parte, numa aventura mágica, pelas muitas versões sobre a criação do mundo, segundo as tradições regionais de vários lugares e crenças.
 
           Sozinho, no palco, ORLANDO CALDEIRA utiliza o circo, a manipulação e a música, para estimular, de forma lúdica, a imaginação das crianças.
         

 

 

           “O ‘BOQUINHA’ é uma contação de história para crianças, tentando usar, da maneira mais simples possível, brincadeiras com papel, origami e um ator em cena. Contando várias versões de como surgiu o mundo, o espetáculo estimula as crianças a pensar como as coisas são criadas, mas também fundamentalmente, estimula as crianças a cuidar das coisas, cuidar do mundo, dos objetos, das pessoas e de si mesmas.”, define o espetáculo o autor e diretor LÁZARO RAMOS.

 

 






 

            Agradou-me, sobremaneira, o trabalho da direção. Não sei de que forma os dois diretores, LÁZARO e SUZANA, trabalharam, entretanto, em função de tantas atribulações daquele, penso que o dedo desta tocou mais forte, na condução dos trabalhos. E digo isso, também, pelo fato de reconhecer, na linha de direção, a marca de uma atriz ímpar, quando se trata de contar “causos”. SUZANA nasceu para ser contadora de histórias, ainda que seja, também, uma grande atriz e diretora.

 

            Gostei da solução encontrada para marcar os três sinais que antecedem o início do espetáculo. Além de diferente - o ator entrando em cena e atirando uma gaivota de papel, em direção à plateia -, desperta a curiosidade do público, uma vez que a primeira é bem pequena, a segunda é bem maior e a terceira... Assistam, para saber.

 

Uma das cenas mais lindas do espetáculo conta com a projeção de sombras das figuras ligadas a cada crença ou cultura que explica a criação do mundo.

 

 

 


Os “criadores” do mundo.

 

 

            A utilização de uma linguagem circense, acrescida de técnicas de dobraduras, manipulações, projeção de sombras e a interação, entre ator / plateia, agregam um dinamismo muito útil e necessário a um espetáculo infantil. Um monólogo, para crianças, aproxima-se do monótono, se não tiver uma boa história, uma criativa direção e um intérprete à altura de ORLANDO CALDEIRA. Foram esses ingredientes que me levaram a escrever sobre a peça.



 


 

 

 

            ORLANDO CALDEIRA, além de ator, tem uma formação circense, que lhe permite atuar bem e explorar bastante seu corpo, principalmente no que se refere à elasticidade, além de saber como interagir com crianças, área que poucos atores dominam, uma vez que elas são imprevisíveis.

 

            Certamente, ORLANDO, que interpreta o personagem JOÃO VICENTE, valoriza o texto e é responsável por uma ótima atuação, conseguindo passar de um personagem a outro com bastante desenvoltura, principalmente quando se trata de representar o avô. E além de tudo, canta, inclusive cantarola, para o divertimento da plateia, frases de “Just The Way You Are”.

 

Seu JOÃO VICENTE é um menino com uma ideia fixa, qual seja a de pesquisar muito, para saber como surgiu o mundo. Em sua cabecinha, borbulham dúvidas: Quem veio primeiro? A barriga ou o umbigo? A chuva ou a sombrinha? O ovo ou a galinha?

 

Nessa busca, o menino acaba encontrando, no sótão de sua casa, uma caixa, do avô, escritor e pesquisador, um grande estudioso, contendo cartas muito antigas, escritas pelo velho, e constrói BOQUINHA, um objeto/ser/personagem, uma espécie de origami, feito de dobraduras de papel, formando uma dupla de “pesquisadores” muito curiosos.

 

Contribuiu bastante, para a “performance” de ORLANDO, o trabalho de direção de movimento, a cargo de MARCELA RODRIGUES.



 


 

 

 

O cenário da peça, de ALBERTA BARRO e GABRIELLE WINDMÜLLER, é muito interessante, contendo detalhes de pequenas dimensões, totalmente necessários ao desenvolvimento da peça. O que se vê são partes da casa do menino, principalmente o sótão e seu quarto. O material utilizado é bem simples e rústico, como tecidos e papel, de diversos tamanhos, texturas, e cores; caixas e caixotes; uma mesa, com objetos diversos; uma tela, enrolada, que, num determinado momento, serve à projeção de sombras; uma bola grande, representando, numa licença poética, o globo terrestre. O quarto de JOSÉ VICENTE pouco se assemelha ao de um menino de sua idade.

 

            A dupla de cenógrafas também assina o figurino, colorido, de difícil descrição, porém de ótima praticidade e adequabilidade, para o ator, o personagem e a peça, em si.

 

            Funciona, a contento, a iluminação, de VALMYR FERREIRA, assim como a peça ganha mais contornos de alegria, com a trilha sonora original, composta por RICCO VIANNA e ANTÔNIO VAN AHN.

 

            Recomendo este espetáculo, para a família, como um dos melhores infantis que tive a oportunidade de ver neste semestre. Nesta peça, abundam as delicadezas do texto, da direção e da interpretação. Tudo isso, sem falar na linda mensagem, no final da peça, que prega o fato de não interessar tanto como o mundo surgiu nem quem o criou (todas as teorias são válidas), e sim como nós vamos cuidar dele, para preservá-lo e entregá-lo, íntegro e saudável, às futuras gerações.

 

 



 

 


 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Lázaro Ramos
Direção: Suzana Nascimento e Lázaro Ramos
 
Elenco: Orlando Caldeira
 
Direção de Movimento: Marcela Rodrigues
Trilha Sonora: Ricco Vianna e Antônio Van Ahn
Iluminação: Valmyr Ferreira
Assistente de Iluminação: Cíntia Barbosa
Cenografia e Figurino: Alberta Barro e Gabrielle Windmüller
Costureiras: Maria de Jesus e Zezé Gomes
Assistente de Adereços: Malu Von Kruger
Pesquisa: Susan Kalik
Design Gráfico: Fernanda Guizan
Assessoria de Imprensa: Minas de Ideias
Marketing Digital: Letícia Cordeiro – Urgh.us
Coordenação de Projeto: Orlando Caldeira
Assistência de Produção: Heder Braga
Direção de Produção: Drayson Menezzes
 

 

 

 

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Curioso...

 

 

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E surge Adão (?)...

 



O Homem ocupa o seu lugar no universo.

 

 

 

 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 07 até 29 de maio de 2016.
Local: Espaço Sesc  - Mezanino.
Endereço: Rua Domingos Ferreira – nº 160 - Telefone: (21) 2548-1088 – Rio de Janeiro.
Horários: Sábados, às 16h, e domingos, às 11h.
Duração: 40 min.
Preço: R$20,00 (Inteira), R$10,00 (meia-entrada), R$5,00 (Associados Sesc).
Capacidade: 90 lugares.
Classificação: Indicado para crianças a partir de 3 anos.
Gênero: Infantil
Funcionamento da Bilheteria: (Inclusive vendas antecipadas): De 3ª feira a domingo, das 15h às 21h.
 

 

 

 

 

(FOTOS: JÚLIO RICARDO

e

CARLOS RAFFAELI.)

 

 

 


(Da esquerda para a direita: Luana Martau,

Ricco Vianna, Rose Lima, Orlando Caldeira,

eu e Drayson Menezzes. (Foto particular.)

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