“TAL VEZ”
ou
(QUANDO
TUDO DANÇA
NUM PALCO.)
ou
(A OUSADIA
DE UM
CRÍTICO TEATRAL.)
Nem mesmo eu acredito que estou escrevendo
isto, que todos devem estar imaginando ser uma crítica sobre um espetáculo
teatral. Duplo engano: não é uma crítica e, muito menos,
sobre TEATRO. É, isto sim, um depoimento, muito comovido de alguém
que nasceu para as artes, respira o TEATRO, como o “oxigênio”
da sua vida, porém nutre incomensurável paixão por outras ARTES, com
destaque para a DANÇA e a MÚSICA. Relutei muito em dedicar parte
de meu tempo a me sentar diante de um computador, para escrever algo sobre um espetáculo
que, quando estes escritos tiverem sido publicados, infelizmente, já não estará
mais em cartaz, embora eu tenha a esperança de assistir, novamente, a ele, no
mesmo Teatro Riachuelo ou em outra casa de espetáculo. E por que
não um “templo”, como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro?
Vou falar – não fazer uma crítica, sob o ponto de vista técnico – de um espetáculo
de dança, “TAL VEZ”, executado pela COMPANHIA DE BALLET DE DALAL
ACHCAR, com coreografia de ALEX NEORAL, numa apresentação que
me fez “flutuar” na cadeira e ir “levitando”, de
retorno até a minha casa.
Dalal Achcar e Alex Neoral.
Que fique bem claro, repito, que não abordarei o trabalho de 18 bailarinos num palco, que me faltam conhecimento técnico e gabarito para fazê-lo, mas não poderia deixar passar em branco a oportunidade de registrar, no meu blogue, toda a minha gratidão aos envolvidos no projeto. São duas gerações de verdadeiros gênios da ARTE DE DANÇAR.
DALAL
é um ícone da nossa DANÇA, um dos nomes mais respeitados por seus pares
e admiradores dessa ARTE, e devemos a ela grandes momentos do balé
clássico no Brasil, considerada sua maior difusora e
propagadora, responsável por levar o balé para o povo, um dos grandes prazeres
da coreógrafa, quando, por exemplo, trouxe nada menos que Margot
Fonteyn e Rudolf Nureyev ao palco do Maracanãzinho,
em 1967, onde, também foi apresentado, em maio de 1981, mas aí pelo
extinto “Projeto Aquarius” (Será que ainda está em prática?), com
estrondoso sucesso, um dos carros- chefes do grande e inesquecível Maurice
Béjart, o seu lindo “Bolero”, de Ravel,
dançado pelo bailarino argentino Jorge Donn, que “levou ao delírio
a massa humana”, a qual tomou conta de um estádio, e não de um Teatro.
Mas, além de Fontayn e Nureyev, DALAL também
nos deu de presente, em 1973, contando com algumas ajudas inestimáveis,
uma visita do Royal Ballet de Londres, assim como, em 1974, a vinda do Ballet
da Ópera de Paris. E muitos outros grandes presentes nos chegaram via DALAL,
uma verdadeira “Dama do Balé”.
DALAL ACHCAR pensa que o povo
menos favorecido, que não tem condição financeira para frequentar um “templo sagrado”,
como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, tem todo o direito (E
TEM MESMO!!!) de acesso à DANÇA, seja ela clássica ou moderna. É
ela quem diz: “Quando eu fazia ‘galas’, havia espetáculos para o povo
no dia seguinte. No Theatro Municipal, durante a minha gestão, milhares de professores e
estudantes da rede pública assistiram a concertos, dança e ópera. Esporte,
música, dança, teatro e artes deveriam ser ensinados na escola. Acho
fundamental complementar a educação com a arte e cultura”. Lindo o pensamento
de DALAL, com o qual qualquer pessoa de bom senso e alguma sensibilidade deve concordar.
Para falar da vitoriosa
trajetória, de mais de 50 anos de dedicação à DANÇA, de DALAL ACHCAR,
seria preciso muito espaço. Decidi, então, fazer um resumo do que
encontrei no completo “release”, a mim enviado por LEANDRO
GOMES (MNiemeyer Assessoria de Comunicação). DALAL é a
responsável pelo lançamento dos maiores bailarinos brasileiros no mercado
nacional e internacional, como Marcelo Gomes - American Ballet Theatre
New York – USA; Ana Botafogo – primeira bailarina do Theatro
Municipal; Roberta Marques - Royal Ballet - Londres - Inglaterra;
e por indicação e participação de Mariza Estrella,
do Centro de Dança Rio e diretora técnica da Cia,
por Thiago Soares - Royal Ballet – Londres - Inglaterra; Irlan
Santos - Boston Ballet – USA; Carollina Bastos - Ballet de Munich
- Alemanha; Thamires Chuvas - SAN Francisco Ballet - California-USA,
e outros mais. Que mulher fantástica!!!
A história profissional de DALAL
se confunde com a do Theatro Municipal do Rio De Janeiro, de onde
foi diretora do Ballet e, duas vezes, presidente da
Fundação Theatro Municipal. Além disso, conviveu e trabalhou com os maiores
nomes da cultura brasileira, dentre os quais Vinicius de Moraes e
Manuel Bandeira, que escreveram um balé especialmente para a coreógrafa.
Di Cavalcanti e Roberto Burle Marx fizeram cenários
e figurinos de alguns de seus espetáculos. Tom Jobim
compôs uma canção para ela, que continua inédita. “O Tom fez uma música,
orquestrada pelo maestro Radamés Gnatalli, que guardo em meus arquivos”,
revela ACHCAR. Margot Fonteyn, falecida em 1991 e
principal estrela do Royal Ballet, foi madrinha profissional
de DALAL, que começou a dançar aos 15 anos e, aos 18, fundou
a “Associação de Ballet do Rio de Janeiro”.
DALAL assinou a coreografia do balé “O Quebra Nozes”, considerado, pela revista Newsweek. “a mais bela produção, entre centenas de outras”, e uma tradição anual, de mais de 30 anos, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, além de “A Floresta Amazônica”, um marco brasileiro, criado para Margot Fonteyn; o balé “Dom Quixote”, com o qual recebeu o “Prêmio Ibéria” e os “pas de deux” com "Amor para Ann Marie de Angelo e o Joffrey Ballet” e ”Something Special”, este para Natália Makarova e o “American Ballet Theatre”. Por tudo o que já escrevi e por acompanhar seu trabalho, menos do que gostaria de tê-lo feito, não tenho a menor dúvida de que DALAL ACHCAR revolucionou a história da DANÇA, no BRASIL, e é uma das nossas maiores referências, nesse “métier”, e grande motivo de orgulho para todos os brasileiros.
E é essa mulher, a quem todos os elogios seriam
insuficientes, que resolve convidar alguém de outra geração, ALEX NEORAL,
que considero um “gênio”, para coreografar um trabalho com
a sua Companhia. Independentemente dos laços de amizade que me ligam
a ele, vejo-o com um dos maiores profissionais de sua geração. Pensava sempre
nele, carinhosamente, como o “Demônio Louro”, por suas “diabruras”,
no palco, mas, para ficar mais “leve” o epíteto, troquei aquele
por “Feiticeiro Louro”, porque o que ele faz, em termos de
criatividade e bom gosto, nas suas coreografias, o que se traduz numa
beleza indescritível, é coisa de quem não é deste planeta; deve ter caído de
alguma nave espacial o rapaz.
Ainda com base no já referido “release”, fã e conhecedor de seu trabalho, há mais de 20 Anos, à frente da “FOCUS COMPANHIA DE DANÇA”, vou discorrer um pouco sobre sua formação e vida profissional. ALEX é professor, coreógrafo, bailarino de dança contemporânea, tendo iniciado os seus estudos em DANÇA em 1994. Fundou, em 1997, a “FOCUS CIA. DE DANÇA”, onde iniciou suas primeiras pesquisas coreográficas, estreando o seu primeiro espetáculo, "Vértice", em 2000. Considerada uma das CIAS. mais atuantes do Brasil, a “FOCUS CIA. DE DANÇA”, foi agraciada, em 2016, com a “Ordem do Mérito Cultural”, considerado o prêmio mais importante do Ministério da Cultura. A “FOCUS” já se apresentou em mais de 80 cidades nacionais, assim como em outros países, como Alemanha, Itália, Panamá, França, Portugal, Estados Unidos e Canadá. Como coreógrafo convidado, fez inúmeros trabalhos, destacando a remontagem de "Pathways", para o “CityDance Ensemble”, de Washington DC; coreografou peças inéditas, para o "Teatro Bolshoi no Brasil", "Cia Nós da Dança", solos para Nina Botkay, Roberto de Oliveira, para a "São Paulo Cia de Dança", e, também, coreografou os musicais "Rock in Rio", "Cazuza", "Palavra de Mulher" e "A Reunificação das Duas Coreias". Como bailarino, fez parte das companhias de dança de “Deborah Colker”, “Nós da Dança”, “Grupo Tápias” e “Vacilou Dançou”. Como professor de dança contemporânea, ministrou aulas em Washington DC e na Itália, além de vários “workshops” pelo Brasil.
Dito isto, pergunto: Como não poderia dar certo um “TAL VEZ”, uma
montagem inédita e atemporal, uma mistura de dança contemporânea
e técnica clássica, um dos trabalhos de DANÇA mais lindos e
comoventes a que já assisti em toda a minha vida?
SINOPSE:
Em uma noite qualquer, pessoas se
preparam para seus encontros marcados.
A antecipação e a expectativa das
emoções dessa noite transbordam nos passos, gestos e atitudes de preparação.
A chegada e o reconhecimento do lugar
acontecem de forma urgente.
Precisam estar prontos.
Luzes, cheiros, atenção aos que chegam.
A espera e os pensamentos misturados,
regados pela tensão do momento.
O tempo passa, e pouco a pouco.
Cada uma dessas pessoas se
desconstruirá, sob a clara visão de que os marcados não aparecerão.
As sensações se misturam e regam seus
corpos e movimentos, em um misto de emoções contraditórias.
A frustração manifestada por cada um,
com formas e cores diferentes, e a impermanência se debatem.
As cores mudam e, de repente, as
pessoas veem e percebem umas às outras, descobrindo possibilidades infinitas ao
seu redor.
O espaço está cheio de afetos, do novo,
de música.
E por que duas pessoas de gerações diferentes, dois
grandes artistas, que se admiram, mutuamente, se encontram para o
desenvolvimento de um trabalho de DANÇA? É da própria DALAL, de
quem partiram a ideia e o convite, que vem a resposta: “...o objetivo é de trazer frescor e um ar mais plural para o mercado do
ballet, no Brasil”. Ela ressalta, ainda, a “importância
do intercâmbio entre as companhias, muito comum na Europa”. E segue: “É
importante, para firmar a força da dança. O coreógrafo precisa ser conhecido
além da própria companhia. O processo de criação é uma troca. Venho
acompanhando o trabalho do ALEX, na ‘FOCUS’, há algum tempo, e queremos renovar,
com um espetáculo muito dançante”. A meu juízo, isso tudo procede, dos
pensamentos de DALAL ao produto final do espetáculo. “TAL VEZ”
é “Um encontro marcado por duas gerações distintas, que se complementam,
com a proposta de trazer à tona memórias afetivas, interpretadas por 18 bailarinos.”.
Uma montagem do quilate, do
gabarito, INTERNACIONAL, EU AFIRMO, de “TAL VEZ” só pode ser
feito com gente de muito talento e contando com sólidas parcerias. “O
espetáculo, apresentado pelo ‘Instituto Cultural Vale’, com produção
da ‘Aventura’, é composto por uma Cia. de ‘ballet’ extremamente
preparada, com 18 excelentes bailarinos, de ponta, e reúne a nata da
dança jovem no Rio de Janeiro, treinados pelo ‘maitre de ballet’ e
coreógrafo ERIC FREDERIC.”.
Sobre os bailarinos, não tenho nenhum comentário técnico a fazer, pois seria uma grande leviandade de minha parte, porém não há como não afirmar - é só o que posso dizer - que são excelentes, dos melhores que tenho visto, nos últimos tempos.
Nada a acrescentar, com
relação à coreografia, do que já disse, quando me referi a ALEX
NEORAL. Todas as cenas são “de tirar o fôlego”.
Num dos subtítulos
deste texto, eu escrevi: “QUANDO TUDO DANÇA NUM PALCO.”. Creio que isso
carece de uma explicação, uma vez que, a rigor, quem dança são as pessoas,
entretanto o verbo “dançar” foi empregado, aqui, de forma
conotativa, levando-se em consideração o resultado do trabalho de alguns dos
artistas de criação envolvidos no projeto.
“Dança” a cenografia, da competentíssima NATALIA LANA, tão simples e, ao mesmo tempo, de uma beleza e funcionalidade indescritíveis. São apenas cortinas, inteiras ou pela metade, que sobem e descem, confeccionadas com um tecido muito leve, as quais, por conta, creio, de ventiladores, instalados, estrategicamente, sem ficar à vista do espectador, ou, mesmo, pelo ar que sai do dutos de ar-condicionado, no palco, movem-se, como se acompanhassem os movimentos dos bailarinos. Dança no chão e “dança” no ar.
“Dança”, também, a lindíssima luz, de PAULO
CESAR MEDEIROS, um profissional que dispensa qualquer comentário, por sua
vitoriosa trajetória como “designer” de luz, o que ratifica nesta
montagem.
“Dançam” (E como “dançam”!) os figurinos de JOÃO PIMENTA, o qual sempre vai pelo caminho do bom gosto, da beleza e da originalidade. Figurino para DANÇA deve ser “especial”, não é como os criados e confeccionados para o TEATRO. Não entendo do assunto, mas acho que deve haver a necessidade de tecidos especiais, para que as peças não sofram avarias, durante o espetáculo. JOÃO, a quem admiro profundamente, como profissional, de há muito, que me encantou, com os figurinos de “Romeu & Julieta – Ao Som de Marisa Monte”, no mesmo Teatro Riachuelo, onde assisti a “TAL VEZ”, foi de uma felicidade a toda prova, ao criar os muitos figurinos para este espetáculo, cada um mais lindo que o outro, e responsável pelo impacto causado, tão logo se abrem as cortinas. Os figurinos da primeira cena são o arauto de muita coisa fascinante que está por vir.
Excelente é a trilha sonora de “TAL VEZ”, selecionada por ALEX NEORAL, com canções inspiradas em trilhas de filmes de cineastas, como o espanhol Pedro Almodóvar, o italiano Ettore Scola e o americano Woody Allen.
É um verdadeiro luxo um espetáculo de DANÇA poder contar com um visagismo que está nas mãos de um profissional como FERNANDO
TORQUATTO. Não há como não dar certo.
Retirado, e adaptado, do “release”:
“TAL VEZ” é um jogo de palavras que brinca com ‘talvez’ e ‘aquela
vez’ e dá nome à montagem, a qual conta com coreografias baseadas em
encontros marcados, os quais geram desencontros e mostram como esses momentos
da vida podem resultar em novas experiências. Além do conceito, as cenas serão
compostas, também, pelo movimento de desconstrução dos figurinos em
camadas, ao longo do espetáculo. “Encontros, desencontros, novos
encontros na dança da vida.”.
FICHA TÉCNICA:
Coreografia: Alex Neoral
Trilha sonora: Alex Neoral
Figurinos: João Pimenta
Cenografia: Natalia Lana
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Visagismo: Fernando Torquatto
Fotos: Márcia
Ribeiro
Assessoria de Imprensa: Leandro Gomes
(MNiemeyer Assessoria de Comunicação)
Bailarinos: Beatriz Loureiro, Gabriela
Sisto, Laís Lourenço, Lívia de Castro, Manuela Medeiros, Maria Osório,
Monserrat Chamorro, Tatiana Bezerra, Thaís Cabral, Trislane Martins, Victória
Bellei, Cristian Aguilar, Daniel Oliveira, Gabriel Diniz, João Luís da Matta, Jônatas
Itaparica, Marlon Sales e Matheus Benevides.
Como, infelizmente, a
temporada foi “mini”, tendo sido encerrada ontem, 17 de abril
de 2022, não faz sentido registrar o SERVIÇO, entretanto, se os DEUSES
DA DANÇA (Será que eles existem, como os do TEATRO? Tomara que sim!)
permitirem, ainda poderemos ver ou rever, no meu caso, esta OBRA-PRIMA,
ocasião em que farei ampla divulgação do evento, com o devido SERVIÇO.
FOTOS: MÁRCIA RIBEIRO
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
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POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO
BRASILEIRO!!!
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