TÔ GRÁVIDA
(UMA
COMÉDIA PARA GRÁVIDOS OU NÃO.)
Depois de uma gestação de nove
meses, viajando pelo interior de São Paulo e por outras praças, sem recursos de patrocínio, com muita garra e coragem, nasceu, no
palco do Teatro Fashion Mall (Sala 1), a comédia romântica TÔ GRÁVIDA,
escrita por REGIANA ANTONINI e
estrelada por FERNANDA RODRIGUES e PAULO VILHENA.
SINOPSE: A peça fala de uma das épocas mais lindas, porém delicada, da
vida de um casal - a gravidez e o nascimento do bebê - em uma história contada
em dois tempos distintos: o presente, quando THALES (PAULO) e BIANCA (FERNANDA)
estão fazendo terapia de casal e falam diretamente com a plateia, criando,
assim, uma cumplicidade imediata com o público; e o passado, que entremeia o
discurso deles, contando e ilustrando sua trajetória em cenas hilariantes.
O que pode mudar na vida, na rotina,
de um casal, a partir do anúncio de uma gravidez, desejada ou não, durante toda
a gestação e após o parto? A ruptura da
“liberdade”, na vida do indivíduo, em decorrência do casamento, ou, simplesmente,
da decisão de uma vida em comum, momento a partir do qual se deixa de viver
o “eu”, para se vivenciar o “nós”, sofre, então, uma nova mexida e a vida do
casal parte para um novo rumo: deixamos, agora, ser “nós”, para sermos “mais
nós”.
A sinopse é bem curta, mas a peça é “só” isso mesmo. Acontece,
porém, que esse “só” não tem nenhum
valor pejorativo, de falta de profundidade e importância do texto e do
espetáculo em si. Ao contrário, gostei
bastante da peça. Significa apenas que não
fala de outro assunto, no entanto se trata de um tema de relevada importância,
muito bem explorado pelo excelente texto de REGIANA e abordado, de forma brilhante, pela interpretação do casal
de atores. A peça atinge, facilmente, várias faixas
etárias e as pessoas se divertem e se identificam demais com os personagens e
as situações apresentadas.
É
um espetáculo muito dinâmico, graças à agilidade e fluidez dos diálogos da
autora como também pelo “timing” mantido, o tempo todo, pelos atores, apoiados numa correta direção de PEDRO VASCONCELOS.
Bianca.
Thales.
Os vários deslocamentos
em cena, as múltiplas descidas à plateia, por parde da dupla de atores, e as
rápidas e diretas interações com o público imprimem um dinamismo marcante ao espetáculo
e conseguem atrair todos à ação. É
impossível não “participar” do drama/comédia dos dois.
Com relação ao
aspecto interativo do espetáculo, não faço segredo algum de que abomino esse
tipo de coisa, uma vez que o público paga para assistir ao espetáculo e não
para fazer parte dele, muito menos para ser motivo de chacota e humilhação
perante os demais da plateia, como ocorre em muitas produções. Já abandonei, algumas vezes, peças em que os
atores faltavam ao respeito com as pessoas.
Até já protagonizei mais de uma séria discussão com esse tipo “atores”, enquanto deixava o
teatro.
Não é o caso,
absolutamente, de TÔ GRÁVIDA. Não é criada nenhuma situação de
constrangimento para o público e todos mergulham, espontaneamente, na proposta, por exemplo, de
um(a) espectador(a) ser escolhido(a) para representar o(a) suposto(a) terapeuta
do casal, a quem eles se dirigem, frequentemente, para falar ou reclamar um do
outro, sem que haja necessidade de o(a) escolhido(a) falar nada.
Também é
escolhida uma pessoa da plateia (no dia em que assisti à peça, o escolhido fui
eu), para propor o final da história, se o casal deverá permanecer junto ou se
separar. Optei por propor que a parceria
não se desfizesse. Fico até curioso por
saber se alguém já preferiu que o casal encerrasse o relacionamento, e gostaria
de ver como ficaria essa encenação. Toda
essa interatividade transcorre num clima cordial, alegre e muito respeitoso.
Quem
já passou pela experiência da “pa/maternidade” não consegue deixar de se
identificar com as situações vividas pelos protagonistas, algumas, propositadamente,
exageradas, quase inverossímeis, já que se trata de uma comédia.
REGIANA ANTONINI é atriz (meio
bissexta, infelizmente, mas estará voltando aos palcos na peça Anônimas, que estreia no próximo dia 25,
no Teatro do Jockey), escritora, diretora teatral, roteirista, redatora, dedicando-se
mais à dramaturgia. Seus textos,
autorais ou adaptados, levam sempre multidões aos teatros por todo o Brasil,
sendo, também, alvo de críticas positivas da imprensa especializada. Basta lembrar seus últimos sucessos no TEATRO, como é o caso de Claríssima, um interessante texto,
homenageando Clarice Lispector, no
qual a escritora “dialoga” com alguns de seus personagens; O Filho da Mãe, que fez ótima carreira em São Paulo e,
posteriormente, no Rio de Janeiro; e duas montagens adaptadas de livros de Martha Medeiros: Doidas e Santas e Feliz por
Nada. Doidas e Santas, com Cissa
Guimarães, encabeçando o elenco, viajou pelo Brasil inteiro e se manteve em
cartaz por mais de três anos, se não me
equivoco. Gosto muito dos textos da REGIANA, por serem simples, porém dando
margem a profundas reflexões. São daqueles
que divertem e educam, no sentido mais amplo dos dois verbos, como é o caso deste
TÔ GRÁVIDA.
Creio
que PEDRO VASCONCELOS tomou uma decisão
certa, ao trocar de posição, passando de ator a diretor. Sua carreira, nos palcos ou à frente das
câmeras, foi relativamente curta, entretanto vem se firmando na direção,
principalmente na TV, onde atua com mais frequência. No TEATRO,
vi poucos trabalhos de direção dele, nenhum merecendo destaque, entretanto,
neste TÔ GRÁVIDA, gostei muito da
sua direção e percebo um grande amadurecimento profissional, dos últimos trabalhos
assinados por ele para cá.
FERNANDA RODRIGUES me surpreendeu em cena.
Muito jovem, vem se dedicando, há mais de três décadas, à TV
(começou com três anos), sobrando-lhe pouco tempo para os palcos. Lembro-me de tê-la visto apenas uma vez em
cena, também numa comédia, Enfim, Nós,
ao lado de Bruno Mazzeo. Gostei de seu
desempenho naquela peça, mas arrisco-me a dizer que o tempo e o trabalho de
lapidação deram a ela, de lá para cá, mais segurança em cena e uma melhor
atuação. É uma atriz muito carismática,
talentosa, de muita empatia com o público.
Sabe fazer comédia. Nesta peça,
representa muito bem as diversas fases e situações por que passa a sua BIANCA.
Conheço
boa parte do trabalho de PAULO VILHENA,
na TV, no cinema e no TEATRO e não
posso deixar de tecer elogios à sua atuação, relativamente recente, em Hedwig
e o Centímetro Enfurecido,
em que brilhou, ao lado do não menos talentoso Pierre Baitelli. Em TÔ
GRÁVIDA , PAULO
empresta a seu THALES um tom misto
de irresponsabilidade, de cinismo, de ignorância da dimensão do momento, mas, ao
mesmo tempo, com uma certa dose de pureza e ingenuidade, que provoca boas
gargalhadas e cativa os espectadores.
Está ótimo na composição do personagem.
O
cenário, de MÁRIO PEREIRA, é bem interessante, composto de dois baús, sobre
rodinhas, que, separadamente ou postos lado a lado, se transformam em outros
móveis, até numa cama; dois cabideiros de pé, com peças do figurino, que vão
sendo trocadas no decorrer da peça; e algumas placas de espelho pendentes do
teto, em tamanhos diversos, projetando a imagem de setores da plateia. Os espectadores assistem à peça e podem ver suas
próprias reações e as de seus vizinhos refletidas nos espelhos.
Não sei qual foi a real intenção que levou à utilização desse elemento
de cena, mas creio que possa ser decodificada como uma forma de “trazer” o
público para a cena e, ao mesmo tempo, levá-los a se lembrar de que também já
foram personagens do enredo daquela peça ou alertá-los para o fato de que
possam vir a sê-los.
Os
figurinos, de CAROLINA ALMEIDA, são bem despojados, “descolados”, de acordo com a
“vibe” dos personagens.
PEDRO VASCONCELOS também assina a trilha sonora, interessante, e a boa iluminação fica a cargo de LUCIANO XAVIER.
A
direção de produção é de LÉO FUCHS e a produção executiva é de responsabilidade de LUCIANA VIEIRA.
Realização: TWOGETHER TEATRO
Recomendo
o espetáculo, na certeza de que qualquer pessoa que gosta do bom TEATRO e admira uma boa comédia vai
sair satisfeita, vendo valorizado o preço pago pelo ingresso.
(FOTOS: PRODUÇÃO / DIVULGAÇÃO DO
ESPETÁCULO; AGNEWS, FELIPE ASSUMPÇÃO)
Super curiosa♥
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