sexta-feira, 15 de abril de 2022

 

“TAL VEZ”

ou

(QUANDO

TUDO DANÇA

NUM PALCO.)

ou

(A OUSADIA

DE UM

CRÍTICO TEATRAL.)



 

        Nem mesmo eu acredito que estou escrevendo isto, que todos devem estar imaginando ser uma crítica sobre um espetáculo teatral. Duplo engano: não é uma crítica e, muito menos, sobre TEATRO. É, isto sim, um depoimento, muito comovido de alguém que nasceu para as artes, respira o TEATRO, como o “oxigênio” da sua vida, porém nutre incomensurável paixão por outras ARTES, com destaque para a DANÇA e a MÚSICA. Relutei muito em dedicar parte de meu tempo a me sentar diante de um computador, para escrever algo sobre um espetáculo que, quando estes escritos tiverem sido publicados, infelizmente, já não estará mais em cartaz, embora eu tenha a esperança de assistir, novamente, a ele, no mesmo Teatro Riachuelo ou em outra casa de espetáculo. E por que não um “templo”, como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro? Vou falar – não fazer uma crítica, sob o ponto de vista técnico – de um espetáculo de dança, “TAL VEZ”, executado pela COMPANHIA DE BALLET DE DALAL ACHCAR, com coreografia de ALEX NEORAL, numa apresentação que me fez “flutuar” na cadeira e ir “levitando”, de retorno até a minha casa.


Dalal Achcar e Alex Neoral.


Que fique bem claro, repito, que não abordarei o trabalho de 18 bailarinos num palco, que me faltam conhecimento técnico e gabarito para fazê-lo, mas não poderia deixar passar em branco a oportunidade de registrar, no meu blogue, toda a minha gratidão aos envolvidos no projetoSão duas gerações de verdadeiros gênios da ARTE DE DANÇAR.

DALAL é um ícone da nossa DANÇA, um dos nomes mais respeitados por seus pares e admiradores dessa ARTE, e devemos a ela grandes momentos do balé clássico no Brasil, considerada sua maior difusora e propagadora, responsável por levar o balé para o povo, um dos grandes prazeres da coreógrafa, quando, por exemplo, trouxe nada menos que Margot Fonteyn e Rudolf Nureyev ao palco do Maracanãzinho, em 1967, onde, também foi apresentado, em maio de 1981, mas aí pelo extinto “Projeto Aquarius” (Será que ainda está em prática?), com estrondoso sucesso, um dos carros- chefes do grande e inesquecível Maurice Béjart, o seu lindo “Bolero”, de Ravel, dançado pelo bailarino argentino Jorge Donn, que “levou ao delírio a massa humana”, a qual tomou conta de um estádio, e não de um Teatro. Mas, além de Fontayn e Nureyev, DALAL também nos deu de presente, em 1973, contando com algumas ajudas inestimáveis, uma visita do Royal Ballet de Londres, assim como, em 1974, a vinda do Ballet da Ópera de Paris. E muitos outros grandes presentes nos chegaram via DALAL, uma verdadeira “Dama do Balé”.



DALAL ACHCAR pensa que o povo menos favorecido, que não tem condição financeira para frequentar um “templo sagrado”, como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, tem todo o direito (E TEM MESMO!!!) de acesso à DANÇA, seja ela clássica ou moderna. É ela quem diz: “Quando eu faziagalas’, havia espetáculos para o povo no dia seguinte. No Theatro Municipal, durante a minha gestão, milhares de professores e estudantes da rede pública assistiram a concertos, dança e ópera. Esporte, música, dança, teatro e artes deveriam ser ensinados na escola. Acho fundamental complementar a educação com a arte e cultura”. Lindo o pensamento de DALAL, com o qual qualquer pessoa de bom senso e alguma sensibilidade deve concordar.



     Para falar da vitoriosa trajetória, de mais de 50 anos de dedicação à DANÇA, de DALAL ACHCAR, seria preciso muito espaço. Decidi, então, fazer um resumo do que encontrei no completo “release”, a mim enviado por LEANDRO GOMES (MNiemeyer Assessoria de Comunicação). DALAL é a responsável pelo lançamento dos maiores bailarinos brasileiros no mercado nacional e internacional, como Marcelo Gomes - American Ballet Theatre New York – USA; Ana Botafogo – primeira bailarina do Theatro Municipal; Roberta Marques - Royal Ballet - Londres - Inglaterra; e por indicação e participação de Mariza Estrella, do Centro de Dança Rio e diretora técnica da Cia, por Thiago Soares - Royal Ballet – Londres - Inglaterra; Irlan Santos - Boston Ballet – USA; Carollina Bastos - Ballet de Munich - Alemanha; Thamires Chuvas - SAN Francisco Ballet - California-USA, e outros mais. Que mulher fantástica!!!



A história profissional de DALAL se confunde com a do Theatro Municipal do Rio De Janeiro, de onde foi diretora do Ballet e, duas vezes, presidente da Fundação Theatro Municipal. Além disso, conviveu e trabalhou com os maiores nomes da cultura brasileira, dentre os quais Vinicius de Moraes e Manuel Bandeira, que escreveram um balé especialmente para a coreógrafa. Di Cavalcanti e Roberto Burle Marx fizeram cenários e figurinos de alguns de seus espetáculos. Tom Jobim compôs uma canção para ela, que continua inédita. “O Tom fez uma música, orquestrada pelo maestro Radamés Gnatalli, que guardo em meus arquivos”, revela ACHCAR. Margot Fonteyn, falecida em 1991 e principal estrela do Royal Ballet, foi madrinha profissional de DALAL, que começou a dançar aos 15 anos e, aos 18, fundou a “Associação de Ballet do Rio de Janeiro”.



DALAL assinou a coreografia do balé “O Quebra Nozes”, considerado, pela revista Newsweek. “a mais bela produção, entre centenas de outras”, e uma tradição anual, de mais de 30 anos, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, além de “A Floresta Amazônica”, um marco brasileiro, criado para Margot Fonteyn; o balé “Dom Quixote”, com o qual recebeu o “Prêmio Ibéria” e os “pas de deux” com "Amor para Ann Marie de Angelo e o Joffrey Ballet” e ”Something Special”, este para Natália Makarova e o “American Ballet Theatre”. Por tudo o que já escrevi e por acompanhar seu trabalho, menos do que gostaria de tê-lo feito, não tenho a menor dúvida de que DALAL ACHCAR revolucionou a história da DANÇA, no BRASIL, e é uma das nossas maiores referências, nesse “métier”, e grande motivo de orgulho para todos os brasileiros.

E é essa mulher, a quem todos os elogios seriam insuficientes, que resolve convidar alguém de outra geração, ALEX NEORAL, que considero um “gênio”, para coreografar um trabalho com a sua Companhia. Independentemente dos laços de amizade que me ligam a ele, vejo-o com um dos maiores profissionais de sua geração. Pensava sempre nele, carinhosamente, como o “Demônio Louro”, por suas “diabruras”, no palco, mas, para ficar mais “leve” o epíteto, troquei aquele por “Feiticeiro Louro”, porque o que ele faz, em termos de criatividade e bom gosto, nas suas coreografias, o que se traduz numa beleza indescritível, é coisa de quem não é deste planeta; deve ter caído de alguma nave espacial o rapaz.



Ainda com base no já referido “release”, fã e conhecedor de seu trabalho, há mais de 20 Anos, à frente da “FOCUS COMPANHIA DE DANÇA”, vou discorrer um pouco sobre sua formação e vida profissional. ALEX é professor, coreógrafo, bailarino de dança contemporânea, tendo iniciado os seus estudos em DANÇA em 1994. Fundou, em 1997, a “FOCUS CIA. DE DANÇA”, onde iniciou suas primeiras pesquisas coreográficas, estreando o seu primeiro espetáculo, "Vértice", em 2000. Considerada uma das CIAS. mais atuantes do Brasil, a “FOCUS CIA. DE DANÇA”, foi agraciada, em 2016, com a “Ordem do Mérito Cultural”, considerado o prêmio mais importante do Ministério da Cultura. A “FOCUS” já se apresentou em mais de 80 cidades nacionais, assim como em outros países, como Alemanha, Itália, Panamá, França, Portugal, Estados Unidos e Canadá. Como coreógrafo convidado, fez inúmeros trabalhos, destacando a remontagem de "Pathways", para o “CityDance Ensemble”, de Washington DC; coreografou peças inéditas, para o "Teatro Bolshoi no Brasil", "Cia Nós da Dança", solos para Nina Botkay, Roberto de Oliveira, para a "São Paulo Cia de Dança", e, também, coreografou os musicais "Rock in Rio", "Cazuza", "Palavra de Mulher" e "A Reunificação das Duas Coreias". Como bailarino, fez parte das companhias de dança de “Deborah Colker”, “Nós da Dança”, “Grupo Tápias” e “Vacilou Dançou”. Como professor de dança contemporânea, ministrou aulas em Washington DC e na Itália, além de vários “workshops” pelo Brasil.

Dito isto, pergunto: Como não poderia dar certo um “TAL VEZ”, uma montagem inédita e atemporal, uma mistura de dança contemporânea e técnica clássica, um dos trabalhos de DANÇA mais lindos e comoventes a que já assisti em toda a minha vida?



 

 

SINOPSE:

Em uma noite qualquer, pessoas se preparam para seus encontros marcados.

A antecipação e a expectativa das emoções dessa noite transbordam nos passos, gestos e atitudes de preparação.

A chegada e o reconhecimento do lugar acontecem de forma urgente.

Precisam estar prontos.

Luzes, cheiros, atenção aos que chegam.

A espera e os pensamentos misturados, regados pela tensão do momento.

O tempo passa, e pouco a pouco.

Cada uma dessas pessoas se desconstruirá, sob a clara visão de que os marcados não aparecerão.

As sensações se misturam e regam seus corpos e movimentos, em um misto de emoções contraditórias.

A frustração manifestada por cada um, com formas e cores diferentes, e a impermanência se debatem.

As cores mudam e, de repente, as pessoas veem e percebem umas às outras, descobrindo possibilidades infinitas ao seu redor.

O espaço está cheio de afetos, do novo, de música.

 

 



        E por que duas pessoas de gerações diferentes, dois grandes artistas, que se admiram, mutuamente, se encontram para o desenvolvimento de um trabalho de DANÇA? É da própria DALAL, de quem partiram a ideia e o convite, que vem a resposta: “...o objetivo é de trazer frescor e um ar mais plural para o mercado do ballet, no Brasil”. Ela ressalta, ainda, a “importância do intercâmbio entre as companhias, muito comum na Europa”. E segue: “É importante, para firmar a força da dança. O coreógrafo precisa ser conhecido além da própria companhia. O processo de criação é uma troca. Venho acompanhando o trabalho do ALEX, na ‘FOCUS’, há algum tempo, e queremos renovar, com um espetáculo muito dançante”. A meu juízo, isso tudo procede, dos pensamentos de DALAL ao produto final do espetáculo. “TAL VEZ” é Um encontro marcado por duas gerações distintas, que se complementam, com a proposta de trazer à tona memórias afetivas, interpretadas por 18 bailarinos.”.



        Uma montagem do quilate, do gabarito, INTERNACIONAL, EU AFIRMO, de “TAL VEZ” só pode ser feito com gente de muito talento e contando com sólidas parcerias. O espetáculo, apresentado pelo ‘Instituto Cultural Vale’, com produção da ‘Aventura’, é composto por uma Cia. de ‘ballet’ extremamente preparada, com 18 excelentes bailarinos, de ponta, e reúne a nata da dança jovem no Rio de Janeiro, treinados pelo ‘maitre de ballet’ e coreógrafo ERIC FREDERIC.”



       Sobre os bailarinos, não tenho nenhum comentário técnico a fazer, pois seria uma grande leviandade de minha parte, porém não há como não afirmar - é só o que posso dizer - que são excelentes, dos melhores que tenho visto, nos últimos tempos.

        Nada a acrescentar, com relação à coreografia, do que já disse, quando me referi a ALEX NEORAL. Todas as cenas são “de tirar o fôlego”.



       Num dos subtítulos deste texto, eu escrevi: “QUANDO TUDO DANÇA NUM PALCO.”. Creio que isso carece de uma explicação, uma vez que, a rigor, quem dança são as pessoas, entretanto o verbo “dançar” foi empregado, aqui, de forma conotativa, levando-se em consideração o resultado do trabalho de alguns dos artistas de criação envolvidos no projeto.



“Dança” a cenografia, da competentíssima NATALIA LANA, tão simples e, ao mesmo tempo, de uma beleza e funcionalidade indescritíveis. São apenas cortinas, inteiras ou pela metade, que sobem e descem, confeccionadas com um tecido muito leve, as quais, por conta, creio, de ventiladores, instalados, estrategicamente, sem ficar à vista do espectador, ou, mesmo, pelo ar que sai do dutos de ar-condicionado, no palco, movem-se, como se acompanhassem os movimentos dos bailarinos. Dança no chão e “dança” no ar.

“Dança”, também, a lindíssima luz, de PAULO CESAR MEDEIROS, um profissional que dispensa qualquer comentário, por sua vitoriosa trajetória como “designer” de luz, o que ratifica nesta montagem.



“Dançam” (E como “dançam”!) os figurinos de JOÃO PIMENTA, o qual sempre vai pelo caminho do bom gosto, da beleza e da originalidade. Figurino para DANÇA deve ser “especial”, não é como os criados e confeccionados para o TEATRO. Não entendo do assunto, mas acho que deve haver a necessidade de tecidos especiais, para que as peças não sofram avarias, durante o espetáculo. JOÃO, a quem admiro profundamente, como profissional, de há muito, que me encantou, com os figurinos de “Romeu & Julieta – Ao Som de Marisa Monte”, no mesmo Teatro Riachuelo, onde assisti a “TAL VEZ”, foi de uma felicidade a toda prova, ao criar os muitos figurinos para este espetáculo, cada um mais lindo que o outro, e responsável pelo impacto causado, tão logo se abrem as cortinas. Os figurinos da primeira cena são o arauto de muita coisa fascinante que está por vir.


 

      Excelente é a trilha sonora de “TAL VEZ”, selecionada por ALEX NEORAL, com canções inspiradas em trilhas de filmes de cineastas, como o espanhol Pedro Almodóvar, o italiano Ettore Scola e o americano Woody Allen.

        É um verdadeiro luxo um espetáculo de DANÇA poder contar com um visagismo que está nas mãos de um profissional como FERNANDO TORQUATTO. Não há como não dar certo.



       Retirado, e adaptado, do “release”: “TAL VEZ” é um jogo de palavras que brinca com ‘talvez’ e ‘aquela vez’ e dá nome à montagem, a qual conta com coreografias baseadas em encontros marcados, os quais geram desencontros e mostram como esses momentos da vida podem resultar em novas experiências. Além do conceito, as cenas serão compostas, também, pelo movimento de desconstrução dos figurinos em camadas, ao longo do espetáculo. “Encontros, desencontros, novos encontros na dança da vida.”.



 

FICHA TÉCNICA:

Coreografia: Alex Neoral

Trilha sonora: Alex Neoral

Figurinos: João Pimenta

Cenografia: Natalia Lana

Iluminação: Paulo Cesar Medeiros

Visagismo: Fernando Torquatto

Fotos: Márcia Ribeiro

Assessoria de Imprensa: Leandro Gomes (MNiemeyer Assessoria de Comunicação)

 

Bailarinos: Beatriz Loureiro, Gabriela Sisto, Laís Lourenço, Lívia de Castro, Manuela Medeiros, Maria Osório, Monserrat Chamorro, Tatiana Bezerra, Thaís Cabral, Trislane Martins, Victória Bellei, Cristian Aguilar, Daniel Oliveira, Gabriel Diniz, João Luís da Matta, Jônatas Itaparica, Marlon Sales e Matheus Benevides.

 



     Como, infelizmente, a temporada foi “mini”, tendo sido encerrada ontem, 17 de abril de 2022, não faz sentido registrar o SERVIÇO, entretanto, se os DEUSES DA DANÇA (Será que eles existem, como os do TEATRO? Tomara que sim!) permitirem, ainda poderemos ver ou rever, no meu caso, esta OBRA-PRIMA, ocasião em que farei ampla divulgação do evento, com o devido SERVIÇO.

 

 

FOTOS: MÁRCIA RIBEIRO

 

 

E VAMOS AO TEATRO,

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OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

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A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

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