“MAIO, ANTES QUE
VOCÊ ME ESQUEÇA”
ou
(UM TRATAMENTO LEVE PARA UMA TEMÁTICA
DEMASIADAMENTE PESADA.)
Ah! As boas surpresas do TEATRO! Que boa surpresa é o espetáculo “MAIO, ANTES QUE VOCÊ ME ESQUEÇA”, em cartaz até o dia 20 de julho de 2024 (VER SERVIÇO.), no Teatro do Centro Cultural Solar de Botafogo! Como não conhecia o trabalho do autor do texto nem da dupla de atores e, considerando a temática da peça, o mal de Alzheimer, que muito me apavora, confesso que relutei em aceitar o convite de RIBAMAR FILHO, assessor de imprensa do espetáculo. Apesar de ter pago R$ 55, por um período de menos de três horas de estacionamento – UM ASSALTO!!! -, valeu a pena ter assistido à peça.
Talvez
eu seja um dos poucos críticos de TEATRO
que não tenha assistido a “Acredite, um
Espírito Baixou em Mim”, uma COMÉDIA que já se tornou um grande fenômeno do TEATRO
BRASILEIRO, uma vez que, caminhando para os 26 anos em cartaz, já foi
assistida por mais de três milhões de espectadores, interpretada pelo mesmo par
de atores que atuam em “MAIO, ANTES QUE VOCÊ ME ESQUEÇA”,
ILVIO AMARAL e MAURÍCIO CANGUÇÚ. Depois do que vi, na
última 6ª feira (06/07/2024),
no palco do Teatro Solar de Botafogo,
fiquei muito interessado em assistir àquela COMÉDIA.
SINOPSE:
Hélio (ILVIO AMARAL), que está acometido pelo
Alzheimer,
precisa passar um fim de semana na casa do filho, Mauro
(MAURICIO CANGUÇÚ), com quem sempre
manteve uma relação distante.
Mauro tem uma
irmã,
Ceci, que é quem cuida, de fato, do pai, e um irmão, Paulo,
que mora longe e nunca aparece.
Durante esses dias juntos,
enfrentando estranhamentos e revivendo episódios do passado, pai
e filho se redescobrem e ressignificam seus afetos e memórias.
Muito possivelmente, “MAIO, ANTES QUE VOCÊ ME ESQUEÇA” não
vá atingir a marca de “Acredite, um
Espírito Baixou em Mim”, porém
tem tudo para fazer muitas temporadas, pela qualidade do espetáculo e sua
importância na disseminação de orientações sobre como se deve tratar de um
paciente com aquele terrível mal e dos cuidados que deve haver no contato com
tal tipo de paciente, principalmente no que diz respeito ao trato entre pais e
filhos. Esta é a segunda temporada no Rio
de Janeiro, mas a peça vem sendo mostrada há quase quatro anos, desde
sua estreia nacional, em novembro de
2020, ainda em plena pandemia de COVID-19,
em Fortaleza, Ceará, na “Mostra de Teatro Transcendental”.
Depois, seguiu para temporadas em Belo Horizonte e apresentações em
várias cidades do interior de Minas Gerais. Também participou da
reinauguração da “Casa da Ópera”, em Ouro Preto; do “Festival de Teatro” da “Mostra
Tiradentes em Cena”; e da “Mostra do Teatro Brasileiro”, no Cine
Theatro Brasil Vallourec, em Belo Horizonte, cidade sede da “Cangaral
Produções Artísticas”, fundada por ILVIO
e MAURÍCIO.
O texto e a direção
da peça são assinados por JAIRO RASO,
para quem a peça “é um trabalho artístico e de conscientização”, com o que concordo
plenamente e acrescento: e de utilidade pública, além de
aplaudir a iniciativa, uma vez que este é mais um dos muitos papéis da ARTE,
que salva (“É verdade este bilete (SIC)!” – Momento descontração). RASO entende muitíssimo do assunto,
visto que é médico neurocirurgião, acostumado a lidar com e tratar (d)esse tipo
de paciente. Sua vivência laboral foi plenamente aproveitada na boa dramaturgia,
com diálogos bem claros e diretos, para serem assimilados por qualquer pessoa
de QI
médio. Ainda que o tema seja muito “áspero”, dorido, o autor do texto
faz com que ele seja tratado com o máximo de naturalidade e respeito, abrindo espaço para
o humor leve. Reforço a informação de que “O conhecimento teórico e prático que possui
deu ao diretor a capacidade de navegar pelo tema também no palco, onde pai
e filho, interpretados por Ilvio Amaral e Maurício Canguçú, redescobrem
seus afetos entre memórias, lapsos e ressentimentos”. Pelo fato de o Alzheimer
ser uma doença que atinge e afeta não apenas o paciente, mas a família toda, o
autor é de opinião de a que a devastação que ela causa no seio de uma família inteira,
sem falar no círculo de amizade mais próximo ao doente, “pode ser também uma oportunidade
para se rever relações de afeto dentro de uma família. Também considero
mais que pertinente, oportuna, a abordagem da temática. Ainda uma reflexão
certeira de JAIRO RASO: “A peça
é um drama que aborda o assunto em várias de suas facetas. Vai do riso à tensão
conflituosa e violenta até a delicadeza da expressão do afeto”. O autor/diretor
também criou a trilha sonora para a encenação.
Penso que fugir a uma realidade que parece
estar presente entre nós, cada vez mais, não seria a melhor atitude. Nada de
varrer, para debaixo do tapete, a doença, fingir que ela não existe, na nossa
família ou muito próxima a nós. Quanto mais aprendemos sobre o assunto, menos
árdua se torna a tarefa de lidar com a doença; menos pesado se torna o fardo,
principalmente para quem lida diretamente com o acometido do mal.
A montagem é bastante simples, o que
jamais será sinônimo de ruim ou coisa parecida. Pelo contrário, grande é o mérito
de todos os envolvidos no projeto, por conseguirem tocar tanto os corações dos
espectadores com um espetáculo bonito e sem gorduras nem invenções fantásticas,
como a “da roda”. O cenário, de ANDRÉA RASO, se limita a uma paisagem no centro do fundo do palco,
com árvores e folhagens, representando o exterior do apartamento de Mauro.
Ocupando o espaço cênico poucos móveis: apenas um sofá, num dos cantos do
palco, e, do outro, uma bancada com duas cadeiras. O que resta de livre
no palco é para ser bem ocupado pelos atores, obedecendo a uma discreta direção
de movimento. Boas e precisas marcações, nenhum movimento parecendo ser
artificial ou presumível. ANDRÉA
também é responsável pelos adequados e sóbrios figurinos.
Os dois atores tem um ótimo rendimento no palco, com um brilhantismo ímpar em algumas cenas, muita cumplicidade, que pode até ser justificada pelo hábito de contracenarem entre si há muito tempo. Ambos são generosos e "armam as jogadas para o outro ampliar o placar da partida". Arrisco dizer que, pela minha ótica, ILVIO AMARAL merece uma indicação de "Melhor Ator", pelo menos, a algum prêmio de TEATRO, pela composição de seu personagem, o "Seu Hélio", como o filho o trata, numa prova mais que concreta da distância que há entre eles.
FICHA TÉCNICA:
Texto e Direção: Jair Raso
Assistente de Direção: Andréa Raso
Elenco: Ilvio Almaral e Maurício
Canguçú
Cenário e Figurino: Andréa Raso
Iluminação: Marina Arthuzzi e Jair
Raso
Trilha Sonora: Jair Raso
Técnico Iluminação e Som: Gabriel
Guilardo
Fotos: Pedro Vale, Raquel Guerra e
Stan Carvalho
Programação Visual: Márcio Miranda e
Samuel Araújo
Administração: Mauro Canguçú
Produção: Cangaral Produções
Artísticas
Coordenação de Produção RJ: Joaquim
Vidal
Assessoria de Imprensa: MercadoCom
– Ribamar Filho e Gabriel Folena
SERVIÇO:
Temporada: De 21 de
junho a 20 de julho de 2024.
Local: Teatro Solar de
Botafogo.
Endereço: Rua General
Polidoro, nº 180 – Botafogo - Rio de Janeiro.
Horários: 6ªs feiras e sábados,
às 20h.
Valor dos Ingressos: R$
80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada).
Ingressos à venda
pelo https://bileto.sympla.com.br/event/95345
Capacidade: 175
espectadores.
Indicação Etária: 14 anos.
Duração: 60 minutos.
Gênero: Drama.
Repetindo o que já falei
no início desta crítica, ao receber o convite para conhecer o trabalho da “Cangaral
Produções Artísticas”, pensei, mais de uma vez, se deveria aceitá-lo,
se eu gostaria de assistir a uma peça que girasse em torno de uma temática que
me assombra, que é um fantasma na minha vida. Depois de ter assistido à peça,
vi que não havia motivos para a minha apreensão. Recomendo, com empenho, o
espetáculo.
FOTOS: PEDRO VALE,
RAQUEL GUERRA
E
STAN CARVALHO
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E
SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA
QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!
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