GAROTOS
(ou
UMA BRINCADEIRA SÉRIA)
No
TEATRO, há espaço para todos e para
tudo, pois há vários tipos de público.
Não tenho o menor preconceito contra este ou aquele gênero de
espetáculo, motivo pelo qual procuro assistir a tudo, dos infantis às grandes
produções “para adultos”, passando pelos experimentais, besteiróis,
alternativos, “cabeças”... Não desmereço
qualquer proposta teatral, desde que seja feita com seriedade, empenho, bom
gosto e, acima de tudo, profissionalismo.
Se me agrada ou não, é outra história.
Não
sei se algum crítico de TEATRO, a
partir da sinopse, iria assistir ao espetáculo sobre o qual estou falando, GAROTOS, menos ainda se escreveria
sobre ele, o que, também não é problema meu.
Mas resolvi dedicar um pouco do meu tempo a falar sobre esta montagem,
exatamente por nela reconhecer as quatro condições a que me referi, no final do
parágrafo anterior, as quais me fazem partir para uma boa qualificação de um
espetáculo. As outras, as mais
importantes (texto, direção,
interpretação etc.), só são levadas em consideração depois de tal
reconhecimento.
A
peça foi escrita por LEANDRO GOULART,
quando ele tinha 16 anos, e é baseada em seu diário pessoal. Por conter um lado biográfico muito forte, o texto não hesita em desvendar alguns segredos que
nenhum garoto ousaria contar. Não
é preciso, portanto, ser “uma mosquinha”, para poder testemunhar as intimidades dos
garotos, nem arriscar uma olhada pelo buraco da fechadura. Tudo está ali, no palco, explícita e escancaradamente,
às vistas do espectador. É totalmente
voltada para o público jovem, adolescente, entretanto pode ser “curtida” por
gente mais velha, como eu, por exemplo.
Que homem nunca foi garoto e que mulher nunca conviveu, ou convive, com
eles? É só entender a proposta e não
exigir o que ninguém prometeu.
“O espetáculo é a história de um garoto só, contada
numa linha cronológica, entre seus 8 e 28 anos. São cinco garotos diferentes, que interpretam
um só, falando de assuntos muito íntimos e sensíveis. A peça traz o lado feminino, sensível, de um
garoto qualquer", descreve o
autor.
E eu acrescento que não se trata de uma história, com
princípio, meio e fim. São várias
pequenas cenas, retratando situações e problemas que povoam o universo dos
“garotos”: seus medos, suas inseguranças, seus conflitos de identidade, todos
os tipos (ou quase todos) de experimentação, a busca por certezas e ideologias,
a descoberta da sexualidade, a primeira “transa”, a gravidez, o primeiro
porre, a prática da masturbação...
No que se refere às musicas inseridas na peça, embora o espetáculo não possa receber o rótulo de "musical", a encenação reúne, numa boa e eclética trilha sonora, “hits”, que vão
de Fábio Jr., passando pelos anos
dourados da bossa-nova, com pitadas
de Gilberto Gil e João Donato, até chegar ao “rock” de Raimundos e Capital Inicial, por exemplo.
Montada, pela primeira vez, em 2009, a peça já foi vista
por mais de 500 mil pessoas (informação passada pela produção), em muitas
praças, pelo Brasil afora. Assisti à
primeira versão e posso garantir que esta nova montagem ganhou um colorido
especial, por ser mais dinâmica, moderna, divertida, além de explorar bem o humor, o que os
atores sabem fazer de forma correta, sem fugir à seriedade dos assuntos tratados.
Os cinco atores
(em ordem alfabética), FELIPE FRAZÃO,
GABRIEL LEONE, JULIO OLIVEIRA, RODOLFO ABRITTA
e VITOR THIRÉ, comportam-se muito
bem em cena, dentro das previsíveis exigências do texto, são bastante versáteis,
explorando o canto (não é o forte da turma, com uma ou duas exceções), a
coreografia e a interpretação, além de acanhadas tentativas como
instrumentistas. Pode-se dizer que são
cinco revelações, embora alguns já reúnam, em seus currículos, várias experiências,
a caminho de um espaço mais amplo, que, certamente, irão encontrar, a curto ou
médio prazo, pelo que demonstram neste espetáculo e pelo que já vi de dois
deles, em trabalhos anteriores: VITOR
THIRÉ e JULIO OLIVEIRA. Este ganhou a minha total admiração, quando o vi,
em março deste ano, num papel muito denso e importantíssimo, no excelente espetáculo
(drama) A Bala na Agulha, contracenando,
e brilhando, com duas “feras” dos palcos, Denise
Del Vecchio e Eduardo Semerjian. Fiquei declaradamente encantado com o trabalho do
rapaz.
No Brasil,
normalmente, os produtores e diretores se dedicam a dois segmentos de público:
as crianças e os adultos.
Os pais que
entendem o quanto o TEATRO é
importante na formação do indivíduo levam suas crianças aos espetáculos
infantis, até o momento em que elas não encontram, neles, motivação para
continuar frequentando as salas de espetáculo; ou seja, há um momento em que os
espetáculos não agradam mais, ou nada têm
a acrescentar, às “ex-crianças”.
Chegada
a fase da puberdade, da pré-adolescência e da própria, quase não se veem espetáculos
voltados a esse imenso nicho. Fica um
grande hiato, então, até que, já adultos, voltem a se interessar pelo TEATRO.
Esse espaço de tempo é mais do que suficiente para que os jovens se percam
(ou se achem, sei lá) em outros interesses.
Daí a importância de serem produzidos muitos e BONS espetáculos para os jovens.
Felizmente, nos últimos tempos, isso já vem acontecendo, porém, ainda,
de forma parcimoniosa, sem contar que a maioria das produções bem que poderia
ficar apenas no papel ou nos projetos, o que não é o caso de GAROTOS, que recomendo a filhos e pais,
já que aqui estão os dedos de duas pessoas que vêm se dedicando a esse tipo de
espetáculo, há algum tempo, com grandes acertos: o casal FERNANDO GOMES e ANNA
MAGDALENA.
Gostei da
proposta e a recomendo aos jovens, dando-lhes um conselho, invertendo os papéis:
levem seus pais.
FICHA TÉCNICA:
Texto:
LEANDRO GOULART
Direção: AFRA
GOMES e LEANDRO GOULART
Assistente de direção: ANNA MAGDALENA
Elenco:
VITOR THIRÉ, GABRIEL LEONE, JULIO OLIVEIRA, RODOLFO ABRITTA e FELIPE FRAZÃO
Figurino:
CLARA MAGDALENA
Cenário: LEANDRO
GOULART
Cenotécnico: RAFAEL CRESPE
Direção Musical: WAGNER
MONACO
Seleção Musical: LEANDRO
GOULART e AFRA GOMES
Coreografia e Direção de
Movimento: MARCIO VIEIRA
Preparação Vocal: CLAUDIA
SAMPAIO
Iluminação: FREDERICO EÇA
Operador de Luz: MARCELO
ANDRADE
Sound Design: ANDRÉ BREDA
Operador de Som: PAULO MENDES
Design Gráfico: THIAGO RISTOW
Mídias Sociais: ANNE SCARCELLI
Assistência
de Produção: ISAÍAS NASCIMENTO
Produção
Executiva: ANNE MOHAMAD
Direção de Produção: FERNANDO
GOMES, FABRÍCIO CHIANELLO e
FÁBIO AMARAL
Realização: YMBU
ENTRETENIMENTO
Assessoria
de imprensa: MINAS DE IDEIAS
Crédito
das fotos: MARILENE CÂNDIDO, JULIO RICARDO, CÉSAR FRANÇA e RICARDO JUAREZ
SERVIÇO:
Temporada:
de 05 a
27 de julho
Local:
Teatro das Artes
Endereço:
Shopping da Gávea - Loja 264, 2º Piso - Rua Marquês de São Vicente, 52 - Gávea
Horários:
21h de quinta a sábado, e 20h30 aos domingos.
Ingressos:
R$ 70,00 (inteira) / R$ 35,00 (meia)
Duração: 80 minutos.
Classificação: 14 anos.
(FOTOS: PRODUÇÃO / DIVULGAÇÃO
DO ESPETÁCULO - JULIO
RICARDO, CÉSAR FRANÇA e RICARDO JUAREZ – e PÁGINA DO ESPETÁCULO NO FACEBOOK.)
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