sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

“PALAVRAS DE MULHER”

ou

(QUANDO A LITERATURA E O TEATRO SE ABRAÇAM POR UMA BOA CAUSA.)




         Estreou anteontem, para uma curtíssima temporada (Que novidade!!!), infelizmente, um espetáculo que reúne, num afetuoso abraço, duas das mais importantes ferramentas para disseminar cultura: A literatrura e o TEATRO. Falo da peça “PALAVRAS DE MULHER”, que pode ser vista, somente até o dia 21 deste mês (janeiro / 2024), no Teatro Candido Mendes.



       Atendendo ao duplo convite, de SERGIO FONTA, diretor da peça, e DEBORAH GOI, assessora de imprensa (Bradart Comunicação & Marketing), abri uma exceção, que espero não mais repetir, e fui àquele Teatro, em Ipanema. Os motivos que me levaram, já há algum tempo, a deixar de ir ao Candido Mendes foram muito bem pensados e nasceram de uma profunda observação pessoal, porém prefiro não os tornar públicos, mas, se os curiosos quiserem conhecê-los, existe, para isso, o privado, nas redes sociais.

        



 SINOPSE:

A peça se passa em uma “biblioteca no Paraíso”, a “Biblioteca das Bibliotecas”.

A ação transcorre durante um encontro entre quatro mulheres, já falecidas, obviamente, promovido por uma delas.

Durante o colóquio, o quarteto conversa, despreocupadamente, sobre suas vidas e obras, propondo-se não só a difundir a literatura brasileira, como estimular a leitura, destacando, ainda, questões femininas, presentes em nossa sociedade e que, até hoje, vêm sendo pauta de muitos debates.

O espetáculo leva a plateia a revisitar as vidas e obras de quatro grandes personalidades femininas e icônicas da literatura brasileira: Carmen da Silva (STELLA MARIA RODRIGUES)Clarice Lispector (LAURA PROENÇA), Eneida de Moraes (IZABELLA BICALHO) e Hilda Hilst (HELGA NEMETIK)

 



 

         Carmen da Silva (1919 – 1985) foi uma psicanalista, jornalista e escritora brasileira, uma das precursoras do feminismo no país, já tendo sido definida como “um dos símbolos da modernização da imprensa e da sociedade brasileira contemporânea”. Nos anos 1940, viveu no Uruguai e na Argentina, onde iniciou sua carreira de escritora e jornalista, publicando seu primeiro livro. Nos anos 1960 radicou-se no Rio de Janeiro e consolidou seu talento como escritora, colaborando com jornais e revistas. Durante 22 anos ininterruptos, entre 1963 e 1984, redigiu a coluna "A Arte de Ser Mulher", na revista "Claudia", da Editora Abril. A coluna antecipou alguns dos debates que seriam, depois, encampados pelo discurso feminista por aqui, como o uso da pílula anticoncepcional, a inserção da mulher no mercado de trabalho e o divórcio, entre outros. Em seus escritos, Carmen contava a história de mulheres que, antes mesmo da existência de movimentos feministas organizados no Brasil contemporâneo, apresentavam os contrastes e desigualdades para os dois sexos. Seus textos proporcionaram novas formas de pensar e interpretar a condição feminina em nosso país. Sobre ela, na ocasião de sua morte, aos 65 anos de idade, manifestou-se a, também, grande escritora e guerreira na luta pelos direitos das mulheres, Marina Colasanti: Carmen da Silva morre muito jovem para todos nós. Pra onde quer que ela esteja indo, o pessoal de lá que se cuide, porque ela vai balançar o coreto.”. (As informações bibliográficas das quatro escritoras foram encontradas na Wikipédia, com adaptações.)




         Das quatro, creio que Clarice Lispector (1920 – 1977) seja a que mais dispensa apresentações, visto ser uma das maiores escritoras em língua portuguesa, a meu juízo, a despeito de ter nascido na Ucrânia, embora se dissesse, com muito orgulho, brasileira e pernambucana. Por causa da Guerra Civil Russa, se viu obrigada a emigrar, em decorrência da perseguição a judeus, à época, a qual resultou em diversos extermínios em massa. A futura escritora chegou ao Brasil, ainda pequena, em 1922, com seus pais e duas irmãs e dizia não ter nenhuma ligação com a UcrâniaNaquela terra, eu, literalmente, nunca pisei: fui carregada de colo - e que sua verdadeira pátria era o nosso país. Clarice foi escritora e jornalista, autora de romances, contos e ensaios, considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, considerando-se, como uma de suas principais características, a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano. Algumas de suas mais importantes obras – alguns títulos se tornaram “best sellers” e leitura obrigatória nos banco escolares – são “Perto do Coração Selvagem, “Uma aprendizagem ou O livro dos Prazeres”, “Água Viva”, “Laços de Família“A Paixão Segundo G.H.“AS Hora da Estrela e “Um Sopro de Vida.




           Eneida de Moraes (1904 – 1971), ou, simplesmente, Eneida, como preferia ser chamada e conhecida, foi uma jornalista, escritora, militante política e pesquisadora brasileira. Eneida é sempre descrita, em relatos de amigos e parentes, como uma mulher forte, viva, corajosa, audaciosa e inteligente. Foi filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCB), declaradamente, marxista, liderou greves e manifestações contra o sistema capitalista e as opressões do governo brasileiro. Envolveu-se, diretamente, nas revoluções de 1932 e 1935, o que resultou em 11 prisões durante o Estado Novo, além de torturas, clandestinidade e exílio. Na prisão, conheceu Olga Benário e Graciliano Ramos, que a imortalizou em “Memórias do Cárcere”, um dos seus principais livros. Atuou como jornalista profissional em periódicos partidários e da grande imprensa, nas funções de repórter e de cronista, entremeando essas atividades com a publicação de 11 livros e várias traduções.




           A quarta personagem é Hilda Hilst (1930 – 2004), poeta, ficcionista, cronista e dramaturga. É considerada, pela crítica especializada, como uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX. Seu trabalho aborda temas como misticismo, insanidade, erotismo e libertação sexual feminina. Hilst foi, fortemente, influenciada por James Joyce e Samuel Beckett, e essa influência aparece em temas e técnicas recorrentes em seus trabalhos, como o fluxo da consciência e realidade fraturada. Hilda Hilst escreveu por quase cinquenta anos, tendo sido agraciada com os mais importantes prêmios literários do Brasil. Assuntos tidos como, socialmente, controversos foram temas abordados pela autora, em suas obras. A própria escritora, no entanto, confessou, numa entrevista à publicação “Cadernos de Literatura Brasileira”, que seu trabalho sempre buscou, essencialmente, retratar a difícil relação entre Deus e o homem.




   Feitos esses comentários, o que se pode esperar de um encontro, ainda que fictício, entre essas incríveis mulheres, representadas por um quarteto de excelentes atrizes? Certamente, uma conversa muitíssimo agradável, leve, profícua e engraçada, já que as quatro personagens tinham um aguçado senso de bom humor, crítico e irônico, por vezes, em doses diferentes. O TEATRO, para ser bom, precisa de um bom texto, como este, da escritora, dramaturga e poeta RACHEL GUTIÉRREZ, entretanto, antes da concepção da dramaturgia, é preciso que esta seja o desenvolvimento de uma boa ideia. Considero ótima e oportuna a que levou Dona RACHEL a escrever esta peça. Aprovei seus diálogos, ágeis e muito bem escritos.



    O texto torna-se mais robusto e, consequentemente, enriquecido por ter recebido uma magnífica leitura do diretor, SERGIO FONTA, o qual, com efeito, percebeu que estava diante de um grande desafio, uma vez que precisava evitar que a peça se tornasse maçante, pelo fato de o tema, voltado para a literatura, não ser tão popular, infelizmente, neste país, onde pouco se lê e, menos ainda, os escritores são valorizados, sequer lembrados. O diretor se ocupou em posicionar as atrizes ocupando todo o espaço cênico, com excelentes marcações – o espetáculo acabou se tornando muito dinâmico -, ao mesmo tempo que soube explorar o potencial de cada uma.



Sergio Fonta.
(Foto: Fonte desconhecida.)


  É sempre importante que haja homogeneidade no elenco, independentemente de os “actantes” representarem protagonistas ou personagens secundários. Aqui, estamos diante de quatro protagonistas e o trabalho das atrizes é nivelado bem por cima. Todas têm a oportunidade de destaque, numa cena ou outra, e o fazem de forma brilhante, sem desperdício de um minuto de atuação. Reparei que não houve uma preocupação mimética, mas cada personagem foi construída de tal forma, que os que conheceram Carmen, Clarice, Eneida e Hilda podem identificar características delas em cada trabalho de interpretação. Gostei de todas as atuações, entretanto reservo um aplauso mais esticado para STELLA MARIA RODRIGUES e IZABELLA BICALHO. Não sei dos dotes de cantora de LAURA PROENÇA, mas conheço muito bem, e admiro muitíssimo, as vozes de STELLA, IZABELLA e HELGA, três estupendas “cantrizes”, as quais já aplaudi em incontáveis produções do TEATRO MUSICAL. É pena que a peça não comporte números musicais, ao vivo, no espetáculo! Mas a encenação conta com uma eclética trilha sonora, assinada pela dramaturga, que agasalha compositores como Chiquinha Gonzaga, Déodat de Séverac, Claude Debussy, Gustav Mahler e Olivier Messiaen.




   “PALAVRAS DE MULHER” é uma produção modesta, em termos de orçamento, contudo tudo é feito com muito cuidado e respeito ao público. Assim, temos uma cenografia, projeto de DANIELLY RAMOS, cuja simplicidade é compensada pela criatividade, para representar uma biblioteca. Não entro, aqui, em detalhes, para não dar “spoiler”. WANDERLEY GOMES reafirma seu talento de figurinista, com peças elegantes, de muito bom gosto e, intimamente, ligadas às características de cada uma das quatro personagens. GIL SANTOS abriu mão de “malabarismos” desnecessários e criou uma luz que acompanha a simplicidade da proposta, muito ajustada ao espetáculo, funcionando muito bem. 


Foto: Gilberto Bartholo.



 FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: Rachel Gutiérrez

Direção Artística: Sergio Fonta

Assistência de Direção: Marina Trindade

 

Elenco: Stella Maria Rodrigues (Carmen da Silva), Izabella Bicalho (Eneida de Moraes), Helga Nemetik (Hilda Hilst) e Laura Proença (Clarice Lispector)

 

Projeto Cenográfico: Danielly Ramos

Figurinos: Wanderley Gomes

Iluminação: Gil Santos

Trilha Sonora: Rachel Gutiérrez

Aderecista: Regina Gaúcha

Construção de Escada Cenográfica: Skena Cenografia

Visagista: Fernando Ocazione

Maquiagem: Julita Machado

Operador de Luz e Som:  Cristiano Teodor

Contrarregras: Alexandre de Castro e Luisinho Freitas

Sonoplastia: João Paulo Pereira

Acessibilidade: Patrícia Saiago - Zenith Studios

Assessoria de Imprensa: Deborah Goi - Bradart Comunicação

Gestão de Mídias: Cesar Dominguez - Bradart Comunicação

Programação Visual: Raquel Maia

Fotógrafos: Renato Mangolin e Fernando Ferreira

Prestação de Contas: Patricia Castro – Arte Cultura LTDA.

Direção Executiva: Patricia Castro – Arte Cultura LTDA.

Produção Executiva: Jenny Mezencio

Realização – Ministério da Cultura e Arte Cultura LTDA

Patrocínio – ForShip Engenharia


 


 


 

 

 SERVIÇO:

Temporada: De 10 a 21 de janeiro de 2024.

Local: Teatro Candido Mendes.

Endereço: Rua Joana Angélica, nº 63 – Ipanema – Rio de Janeiro.

Dias e Horários: 10, 11, 16 e 17 às 20h; 13, 14, 20 e 21, às 18h.

Valor do Ingresso: R$ 35 (Inteira) e R$ 17,50 (meia-entrada).

Venda: https://bileto.sympla.com.br/event/90098

Capacidade: 102 lugares.

Acessibilidade: SIM.

Classificação Etária: 14 anos.

Duração: 60 minutos.

Gênero: COMÉDIA. 


 


 

 

    Nas palavras da dramaturga, “A peça é uma homenagem a quatro grandes escritoras e um convite à leitura.”. Na visão do diretor, a montagem visita a questão do empoderamento feminino e nos proporciona a “oportunidade de mergulhar no universo de quatro escritoras de estirpe e que são, também, quatro poderosas mulheres, com muito a dizer até hoje”. E eu só faço acrescentar que o espetáculo merece ser visto e aplaudido pelos que apreciam um bom trabalho teatral e que ele serve mesmo de incentivo aos que leem pouco, para que se interessem mais pela literatura.

 

 


Sergio Fonta, o diretor, cumprimenta 
Rachel Gutiérrez, a autora.


Com Sergio Fonta, Eva Procter 

e outros amigos.

 

 


FOTOS: RENATO MANGOLIN

e

FERNANDO FERREIRA.

 

 


VAMOS AO TEATRO!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!

RESISTAMOS SEMPRE MAIS!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!


















































Um comentário: