“VINGANÇA, O MUSICAL”
ou
(EU VI NELSON RODRIGUES
NO JOCKEY CLUB.)
ou
(CHEGOU AO FIM A PERSEGUIÇÃO
DO GATO AO RATO.)
Como foi linda, emocionante e deliciosa a noite de ontem, 07
de outubro de 2022, que ficará, para sempre, na minha memória e no meu
coração! Foram nove anos à espera de uma oportunidade para assistir a um
musical tão esperado, uma verdadeira “perseguição do gato ao rato”,
ao feitio de Tom & Jerry, dos desenhos animados, que nunca
chegava ao fim. Perdi a conta das vezes que tentei assistir a “VINGANÇA, O
MUSICAL”, em São Paulo, sem sucesso. Sempre, por vários
motivos, os DEUSES DO TEATRO achavam que não estava ainda na hora. Mas me
lembro da última, bem recente. Eu “driblei o time inteiro, fiquei cara a
cara com o goleiro e, na hora de chutar a gol, a perna falhou”. Não, a
culpa, na verdade, não foi minha. Ou foi? “A bola parou a um centímetro
de distância da linha do gol”. Em julho passado, o espetáculo
estava em cartaz, no Teatro Raul Cortez, na capital paulista, e
eu havia agendado, com a minha querida amiga CÉLIA FORTE, uma das produtoras
da peça, ao lado de SELMA MORENTE (MORENTE FORTE – COMUNICAÇÕES),
que iria, num sábado, dia 23, matar o meu desejo de anos, e em dose
dupla. Assistiria a “Assassinato Para Dois”, em cartaz naquele Teatro,
às 18 horas, que eu também estava louco para ver, e emendaria com “VINGANÇA,
O MUSICAL”, às 21 horas, porém as duas sessões daquele dia haviam
sido canceladas, pois o Teatro, que pertence à “FECOMÉRCIO-SP”,
estava reservado para um evento corporativo. Que decepção!!! Frustação
foi muito pouco. Fiquei “arrasado”. Mas vida que segue!
Agora, resolveram aqueles mesmos DEUSES, os do TEATRO,
os quais não podem ser contrariados, que eu merecia assistir a esse magnífico
espetáculo – Não é à toa que já marcha para dez anos de carreira!!! –
e que ele, o musical, sim, viesse até mim, no Rio de Janeiro,
embora a temporada seja relâmpago, de apenas duas semanas, com seis
apresentações. Vi, na estreia, ontem, e estou tentando encontrar uma nova
data, na agenda – talvez o último dia -, para rever o espetáculo, uma,
das muitas, ideia brilhante de ANNA TOLEDO, autora do texto
e que também atua, acompanhada de um naipe de primeiríssima estirpe
- DANILO MOURA, JONATHAS JOBA, LOLA
FANUCCHI, MARIA BIA, SERGIO RUFINO e PIERO DAMIANI – sob a direção
de ANDRÉ DIAS.
SINOPSE:
A trama se
passa nos anos 50, no Sul do Brasil, e tem, como pano de
fundo, a vida boêmia de um cabaré.
O enredo
narra a história de três triângulos amorosos, em que um boêmio, de vida
dupla, quer manter a esposa e as amantes, mas nada sai como o planejado, quando
ele se envolve com uma “mulher fatal”.
Toda a ação se
dá sob a efervescência passional do samba-canção.
A obra foi escrita para comemorar o centésimo aniversário de LUPICÍNIO RODRIGUES, autor das canções do espetáculo, cujas letras serviram de inspiração para a dramaturgia de ANNA TOLEDO.
LUPICÍNIO RODRIGUES, compositor e cantor gaúcho,
entrou para os anais da Música Popular Brasileira como o grande
representante, em seus sambas-canção, da “dor de cotovelo”, expressão popular que significa
tristeza, decepção, frustação, forte depressão moral. O termo evoluiu, posteriormente, para "fossa" e, muito recente,ente, recebeu a denominação de "sofrência". Há muitos que gostam; eu não. Na verdade, eu sofro, de raiva, quando sou obrigado a ouvir o que é composto hoje em dia. Só faço uma exceção às canções de Marília Mendonça. Mas deixemos isso para lá. Gosto é gosto, e mau gosto também o é. (Momento descontração.) As letras de LUPICÍNIO sempre estiveram ligadas a temas como amores perdidos, outros não
correspondidos, intrigas, paixões impossíveis, traição,
a boemia alegre e os desencontros amorosos. Foram essas canções
que levaram ANNA TOLEDO, admiradora confessa da obra do compositor,
a escrever um musical, homenageando, dessa forma, seu ídolo, no ano de 2013,
um antes de ser comemorado, se vivo fosse, seu primeiro centenário de
nascimento, em 1914.
Ana Toledo
(Foto: autoria desconhecida.)
Cresci ao som de LUPICÍNIO, de quem também
sou ardoroso fã, porque papai e mamãe, demasiadamente musicais, viviam cantando,
em casa, as suas canções, normalmente na voz de sua intérprete preferida,
Linda Batista, e eu, igualmente amante da música, aprendi,
desde tenra idade, todo o repertório do compositor. Ontem, na terceira
fila da plateia do Teatro XP Investimentos, cantei, baixinho, quase
todas as canções, “fazendo companhia” aos atores,
em cena.
Em termos de dramaturgia, ANNA TOLEDO foi
de uma felicidade incontestável, pois, como boa “tecelã”, “urdiu”,
com maestria, muitos fios, “metamorfoseados” nas letras
das composições de LUPICÍNIO, e soube criar uma trama, planejar
intrigas e peripécias, jogando com a vida de seis personagens, no
fim da qual não há vencedores; ninguém vence nesse jogo. Todos saem derrotados;
ficam, apenas, almas despedaçadas, esperanças perdidas, sonhos em cacos, impossíveis
de serem colados. ANNA consegue transformar a dor em profunda poesia,
com seu lindo texto, e isso agrada ao espectador e prende sua
atenção, da primeira à última cena. A trama do musical trata, na
verdade, de uma “ciranda de paixões entre amantes”. Sucessos,
como
“Nervos de Aço”, “Nunca”, “Ela Disse-me
Assim” e “Vingança”, entre outros, não poderiam
ficar de fora desta montagem. Vi, com certeza, um Nelson Rodrigues, “de saia”,
naquele palco, como se parecem os estilos dos dois.
O texto também ganha relevância, por tratar
de questões
sensíveis, que sempre existiram, mas que, infelizmente, estão muito presentes,
hoje, como o machismo, a violência, a hipocrisia e as várias
formas de abuso. “Talvez estas questões fiquem mais evidentes hoje,
em 2022, do que foram em 2013, quando a peça estreou.”, comenta o diretor ANDRÉ DIAS.
“Pode ser mais intenso, pode ser mais incômodo, mas foi um risco que
valeu a pena correr.”, completa.
A direção, de ANDRÉ DIAS é primorosa, algo que merece
minutos de aplausos de pé e muitos gritos de “BRAVO!”, tamanha
é sua criatividade, apostando na velha máxima do “menos é mais”.
Não corro o menor risco de incorrer num erro ou ser chamado de “exagerado”,
ao afirmar que o trabalho de ANDRÉ merece um lugar de destaque, no
meu pódio particular, destinado às melhores direções a que venho assistindo
nos últimos anos. Ele, reconhecidamente, um ótimo ator, se revelou, para
mim, um DIRETOR com todas as letras em maíúsculo. Jogando com a exploração
do corpo e da voz dos atores, a serviço de um texto brilhante, ANDRÉ
não sentiu necessidade de uma cenografia que deixasse claro, para o espectador,
quais eram as locações das cenas. Ele mesmo resolveu tudo, escolhendo um cabaré, como
ponto fixo de referência, contando, apenas, com cadeiras, e faz com que um
espaço se multiplique em outros, levando o espectador a “visualizar”
tudo o que, de concreto, não existe no palco. ANDRÉ DIAS “abusou”
do direito de ser um bom diretor de TEATRO. De musical, com
certeza.
André Dias
(Foto: autoria desconhecida.)
E, já que falei em cenografia, preciso fazer
referência ao nome do consagrado artista de criação FABIO NAMATAME,
o cenógrafo, responsável, também pelos figurinos da peça.
O cenário se resume a algumas cadeiras de bar, dois cabideiros de pé, que
quase não estão à vista do público, ao fundo, nas laterais do palco, e
duas penteadeiras antigas, de época, creio, salvo engano, uma variação do
estilo “chipandelle” – posso estar dizendo alguma bobagem, mas
eram iguais aos móveis da minha casa, quando criança, exatamente de quando é
encenada a peça - com alguns objetos sobre elas. São duas belas e preciosas peças,
quase iguais, colocadas nas duas laterais do proscênio.
(Foto: Gilberto Bartholo.)
(Foto: Vinícius Oliveira.)
Os figurinos, na minha modesta opinião, o “grande
forte” da ARTE de NAMATAME, obedecem ao estilo da época,
são muito bonitos e de fino acabamento, bem de acordo com as características
pessoais dos personagens.
Vi, nesta peça, um dos melhores desenhos de
luz assinados por WAGNER FREIRE. E olha que sempre gosto do seu
trabalho e já vi tantas obras maravilhosas desse grande artista de criação... WAGNER soube decodificar, com perfeição, cada momento, cada emoção
contida nas cenas e misturar cores vibrantes e variadas com intensidades
vibrantes ou moderadas, “comme il faut”.
As canções de LUPICÍNIO RODRIGUES ganharam uma maior dimensão, um “brilho especial”, nas mãos de GUILHERME TERRA, que assina uma excelente direção musical, com arranjos modernos e utilizando, à farta, algo de que gosto muito, o efeito do chamado "mashup", que consiste em "misturar duas ou mais canções, normalmente utilizando-se a transposição do vocal de uma música em cima do instrumental de outra, de forma a se combinarem". Fica muito bonito, em cena. Aproveito, aqui, para elogiar o trabalho dos três músicos que acompanham, ao vivo, os atores: PIERO DAMIANI, ao piano, que tem uma participação como ator, no personagem Seu Maestro; JEFFERSON DE LIMA (violão); e RICARDO BERTI (percussão).
Um dos detalhes que mais me chamaram a atenção, nesta montagem
– diria, mesmo, que “me tirou do sério”, provocando-me a vontade
de aplaudir várias cenas, durante a sua execução, foi a extraordinária direção
de movimento, de KÁTIA BARROS, com destaque para a cena que
inicia o segundo ato. Prestem bastante atenção a ela e, obviamente, ao
conjunto da obra. Que trabalho formidável, que chega a “flertar”
com coreografias!
O elenco da peça, como seria inevitável, nesses quase
dez anos em cartaz, tirando-se apenas o período de cerca de dois anos, durante
os quais os Teatros estiveram fechados, por conta da pandemia
de COVID-19, sofreu algumas alterações. Do original, restaram ANNA
TOLEDO, JONATHAS JOBA e SERGIO RUFINO. Dos “novos”,
isto é, os que já estão presentes nesta configuração há algum tempo, DANILO
MOURA, LOLA FANUCCHI e MARIA BIA. Impossível seria destacar
algum nome, uma vez que existe um ótimo nivelamento, “bem para
cima”, do sexteto, sendo que cada um tem o seu momento de brilho
maior. Quando isso ocorre, no decorrer da peça, todos, da forma mais
competente possível, sabem como tirar partido de seu talento e pisar forme as
tábuas, sendo, merecidamente, muito aplaudidos, ao final de “seus
momentos”.
FICHA TÉCNICA:
Texto Original: Anna Toledo
Músicas: Lupicínio Rodrigues
Direção Geral: André Dias.
Assistência de Direção: Carla Masumoto
Direção Musical: Guilherme Terra.
Elenco: Anna Toledo – Luzita; Danilo de Moura – Alves;
Jonathas Joba – Liduíno; Lola Fanucchi - Maria Rosa;
Maria Bia – Linda; Sergio Rufino – Orlando; e Piero
Damiani, ao piano, como Seu Maestro
Músicos: Jeferson de Lima (violão) e Ricardo Berti (percussão)
Direção de Movimento: Kátia Barros
Cenários e Figurinos: Fabio Namatame
Desenho de Luz: Wagner Freire
Pianista Ensaiador: Piero Damiani
Coordenação de Comunicação: Beth Gallo
Assessoria de Imprensa: Barata Comunicações e Morente
Forte Comunicações
Programação Visual: Cassiano Pies
Fotografia: Caio Gallucci
Filmagem: Jady Forte
Produtoras: Selma Morente e Célia Forte
SERVIÇO:
Temporada: De 07 a 16 de outubro de 2022.
Local: Teatro XP Investimentos.
Endereço: Avenida Bartolomeu Mitre, nº 1110 – Leblon/Gávea –
RJ.
Dias e Horários: Sexta-feira e sábado, às 20h;
domingo, às 18h.
Valor dos ingressos: R$80,00 (inteira) e R$40,00
(meia entrada).
Vendas: Sympla
Capacidade: 360 lugares.
Duração:100 minutos, com intervalo de 10 minutos.
Classificação Etária: 16 anos.
Gênero: Musical Melodramático.
Se há uma coisa que o brasileiro – nem todos – aprendeu a
fazer, e muito bem, principalmente nas duas últimas décadas, é TEATRO
MUSICAL, sejam as grandes montagens, “broadwayanas”, sejam as
mais modestas. “VINGANÇA, O MUSICAL” é um dos melhores exemplos dessa competência
e habilidade do ARTISTA BRASILEIRO DO TEATRO MUSICAL. É por isso que JAMAIS CONSEGUIRIA DEIXAR DE RECOMENDAR ESTE ESPETÁCULO. Só há mais cinco apresentações, contando com a de hoje,
sábado, 08 de outubro de 2022.
Valeu a pena esperar por nove anos e deixar o Teatro
XP Investimentos com a alma “lavada e enxaguada”, como diria
Odorico Paragraçu, personagem icônico, criado pelo gênio
de Dias Gomes, para ser interpretado por outro gênio, da representação,
Paulo Gracindo. Em tempo: Que pena que não consegui assistir ao musical
“O BemAmado”, este ano, em São Paulo!
Vida longa a “VINGANÇA, O
MIUSICAL”!
FOTOS: CAIO GALLUCCI
GALERIA PARTICULAR:
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
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