“SENHOR
DIRETOR”
ou
(PELAS MÃOS
DE
UMA “SENHORA”
ATRIZ.)
Há
pouquíssimos dias, fiz uma postagem, numa rede social, com uma reclamação que
reputo importantíssima. É com relação ao fato de as produções teatrais e as
assessorias de imprensa, NÃO TODAS, EVIDENTEMENTE, MAS MUITAS DELAS,
não divulgarem o tempo de duração das montagens, um direito do espectador,
para que este possa se organizar e viabilizar sua ida ao Teatro, a fim de assistir
ao espetáculo divulgado. Sobre a tal postagem, em tom de brincadeira, um autor/produtor
fez o comentário de que uma peça dele, em cartaz, no momento, só dura 50
minutos, a que respondi, dizendo que a questão não é o tempo de duração do
espetáculo, e sim a divulgação desse tempo, e acrescentei, também a título de
brincadeira com o querido amigo, que prefiro assistir a uma boa peça com apenas
50 minutos de duração a sofrer um suplício, tendo que aturar certas produções “sem
limites”, de má ou extrema má qualidade, com a duração de até três
horas; ou mais. E ratifico aqui o que disse.
E por
que inicio esta crítica com o parágrafo acima? Simplesmente porque me senti
impelido a fazê-lo, depois do prazer e o privilégio de ter
assistido, no último sábado (26/10/2024) a um monólogo que dura,
exatamente, 50 minutos e que merece os maiores aplausos e elogios da
crítica especializada e do público em geral: “SENHOR DIRETOR”, em cartaz no simpático Espaço ABU, em Copacabana,
e que ainda cumprirá mais duas semanas da curta temporada, até o dia 10 de
novembro próximo.
A peça, como já disse, é “SENHOR DIRETOR”, com texto original de LYGIA FAGUNDES TELLES, numa corretíssima adaptação de um conto homônimo da consagrada escritora, extraído do livro “Seminário
dos Ratos”, de 1977, feita por SILVIA MONTE, para ser brilhantemente interpretado por ANALU PRESTES. A montagem também tem idealização
e direção
de SILVIA.
Analu Prestes e Silvia Monte.
LYGIA FAGUNDES TELLES tem uma importância capital na minha vida,
por conta de seu incomensurável talento de escritora e por um encontro fortuito
que tivemos, daquelas coisas que me parecem mais difíceis de acontecer do que
ganhar, sozinho, uma Mega-Sena; e a “da virada”. Mas me
reservo o direito de omitir esse meu encontro inesquecível com DONA LYGIA, porém não me nego a
contá-lo, em detalhes, a quem por ele se interessar e entrar em contato
comigo.
SINOPSE:
ANALU PRESTES vive a personagem Maria Emília, uma professora
aposentada paulista, a qual passeia pelas ruas de São Paulo, no dia de seu
aniversário de 62 anos, e se choca, ao avistar a capa de uma revista, na banca
de jornal, com um casal seminu, corpos molhados, enlaçado, estopim para a sua indignação
com o caos em que ela vê a sociedade mergulhada.
Decide, então, escrever uma carta, de indignação, ao diretor do “Jornal da Tarde”, para expor sua revolta e, à medida que, mentalmente, elabora a carta, tem seu pensamento disperso entre recordações e impressões sobre os acontecimentos à sua volta, que vêm desde de sua remota infância aos dias mais próximos.
Aquela é uma carta que,
certamente, não passa de objeto de um desejo, uma vontade, uma intenção, mas
que ficará apenas abstrata, na cabeça da pretensa missivista, por um motivo
muito simples: apesar de lhe sobrar “indignação” (Será mesmo?), falta-lhe
coragem para concretizá-la, transformar em letras e palavras toda aquela
revolta reprimida, de uma mulher oprimida por sua formação, que a faz chegar
virgem, aos 62 anos, sem nunca ter se relacionado com homem algum, por
conta de ter sido vítima de uma educação
altamente repressora. No fundo, porém, não é difícil, ao leitor do conto ou ao
espectador da peça, perceber que, ao demonstrar toda a sua insurreição moral, a
personagem está se desnudando de seus desejos trancafiados dentro de si. Seria
genuína aquela aversão ao “excesso de
exposição erótica na mídia”,
segundo Maria Emília? Por que será que lhe causa tanta repulsa e asco todo
aquele apelo a tudo o que é sensual, que a leva a ser, ao mesmo tempo que
incisiva e repetitiva, uma criatura sempre atraída por tudo o que traz à tona a
sensualidade, na qual ela sempre enxerga o que quer, ou seja, algo com um alto
teor erótico? Falos, por exemplo.
A intenção de sua carta, que só é desenvolvida em sua mente, com total expansão de sua cólera ao profano, ao imoral, e nunca escrita de verdade, é denunciar e censurar o comportamento mundano de uma sociedade que vai apodrecendo aos poucos, do ponto de vista moral, segundo ela - é sempre bom repetir - deixando-se levar por propagandas apelativas, lascivas, as quais induzem a população a uma errada liberação sexual, ao mesmo tempo que exige, do "destinatário", providências, para se acabar com aquela “pouca vergonha”, aquela “falta de Deus no coração”, trazendo as pessoas, de volta, ao caminho “certo”, como se o executivo do jornal tivesse alguma ingerência sobre aquilo.
Maria Emília
tinha uma imaginação muito “fértil”, para enxergar maldade em
tudo o que via, entretanto, sem a menor formação psicanalítica, me atrevo a decodificar suas “interpretações” como uma revelação de si própria, uma pintura
guardada no sótão, coberta por um pano, de suas próprias fantasias sexuais e
sua sexualidade reprimida e jamais exercida, o que vai se encorpando, à medida
que a personagem envelhece e percebe o que deixou de viver, o que “deixou
de se permitir viver”. A repressão, seja de qual tipo for, sempre causa danos
irreversíveis a qualquer pessoa, entretanto comungo com a teoria de que a coibição sexual, consciente e voluntária, é uma das mais cruéis e das que maiores e indeléveis marcas deixam num indivíduo,
causando-lhe sensíveis instabilidades emocionais. Vejo Maria Emília como uma
vítima disso.
LYGIA FAGUNDES TELLES nunca foi a única a
fazê-lo, porém tinha uma espécie de dom de enxergar, com uma precisão cirúrgica, o que existe de mais
profundo e verdadeiro, na alma humana, e trazer os detalhes de suas observações
para o papel e foi, sem dúvida uma das nossas maiores escritoras, de todos os
tempos. “Vencedora do Prêmio Camões, honraria máxima
da literatura em língua portuguesa, e primeira mulher brasileira a ser indicada
ao Prêmio Nobel de Literatura, LYGIA FAGUNDES TELLES (1918-2022) teve algumas
de suas obras adaptadas para o cinema, televisão e, curiosamente, poucas para o
TEATRO...” – extraído do "release" da peça que me chegou às mãos -, o que
confere uma importância maior à produção teatral aqui comentada.
Para “tornar
vertical”, como gosta de dizer SILVIA
MONTE, o que está no papel, a idealizadora do projeto, dramaturga
e diretora,
se debruçou, exaustivamente, sobre a obra, desde março deste ano, embora já a
conhecesse de longa data, e soube observar e costurar os mínimos detalhes
de tudo quanto é importante ser mostrado, abrangendo importantes temas diversos,
como solidão, juventude, envelhecimento, vida e morte, tudo muito bem explorado
por uma das maiores atrizes do TEATRO
BRASILEIRO, ANALU PRESTES,
que sabe dosar a porção caricata da personagem, quer por seu andar “pelas
ruas de São Paulo”, quer pelo intenso e fino trabalho com os olhos e as
máscaras faciais, quer pela forma como se dirige a pessoas das plateia, praticamente
cobrando-lhes que concordem com ela, utilizando diferentes tons de voz, de
acordo com o teor das reclamações. ANALU
foi escolhida a dedo, para compor aquela Maria Emília, de uma forma muito bem-humorada,
sem exageros, e tocando em todos os assuntos “pesados” de forma leve.
É assaz agradável ver aquela mulher ranzinza e “moralista” (Será
até o final do livro ou só apenas até a página 5?). A personagem tem uma
visão tão deturpada do mundo em que vive, superlativa todas as mazelas que,
realmente, existem, em qualquer época, que é capaz de, por meio de sua visão,
deformar tudo, até mesmo enxergar, num senhorzinho com sua neta adolescente, um
“velho
tarado, corrompendo uma menor de idade, uma prostituta”. Daquela mente, sai de
um tudo... ANALU PRESTES, que eu, carinhosamente, chamo de "ANALUZ", nos brinda com uma de suas melhores criações. Tanto SILVIA quanto ANALU decodificaram, na medida certa, o
tom da escrita agradável de LYGIA.
Por “n” motivos, e não
deveria mesmo ser de outra forma, o espetáculo se resume numa deliciosa montagem
intimista, apresentado a, no máximo, 40 privilegiados espectadores, por
sessão – uma cumplicidade total atriz/espectadores -, contando com uma
única peça de um cenário minimalista, uma cadeira, assinado por ANALU PRESTES, também responsável pelo
elegante e sóbrio figurino, “roupa de festa dos anos 1970”.
Completam a FICHA TÉCNICA, com suas excelentes colaborações, JOSÉ HENRIQUE MOREIRA, o iluminador,
e YAHN WAGNER, criador da trilha
sonora incidental. Uma soma de alguns talentos, para produzir um
espetáculo que RECOMENDO MUITO.
FICHA TÉCNICA:
Baseado no conto homônimo de Lygia Fagundes Telles
Idealização: Silvia Monte
Dramaturgia: Silvia Monte
Direção: Silvia Monte
Atuação: Analu Prestes
Cenário: Analu Prestes
Figurino: Analu Prestes
Iluminação: José Henrique Moreira
Trilha musical: Yahn Wagner
Direção Musical, Produção e Arranjos: Yahn Wagner
Direção de Movimento: Mari Amorim
Fotografia: Alexia Maltner (divulgação) e Isabelle Oliveira (cena)
Identidade Visual: Gustavo Parrella e Sydney Michelette
Programa: Sydnei Miochetelli (arte) e Silvia Monte (texto)
Assessoria de Imprensa: Leila Grimming
Redes Sociais: Jessica Christina
Direção de Produção: Silvia Monte
Realização e Produção: Terceira Margem Produções Culturais
SERVIÇO:
Temporada: De 04 de outubro a 10 de novembro de 2024.
Local: Espaço Abu.
Endereço: Avenida Nossa Sra. de Copacabana, nº 249 – Loja E –
Copacabana – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De sexta-feira a domingo, às 20h.
Valor dos Ingressos: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia-entrada).
Vendas na Bilheteria e “on-line”:
sympla.com.br
Duração: 50 minutos.
Capacidade: 40 lugares.
Classificação Indicativa: 14 anos.
Informações: (21) 2137-4182 / 2137-4184
(Das 15h às 19h).
espacoabu@gmail.com
@senhor_diretor
@ter_cei_ra_margem
@prestesanalu
@montesilvia
Além
de já ter recomendado o espetáculo, acrescento, fazendo coro a ANALU PRESTES e a SILVIA MONTE, que ESTA PEÇA É UM
ESTÍMULO À LEITURA E LEVA QUALQUER ESPECTADOR A QUERER CONHECER A RIQUÍSSIMA E
PREMIADA OBRA LITERÁRIA DE LYGIA FAGUNDES TELLES.
Analu Prestes e Silvia Monte.
FOTOS: ALEXIA MALTNER
e
ISABELLE OLIVEIRA
GALERIA PARTICULAR:
(Fotos: João Pedro Bartholo.)
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