FÁBRICA DE CHOCOLATE - VERDADE DORIDA, SENTIDA, PARA SER ESQUECIDA.
Um
esclarecimento, logo para iniciar: o subtítulo destes escritos sugere que
alguma coisa deva ser “esquecida”. Não é
o ótimo espetáculo a que assisti na Sala Rogério Cardoso, da Casa de Cultura
Laura Alvim; é a tortura covarde dos milicos sobre suas presas e os
assassinatos bárbaros, nos porões da ditadura, durante o negro período
referente ao golpe militar que se abateu sobre o Brasil, a partir do fatídico
1º de abril de 1964 (NÃO FOI A 31 DE
MARÇO, como dizem os milicos – e os militares também).
Assim como NEM MESMO TODO O OCEANO, que estará encerrando, amanhã, sua segunda temporada de sucesso no Rio de Janeiro (mas vai voltar ao cartaz), FÁBRICA DE CHOCOLATE é um
espetáculo, muito atual, por sinal, em função das manifestações populares de
repúdio a tudo o que é errado, podre, corrupto, autoritário no Brasil de hoje,
e foi escrito por MÁRIO PRATA e mostra
os bastidores das armações da ditadura, que, cada vez mais, estão vindo à tona,
mostrando o que, de verdade, aconteceu nos anos 60 e 70 da nossa história,
graças à atuação de verdadeiros brasileiros, representantes de entidades como TORTURA NUNCA MAIS e COMISSÃO DA VERDADE.
(Da esquerda para a direita: Victor Garcia, Daniel Villas, Adriana Torres, André Cursino e Henrique Manoel Pinho - o elenco)
SINOPSE: “Tudo se passa em clima normal
de cotidiano, o que aumenta a carga de crueldade. Houve, numa sessão de tortura, um “acidente de
trabalho”, que é preciso corrigir a todo custo, para não comprometer a imagem
do sistema. O menos inverossímil é
transformar a morte em suicídio, depois de uni-lo a um novo assassínio, para
que o quadro adquira outras características de veracidade.
Os episódios
se sucedem com lógica implacável. A
eficiência se desdobra nas mais variadas medidas, desde a utilização de tipos
diferentes de máquinas para o comunicado à imprensa e a redação do laudo
médico, até a lembrança de um pormenor anatômico dos suicidas. As providências se encadeiam, com o objetivo
de não deixar aberta nenhuma dúvida suspeita. Excetuado o erro de se fabricar um
"material irrecuperável", tudo o mais se torna perfeito.
PRATA revela uma lucidez surpreendente,
em todas as implicações de sua trama. Do
psicológico ao social e ao político, "FÁBRICA
DE CHOCOLATE" não deixa desguarnecida nenhuma frente. Ele evitou pintar monstros patológicos, às
voltas com taras incontroláveis. Se foi
lamentável o acidente, inclusive porque impediu o responsável de assistir à
partida decisiva de futebol, a máquina repressora é acionada para restabelecer
a “ordem”. Os funcionários exemplares
dominam a ciência de oferecer uma versão oficial indiscutível, assegurando até
a cumplicidade do industrial, de quem, aliás, se definem como os delegados
práticos nas tarefas menos nobres. Denuncia-se
a completa solidariedade dos vários segmentos da população opressora, quando o
poder se sustenta pela força e pelo arbítrio.” (www.skoob.com.br)
FICHA TÉCNICA:
Texto: MÁRIO PRATA – Ótimo.
Direção: LUIZAPA FURLANETTO – Correta.
Elenco (por ordem alfabética): ADRIANA TORRES, ANDRÉ CURSINO, DANIEL VILLAS, GUILHERMO REGENOLD, HENRIQUE MANOEL PINHO e VITOR GARCIA. – Todos estão muito bem
em seus papéis, com destaque para a composição perfeita de uma lusitana, de ADRIANA TORES, além dos personagens de HENRIQUE MANOEL PINHO (Herrera), ANDRÉ CURSINO (Doutor), DANIEL VILLAS (Baseado) e VICTOR GARCIA (Rosemary). Não frequentam as mídias, mas são excelentes
atores e o demonstram em cena.
Direção de
Arte e Cenografia: JOSÉ DIAS – Cenário
simples, como simples é toda a montagem, porém muito bom e adaptado ao acanhado
espaço cênico da Sala Rogério Cardoso, totalmente oposto ao talento daquele que
dá nome à Sala. Uma sala de uma “delegacia”
a serviço da ditadura (não fica claro se foi no Cenimar, na Ilha das Flores; no DOI-CODI, no Quartel do 1º Batalhão da
Polícia do Exército, no bairro da Tijuca, na Rua Barão de Mesquita nº 425; na Casa da Morte, em
Petrópolis...). O destaque é para as
prateleiras e um aramado ao fundo, onde estão expostos, “arrumadinhos”, objetos
utilizados na tortura, desde os mais simples aos mais insólitos.
Assistente
de Cenografia: ALINE BOECHAT
Os poderes civil e militar tramam para o restabelecimento da "ordem"
Eu conhecia o texto apenas de
leitura, o que já me causava bastante sofrimento e desconforto. MÁRIO
PRATA domina a carpintaria dos diálogos, muito mais do que a arte de criar
uma história, observação feita com relação às suas várias novelas, de grande
sucesso, já exibidas na TV. Mas, para o TEATRO, MÁRIO capricha mais. Seus
textos teatrais são excelentes e este é uma prova disso.
Até o dia 3 de novembro, de 5ª a sábado, às 21h, e domingo, às
20h.
Recomendo muito este espetáculo, mas sugiro que o espectador não jante, nem antes nem
depois. O resultado poderá ser desastroso.
Infelizmente não assisti. Seus comentários me deixaram ainda com mais sentimento de perda...
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