segunda-feira, 14 de agosto de 2023

“FURACÃO”

ou

(NO LODO, 

NASCE A

FLOR-DE-LÓTUS.)

 


    Ir a um Teatro, para assistir a um novo trabalho da “AMOK TEATRO”, que prima pelo bom gosto, elevado senso profissional e perfeccionismo, é sempre uma certeza de satisfação garantida. Em 25 anos de existência, ANA TEIXEIRA e STEPHANE BRODT, fundadores da CIA., jamais assinaram um espetáculo que não merecesse, de minha parte, no mínimo, a classificação de ÓTIMO, sendo que, a alguns, dedico a distinção de OBRA-PRIMA, como foi o caso, por exemplo de “Salina – A Última Vértebra” (2015) e “Os Cadernos de Kindzu” (2018). Na última 5ª feira (10 de agosto de 2023), fui conhecer a mais recente produção da “AMOK” e, como já esperava, deixei o Teatro Sergio Porto, no Rio de Janeiro, “flutuando nas nuvens”, depois de ter assistido a “FURACÃO”, daqueles espetáculos que me fazem refletir sobre a capacidade criativa do ser humano, para imaginar uma belíssima peça, partindo de um desastre climático, no caso, a passagem do furacão “Katrina”, em 2005, pelo sul dos Estados Unidos, na cidade de Nova Orleans, mais propriamente.




    “FURACÃO” é um espetáculo que leva o público a refletir, obviamente, sobre as consequências das questões climáticas, porém vai além disso, abrindo um leque de questionamentos, no qual há espaço para a ética, o racismo e o retorno à ancestralidade. A peça é baseada na obra homônima do premiado escritor francês LAURENT GAUDÉ, que recebeu um ótimo tratamento dramatúrgico, da parte de ANA e STEPHANE.




 

 SINOPSE:

“FURACÃO” coloca em cena uma poderosa personagem feminina – uma espécie de “griot” americana (Na tradição africana, os “griots” - pronúncia: “griôs”- e “griottes”, para as mulheres, são contadores de histórias, muito sábios e respeitados nas comunidades onde vivem.), trazendo um tema urgente: a situação dos excluídos, diante das catástrofes climáticas que devastam o planeta.

No coração da tempestade, Joséphine Linc Steelson (SIRLEA ALEIXO), “uma velha negra de quase cem anos”, enfrenta a fúria da natureza.

Uma mulher marcada pela segregação racial.

Uma voz que ecoa como um grito na cidade inundada e abandonada à própria sorte.

O espetáculo segue a trajetória dessa mulher, cuja história poderia ser, também, a história de tantas mulheres brasileiras.

 

 



      A violência de um furacão não escolhe suas vítimas, entretanto sabemos que estas, em sua esmagadora maioria, sempre são as pessoas menos favorecidas, aquelas que não conseguem atingir meios que as possam salvar do gigantesco perigo. Esse pensamento se ajusta, como uma luva, à situação das populações atingidas pelos grandes temporais, no Brasil, uma vez que, por não dispor de recursos que lhes permitam uma moradia segura, veem-se obrigadas a se “empoleirar”, em morros, ou se compactar, à beira de fluxos de água poluída, assoreados,  dentro de construções frágeis, as quais, quando vem o “dilúvio”, são carregadas, encosta abaixo ou “rio” afora,  com tudo, ou quase nada, que se encontra dentro delas, inclusive vidas humanas.




     No caso específico do triste e lamentável episódio do Katrina, registrado acima, a devastação, em Nova Orleans, não chegou com precisão de destinatários, contudo a minoria branca conseguiu se prevenir e abandonar a cidade, posteriormente transformada numa “cidade fantasma”, antes da chegada da “indesejada das gentes” (Minha homenagem a Manuel Bandeira.). Tomando por base a devastação que o furacão causou à comunidade negra dos bairros pobres de Nova Orleans, a obra de GAUDÉ mergulha, abissalmente, nos corações e mentes dos sobreviventes da catástrofe, na pessoa da personagem Joséphine Linc Steelson, visceralmente interpretada por SIRLEA ALEIXO, atriz que, para mim, pelo menos, foi uma gratíssima surpresa. Salta aos olhos dos espectadores a energia direcionada à interpretação da personagem. Não sei de onde SIRLEA retira tanta energia, tanta potência, para ser transferida à sua Joséphine. Ela distribui, harmoniosamente, diferentes entonações e ritmos, de acordo com a carga emotiva contida em cadas frase.   




Na montagem, por meio de um texto bastante denso e realista, a dupla de encenadores optou, mais uma vez com grande acerto, pelo amálgama TEATRO/música, que sempre deu certo, em todas as vezes que o duo recorreu a tal união. No caso da música, que, no espetáculo, alivia bastante a tensão provocada pela ótima dramaturgia, a inspiração voltou-se para a do tipo popular do sul dos Estados Unidos, o genuíno “blues”, um gênero e forma musical originado por afro-americanos, (...), em torno do fim do século XIX, desenvolvido a partir de raízes das tradições musicais africanas, canções de trabalho afro-americanas, “spirituals” e música tradicional. As canções são, magnificamente, interpretadas, ao vivo, por RUDÁ BRAUNS e ANDERSON RIBEIRO, dois músicos, e por TATY ALEIXO, excepcional cantora, que também é aproveitada, numa pequena, porém profícua, participação como atriz.




STEPHANE BRODT também assina a direção musical do espetáculo, e a dupla de músicos, a criação e produção musical. A trilha sonora da peça agasalha versões próprias de clássicos, como “Pussycat Moan”, “O Death”, “Hard Times Killing Floor Blues” e “Strange Fruit”. Um detalhe interessante, para os que, como eu, se interessam por esse tipo de música: a partir da segunda quinzena de setembro, a trilha sonora do espetáculo vai estar disponível nas principais plataformas musicais de “streaming”.




A encenação, que se apresenta em torno de uma narrativa linear, com a correta utilização de “flashbacks”, traz a lume questões complexas relativas à ética, mostrando o que já sabíamos, pela imprensa, mas para o que, talvez, não tivéssemos, à época, dado tanta importância, como nos leva a fazer a peça, ou seja, que “os mais pobres foram os únicos a ficar para trás, depois do alerta de tempestade” (“mais pobres = negros). Não teria sido, exatamente, o mesmo que que deu com relação às vítimas de “Brumadinho”, dentre tantos outros exemplos?




O espetáculo gira em torno de uma personagem sobrevivente a uma tragédia, mas também pode ser considerado um tributo àqueles que não tiveram a mesma sorte, número estimado em quase 2.000 pessoas, além dos cerca de 130.000 que ficaram desabrigados. Mas o que, no fundo, o autor do texto pretende, com sua obra, é mostrar “o peso da desigualdade, em momentos de tragédia”, peso este que, infelizmente, todos sabemos existir, também, fora delas.  Trecho extraído do “release” que me foi enviado por NEY MOTTA (“Arte Contemporânea Comunicação Ltda. – Assessoria de Imprensa): “Uma narrativa que mistura a gravidade do trágico com a doçura da fábula, para exaltar a beleza comovente daqueles que, apesar de tudo, permanecem de pé.”. A Senhora Joséphine Linc Steelson, que, repetidas vezes, como um mantra, faz questão de dizer que é “uma velha negra de quase cem anos”, como a querer que não pairem dúvidas quanto à sua força e vigor, para lutar por um espaço, numa sociedade ultrassegregacionista e cruel, é uma digna e fiel representante dos que “optaram” por “ficar de pé”, se é que isso caiba numa “opção”.




       Em se tratando dos elementos de criação, os principais deles, cenografia, figurinos e iluminação, ganharam um tratamento de pouco protagonismo, sem que tenham sua importância relegada a um plano muito inferior ao dos que carregam toda a força maior do espetáculo: texto, direção e interpretação. A simplicidade pontua os três. O cenário, criado pelo casal ANA e STEPHANE, é único e bastante sugestivo, além de abrir possibilidades, ao espectador, de ver o que nele não existe concretamente, como outros “sets”. Os figurinos, também desenvolvidos pelos dois, não poderiam ser mais simples e sóbrios, como a tônica da montagem exige. E a luz, desenhada por RENATO MACHADO, parece ter sido fruto de uma aposta do “menos é mais”, muito bonita e acertada, contribuindo para lindas imagens no espaço cênico.


 


 

 



 FICHA TÉCNICA:

Texto Original: Laurent Gaudé

Adaptação: Ana Teixeira e Stephane Brodt

Direção: Ana Teixeira e Stephane Brodt

 

Elenco: Sirlea Aleixo (atriz), Taty Aleixo (atriz e cantora), Rudá Brauns e Anderson Ribeiro (músicos)

 

Cenário: Ana Teixeira e Stephane Brodt

Figurino: Ana Teixeira e Stephane Brodt

Iluminação: Renato Machado

Direção Musical: Stephane Brodt

Criação e Produção Musical: Rudá Brauns e Anderson Ribeiro

Operador de Luz: João Gaspary

Cenotécnico: Beto de Almeida

Confecção de Figurinos: Ateliê das Meninas

Assessoria de Imprensa: Ney Motta

Fotos: Sabrina Paes e Renato Mangolin

Direção de Produção: Sonia Dantas

Produção Executiva: Gabriel Garcia

Assistente de Produção: Lucas Petitdemange

https://www.amokteatro.com.br


 


 


 

 


SERVIÇO:

Temporada: De 03 a 27 de agosto de 2023.

Local: Teatro Sergio Porto (Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto).

Endereço: Rua Humaitá, nº 163, Humaitá, Rio de Janeiro.

Telefone para informações: (21)2535-3846.

Dias e Horários: De quarta-feira a sábado, às 20h, e domingo, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$30,00 e R$15,00.

Duração: 70 minutos.

Classificação: 12 anos.

Gênero: Drama.

 

Circulação com apresentações do espetáculo FURACÃO e oficinas de “Treinamento Improvisação” – Programação gratuita:

 

Dia 8 de setembro, sexta-feira:

Local: Arena Carioca Fernando Torres.

Endereço: Rua Bernardino de Andrade, nº 200, Madureira, Rio de Janeiro.

Telefone para informações: (21)3496-0372.

Apresentação do espetáculo às 18h.

Com debate após a apresentação.

Programação gratuita.

 

Dia 10 de setembro, domingo:

Local: Arena Carioca Dicró.

Endereço: Rua Flora Lôbo, s/nº, Penha Circular - Parque Ari Barroso - Rio de Janeiro.

Telefone para informações: (21)3486-7643.

Apresentação do espetáculo às 18h.

Oficina “Treinamento Improvisação”, das 14h às 18h.

Programação gratuita.

 

Dia 11 de setembro, segunda-feira:

Local: Museu da Maré.

Endereço: Avenida Guilherme Maxwel, nº 26, Maré, Rio de Janeiro.

Telefone para informações: (21)3868-6748.

Apresentação do espetáculo às 19h.

Oficina “Treinamento Improvisação”, das 14h às 18h.

Programação gratuita.

 

De 18 a 22 de setembro, segunda a sexta-feira:

Local: Casa do Amok Teatro.

Endereço: Rua das Palmeiras, nº 96, Botafogo, Rio de Janeiro.

Telefone para informações: (21)2543-4111.

Oficina “Treinamento Improvisação”, das 9h30min às 12h30min.

Programação gratuita.

 

 




        Há 25 anos, desde sua fundação, o “AMOK TEATRO” não vem fazendo outra coisa que não seja escrever, com tinta cada vez mais forte e indelével, o seu nome, como uma das melhores CIAs. do TEATRO BRASILEIRO.  A essa linda trajetória, “FURACÃO” vem se juntar, como um dos melhores espetáculos a que assisti neste pouco mais de meio ano de temporada carioca de 2023. Em função disso, recomendo, com bastante entusiasmo, esta produção teatral.

 

 



 


 

FOTOS: SABRINA PAES

e

RENATO MANGOLIN

 

 

 

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domingo, 13 de agosto de 2023

"HELENA BLAVATSKY,

A VOZ DO SILÊNCIO"

ou

(UMA AULA DE

INTERPRETAÇÃO

TEATRAL.)





        E continua a (boa) safra de monólogos no Rio de Janeiro. Hoje, a “bola da vez” é o espetáculo “HELENA BLAVATSKY, A VOZ DO SILÊNCIO”, que aportou por aqui, para uma temporada no “Teatro Fashion Mall”, depois de ter cumprido duas outras, em São Paulo e Belo Horizonte, com sessões lotadas e uma excelente receptividade, por parte do público e da crítica especializada.



  

SINOPSE: 

A luz de uma vela ilumina o cenário e revela um lugar simples, na fria Londres do final do século XIX.

É o quarto de HELENA BLAVATSKY, que se encontra sozinha, em seu último dia de vida.

Ela revisita suas memórias, seu vasto conhecimento, adquirido pelos quatro cantos do mundo, e se depara com a força do comprometimento com sua missão de vida e as consequências de suas escolhas.

Relembra sua forte ligação com a Índia e seu encontro, em Londres, com Gandhi.

 

 



De acordo com o “release” que recebi, de STELLA STEPHANY (“JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany”), “a peça joga luz sobre a obra e o legado de BLAVATSKY, conhecida por confrontar as correntes ortodoxas da ciência, da filosofia e da religião. Resgatando importantes conhecimentos para a humanidade, a visionária escritora influencia, até os dias de hoje, inúmeros pensadores e artistas”. Seguem-se dois parágrafos retirados, quase na íntegra, de uma fonte confiável, os quais funcionam como um “cartão de visitas” da personagem protagonista deste espetáculo.



Elena Petrovna Blavátskaya, mais conhecida como Helena Blavatsky ou Madame Blavatsky, foi uma proficiente escritora russa, responsável pela sistematização da moderna Teosofia e cofundadora da "Sociedade Teosófica". Dona de uma personalidade forte, complexa, dinâmica e independente, desde pequena, mostrou possuir um caráter robusto e dons psíquicos incomuns. Imediatamente após um casamento frustrado, deixou o esposo e partiu em um longo período de viagens, por todo o mundo, em busca de conhecimento filosófico, espiritual e esotérico e, nesse intervalo, alegou ter passado por inúmeras experiências fantásticas, entrado em contato com vários mestres de sabedoria, ou "mahatmas", e deles recebido, na condição de discípula, um treinamento especial, para desenvolver seus poderes paranormais, de forma controlada, a fim de que pudesse fazer uso deles como instrumento para a instrução do mundo ocidental. Nos Estados Unidos, estabeleceu uma duradoura aliança de trabalho e companheirismo com Henry Olcott, com quem fundou a “Sociedade Teosófica”. Em 1877, os dois transferiram a sede da “Sociedade” para a Índia e passaram a viver lá, até que um incidente, o “Caso Coulomb”, abalou gravemente sua reputação internacional, quando foi declarada culpada de fraude, num relatório publicado pela “Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres”. Voltou, então, para a Europa, onde continuou escrevendo e divulgando a Teosofia. Seus anos finais foram difíceis, pois vivia, frequentemente, adoentada e envolvida em discussões públicas, tinha de administrar a “Sociedade” que fundara, e que crescia rapidamente, e a quantidade de trabalho que se impunha era enorme.


Helena Blavatsky.

HELENA BLAVATSKY foi descrita, por seus contemporâneos, em extremos de admiração e de desprezo, embora fosse uma figura fascinante para todos, pelo menos no que diz respeito ao seu carisma, inteligência e vivacidade pessoal, em que não estava ausente um grande senso de humor, que se expressava da maneira mais cômica quando falava mal de si mesma e levava às gargalhadas seus amigos. Seu comportamento nada tinha de previsível ou polido. Estava longe das convenções sociais, era dramática, impulsiva e propensa a dar escândalos. A opinião alheia lhe era indiferente, mas não era esnobe. Não demonstrava ter uma natureza sensual, mas falava abertamente sobre sexo. Era muito obesa, adorava comidas gordurosas e vestia-se de modo confuso, preferindo largas túnicas exóticas e vestidos soltos, que tornavam seu perfil volumoso ainda mais indistinto; gostava de usar uma profusão de anéis. Era barulhenta, falava incessantemente, exceto quando escrevia, mas era uma conversadora brilhante, que cativava, imediatamente, seus ouvintes com uma ininterrupta série de histórias deslumbrantes sobre suas viagens e experiências incomuns em países exóticos. Na discussão pública, era, praticamente, imbatível, mantendo uma posição de extrema autoconfiança e veemência, suportadas por uma erudição e versatilidade que impressionavam a todos. Fumava, sem parar, cigarros de fumo turco, que ela mesma enrolava e oferecia a todas as suas visitas, gostava de haxixe, de café e de chá. Contrariada, tinha acessos de intensa cólera, quando proferia maldições e outros impropérios, nas cerca de quarenta línguas e dialetos que dominava, os quais, em segundos, passavam para um humor tranquilo, carinhoso e jovial: uma "bipolar", como se diz hoje. Em certas épocas, bebia "brandy" em quantidade “o suficiente para matar um iaque tibetano”, como ela mesma dizia. Na fase de apogeu de sua carreira, as excentricidades de seu comportamento e sua própria figura física eram o exato oposto de quem, de acordo com as expectativas da época, se apresentava como uma discípula de santos e sábios. Esteve, durante toda sua carreira pública, envolvida em polêmicas e deixou muitas declarações intencionalmente contraditórias sobre sua vida.



       Agora, depois de já termos sido apresentados à Dona HELENA, digo-lhes que, se a querem “conhecer pessoalmente”, corram ao “Teatro Fashion Mall”, pois ela lá está, feliz por receber aqueles que se propõem a ouvir suas histórias e façanhas. Sim, porque o que vemos naquele palco é algo surpreendente. Não fui lá à procura de uma aula de TEATRO, porém foi o que vi; é o que nos proporciona a estupenda atriz BETH ZALCMAN, durante 60 minutos, que, do ponto de vista do tempo psicológico, o interno, aquele que “nós fazemos”, correspondem, talvez, a 15. Sim, não percebemos a passagem do tempo, as 60 voltas do ponteiro maior, porque o trabalho de BETH, digno de premiação, se encarrega de não permitir que nos desliguemos daquela interessantíssima figura, tanto no palco como entre a audiência, numa cena bem descontraída.



Beth Zalcman.


    BETH é uma excepcional atriz, cujo talento, o qual, embora já demonstrado em tantos trabalhos, em todas as mídias, precisa ser mais identificado e valorizado pelo grande público, apesar de já ter completado 40 anos de carreira. Entre os que já a conhecem atuando, ela é unanimidade. Em 2015, ao lado de Simone Kalil, foi vista por mais de 50.000 pessoas, no espetáculo “Brimas”, texto de sua autoria, pelo qual recebeu indicações a prêmios, dirigida por LUIZ ANTÔNIO ROCHA, função que este repete na encenação em tela.


  

   A “aula” a que me referi corresponde a uma exuberante interpretação de BETH ZALCMAN. Para construir a personagem, a atriz encontrou a voz correta, assim como o ritmo e as variações de intensidade, que “flutuam” de acordo com as necessidades de cada cena e ação. Acompanha esse grande acerto sua postura corporal, de uma mulher cansada e muito vivida, ainda que, naquele último dia de sua vida, estivesse com 59 anos. BETH fala pelas palavras, pelos olhos e, muito, pelas mãos, as quais explora com um brilhantismo que nos hipnotiza.



     A meu juízo, este espetáculo, que já RECOMENDO, com muito empenho, apresenta três pontos de grande destaque: a interpretação, a direção e a iluminação. Já discorri sobre o trabalho de BETH ZALCMAN. LUIZ ANTÔNIO ROCHA repete uma direção impecável, explorando todos os infinitos recursos de interpretação da atriz, não economizando em boas ideias e resoluções para todas as cenas. Entre seus principais trabalhos, como diretor, destaco “Paulo Freire, o Andarilho da Utopia”; “Zilda Arns, a Dona dos Lírios”; a já citada “Brimas”; e “Frida Kahlo, a Deusa Tehuana”. Em “HELENA BLAVATSKY, A VOZ DO SILÊNCIO”, ele chega a alçar a iluminação à categoria de “intérprete”, visto que esta “dialoga e contracena” com a atriz, da primeira à última cena, de uma forma que poucas vezes vi acontecer num palco. Que imenso entrosamento existe entre o diretor, a atriz e RICARDO FUJJI, o iluminador da peça! RICARDO faz uso de muitas mudanças de luz e cores, cada uma mais expressiva que a outra e completamente integradas às cenas. Peremptoriamente, afirmo que o trabalho de RICARDO é para ser indicado a prêmios, com expressiva condição de conquistas, e, para mim, é o melhor trabalho, no gênero, com que tive contato neste ano.


Beth Zalcman e Luiz Antônio Rocha.


   Todos os demais elementos de criação, nesta montagem, funcionam a contento, como a dramaturgia, o cenário, o figurino, o visagismo, e a trilha sonora.



O texto original, o de estreia como dramaturga, de LÚCIA HELENA GALVÃO, filósofa, professora, escritora, poetisa, palestrante, e voluntária, há 33 anos, na organização “Nova Acrópole do Brasil”, onde atua, ministrando aulas e palestras sobre diversos temas ligados à Filosofia à maneira Clássica, é bem claro, e a dramaturga conseguiu compactar, em uma hora, os melhores momentos da vida de BLAVATSKY, de uma forma bem próxima ao que, sobre ela, escreveram seus biógrafos e admiradores. A narrativa de uma "fábula", envolvendo uma anciã e Buda, é excelente e me obriga a suportar o desejo de dar "spoiler".



O cenário, de EDUARDO ALBINI, reproduz, com bastante fidelidade e com detalhes bem precisos, um quarto simples, da época em que a protagonista viveu. Basicamente, uma mesa/escrivaninha e uma cadeira de braço, sobre um discreto tapete. Sobre o móvel, muitos objetos, a serem utilizados no decorrer da encenação. Muitos livros, empilhados e espalhados pelo chão, dando uma ideia de "desordem", de um certo "caos".



ALBINI também assina o belo figurino, único, usado pela atriz. A certo momento, BETH pega uma peça, a qual, por conta da minha ignorância, no assunto, não consigo saber se é um “xale, uma pashmina ou uma echarpe”, ou outro nome que aquilo possa receber, e a coloca sobre os ombros. Esse detalhe é importante, já que, ao falar de sua vivência na Índia, mais adiante, a atriz faz uso da peça à moda das mulheres indianas.



É deveras interessante a caracterização, que transforma BETH na personagem, resultado de um ótimo trabalho de visagismo, executado por MONA MAGALHÃES.



Infelizmente, não consta, na FICHA TÉCNICA, o nome do responsável pela boa trilha sonora, na qual se destacam os sons que nos chegam, característicos das culturas musicais dos Estados Unidos e da Índia, quando a atriz fala de suas andanças por Nova Iorque e Bombaim.


  


 

 FICHA TÉCNICA:

 Texto Original: Lúcia Helena Galvão

Encenação: Luiz Antônio Rocha

Assistente de Direção: Ilona Wirth

 

Interpretação: Beth Zalcman

 

Cenário: Eduardo Albini

Figurino: Eduardo Albini

Iluminação: Ricardo Fujji

Visagismo: Mona Magalhães

Consultoria de Movimento (gestos): Toninho Lobo

Operador de luz: Gabriel Oliveira

“Marketing” Digital: Reação Web

Fotos: Daniel Castro, Andréa Menegon, Marlon Maycon, Flávia Canavarro, Kim Leekyung e Lucas Pacheco

Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany

Idealização e Produção: Beth Zalcman e Luiz Antônio Rocha

Parceria: Organização Internacional Nova Acrópole do Brasil

Realização: Teatro em Conserva / Espaço Cênico Produções Artísticas e Mímica em Trânsito Produções Artísticas


 


 



SERVIÇO: 

Temporada: De 27 de julho a 17 de setembro de 2023.

Local: Teatro Fashion Mall (São Conrado Fashion Mall).

Endereço: Estrada da Gávea. Nº 899 – loja 213 – São Conrado – Rio de Janeiro.

Capacidade: 420 lugares.

Dias e Horários: Sexta-feira, às 21h; sábado, às 20h; e domingo, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$100,00 (inteira) e R$50,00 (meia-entrada).

Horários de funcionamento da Bilheteria: De terça-feira a dom, das 14h às 20h.

Vendas “on-line”: Plataforma Sympla.

Duração: 60 minutos.

Classificação Etária: 12 anos.

Gênero: Monólogo.


 

 

 

    Para quem é amante de um TEATRO da melhor qualidade, considero imperdoável não assistir a este espetáculo, que convida o público a uma reflexão sobre a busca do Homem pelo conhecimento filosófico, espiritual e místico.

 

 



 

FOTOS: DANIEL CASTRO, ANDRÉA MENEGON, MARLON MAYCON, FLÁVIA CANAVARRO, KIM LEEKYUNG e LUCAS PACHECO. 

 


 

 

GALERIA PARTICULAR:






 

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