segunda-feira, 16 de setembro de 2019


COMPANY

(NO BRASIL, “REVIVALS”
TAMBÉM FUNCIONAM,
E SÃO BEM ACEITOS,
QUANDO DE BOA QUALIDADE.)




            É assim que começo esta crítica: “COMPANY” - adoro esse musical. E é assim, com esse sentimento, que escreverei sobre ele.

           Não esperem, porém, os mais velhos, nenhuma comparação entre a atual montagem, em cartaz no Teatro SESC Ginástico (VER SERVIÇO.) com a emblemática, vitoriosa e inesquecível, de 2001, no Teatro Villa-Lobos (Que vontade de chorar pelo nosso TEATRO, pelo Teatro Villa-Lobos, destruído, abandonado, em ruínas, um crime de lesa-cultura, cometido pelo atual e pelos últimos “desgovernos” estaduais, no Rio de Janeiro!!!), na visão de CHARLES MÖELLER e CLAUDIO BOTELHO. Não há o que comparar, pois são duas versões totalmente diferentes, distantes, uma da outra, em cerca de duas décadas, porém com algo em comum: ambas são ótimas. Cada uma na sua.





            A primeira montagem de COMPANY, no Brasil , também a primeira vez em se encenava um musical de STEPHEN SONDHEIM em português, ele, que assina a peça, com GEORGE FURTH, foi um dos melhores musicais a que já assisti, até hoje, e guardo, e ouço sempre, com muito carinho e deleite, o delicioso CD, com a trilha sonora do espetáculo, gravado pelo elenco original: Claudio Botelho (Robert/Bob/Bobby), Solange Badim, de saudosa memória (Sarah), Daniel Boaventura (Harry), Cidália Castro (Susan), Ricca Barros (Peter), Regina Restelli (Jenny), Mauro Gorini (David), Claudia Netto (Amy), Raul Serrador (Paul), Totia Meireles (Joanne), Paulo Mello (Larry), Sabrina Korgut (Marta), Patricia Levy (Suzy), Doriana Mendes (Kathy) e Rita Renha (Atriz Substituta). Muitos deles brilham até hoje, nos musicais; outros, no entanto, partiram para outra dimensão, brilhando de/em outra forma; alguns ainda estão por aí, esquecidos pelos diretores e produtores, infelizmente, uma vez que há papéis para eles; mas todos deixando muita saudade.





            Como o musical foi escrito em 1970, CLAUDIO BOTELHO, que também atuava, como o protagonista, em sua brilhante versão brasileira, se viu na necessidade de fazer algumas adaptações para a época. A atual versão é a mesma, de BOTELHO, porém, da mesma forma, ganhou detalhes exigidos pela contemporaneidade.

            Antes de entrar na análise da versão a que assisti, há menos de uma semana, e da qual gostei muito, quero fazer um registro importante sobre a montagem anterior. Ficou cinco meses em cartaz, no Rio de Janeiro, com casas superlotadas, sucesso absoluto de público e de crítica. Depois, foi para São Paulo, com a mesma expectativa, porém não teve a aguardada aceitação, durando a temporada de apenas um mês, na base da “meia casa’, num Teatro imenso, o Alfa Real, atual Alfa (1110 lugares). Isso, curiosamente, acontece, com certa frequência, de cá para lá e de lá para cá. A solução foi voltar para o Rio, no mesmo Teatro Villa-Lobos, por mais um mês de lotações esgotadas. Nem me lembro de quantas vezes assisti àquela maravilha, mas, certamente, foi mais de uma dezena.








SINOPSE:

O espetáculo conta a história de ROBERT / BOB (ou BOBBY) (REINER TENENTE), um homem solteiro incapaz de manter um relacionamento amoroso estável e saudável, quanto mais um casamento. A dúvida shakespeariana, aqui, passa a ser “Casar ou não casar: eis a questão!”.

A trama começa no seu aniversário de 35 anos e as cenas que se seguem são vinculadas ao seu aniversário e permeadas por questionamentos sobre sua solidão, levantados por cinco casais amigos, casados ou noivos, e por três namoradas, o seu universo de amizades.

No enredo, os cinco casais amigos de BOB, por vezes, o admiram e desejam a sua liberdade e solteirice, no caso dos homens, como, também, admiram e desejam o próprio BOB, no caso das mulheres.

Dessa forma, em muitos momentos, a relação entre os personagens evidencia a fragilidade das relações humanas, tão difíceis, mesmo, de serem equalizadas.

A nova montagem pretende ter a dramaturgia e a teatralidade à frente do espetáculo.





            Com libreto de GEORGE FURTH e música e letra de STEPHEN SONDHEIM, a produção original, na Broadway, recebeu, quando de seu lançamento, em 1970, 14 indicações ao Tony Awards e venceu 6, o que é mais do que um excelente cartão de visitas.
“COMPANY” é um musical que difere da grande maioria dos outros, porque não segue uma linha dramática, uma trama, por assim dizer, claramente definida. As canções, com algumas exceções, são curtas, quase vinhetas, algumas se repetindo, na íntegra ou em partes, para realçar, por meio de suas letras, o que os personagens têm, de verdade, a dizer e aconselhar ao aniversariante indeciso e o que este usa, como artifícios e desculpas, para se defender e se resguardar, enfrentar a tentação e fugir dela.




Apesar de muito bom humor e leveza, que carrega consigo, trata-se de um musical que toca nos problemas das relações humana, mais propriamente, entre casais adultos, pessoas adultas, de uma forma humana e real, cheio de “DRs” com as quais convivemos no dia a dia e que existem desde Adão e Eva, embora a Bíblia pareça tê-las varrido para debaixo do tapete (Momento Descontração.). Como o próprio SONDHEIM declarou, com relação aos personagens, "Eles são pessoas de classe média, com problemas de classe média.". O grande ícone e mestre dos musicais norte-americanos também, inaugura uma marca, nas suas obras, que é fazer com que as canções teçam comentários sobre os personagens da peça, em vez de destacar a trama.  Elas não existem só por existir e pedir uma coreografia que as acompanhe.
Como unanimidade não é fácil de ser alcançada, conheço quem não aprecie o musical, e respeito essas pessoas, e até um “extremista”, que, há pouco tempo, numa conversa em que eu deixava clara a minha ansiedade por conferir esta nova montagem, me disse: “Não vejo o menor sentido nem graça na história de um cara que não sabe se decidir se casa ou compra uma bicicleta.”. Foi só isso o que ele enxergou na peça. Como se esse fosse o caso. Há muito mais por trás da indecisão do protagonista. É só tentar descobrir. Mas pensar, para algumas pessoas, é uma tarefa rara, é pedir muito, além de dar trabalho. Sinceramente, fiquei com pena daquele espectador “desatento”.



Por total falta de tempo e excesso de críticas a serem escritas, procurarei, na medida do possível, ser breve, mas não me furtaria, jamais, a registrar minhas boas impressões sobre o espetáculo, que espero rever. Que a agenda me seja generosa!!!
Gosto muito do texto, bastante inteligente, e acho impecável a versão brasileira, de CLAUDIO BOTELHO, com suas pitadas de “brasilidade”, num texto que se passa num universo no qual há a visível e necessária marca do “american way of life”. Deve ter sido, para BOTELHO, uma de suas mais trabalhosas versões, de tantas, todas excelentes, que já fez.
Considero muito boa a direção de JOÃO FONSECA e posso assegurar, como quem não perde um trabalho deste grande diretor, que é um de seus melhores trabalhos de encenação. Pensando bem, acho que o melhor mesmo, quer na condução dos atores, quer nas marcações, quer no aproveitamento da medida certa em que as piadas devem ser ditas, de forma clássica, natural, nada caricaturesca. Dirigir um elenco de quatorze ótimos artistas, interpretando personagens de egos totalmente distintos, não me parece tarefa muito fácil. Cada personagem tem suas marcas bem pessoais, e JOÃO, com cada ator/atriz, chegou a elas com perfeição.




O elenco é um verdadeiro achado. Raramente, principalmente nos dias de trevas, de hoje, um diretor consegue reunir quatorze atores e atrizes da melhor qualidade, tarimbados em musicais, disputados, alguns, “a tapas”, para novas produções; uns mais velhos e, portanto, com mais bagagem nas costas, e outros mais jovens, porém com excelentes trabalhos anteriores. Todos muito estudiosos e aplicados, o que gera a competência. Em comum, os quatorze são excelentes e, que me perdoe REINER TENENTE, em torno de cujo personagem gira toda a trama, mas, se, tecnicamente, por tal motivo, ele representa o protagonista, para mim, há protagonismo nas quatorze atuações. Algumas, por conta do papel representado, como é o caso de CRISTIANA POMPEO, HELGA NEMETIK e STELLA MARIA RODRIGUES, podem ganhar um leve destaque, na montagem, entretanto, “COMPANY” é uma peça que proporciona, a todos do elenco, um momento, pelo menos, de destaque, com um solo musical ou uma cena . É uma peça que privilegia o “talento comunitário” e não, intencionalmente, parece-me, foi escrita para jogar luz no protagonista ou sobre um ou outro mais personagem. Destarte, não há como destacar este ou aquele. Há sim, como destacar momentos de um ou outro intérprete.





REINER TENENTE está muito confortável como ROBERT, solteiro e muito popular, para quem o casamento não parece representar a porta da felicidade, uma vez que esta se concentra no convívio com os de sua roda de amizade. Na festa surpresa, de 35 anos, organizada pelos amigos, ele não consegue apagar, simultaneamente, todas as velinhas do bolo e realizar um pedido, Mas se este, o de se casar, tão almejado pelos que o cercam, que desejam “desencalhá-lo”, não está nos seus planos, o que se fazer? As velas não irão se apagar mesmo.
Muito feliz, por ter conseguido concretizar um grande projeto, há tanto tempo ambicionado, contando com a ajuda de muitos braços e cabeças, REINER afirma: “Cada vez mais, eu acho o texto pertinente, pois estamos vivendo em uma época em que as relações estão descartáveis e rasas; em alguns casos, por causa da liberdade sexual ou, até, do avanço da tecnologia.”. Com relação a esta, chega a acrescentar – o que é, absurdamente, uma verdade – que o simples fato de alguém não responder a uma mensagem, num aplicativo, ou demorar a fazê-lo, pode ser motivo para que o remetente se sinta rejeitado ou “descartado”, num relacionamento amoroso. Parece “Chose de loc” (Coisa de louco.), bordão do personagem Sebastião (codinome Pierre, o autoproclamado último exilado político da ditadura, nos anos 80), eternizado por Jô Soares.






No fundo, ainda arremata REINER, “COMPANY” “trata disso: das relações e suas complexidades”. E eu pergunto: Havia como não dar certo?
            Não farei comentários individuais, sobre cada ator/atriz, como já disse, por serem muitos e por total falta de tempo, mas repito que todos brilham, em seus personagens. Quero, porém, fazer um registro, que julgo muito importante. Acompanho a carreira do jovem ator RENAN MATTOS, desde seu primeiro trabalho, sempre em musicais (Não o vi atuando fora desse gênero.). RENAN sempre esteve presente como “ensemble” ou interpretando papéis de menor relevo e, raramente, assumiu um personagem mais importante, na condição de “stand-in”. Por esse motivo, seu trabalho parece que nunca foi muito notado, de uma forma geral. Mas não por mim, porque me considero uma exceção e observo e valorizo tudo e todos, em cena, dos protagonistas aos mais coadjuvantes, e sempre vi, nele, um potencial a ser explorado. Era só uma questão de oportunidade, a qual lhe foi dada agora, e ele a agarrou, com unhas e dentes. O resultado? Um ótimo PETER.




            Quem também deve ter “ralado” muito, para que o espetáculo alcançasse um grande nível de excelência foi TONY LUCCHESI, em função da dificílima e complexa partitura do musical, cheia de detalhes incomuns, com uma melodia “meticulosamente difícil e matemática”, como ele mesmo diz. “Em diversos momentos da peça, o elenco repete o nome de BOBBY em tons distintos, o que exige, dos atores, uma percepção muito aguçada.”, acrescenta o sempre incrível profissional TONY.
            O espetáculo conta, ainda, com uma ótima e deliciosa coreografia, assinada por VICTOR MAIA, também no elenco, como ator. Nessa seara, colaborou PATRÍCIA CARILLO, na preparação para o número de sapateado, feito por REINER, que domina essa arte.




            NELLO MARRESE faz parte da ficha técnica, como responsável pela cenografia e pelos adereços. O espetáculo não é luxuoso, não conta com um cenário mirabolante, porém é de extremo bom gosto e criatividade, manipulado pelo próprio elenco, criando variações bastante interessantes, com muitas caixas de presentes, grandes, presas a fios. De móvel, em cena, apenas uma poltrona moderna, alguns caixotes e uma cortina, do tipo “rolê", que aparece quase ao final do espetáculo. É tudo muito simples, mas funciona otimamente, dentro da proposta minimalista de JOÃO FONSECA.
Na mesma linha, encaixam-se os corretos figurinos, de CAROL LOBATO, adequados à época e aos personagens; discretos, alegantes, casuais; o “número” de cada um personagem, caindo-lhes como uma luva.
LUIZ PAULO NENÉM executa um bom trabalho de iluminação, assim como, dentro da rubrica “plasticidade”, merece um destaque o projeto gráfico, a cardo de CAIO LOKI






FICHA TÉCNICA:

Texto: George Furth
Música e Letras: Stephen Sondheim
Direção: João Fonseca
Assistência de Direção: Pedro Pedruzzi

Elenco (e Personagens), por ordem alfbética: Anna Bello (Susan), Chiara Santoro (Kathy), Claudio Galvan (Harry), Cristiana Pompeo (Sarah), Helga Nemetik (Amy), Joana Mendes (Suzy), Juliane Bodini (Jenny), Myra Ruiz (Marta), Reiner Tenente (Bobby), Renan Mattos (Peter), Rodrigo Naice (Paul), Stella Maria Rodrigues (Joanne), Victor Maia (David), Wladimir Pinheiro (Larry)

Direção Musical: Tony Lucchesi
Coreografia: Victor Maia
Sapateado: Patrícia Carillo
Cenografia e Adereços: Nello Marrese
Figurino: Carol Lobato
Iluminação: Luiz Paulo Neném
Fotos: Leonardo Rocha
Projeto Gráfico: Caio Loki
Assessoria de Imprensa: MercadoCom / Ribamar Filho
Realização: CEFTEM e SESC











SERVIÇO:
Temporada: De 30 e agosto a 29 de setembro.
Local: Teatro SESC Ginástico.
Endereço: Avenida graça Aranha, 187 – Centro – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 19h; aos domingos, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira); R$15,00 (meia entrada); R$7,50 (Associado SESC).
Duração: Aproximadamente, 150 minutos.
Classificação Etária: 14 anos.
Gênero: Musical.








           Infelizmente, por conta da recessão econômica pela qual estamos passando e, principalmente, pela “política” de “caça às bruxas”, movimento deflagrado, intencionalmente, porque lhes convém, pelos (des)governos federal, estadual e municipal, os quais resolveram “satanizar” os artistas, em geral, com o foco voltado, mais diretamente, para os de TEATRO, na forma de corte de verbas; o quase “enterro” da Lei Rouanet, transformada numa “esmola”; o aborto dos fomentos e incentivos fiscais e outros desmandos perversos, cruéis, quase não estão sendo montados musicais, os quais demandam um custo muito grande. De repente, surge “COMPANY”, assim como outros poucos, sobre os quais já escrevi, neste ano, ou ainda escreverei, para nos dar alento e nos fazer lembrar que, no Brasil, se faz TEATRO MUSICAL da melhor qualidade, a despeito de tudo e de todos que torcem contra.

            Recomendo, com o maior empenho, esta produção!!!

     Observação final: é uma pena, de verdade, que eu não consiga tempo para abordar, individualmente, de forma bem aprofundada, os excelentes trabalhos de todos do elenco. “MEA CULPA!”.







E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO, 
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!






(FOTOS: LEONARDO ROCHA.)



(GALERIA PARTICULAR.
FOTOS; GILBERTO BARTHOLO.)



















































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