terça-feira, 13 de agosto de 2024

“A ÚLTIMA ENTREVISTA

DE MARÍLIA GABRIELA”

ou

(“UM DIA É DA CAÇA;

OUTRO, DO CAÇADOR.”)

ou

(ESSE TAL DE TEATRO

CONTEMPORÂNEO...)

  

        

           A curiosidade também me faz sair de casa e ir ao Teatro. Estive duas vezes em São Paulo neste ano (2024), enquanto estava em cartaz por lá a peça “A ÚLTIMA ENTREVISTA DE MARÍLIA GABRIELA”, com bastante sucesso; de público, pelo menos. Na verdade, não cheguei a ler nenhuma crítica sobre a peça. Não tive a oportunidade de conhecer a encenação e estava curioso por ver como Gabi se saía em cena, visto que nunca a tinha visto no palco. Perguntado a um amigo que mora na capital paulista se havia assistido à peça e gostado, obtive como resposta que ele achara o espetáculo “bem legal”, mas que era “suspeito”, por ser grande fã de MARÍLIA GABRIELA. Grande novidade! Da jornalista e apresentadora, somos uma grande legião de admiradores, o que não tem nada a ver com sua porção atriz. Aumentou a minha curiosidade. Torci para que a montagem viesse ao Rio de Janeiro e, com a ajuda dos DEUSES DO TEATRO, a peça está em cartaz, desde o dia 09 do mês em curso (agosto), para uma curtíssima temporada, a ser encerrada no próximo dia 25, no Teatro Prio, dentro do Jóquei Clube Brasileiro.

 

 


 

              Mas MARÍLIA não está sozinha em cena. Vem acompanhada de seu filho caçula, THEODORO COCHRANE, cujo trabalho como cenógrafo e figurinista, principalmente nesta função, já admiro de algum tempo, inclusive já tive a oportunidade de elogiar seus trabalhos em críticas a peças anteriores. E o ator? Era também, para mim, uma novidade, visto que também nunca tivera a oportunidade de vê-lo pisando as tábuas. E o que achei do espetáculo? E o que achei dos dois? Para mim, a peça também é “bem legal”; acho que mais do que o “bem legal” do meu amigo, visto que analisei o que vi pelo lado técnico da coisa. É um espetáculo bem gostoso de se ver, leve, divertido, com um texto inteligente e muitas surpresas agradáveis. E os dois dão o seu recado também num desempenho “bem legal”. Falarei mais sobre o trabalho deles adiante.

 

 

 

           Quando me proponho a escrever sobre uma peça, e isso, para os que ainda não me conhecem, só se dá quando gosto dela (Não escrevo críticas negativas.), começo me perguntando se valeu a pena ter ido ao Teatro. Sim, no caso em tela, valeu. E se era necessário aquela peça ter sido montada. Sim, era necessário. E mais: se ela atingiu seu objetivo. Certamente. Também se foi montada a contento. Sim, foi. Acrescentou alguma coisa a mim? Deveras; e cada um dos que lotavam o Teatro, quero crer, a julgar pelos aplausos. Então, vamos aos comentários críticos.

 

 

 


SINOPSE:

Na peça, MARÍLIA GABRIELA, atriz e personagem, muda de posição e passa de entrevistadora a entrevistada.

Isso é feito por seu filho THEODORO COCHRANE, também ator e personagem.

Tudo se passa durante um programa de entrevistas, ao vivo, só que num Teatro, onde ficção e realidade se misturam.

Ocorre que o que era para ser apenas uma entrevista vira um jogo perigoso, que revela os arquétipos da relação entre mãe e filho.

Tanto nas perguntas quanto nas respostas e comentários, agregados paralelamente, desfilam temas importantes e atualíssimos, como feminismo, conflitos geracionais, etarismo (“A velhice é uma merda!”), homofobia e a fronteira entre o público e o privado, levando o público a se entreter e emocionar, com uma honestidade brutal.

 

 

 

 

   Todos os elementos que fazem parte de uma FICHA TÉCNICA são responsáveis por a peça se “bem legal”, locução adjetiva empregada sem a menor conotação negativa para a montagem, quero deixar bem claro. Para começar, MICHELLE FERREIRA, atriz, dramaturga, roteirista e diretora, autora de 13 peças, 12 delas encenadas, das quais, infelizmente, só conheço uma outra, além desta, realizou inúmeras entrevistas com o casal de atores, para dar forma a um texto muito divertido, agradável de ser ouvido e muito revelador, com algumas passagens bem bombásticas; para mim, pelo menos. Em diálogos francos, diligentes e dinâmicos, capazes de prender bastante a atenção do espectador, um dos acertos da peça, a vida de ambos os atores é desnudada, revelando, traumas de infância dos dois, embates e rupturas entre família, sucessos e fracassos profissionais, “fake news” envolvendo a vida íntima e a reputação deles e de terceiros...

 

 

    Assina a direção do espetáculo BRUNO GUIDA, também ator, que acumula, nos últimos anos, alguns significativos sucessos como diretor, com destaques para “Avental Todo Sujo de Ovo” e “In Extremis”, ambas de 2013, e “Barbara”, de 2021, também esta escrita por MICHELLE FERREIRA, faz uma correta direção, “clean” e precisa, demonstrando, como ator que é, saber de que forma consegue extrair o máximo de seus dirigidos e fazer com que, apesar de ser uma “brincadeirinha”, o TEATRO pareça verdade, para não ficar falso. É o segundo elemento a “dar sabor a este prato”, para o qual os ingredientes principais são MARÍLIA e THEODORO, que também podem ser os temperos mais importantes da receita: “o sal e a pimenta”, não, obrigatoriamente, nessa ordem.

 

 

     Comentários feitos sobre texto e direção, passemos logo ao terceiro vértice que pode fazer com que esteja dentro das medidas esse triângulo equilátero, suportes básicos para sustentar uma encenação teatral: MARÍLIA e THEODORO intérpretes. Este me agradou mais, o que não diminui o trabalho da mãe. THEO diz melhor o texto, com mais desembaraço, mais naturalidade, maior controle das emoções. Ela também executa bem seu papel, alternando momentos em que demonstra estar segura do texto, com a mensagem implícita em cada fala, com outros, em que parece que vai tropeçar, mas consegue se recompor com dignidade. Pelo fato de, ainda que de forma teatral, estarem diante de uma plateia “lavando roupa suja”, umas peças mais comprometidas com a sujeira que outras, é natural que, dependendo do dia, da reação do público e de outros fatores pessoais dos dois, um ou outro se deixe melindrar com uma ou outra fala. No cômputo geral, aprovo as duas atuações. Foi melhor mesmo que interpretar não tenha sido o primeiro ofício da vida de ambos, entretanto, quando necessário usá-lo, num possível “plano B”, não fazem feio, como acontece aqui.

 

 


 

   No que se refere aos chamados elementos de criação, que dão apoio a uma montagem de TEATRO, tudo me agradou bastante, desde a cenografia, cujo nome do artista responsável por ela, por uma falha da produção, acredito, não consta na FICHA TÉCNICA, deixando-me pensar que seja assinada por THEODORO COCHRANE (Se a informação me chegar, farei a retificação do texto.) passando pelos figurinos, estes, sim, com certeza, criados por ele, e a excelente luz, de CÉSAR PIVETTI. No cenário, a reprodução de um estúdio de televisão, preparado para um programa de entrevistas, com uma mesa comprida, para que entrevistador e entrevistado ocupem as cabeceiras, ficando cara a cara, e câmeras e luzes de TV. Ambos os figurinos são elegantes e um pouco exóticos, predominando a cor preta. A iluminação, de PIVETTI, que chegou a ser indicada a prêmio, embala, com muita criatividade e bom gosto, cada cena, sempre na medida certa de intensidade.

 

 


 

           Aspectos bem relevantes na montagem são a quebra da quarta parede, praticamente, durante todos os 70 minutos de duração do espetáculo. Num determinado momento da encenação, inclusive, alguém “da plateia” (Ou seria uma atriz disfarçada de espectadora?) é convidada a subir ao palco e ficar “frente a frente” com MARÍLIA GABRIELA, sendo sabatinada. Outro é o fato de os atores representarem, durante boa parte da peça, com o texto à mão, recorrendo a ele, quando a memória falha. Numa de suas falas iniciais, THEODORO justifica aquilo, fazendo blague com a mãe, dizendo que ela precisa fazer uso de tal recurso, por conta da “elevada” idade, que faz com que a memória fique “depauperada”, ao que MARÍLIA completa, dizendo uma frase, algumas vezes repetida: “A velhice é uma merda!”. Quanto a si, o ator apresenta, como justificativa para um pouco de perda da memória, uma sequela da COVID-19, o que conheço muito bem, infelizmente, meu caro COCHRANE, porque também fui “premiado” com essa herança desagradável. Além disso, com relação a mim, tenho a concordar com sua mãe, porque “a velhice é uma merda mesmo”. Mas também tem o seu lado poético, segundo Carlos Drummond de Andrade"Repara que o outono é mais uma estação da alma que da natureza." ("Faça, Amendoeira!").

 

 

 

   Tenho que parabenizar mãe e filho, pela coragem de trazer a público detalhes tão íntimos de suas vidas, sem nenhum pudor nem a menor intenção de se autopromoverem, vitimizando-se, o que costumamos ver, com certa frequência, nos palcos, ultimamente. Na verdade, nem há por que isso acontecer, e os dois, certamente, bem acompanhados por um profissional da psicanálise, “aguentam qualquer tranco”. Também aplaudo aqueles que conseguem rir de si mesmos, fazer piada com seus próprios fracassos, seres humanos que são. MARÍLIA consegue rir, e nos fazer rir, ao se lembrar de sua conturbada relação com a mãe, que ela nunca vira sorrir; encaram, com muita naturalidade, um recente episódio de depressão, da parte de THEODORO, quando este estava no exterior. E não se furtam a comentar, de forma bem irônica, o conhecido e tão criticado, pela mídia e pelo público, episódio que envolveu MARÍLIA e a “popstar” Madonna, em 1998, por conta de uma entrevista da apresentadora com a cantora, na qual, segundo dizem (Até hoje, não assisti a ela, confesso, até envergonhado.) a “hitmaker”, visivelmente entediada e demonstrando uma péssima vontade de conceder a entrevista, portou-se de forma irônica e monossilábica, “engolindo” a jornalista, “mal preparada” para o momento, segundo dizem. E Gabi virou “meme”.

 

 


 


FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: Michelle Ferreira
Direção: Bruno Guida

Elenco: Marília Gabriela e Theodoro Cochrane

Assistência de Direção: Mayara Constantino
Figurinos: Theo Cochrane
Iluminação: César Pivetti
Trilha e Preparação Vocal: Daniel Maia

Fotos: Bob Wonfenson

Realização: Rega Início Produções Artísticas

 





SERVIÇO:

Temporada: De 09 a 25 de agosto de 2024.

Local: Teatro Prio (Dentro do Jóquei Clube Brasileiro).

Endereço: Avenida Bartolomeu Mitre, nº 1110 B – Leblon – Rio de Janeiro.

Telefone: (21) 3807-1110.

Estacionamento no local.

Capacidade: 352 lugares.
Dias e Horários: 6ª feira, às 20h; sábado, às 17h e 20h; domingo, às 19h.

Valor dos ingressos: R$ 150 (inteira) e R$ 75 (meia-entrada).
Duração: 70 minutos.
Classificação Etária: 14 anos.
Gênero: COMÉDIA Dramática.


 

 

            “Resumo da ópera”: Aprovo a ideia do espetáculo e sua execução e acho que a minha impressão encontra respaldo na grande maioria dos que assistem à peça e fazem comentários positivos à saída, lembrando que, embora eu discorde, totalmente, de Nelson Rodrigues, quando diz que “Toda unanimidade é burra.”, esta é, na verdade, bem difícil de se encontrar. Há, sim, espaço para o espetáculo competir com várias boas produções que, felizmente, estão em cartaz no Rio de Janeiro, o que me leva a RECOMENDÁ-LO.

 

 

 


FOTOS: BOB WONFENSON

e

imagens captadas na internet.

 

 

 

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