domingo, 13 de julho de 2014


GAROTOS

 

 

 

 

(ou UMA BRINCADEIRA SÉRIA)

 

 


 

 

 

            No TEATRO, há espaço para todos e para tudo, pois há vários tipos de público.  Não tenho o menor preconceito contra este ou aquele gênero de espetáculo, motivo pelo qual procuro assistir a tudo, dos infantis às grandes produções “para adultos”, passando pelos experimentais, besteiróis, alternativos, “cabeças”...  Não desmereço qualquer proposta teatral, desde que seja feita com seriedade, empenho, bom gosto e, acima de tudo, profissionalismo.  Se me agrada ou não, é outra história.

            Não sei se algum crítico de TEATRO, a partir da sinopse, iria assistir ao espetáculo sobre o qual estou falando, GAROTOS, menos ainda se escreveria sobre ele, o que, também não é problema meu.  Mas resolvi dedicar um pouco do meu tempo a falar sobre esta montagem, exatamente por nela reconhecer as quatro condições a que me referi, no final do parágrafo anterior, as quais me fazem partir para uma boa qualificação de um espetáculo.  As outras, as mais importantes (texto, direção, interpretação etc.), só são levadas em consideração depois de tal reconhecimento. 

 

 


 

 

 
           A peça foi escrita por LEANDRO GOULART, quando ele tinha 16 anos, e é baseada em seu diário pessoal.  Por conter um lado biográfico muito forte, o texto não hesita em desvendar alguns segredos que nenhum garoto ousaria contar.  Não é preciso, portanto, ser “uma mosquinha”, para poder testemunhar as intimidades dos garotos, nem arriscar uma olhada pelo buraco da fechadura.  Tudo está ali, no palco, explícita e escancaradamente, às vistas do espectador.  É totalmente voltada para o público jovem, adolescente, entretanto pode ser “curtida” por gente mais velha, como eu, por exemplo.  Que homem nunca foi garoto e que mulher nunca conviveu, ou convive, com eles?  É só entender a proposta e não exigir o que ninguém prometeu.   

“O espetáculo é a história de um garoto só, contada numa linha cronológica, entre seus 8 e 28 anos.  São cinco garotos diferentes, que interpretam um só, falando de assuntos muito íntimos e sensíveis.  A peça traz o lado feminino, sensível, de um garoto qualquer", descreve o autor. 

E eu acrescento que não se trata de uma história, com princípio, meio e fim.  São várias pequenas cenas, retratando situações e problemas que povoam o universo dos “garotos”: seus medos, suas inseguranças, seus conflitos de identidade, todos os tipos (ou quase todos) de experimentação, a busca por certezas e ideologias, a descoberta da sexualidade, a primeira “transa”, a gravidez, o primeiro porre, a prática da masturbação...

  

 

  

 

 

No que se refere às musicas inseridas na peça, embora o espetáculo não possa receber o rótulo de "musical", a encenação reúne, numa boa e eclética trilha sonora, “hits”, que vão de Fábio Jr., passando pelos anos dourados da bossa-nova, com pitadas de Gilberto Gil e João Donato, até chegar ao “rock” de Raimundos e Capital Inicial, por exemplo.

Montada, pela primeira vez, em 2009, a peça já foi vista por mais de 500 mil pessoas (informação passada pela produção), em muitas praças, pelo Brasil afora.  Assisti à primeira versão e posso garantir que esta nova montagem ganhou um colorido especial, por ser mais dinâmica, moderna, divertida, além de explorar bem o humor, o que os atores sabem fazer de forma correta, sem fugir à seriedade dos assuntos tratados.

Os cinco atores (em ordem alfabética), FELIPE FRAZÃO, GABRIEL LEONE, JULIO OLIVEIRA, RODOLFO ABRITTA e VITOR THIRÉ, comportam-se muito bem em cena, dentro das previsíveis exigências do texto, são bastante versáteis, explorando o canto (não é o forte da turma, com uma ou duas exceções), a coreografia e a interpretação, além de acanhadas tentativas como instrumentistas.  Pode-se dizer que são cinco revelações, embora alguns já reúnam, em seus currículos, várias experiências, a caminho de um espaço mais amplo, que, certamente, irão encontrar, a curto ou médio prazo, pelo que demonstram neste espetáculo e pelo que já vi de dois deles, em trabalhos anteriores: VITOR THIRÉ e JULIO OLIVEIRA.  Este ganhou a minha total admiração, quando o vi, em março deste ano, num papel muito denso e importantíssimo, no excelente espetáculo (drama) A Bala na Agulha, contracenando, e brilhando, com duas “feras” dos palcos, Denise Del Vecchio e Eduardo Semerjian.  Fiquei declaradamente encantado com o trabalho do rapaz.  

 

 


 

 

 


 

 

 

No Brasil, normalmente, os produtores e diretores se dedicam a dois segmentos de público: as crianças e os adultos. 
Os pais que entendem o quanto o TEATRO é importante na formação do indivíduo levam suas crianças aos espetáculos infantis, até o momento em que elas não encontram, neles, motivação para continuar frequentando as salas de espetáculo; ou seja, há um momento em que os espetáculos não agradam mais,  ou nada têm a acrescentar, às “ex-crianças”. 
Chegada a fase da puberdade, da pré-adolescência e da própria, quase não se veem espetáculos voltados a esse imenso nicho.  Fica um grande hiato, então, até que, já adultos, voltem a se interessar pelo TEATRO.  Esse espaço de tempo é mais do que suficiente para que os jovens se percam (ou se achem, sei lá) em outros interesses. 
Daí a importância de serem produzidos muitos e BONS espetáculos para os jovens.  Felizmente, nos últimos tempos, isso já vem acontecendo, porém, ainda, de forma parcimoniosa, sem contar que a maioria das produções bem que poderia ficar apenas no papel ou nos projetos, o que não é o caso de GAROTOS, que recomendo a filhos e pais, já que aqui estão os dedos de duas pessoas que vêm se dedicando a esse tipo de espetáculo, há algum tempo, com grandes acertos: o casal FERNANDO GOMES e ANNA MAGDALENA.


 

 

 

    

 

 


 

 

 


 

 

 

Gostei da proposta e a recomendo aos jovens, dando-lhes um conselho, invertendo os papéis: levem seus pais. 

 

 

 

FICHA TÉCNICA:

 

Texto: LEANDRO GOULART

Direção: AFRA GOMES e LEANDRO GOULART

Assistente de direção: ANNA MAGDALENA

Elenco: VITOR THIRÉ, GABRIEL LEONE, JULIO OLIVEIRA, RODOLFO ABRITTA e FELIPE FRAZÃO

Figurino: CLARA MAGDALENA

Cenário: LEANDRO GOULART

Cenotécnico: RAFAEL CRESPE

Direção Musical: WAGNER MONACO

Seleção Musical: LEANDRO GOULART e AFRA GOMES

Coreografia e Direção de Movimento: MARCIO VIEIRA

Preparação Vocal: CLAUDIA SAMPAIO

Iluminação: FREDERICO EÇA

Operador de Luz: MARCELO ANDRADE

Sound Design: ANDRÉ BREDA

Operador de Som: PAULO MENDES

Design Gráfico: THIAGO RISTOW

Mídias Sociais: ANNE SCARCELLI

Assistência de Produção: ISAÍAS NASCIMENTO

Produção Executiva: ANNE MOHAMAD

Direção de Produção: FERNANDO GOMES, FABRÍCIO CHIANELLO e FÁBIO AMARAL

Realização: YMBU ENTRETENIMENTO

Assessoria de imprensa: MINAS DE IDEIAS

Crédito das fotos: MARILENE CÂNDIDO, JULIO RICARDO, CÉSAR FRANÇA e RICARDO JUAREZ

 

 

 

 


 

 

 

(Foto: Priscilla Campos)

 

 

 

SERVIÇO:

 

Temporada: de 05 a 27 de julho

Local: Teatro das Artes

Endereço: Shopping da Gávea - Loja 264, 2º Piso - Rua Marquês de São Vicente, 52 - Gávea

Horários: 21h de quinta a sábado, e 20h30 aos domingos.

Ingressos: R$ 70,00 (inteira) / R$ 35,00 (meia)

Duração: 80 minutos.

Classificação: 14 anos.

 

 

 

(FOTOS: PRODUÇÃO / DIVULGAÇÃO DO ESPETÁCULO - JULIO RICARDO, CÉSAR FRANÇA e RICARDO JUAREZ – e PÁGINA DO ESPETÁCULO NO FACEBOOK.)

 

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