FELIZ POR NADA - FELIZ POR TUDO
Entrada do Teatro das Artes
Se
há uma máxima em que acredito muito é a que diz que, “em time que está ganhando, não se mexe”. E não se deve mexer mesmo.
Isso pode ser,
facilmente, comprovado quando se junta, para trabalhar, o trio formado por MARTHA MEDEIROS, REGIANA ANTONINI e ERNESTO
PICOLLO. “DOIDAS E SANTAS” que o diga, há mais de três anos em cartaz e
vista por um público superior a 150 mil pessoas, fazendo, até hoje, uma linda
carreira, ininterrupta, por todo o Brasil.
Agora,
o trio se juntou, mais uma vez, para levar ao palco do Teatro das Artes (Shopping da Gávea) “FELIZ POR NADA”, espetáculo que está em cartaz, desde a semana
passada (ver serviço, no final).
Como
da vez anterior, REGIANA ANTONINI,
escritora, dramaturga e roteirista, transpôs para o TEATRO um livro da consagrada escritora MARTHA MEDEIROS, “FELIZ POR
NADA”, que traz uma coletânea de mais de oitenta crônicas.
O
espetáculo fala, principalmente da amizade, no caso a
de duas mulheres, já maduras, que se cruzam, na corrida diária, ou quase, à
volta da Lagoa, e acabam por se tornar as “melhores amigas de infância”.
Não se trata de uma amizade construída ao longo de uma
existência, mas que parece existir há uma longa existência.
É, sim, uma amizade que surge no meio da vida, por acaso, e
que passa a ser fundamental para o resto da vida de ambas. Como as duas chegam a reconhecer, uma não
consegue viver sem a outra, sem nenhuma conotação homoafetiva; amor de amigas
mesmo.
Assim pode ser caracterizada a amizade de Juliana e Laura. Elas se conhecem aos
40 anos, apenas por acenos e rápidos cumprimentos e contidos sorrisos, quando
se cruzam durante o exercício físico quase diário, entretanto passam a ser
inseparáveis, após um episódio no aeroporto de Tóquio, quando Laura se perde das duas filhas, uma criança e uma adolescente. Juliana
é quem a ajuda a reencontrar as meninas, pelo que a mãe fica eternamente grata. Nasce, então, uma belíssima
amizade, que será posta à prova, por causa de um homem, o Joca, marido de Laura e
grande paixão da adolescência de Juliana.
Apesar de o vil ciúme entrar em cena, para atiçar a
fogueira da maldade e da desconfiança e tentar abalar aquela sólida amizade, “FELIZ POR NADA” não trata de um
triângulo amoroso, e, sim, da relação humana: dos medos, das dúvidas, das
inseguranças, das idiossincrasias do ser humano.
O texto trata da mulher, em toda a sua complexidade: seus
medos, sonhos, insatisfações, inseguranças, realizações profissionais, o sexto
sentido, a atração, a “traição”, a paixão desenfreada e o amor. E, nessa área, MARTHA MEDEIROS reina absoluta.
Poucos escritores sabem tratar, de forma tão verdadeira, simples e, ao
mesmo tempo, profunda, o universo feminino como ela. Ninguém mais “mulherzinha” que MARTHA.
É pura identificação – e também estamos falando dos homens
- com o dia a dia, com as questões contemporâneas e que falam ao coração. A plateia se identifica com os dramas e as dúvidas
de cada personagem.
A peça recebe a classificação de “uma comédia
romântica”, muito bem adaptada por REGIANA
ANTONINI e dirigida, excepcionalmente, por ERNESTO PICCOLO, que vem se firmando, cada vez mais, como diretor,
além de bom ator que é. NECO chega a dirigir até três
espetáculos ao mesmo tempo, numa demonstração de rara competência e resistência,
física e emocional. Um dos mais
requisitados diretores dos últimos tempos, emplacando um sucesso após o
outro. Bem merecidos, diga-se de
passagem. Talento ali não falta,
principalmente quando, neste caso, o diretor, por opção ou para não encarecer
demais o projeto, resolveu não contar, fisicamente, com um dos mais tradicionais
e importantes elementos do TEATRO: o
cenário.
PICOLLO encontra interessantes e objetivas saídas para fazer as
cenas acontecerem num palco completamente despido de qualquer elemento
cenográfico, embora as cenas se passem em ambientes diversos (interiores,
externas, países de culturas totalmente opostas – Brasil e Japão...).
O elenco se comporta de forma brilhante: CRISTIANA OLIVEIRA e LUÍSA THIRÉ são, respectivamente, Laura e Juliana. Completa ao elenco
o ator GIL HERNANDEZ.
CRISTIANA e LUÍSA sabem
explorar muito bem as oportunidades que o texto oferece a cada uma para fazer a
sua personagem chegar aos espectadores da forma mais íntima e natural
possível. Ambas, muito equilibradamente,
apresentam um rendimento de igual qualidade (EXCELENTES!) e conseguem, excepcionalmente, levar a plateia às
gargalhadas em cenas hilárias, apoiadas, é óbvio, num texto de qualidade
inquestionável.
Cada uma conta com a
generosidade da autora do texto, em seus respectivos “bifes” (falas longas), para demonstrar
seu talento na arte de representar. São
duas atrizes que frequentam pouco, relativamente, os palcos cariocas – a primeira
por causa de uma atuação mais ativa na TV e a outra por se dedicar, também, a
outras áreas dentro do próprio TEATRO -,
mas, quando o fazem, deixam sua marca e muita saudade. Precisam nos dar mais oportunidades de aplaudi-las,
como fiz, com explícita vontade e vigor, na última 2ª feira, em sessão
reservada a convidados, os quais, certamente, compartilham comigo estas
palavras.
Cristiana, Gil e Luísa - excelente química
Quanto a GIL
HERNANDEZ, apesar de aparecer menos em cena e de representar um personagem,
aparente e inicialmente, de menor importância na trama, o Joca, ou João Carlos (este
último nome é como é chamado nos momentos em que desperta alguma cobrança ou a
ira de uma das duas mulheres, prática comum entre os casais), o ator se
comporta muito bem em cena e sabe representar a “escada” (SEM O MENOR SENTIDO PEJORATIVO; MUITO PELO CONTRÁRIO), para que
cada uma das duas protagonistas consiga desenvolver a história, a qual, de tão
agradável, leve e, até mesmo, despretensiosa, passa, sem que se perceba o
ponteiro dos minutos cruzar o mesmo ponto, no mostrador do relógio. Termina a peça e fica aquela vontade de “quero mais”. E isso é muito bom.
Na ficha técnica, estão outros nomes que
sempre são garantia de um bom espetáculo:
- A ASSISTÊNCIA
DE DIREÇÃO cabe a Bebel Lobo –
Ótima, como sempre.
- Os FIGURINOS,
variados e de muito bom gosto, são de Helena
Araújo.
- A trilha sonora recebe a assinatura de uma
das pessoas que mais entendem do assunto: Rodrigo
Penna, já algumas vezes premiado e indicado a prêmios, em tantas outras
ocasiões, nessa categoria.
- O espetáculo tem a iluminação de um “iluminado”: Aurélio
di Simoni. – Bom trabalho.
- A PREPARAÇÃO
CORPORAL é de Kika Freire e a PREPARAÇÃO VOCAL foi feita por Rose Gonçalves. As duas atrizes, duas belas figuras em cena,
uma recém-entrada nos quarenta e outra quase atingindo os cinquenta (ambas não
fazem segredo disso) parecem duas mocinhas em cena, demonstrando excelente
preparo físico e vocal. Mérito das duas,
ou das quatro.
A DIREÇÃO
DE PRODUÇÃO e a REALIZAÇÃO são
de duas pessoas que já nos têm oferecido outros ótimos espetáculos: Rogério Fabiano e Valéria Macedo.
Momento de rara tietagem: acompanhado (bem) de Martha Medeiros e Regiana Antonini
SERVIÇO: de quinta-feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h30.
Ingresso: R$ 80,00 (5ª e 6ª) e R$ 90 (sáb e dom).
Duração: 70 minutos
Temporada até 22 de dezembro
Ingresso: R$ 80,00 (5ª e 6ª) e R$ 90 (sáb e dom).
Duração: 70 minutos
Temporada até 22 de dezembro
É ótimo sair
de uma comédia, leve e feliz. “FELIZ POR NADA”? Não: FELIZ
POR TUDO.
Obrigado,
gente!
Agradáveis companhias, dentro e fora da plateia: Jorge Leão e Regina Cavalcanti
(FOTOS DE DIVULGAÇÃO E/OU FEITAS E CEDIDAS POR REGINA CAVALCANTI)
Querido, mais uma vez uma crítica sensível, delicada, gostosa de ler. Obrigada pelo carinho, respeito e admiração. Quero vc em TODAS as minhas peças! Vc compreende tudo, porque assiste de coração aberto! Se permite sentir e voar com a interpretação do ator, ao escutar o texto, a trilha, a luz, enfim, se encanta porque está ali querendo se encantar. Obrigada, obrigada, obrigada! Bjs
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