“PACTO - RELAÇÕES PODEM SER FATAIS” - ou “SÃO
DEMAIS OS PERIGOS DESTA VIDA” (Vinícius de Moraes).
Em cartaz, no
Teatro SESI (do Centro – avenida Graça Aranha), de 5ª a sábado, às 19h, a mais
recente montagem do diretor IVAN
SUGAHARA: “PACTO – RELAÇÕES PODEM
SER FATAIS”. E como!!!
Segundo o
programa da peça, “uma história noir”. E bota “noir”
nisso!!!
A peça,
baseada num fato real, ocorrido em Chicago, em 1924, foi escrita pelo
norte-americano STEPHEN DOLGINOFF e
encenada em várias partes do mundo, mas, pela primeira vez, está sendo montada
na América Latina. O próprio autor, também
ator, já viveu o papel do psicopata Richard,
um dos personagens.
STEPHEN é um premiado dramaturgo, como atestam os vários prêmios e indicações que recebeu, por esta peça e por outras de sua autoria. Foram prêmios pelo texto, pelas canções ou pelas letras.
Stephen Dolginoff
SINOPSE (adaptação
do texto original, de IVAN SUGAHARA,
no programa da peça):
Trata-se da
história de dois “amigos”, Nathan
Leopold e Richard Loeb. Nathan
era capaz de tudo para ficar com Richard. Essa simples frase define a conflituosa relação
dos dois e o quão perigoso pode ser um relacionamento.
Os dois eram
jovens estudantes de Direito, em Chicago, nos anos 20, quando assassinaram um
menino, sem um motivo aparente, apenas pelo prazer do crime. O caso ficou notório e os jovens foram
intitulados, pelos jornais da época, como “the
thrill killers” (algo como “os
assassinos por emoção”).
Na verdade, o
brutal crime não é o que mais interessa na trama. É, sim, o pano de fundo da peça, servindo
para discutir o poder de sedução de um ser sobre outro e até que ponto alguém
se submete a tudo por um amor, não correspondido, numa relação doentia e de
características de extremo masoquismo, marcada por uma obsessão potencializada
ao máximo.
Na trama, Nathan é apaixonado por Richard, que, por sua vez, é apaixonado
pelo crime.
Como forma de
garantir a satisfação de ambos, eles fazem um PACTO. Nathan ajuda Richard na
realização de pequenos delitos, em troca de migalhas de sexo e de afeto. Mas a compulsão deste por crimes cada vez
mais excitantes os leva ao assassinato. É
este o preço, além de uma vida na cadeia, que aquele paga para estar com seu
louco amor. Um caso extremo, sem dúvida. Mas, em qualquer relacionamento, reside a
possibilidade de o afeto se transformar em obsessão, no ponto em que a vontade
de estar com alguém é confundida com a sensação de que se precisa dessa pessoa
para se viver. Daí o subtítulo “RELAÇÕES PODEM SER FATAIS”, acrescido à
montagem carioca.
Por incrível
que possa parecer, a peça é um musical.
Não um musical na concepção tradicional deste, com muitos atores,
inúmeros cenários, muita luz, brilho, “glamour”... Nada disso.
É um musical diferente, intimista, com apenas dois atores e um piano, e,
ao mesmo tempo, lúgubre e afetivo. Por
isso o gênero “noir” é a sua mais
perfeita tradução estética. “Porque é no escuro que a gente se revela.”
(IVAN SUGAHARA).
A idealização
do projeto é de GABRIEL SALABERT,
que também atua no espetáculo, na pele do pobre Nathan Leopold e que merece ser aplaudido por sua iniciativa.
Gabriel Salabert
FICHA TÉCNICA – parcial - (acompanhada de alguns comentários
críticos):
Texto, Música e Letras Originais: STEPHEN DOLGINOFF – Excelentes (destaque
para a tradução do texto, feita por GABRIEL
SALABERT)
Direção: IVAN SUGAHARA – Ótima, na medida
certa. O texto, por vezes, apresenta
cenas e situações que, na mão de um diretor menos experiente, poderiam render
momentos de tédio e falta de credibilidade.
SUGAHARA, com seu apurado
gosto estético e conhecimento de causa, leva os dois atores a atingir a medida
certa de dramaticidade, deixando tais cenas e situações dentro da maior
naturalidade possível.
Assistente de Direção: CRISTINA LAGO – afinada com a direção.
Elenco: GABRIEL SALABERT e ANDRÉ LODDI – O primeiro é o apaixonado Nathan Leopold; ANDRÉ
vive o frio e brutal Richard Loeb. A despeito de todo o esforço de GABRIEL, para chegar a um Nathan que não compromete (o ator
pareceu-me muito nervoso no dia em que assisti ao espetáculo, ou seja, na
estreia, o que é bastante compreensível), sem dúvida alguma, o grande destaque da peça fica por conta de ANDRÉ LODDI. É muito prazeroso ver o ANDRÉ num palco. Já o foi em "O
DESPERTAR DA
PRIMAVERA", "BEATLES NUM CÉU DE DIAMANTES" e em "COMO VENCER NA VIDA SEM FAZER FORÇA". Trata-se de um jovem recém-entrado na casa
dos vinte anos e que tem muito futuro pela frente, em função de seu grande
talento para a representação, para o canto e para a dança. ANDRÉ
é aquele tipo de ator que não precisa de texto para aparecer. O seu silêncio e suas diversas máscaras
naturais bastam para sua comunicação com a plateia, principalmente nesta peça. Que grande “sedutor”! Sua evolução como artista é facilmente
percebida por quem sabe avaliar o rendimento de um ator no palco.
Pianistas: PRISCILLA AZEVEDO e ANTÔNIO ZIVIANI, alternando-se (este
atuou no dia em que assisti ao espetáculo) – Excelente.
Versão Musical Brasileira: MARYA BRAVO – Ótima, não fosse MARYA uma das maiores e mais
requisitadas cantrizes dos musicais brasileiros, ela que também já atuou em
musicais fora do país e que traz, no sangue, o DNA da música.
Direção Musical e Preparação Vocal: RICARDO GÓES – Muito boa.
Iluminação: PAULO CÉSAR MEDEIROS – Mais um irretocável
trabalho deste mestre. A iluminação
perfeita para uma peça “noir”.
Figurino: TARSILA TAKAHASHI – Bom, bem comedido e
satisfatório à composição dos personagens.
Cenário: CAROLINA SUGAHARA e IVAN SUGAHARA – Ótimo. Simples, despojado, caracterizando muito bem
os espaços em que se passam as cenas, tudo girando em torno do preto e do
cinza. Afinal de contas, trata-se de uma peça “noir”.
André e Gabriel
Voltarei a
assistir ao espetáculo, não só porque gostei muito da peça, mas também porque
sei que ainda há muito a extrair dela e do trabalho dos dois atores,
principalmente do GABRIEL SALABERT.
Acho que também
assinei um PACTO com esse espetáculo. Não com sangue, mas com o coração.
Minha passagem por PACTO
A conversa primeiro...
(Fotos de divulgação e de Marisa Sá)
A trama me pareceu familiar a de um filme do Hitchcock, Festim Diabólico, que é adaptado de uma peça do Patrick Hamilton...
ResponderExcluirPACTO é absolutamente arrebatador, mexe com todos os sentidos !
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