“DJAVANEAR:
UM TANTO
FLOR,
UM TANTO MAR”
ou
(QUANDO A
MÚSICA
DÁ AS CARTAS.)
ou
(UM
ESPETÁCULO
ETÉREO.)
ou
(UMA
CELEBRAÇÃO
DO AMOR.)
É
um espetáculo de TEATRO, uma peça (Convidaram-me para um.)? É um “show”
musical? Ou de dança? É um pouquinho de cada coisa, tudo junto e misturado;
mais os dois últimos que o primeiro. É “DJAVANEAR: UM TANTO FLOR,
UM TANTO MAR”, espetáculo a que assisti, na última terça-feira (16/01/2024), na Arena do SESC
Copacabana (VER SERVIÇO.) e que nos provoca um saboroso deleite,
proporcionado pelo encanto das canções de Djavan. Fico feliz, sempre que
alguém, um grande artista, no caso, é homenageado ainda em vida, num país de
memória curta e preguiçosa. Em geral, tecem-se loas às pessoas quando morrem e,
em pouco tempo, seus nomes acabam caindo no esquecimento ou, parafraseando o
bardo Carlos Drummond de Andrade, se tornando “uma fotografia na parede”.
Djavan
merecia mesmo uma bela celebração do amor, este sentimento tão cantado e
decantado por ele, em suas dezenas de canções, a grande maioria composta com
foco no sentimento mais nobre entre os seres humanos.
Durante
os 70
minutos de duração do espetáculo, o público vibra com cerca de 40 de seus maiores “hits”, interpretados por um quinteto de atrizes,
sendo duas atrizes que cantam, e bem; duas cantoras que atuam, e convencem; e
uma jovem incipiente aspirante às duas funções. Fazem parte do “set
list” títulos como “Luz”, “Pétala”,
“Oceano”,
“Samurai”,
“Açaí”,
“Tanta
Saudade”, “Álibi”, “Faltando um Pedaço”, “Te Devoro”, “Meu Bem Querer”, “Seduzir”, “Azul”, “Lilás”,
“Cerrado”,
“Sina”,
“Linha
do Equador”, “Flor de Lis” e “Fato Consumado”. Todas
essas canções foram gravadas, e regravadas, pelos maiores intérpretes da Música
Popular Brasileira e pelo próprio compositor. Um detalhe: enquanto meus
dedos nervosos martelam, neste momento, as teclas do computador, ávidos por
terminar esta crítica e publicá-la, deixo-me embalar pelas músicas de Djavan,
ouvidas, ao fundo, pelo Spotify. Quer fonte de inspiração
melhor?
Abri
esta minha apreciação do espetáculo em tela com um questionamento: o que o
espectador pode esperar, quando se decide a ir à Arena do SESC Copacabana,
para assistir a “DJAVANEAR: UM TANTO FLOR, UM TANTO MAR”, o
que, de antemão, recomendo aos amigos e inimigos? Como
eu recebi o espetáculo? Muito bem,
pela proposta e execução do projeto, mas não sei se devo chamar aquela “performance
artística” de TEATRO, visto que não considero
enxergar o que me chegou como a “atuação / interpretação, através do qual são representadas
histórias na presença de um público (a plateia)”, na concepção
tradicional, “padrão”, do que entende por TEATRO, essa maravilhosa ARTE
milenar de representar. Mas há uma “atuação coletiva”, não se pode
negar, e interpretações, sim, agregadas ao canto. Nem de longe,
passa pela minha cabeça qualquer mínima intenção de polemizar, contudo, na minha modesta
visão – posso estar errado – não vi uma história sendo contada, não havendo,
portanto, uma “dramaturgia”, concretamente definida. Antes que já possa ser
alvo de críticas e ataques, por parte dos que me leem, quero
deixar bem claro que gostei bastante do que vi, a ponto de, se me fosse
possível rever o espetáculo, eu o fazer e que, caso ele não me tivesse agradado,
eu não estaria, agora, muito incomodado com o calor senegalês que se abate
sobre o Rio de Janeiro, escrevendo sobre o evento. Para os que
me dão a honra de ler pela primeira vez, e mesmo para os que já vêm me
prestigiando com a leitura de minhas críticas, é sempre bom dizer que não
escrevo sobre espetáculos que não me tocaram; procuro nem me lembrar deles.
Talvez, a
meu juízo, chamar “DJAVANEAR: UM TANTO FLOR, UM
TANTO MAR” de “um
show musical roteirizado”, se aproximasse mais do que me foi dado ver,
apreciar e aplaudir bastante, sem falar que cantei, obviamente num volume quase
inaudível, todas as canções, enquanto “dançava no lugar, sentado”. Se não
é bem “TEATRO”, de acordo com as minhas considerações no parágrafo
anterior, por outro lado, considerando que o vocábulo deriva do
grego “Theatrón”, significando “lugar para contemplar”, estávamos
ali, eu e mais de duas centenas de convidados, numa sessão especial,
exatamente, “num lugar para contemplar”. E só nos preocupamos com isso. E
foi muito bom!
O espetáculo celebra a obra do cantor, compositor e músico alagoano, Djavan, a partir dos afetos, por meio de quase 40 músicas, sob as vozes e os olhares femininos.
Podem
estranhar, como também aconteceu comigo, mas é, exatamente, o que está escrito
no quadro acima (SINOPSE) o que recebi, como o resumo do espetáculo,
como parte de um “release”. No fundo, porém, “DJAVANEAR...” é isso mesmo. É a proposta do espetáculo: celebrar o
amor, explorado, à farta, na obra desse compositor e cantor alagoano, de Maceió,
às vésperas de completar 75 anos (27 de janeiro), filho de
uma mãe,
lavadeira, negra, que vivia e cantar o repertório de Ângela Maria, Dalva de Oliveira e Orlando Silva, o que, certamente,
exerceu grande influência na formação e na carreira do artista. Aos 23
anos, chegou ao Rio de Janeiro, para tentar a
sorte no mercado musical. Foi lá que tudo começou. Djavan mescla inúmeros
estilos, entre eles o "jazz", o "blues", o samba e a música flamenca, com grande influência da música regional
nordestina.
A minha relação com a obra do artista é, no mínimo, muito
curiosa, visto que adoro o seu acervo, tenho suas gravações, em discos, cds e dvds, adoro ouvir suas canções, entretanto fico meio pasmo, diante de alguns
trechos de suas letras ou, até mesmo, ante uma composição inteira. De certo, é
um grande poeta; de certo, poesia não é para ser explicada, mas sim sentida;
mas também é fato que algumas de suas construções “poéticas” beiram, na minha
visão, o absurdo, o “nonsense”, o que, acabo achando que, de forma alguma, diminui
o valor e a qualidade de sua produção artística. Quanto a isso, paro por aqui,
por considerar, até mesmo, uma perda de tempo insistir nisso. Por oportuno,
numa recente crítica que escrevi sobre o musical “O Admirável Sertão de Zé Ramalho”,
também produzido por EDUARDO BARATA,
toquei no assunto, porque, nesse aspecto das “liberdades poéticas”, os
dois, como letristas, se equiparam.
O texto deste espetáculo, que prefiro chamar de “roteiro”,
corresponde a trechos de letras de Djavan, mesclados com pequenas
frases, do jornalista e crítico musical MAURO
FERREIRA e da diretora REGINA MIRANDA,
em comunhão com o teor dos trechos das letras selecionados. Tudo costurado com
linha da cor do amor. Um ponto positivo: não bastasse o espetáculo louvar o amor, acrescente-se que houve, da parte do idealizador, da direção do espetáculo e dos dramaturgos a preocupação em escalar artistas de diferentes faixas etárias, dos 17 aos mais de 60 anos, e mostrar, sem nenhum pudor, todas as formas do amor entre humanos, que todas elas valem a pena.
Assim como o roteiro é assinado a quatro mãos, o mesmo se dá
com relação à direção do espetáculo, dividida entre REGINA MIRANDA e EDUARDO
BARATA, talvez mais com um peso maior do nome dela, quero crer, pelo que
conheço de seus trabalhos e pude identificar na “performance”. REGINA é mais uma artista do gesto e do
movimento, com uma admirável formação voltada para a dança, em Nova
Iorque e no Brasil, aluna de nomes como Dona Tatiana Leskova e Angel
e Klauss
Vianna. Mas REGINA é uma
multiartista, muito talentosa e minuciosa nas suas criações, também dedicada
aos estudos de piano, teoria e composição musical e direção teatral. Seu
trabalho artístico, portanto, só poderia ser multidisciplinar. São mais de 30
trabalhos como diretora e coreógrafa, para TEATRO, televisão, ópera
e cinema. Não é de se admirar que sua proposta de direção deste espetáculo
flertasse, intensamente, com a dança. Considerando que Djavan, em suas canções,
é muito ligado a temas como as flores e o mar, a diretora, e coreógrafa também,
nesta produção, explora, abundantemente, os gestos com os braços, que riscam o
ar em movimentos leves e harmoniosos, lembrando as ondas do mar.
Também pegando carona nesse detalhe, NATÁLIA LANA, a premiada cenógrafa, criou um “cenário que dança”, por
conta das dezenas da grande quantidade de flores pendentes do teto, confeccionadas
em material reciclado e reciclável, translúcido. Essas peças são agrupadas em
blocos e, durante todo o decorrer da apresentação, como num balé, passam por
reiterados movimentos de subir e descer, sempre soltas no espaço. Essa prática
funciona muito bem, entretanto – pelo menos para mim – tornou-se um pouco
enfadonha, pela “overdose” da repetição. O que agrada bastante, no início, me
cansou um pouco, já pela metade do trabalho. Creio que essas movimentações poderiam
ser em menor quantidade. Aqui, aproveito para louvar o trabalho dos três contrarregras, cujos nomes, injustamente, não aparecem na FICHA TÉCNICA, pelo trabalho cirúrgico de fazer o cenário subir e descer, tantas vezes, tudo a seu tempo. Dos três, cito o nome de Tom Pires, por ser o único que consegui identificar.
Sempre, num espetáculo de “TEATRO”, é imperiosa uma
“simbiose”
entre cenografia e iluminação. Se essa combinação
funciona, a produção ganha um relevo muito grande, em termos de plasticidade. Quando
uma talentosa cenógrafa, como NATÁLIA
LANA, trabalha junto com LUIZ PAULO
NENEN, outro tal, a probabilidade de o resultado não ser bom, ou excelente,
é quase inexistente. NENEN criou um desenho
de luz que confere ao espetáculo um tom lúdico, poético e criativo,
fazendo uso de uma vasta paleta de cores e variando nas intensidade de acordo
com a carga emotiva da letra de cada canção.
Um dos pontos mais altos desta montagem, para o que já chamo a
atenção dos ainda irão assistir a ela, é a impecável direção musical, assinada
por ALFREDO DEL-PENHO e MUATO. Para evitar a mesmice, eles conseguiram
desconstruir o que já conhecemos das gravações de todas as canções que fazem
parte da “set list”, partindo para uma nova construção: belíssimos e
originais arranjos, musicais e vocais; excelentes combinações de vozes, muito
bem distribuídas entre o elenco; mudança de ritmos, admiráveis, em sua totalidade.
Num breve momento, uma pequena parte de um a canção – não lembro qual – é cantada
com a letra em inglês. Achei lindo esse detalhe e, imediatamente, imaginei toda
a obra de Djavan vertida para outros idiomas.
Todas as cações são executadas ao vivo, acompanhadas por uma
banda, formada por cinco musicistas mulheres: BRUNA
SARAIVA, DEBORAH LEBY, GEORGIA CÂMARA,
JULIA RODRIGUES e MARIA BAIXARIA. O som tirado dos instrumentos musicais é um bálsamo para os ouvidos,
principalmente quando dão apoio às interpretações de MATILLA, LEILA
MARIA e PAULA SANTORO. A primeira tem apenas 24 anos e já pode ser considerada uma ótima cantriz da nova
geração. Aplaudi-a, em “Los Hermanos –
Musical Pré-Fabricado”, e, recentemente, em “Funny Girl, A Garota Genial”, e não foi diferente agora. Sua
presença de palco e a força de sua voz conquistam o público logo na primeira
aparição. Cada vez que é chamada à cena, já provoca um certo “frisson” na audiência, a qual não
lhe poupa os merecidos aplausos. LEILA MARIA vem de uma carreira de mais
de 30 anos, como cantora e, há
bem pouco tempo, encantou os telespectadores do “reality show” “The
Voice +”, tendo chegado, brilhantemente, à fase final, com sua voz afinada, doce e cristalina. O elenco parece ter
assimilado bem o universo poético de Djavan e a proposta do espetáculo,
as cinco muito empenhadas em dar o melhor de si.
A porção “dança” do espetáculo é
abraçada por REGINA MIRANDA, que
assina a coreografia de “DJAVANEAR: UM TANTO FLOR, UM
TANTO MAR”.
Não é difícil perceber que o amor e a natureza, esta abundantemente
explorada em torno das flores e do oceano, são os dois
grandes temas da obra de Djavan. Cônscia disso, LUIZA MARCIER criou os figurinos do espetáculo, vários,
exuberantes alguns e fora dos padrões do dia a dia, inserida no clima da
montagem.
Idealização: Eduardo
Barata
Dramaturgia: Mauro
Ferreira e Regina Miranda
Direção: Regina Miranda
e Eduardo Barata
Direção Musical: Alfredo Del-Penho
e Muato
Elenco: Karen Júlia,
Leila Maria, Mattilla, Paula Santoro e Tontom Périssé
Musicistas: Bruna
Saraiva, Deborah Leby, Georgia Câmara, Julia Rodrigues e Maria
Baixaria
Coreografia: Regina Miranda
Direção de Movimento: Fabiana
Valor
Cenografia: Natália
Lana
Figurinos: Luiza
Marcier
Iluminação: Luiz Paulo
Nenen
Engenharia de Som:
Dugg
Assistência de Direção e
“Swing”: Rafael Telles
Assistência de Direção Musical:
Bruna Saraiva
Fotos: Priscila
Prade
Assessoria de Imprensa:
Barata Comunicação e Dobbs Scarpa
Direção de Produção:
Denise Escudero e Elaine Moreira
Produção Executiva: Roy D`Peres
Temporada: De 11 de
janeiro a 04 de fevereiro de 2024.
Local: SESC Copacabana (Arena).
Endereço: Rua Domingos
Ferreira, nº 160, Copacabana – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De 5ª
feira a domingo, às 20h.
Valor dos Ingressos: R$
30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada) e R$ 7,50 (associados SESC).
Acessibilidade: SIM.
Capacidade: 280 lugares.
Duração: 70 minutos.
Indicação Etária: 12
anos.
Gênero: Musical.
Este é o primeiro musical dirigido por REGINA MIRANDA, que confessa ter ficado surpresa, quando foi convidada por EDUARDO BARATA, para assumir a batuta do espetáculo, porque, segundo ela, “meu trabalho não se insere muito na linha de musicais”. Foi, porém, convencida pelo produtor, depois que este lhe disse que desejava “algo diferente mesmo”. A bem da verdade, REGINA fez dois trabalhos de direção distintos, o que valoriza mais ainda sua contribuição na FICHA TÉCNICA, considerando-se que, em São Paulo, "DJAVANEAR: UM TANTO FLOR, UM TANTO MAR" foi apresentado num palco italiano e, no Rio, numa arena. Esse trabalho duplo de direção, também, obviamente, se estende a todos os envolvidos no projeto. REGINA MIRANDA tem o meu humilde aval para já ir pensando no segundo musical dirigido por ela.
É, Djavan, "DIZEM QUE O AMOR ATRAI". Recomendo o espetáculo.
FOTOS:
PRISCILA PRADE
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
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