“UBU - O QUE É BOM
TEM QUE CONTINUAR!”
ou
(O QUE É BOM VIVE
PARA SEMPRE.)
ou
(UM TROPICALISMO
DO ABSURDO.)
Há gente mais criativa que esse povo do TEATRO? Se houver,
preciso ser apresentado a ela.
Para comemorar, neste ano de 2023, 30 de
existência, um dos mais premiados grupos de TEATRO do Brasil, o GRUPO
TEATRAL CLOWNS DE SHAKESPEARE, resolveu fazer sua primeira temporada
no Rio de Janeiro (Já haviam, antes, se aresentado em festivais de Teatro fluminenses, mas nunca em temporada.),
no Sesc Tijuca (VER SEREVIÇO.), com a peça “UBU: O QUE
É BOM TEM QUE CONTINUAR!”, uma sátira política, inspirada no
clássico texto “Ubu Rei”, de Alfred Jarry,
considerado um dos grandes percursores do TEATRO do Absurdo.
SINOPSE:
A peça tem como ponto de partida os personagens Pai e Mãe
Ubu, da clássica obra “Ubu Rei”, de Alfred Jarry,
e suas rocambolescas armações em uma insaciável busca pelo poder.
Situando-se como uma possível continuação do trabalho de Jarry,
o texto desloca esses personagens para um país/lugar-nenhum com "ares" latino-americanos.
Depois de fugirem da Polônia, nesse novo ambiente, Pai Ubu e Mãe Ubu continuam sua saga alucinada, insaciável e sem controlo pelo poder.
A proposta principal desta
hilária montagem é provocar reflexões sobre a democracia e o atual cenário
político do país, trazendo a dinâmica do grupo teatral, que envolve lirismo,
ludicidade e uma investigação focada na presença cênica do ator, na
musicalidade da cena e do corpo, no TEATRO popular e na comédia.
Isso posto, não poderia restar a
menor dúvida, para quem idealizou o projeto, de que ele seria vencedor, como já
vem provando, desde sua estreia. Os ingredientes listados no final do parágrafo
anterior, jogados num caldeirão, só poderiam “produzir um bom caldo”.
O espetáculo é extremamente popular e de altíssima qualidade (Sim, porque um
detalhe não é incompatível com o outro.), bem ao alcance de qualquer pessoa, de
todas as idades. As crianças, evidentemente, não entendem o âmago da proposta,
entretanto “curtem” a peça, por conta do elemento lúdico
do espetáculo. Prova disso são três meninas, de, aproximadamente, sete ou oito
anos, que, na noite em que assisti ao espetáculo, se divertiram muito, riam “às
bandeiras despregadas” (Pronto! Entreguei a idade. Nunca entendi por
que essa expressão tem um valor semântico de “intensidade”.). E,
como a montagem requer, em algumas cenas, a participação, espontânea, da
plateia, as três crianças fizeram questão de participar daqueles momentos.
O espetáculo é lírico?
Até certo ponto, sim, mas não tanto, puxando nada para o lado contido no
significado de “romântico”, porém, bastante para as conotações de
“emotivo, bonachão, simples, brega, utópico, tocante, sensível,
idealista, imaginador...” “Sob as asas” do adjetivo “lírico”,
muitas acepções podem se abrigar.
Sobre “ser lúdico”,
esta encenação dispensa maiores comentários, porque isso ela o é; essa ludicidade
está representada por efeitos cromáticos, rítmicos e sonoros, estes traduzidos pelas canções que fazem parte da ótima trilha sonora original (“Dramaturgia
Musical”, como aparece na FICHA TÉCNICA.), composta, a quatro
mãos, por dois grandes profissionais desse “métier”: MARCO
FRANÇA e ERNANI MALETTA.
É um trabalho de investigação
focada na presença cênica do ator? Totalmente! O corpo dos atores, como
ferramenta de trabalho que serve ao ofício de “representar”, é
assaz explorado, exigindo muito preparo físico da parte do quinteto de artistas
e produzindo excelentes efeitos cinéticos.
O espetáculo é um digno representante do TEATRO POPULAR e da COMÉDIA, daqueles que remontam às representações feitas por saltimbancos, em espaços públicos, tão típicos do TEATRO Medieval, traços que se espalharam por todas as partes do mundo e que existem até hoje, graças aos DEUSES DO TEATRO.
Aplaudo, com entusiasmo, a ideia
de FERNANDO YAMAMOTO, quando, para dar forma ao seu texto, pensou em “Ubu
Rei”, uma sátira da estupidez, escrita por Alfred Jarry,
aos 23 anos de idade, no final do século XIX e encenada, pela primeira
vez, em 1896, em Paris, considerada “uma peça
selvagem, bizarra e cômica, significativa pela maneira como subverte regras, normas
e convenções culturais”.
Deve ser algo já sabido de quase todos que a COMÉDIA,
como, infelizmente, até hoje, ocorre, é considerada, historicamente, um gênero
que ocupa um segundo plano, em relação à tragédia. Por outro lado, também não é segredo para ninguém que a COMÉDIA
é um gênero que se presta a críticas, as quais levam a reflexões, podendo gerar
mudanças nas pessoas e em sistemas vários. Se Jarry pensou nisso,
ao escrever sua obra mais conhecida, da mesma forma agiu FERNANDO YAMAMOTO,
quando, fazendo uso da linguagem e da estética da COMÉDIA, imaginou uma
continuidade da trajetória da maquiavélica dupla de personagens protagonistas, Pai
Ubu e Mãe Ubu.
E, de forma magnífica, trouxe-os
para um país imaginário, sul-americano, a Embustônia, que bem poderia
ser qualquer um dos treze que constituem o continente, mas que, facilmente,
reconhecemos ser o Brasil. YAMAMOTO desejou focar nos acontecimentos
políticos dos últimos quatro anos, nesta terra “descoberta” por
Cabral, e o fez, brilhantemente, por meio de um texto que evoca o deboche, para
“abrir os olhos” dos brasileiros, o que fica muito claro nas
falas ao final da última canção do espetáculo: “Ainda bem que tudo isso é TEATRO! Puro TEATRO! Qualquer semelhança com
a realidade é tudo, tudo menos coincidência! Se lá, em Embustônia, eles
foram do ruim para pior, aqui, pelo menos por enquanto, estamos livres dessa
desgraça, mas a História nos ensina que suas sementes continuam plantadas em
cada esquina, pois a barriga que pariu esses monstros continua cuspindo filhotes
raivosos por aí. Por isso, muito cuidado, minha gente, olho aberto. É, não
deixemos nosso país se transformar numa 'república de bananas'. Passemos a dar
bananas para os facistas!”.
Sempre identifico uma
grande diferença dos outros espetáculos, quando o diretor de qualquer um é o autor
do texto, porque não há um intermediário, entre o que foi escrito, registrado
no papel, e o espetáculo encenado; a dependência de uma decodificação do texto
por parte de uma outra pessoa. FERNANDO YAMAMOTO, como ninguém, sabia
qual a melhor forma para uma comunicação mais direta com o público, o que
facilitaria seu desejo de fixar suas ideias e pretensões. Para isso, lançou mão
de elementos bastante populares, porém de muito bom gosto e inventividade. “Em meio a números musicais, ‘selfies’ e
cachos de banana, o espetáculo é encenado a céu aberto”, sem que, praticamente, fiquem demarcadas as áreas
correspondentes ao espaço cênico e à plateia, propriamente dita.
A potência do texto e a
excelência e força do trabalho dos cinco atores dispensam a utilização de muita
“pompa e circunstância” na encenação desta obra. Assim,
funcionando muito bem, porém passando ao largo de qualquer “glamour”,
temos um cenário muito simples, que serve, satisfatoriamente, à encenação, com poucos elementos móveis, como caixotes revestidos de chita florida, e alguns
curiosos adereços. O mérito da cenografia é de FERNANDO YAMAMOTO e RAFAEL
TELLES. Já as peças adornais foram executadas por MARCOS LEONARDO,
que também assina os figurinos da peça; "franciscanos", é verdade, porém
ajustados à proposta.
Como o espetáculo foi pensado
para ser representado ao ar livre, em locais públicos, não há uma luz teatral,
especificamente elaborada, como se faz necessário num Teatro “indoor”.
Apenas alguns refletores dão um “up” à iluminação que seria a “normal”.
A montagem pode ser apresentada, também, em locais fechados, quando, aí, sim,
poderia haver uma luz um pouco mais “elaborada”. O que existe,
agora, é o bastante para pôr em evidência as ações e tudo o que precisa saltar
aos olhos do espectador.
Além dos já citados MARCO FRANÇA e ERNANI MALETTA, ainda têm seus nomes ligados à parte musical do
espetáculo FERNANDO YAMAMOTO, autor de todas as letras, e FRANKLYN
NOGVAES, MARIA CLARA GONZAGA, JÚLIO LIMA e CAIO PADILHA,
que aparecem, na FICHA TÉCNICA, como “colaboradores”,
sem que tenha sido especificado o tipo de colaboração.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia: Fernando Yamamoto
Assistência de Dramaturgia: Camilla Custódio
Direção: Fernando Yamamoto
Elenco (em ordem alfabética): Caju Dantas, Deborah Custódio, Diogo
Spinelli, Paula Queiroz e Rodrigo Bico
Cenário: Fernando Yamamoto e Rafael Telles
Figurino e Adereços: Marcos Leonardo
Dramaturgia Musical: Marco França e Ernani Maletta
Composições: Músicas de Marco França (menos “Marcha da votação”, de
Ernani Maletta) e letras de Fernando Yamamoto
Colaboradores musical: Franklyn Nogvaes, Maria Clara Gonzaga, Júlio Lima
e Caio Padilha
Assessoria de Imprensa: Prisma Colab
Fotos: Luiza Rose
Produção: Talita Yohana (Tayó Produções)
SERVIÇO:
Temporada: De 9 de março a 2 de abril de 2023.
Local: Pátio das Tamarineiras - Sesc Tijuca.
Endereço: Rua Barão de Mesquita, nº 539, Tijuca – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 4020-2101.
Dias e Horários: De quinta-feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: Grátis (PCG), R$7,50 (credencial plena), R$15,00
(meia entrada) e R$30,00 (inteira).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De terça-feira a domingo, das 9h
às 19h.
Capacidade: A definir (variável).
Duração: 70 minutos.
Indicação Etária: Livre.
Gênero: COMÉDIA.
“UBU: O QUE É BOM TEM QUE CONTINUAR!” é uma
montagem em que comicidade, crítica e reflexões
políticas caminham juntas, braços dados, na proposta de se imaginar uma “possível”
continuação da história original de Alfred Jarry. É atemporal e
universal. Pode sugerir momentos diversos da política, sendo que, parece ficar
muito patente que “Embustônia” é o “apelido” de
Brasil. Só não enxerga quem não quiser. A usurpação do poder “cabe na caixinha”
dos temas universais, é verdade, contudo, nesta encenação, o país imaginário
veste-se das cores verde e amarelo, com muitos toques de tropicalismo. Apesar de refletir uma realidade tão presente
no atual cenário político brasileiro, a sátira não faz referências aos “personagens”
da vida real, dando enfoque à importância de se defender a democracia e à sua manutenção.
As identificações ficam por conta da plateia.
Esta
deliciosa COMÉDIA foi escrita em 2022. Primeiro, nasceu do desejo
do grupo “CLOWNS DE SHAKESPEARE” de trabalhar com os outros dois grupos
potiguares, mas também da necessidade de se expressar, em meio a um momento
político conturbado, no pós-pandemia, com eleições, ataques à democracia
e “fake news”.
Um
insignificante “vereador” de Caxias do Sul, uma “aberração
da Natureza”, num recente e deplorável gesto, divulgado, à farta, pela
mídia brasileira, insultou o povo baiano, referindo-se a eles, pejorativa e
ofensivamente, como “os lá de cima”. Faço questão de dizer que,
se, numa próxima encarnação (Acredito nisso.), eu tiver que ser, novamente,
brasileiro e puder escolher onde nascer, quero voltar à Terra em qualquer dos
estados “lá de cima”. E acrescento que, “lá em cima”,
também se faz um magnífico TEATRO, principalmente no Rio Grande do
Norte, onde se concentram muitos grupos teatrais e companhias de excelência
comprovada, como “CLOWNS DE SHAKESPEARE”, “GRUPO AVESSAS”, “GRUPO
DE TEATRO FACETAS” (Componentes dos três formam o
elenco do espetáculo aqui analisado.) “Grupo Carmin”, “Casa de Zoé” e “Grupo Estação”,
apenas para citar alguns. É preciso, pois, que os brasileiros desviem, um pouco,
o foco atribuído ao eixo Rio/São Paulo e valorizem e divulguem os trabalhos de TEATRO
de grupos e companhias de todos os estados!
FOTOS: LUIZA ROSE.
VAMOS AO TEATRO,
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OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO
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RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!
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TEATRO BRASILEIRO!!!
Que lindo
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