domingo, 14 de julho de 2019


ESTADO
DE
SÍTIO

(É “OBRA-PRIMA” QUE SE DIZ, 
NÃO É?
ou
DA ARTE DE ENCANTAR UMA PLATEIA.)





           Gostando muito de TEATRO ou não, a pessoa que assiste, pela primeira vez, a um espetáculo com a assinatura de GABRIEL VILLELA apaixona-se por ele, pelo seu TEATRO, torna-se fã incondicional e nunca mais, a partir de então, deixa de assistir a uma de suas encenações. Não falo só por mim, um confesso viciado (na), carente e dependente da arte e do talento deste grandioso artista; é o que, também, me confidenciam as pessoas, quando o nome de GABRIEL entra nas rodas de conversa. Ele é dono de um dos mais extensos e ricos currículos de alguém que vive do TEATRO, quer como diretor/encenador, cenógrafo, figurinista e, até mesmo, autor e roteirista bissexto. É um multiartista, dotado de uma sensibilidade, inteligência e criatividade, com quem raríssimas pessoas do meio teatral conseguem emparelhar. Ultrapassá-lo nunca! Afinal de contas, não é qualquer um que conseguiu colecionar tantas premiações, como 12 Prêmios Shell, 9 Troféus APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), 3 Prêmios Molière, 3 Prêmios Sharp, 10 Troféus Mambembe, 5 Prêmios APETESP (Associação de Produtores de Espetáculos Teatrais de São Paulo), 2 Prêmios PANAMCO e 1 Prêmio Zilka Salaberry. Por enquanto...







            Não me lembro de quando, exatamente, tomei posse, e não concedo tal autodistinção a ninguém, da carteirinha de número 01 do clube dos seus admiradores, mas creio que a minha paixão platônica por esse gênio começou em 1990, salvo engano, depois de ter assistido à inesquecível montagem de “Vem Buscar-me, Que Ainda Sou Teu”. Acho que foi. Talvez seja essa, mesmo, a marca inicial da minha fiel assistência a tudo o que ele faz, num palco.





GABRIEL é daqueles artistas que sempre nos surpreendem, com algo superior a tudo o que já fez antes. Nem sob tortura, eu escolheria o seu melhor trabalho. Sob ameaça, iria morrer, com certeza, porque não saberia, mesmo, responder. De verdade. Sempre acho que o mais recente, atual espetáculo, é melhor do que os anteriores. No caso, seria “ESTADO DE SÍTIO”, em cartaz no Teatro SESC Ginástico, Rio de Janeiro (VER SERVIÇO.) e motivo desta crítica, porém, quando me lembro de “Romeu e Julieta”, com o Grupo Galpão; “Torre de Babel”; “Mary Stuart”; “O Mambembe”; “Aurora da Minha Vida”; “Morte e Vida Severina”; “A Ópera do Malandro”; “Calígula”; “Macbeth”; “Os Gigantes da Montanha”, também com o Grupo Galpão; “A Tempestade”; “Peer Gynt”; “Boca de Ouro”; e “Hoje é Dia de Rock”, produção do Centro Cultural Guaíra, só para citar algumas de suas brilhantes e emblemáticas encenações, fico sem saber qual desses trabalhos poderia ocupar o topo do pódio. Sei que já está em cartaz, com o Grupo Maria Cutia, de Belo Horizonte, sua leitura para “O Auto da Compadecida”, de outro grande gênio, mestre Ariano Suassuna, e já posso imaginar o que tenha saído desse encontro, ansioso, contando as horas, para que a montagem venha logo para o Rio de Janeiro. Uma amiga que já teve o privilégio de ter assistido, por estes dias, não poupou elogios à peça. E nem espero nada diferente. E quem, além dele, conseguiria apresentar, por duas temporadas, no Globe Theatre, em Londres, a convite, um “Romeu e Julieta”? Na terra do bardo?! Sei não!!!





Passemos, agora, a falar, diretamente, de “ESTADO DE SÍTIO”, “L’État de Siège”, na versão original, em três atos, um texto do escritor, filósofo e dramaturgo argelino ALBERT CAMUS (1913 / 1960), lançado em 1948.










SINOPSE:

Após os maus presságios pela passagem de um cometa, símbolo de “futuras tragédias”, pela cidade litorânea de Cádiz, no sul da Espanha, banhada pelo Atlântico, seus habitantes passam a ser governados pela PESTE (ELIAS ANDREATO), na figura de um homem oportunista, que proíbe que alguém se lembre ou fale da passagem do tal cometa, sob pena de pagar com a vida, depõe um governo reacionário e institui um poder arbitrário, por meio da ameaça de morte.

A PESTE impõe seus projetos à população, manipulando seus medos e submetendo-os à sua vontade caprichosa. A partir de então, aplica-se um regime de total e absurdo terror, chegando ao extremo de que sentimentos e emoções tornam-se proibidos e pessoas doentes passam a ser identificadas por uma estrela negra – alusão, evidente, ao holocausto -, liberdades civis são suspensas, o toque de recolher é estabelecido... É o “ESTADO DE SÍTIO”.

A PESTE instaura o “ESTADO DE SÍTIO” e cria um regime burocrático, esvaziado de sentido e dominado pelo medo.

Uma cidade sitiada e uma população dividida.

A vida dos cidadãos é submetida ao império dela, a PESTE, e de sua secretária, a MORTE (CLÁUDIO FONTANA), de modo que o sofrimento e o desespero se tornam banais.

No meio desse cenário desolador e aterrador, haveria espaço para uma "revolta", estimulada pelo amor aos seres humanos e pela liberdade?

Para se libertar da PESTE, será preciso resistir ao medo que se tem dela, acreditando-se que, assim como a aparição do cometa, a situação instaurada é uma força histórica e passageira e que o povo sempre detém o poder eterno.

Apenas o herói DIEGO (PEDRO INOUE), por amor a VITÓRIA (NÁBIA VILELA), terá a coragem de enfrentar o poder estabelecido, sacrificando o seu próprio. Ambos são os únicos, na cidade que não e curvam ante a tirania. O romance do casal é a força capaz de destruir o medo e terror, embora, para isso, eles tenham de se separar. É o preço que têm de pagar para o livramento da cidade.

Finalmente, a PESTE é vencida e é expulsa.









Uma observação: O chamado “Estado de Sítio” é um instrumento burocrático, político, e autoritário, sobre o qual o chefe de Estado suspende, por um período temporário, a atuação dos poderes legislativo (deputados e senadores) e judiciário. Trata-se de um recurso emergencial, que não pode ser utilizado para fins pessoais ou de disputa pelo poder, mas, e apenas, para agilizar as ações governamentais em períodos de grande urgência e necessidade de eficiência do Estado.





De acordo com o “release”, enviado por STELLA STEPHANY (JSPONTES COMUNICAÇÃO), “Escrita em 1948, a peça se passa em uma pequena cidade litorânea, assolada pela peste e dominada pelo medo. Para CAMUS, o medo era o mal do século XX e, por isso, ele o utiliza como o fio condutor desta obra, que, para muitos críticos, é uma alegoria da ocupação, da ditadura e do totalitarismo. Ao escrever “ESTADO DE SÍTIO”, ALBERT CAMUS declarou que pretendia ‘atacar, frontalmente, um tipo de sociedade política, que se organiza, à direita ou à esquerda, de modo totalitário. Esta peça toma o partido do indivíduo, da natureza humana naquilo que ela possui de mais nobre, o amor, enfim, contra as abstrações e os terrores de um regime autoritário’ (...) A escolha de Cádiz (Espanha) como cenário de ‘ESTADO DE SÍTIO’ não é nada casual. Apesar da memória recente do nazismo e do fascismo na Europa, o regime fascista de Franco, extremamente violento, ainda sobreviveria na Espanha por quase quatro décadas (1939-1975), uma mácula na história de uma Europa que já começava a avançar na transição para a democracia liberal. Escolhendo Cádiz, uma cidade brutal e longamente ocupada, a pestilência ganha transparência no seu potencial alegórico e se tornam mais eficazes as alusões a torres de vigilância, campos de concentração, deportações, torturas e... atos de resistência. Se, na peça, é a coragem que triunfa sobre o mal, vale lembrar que CAMUS nunca foi um pacifista ingênuo – ele sabia que a resistência exigia sacrifícios, algumas vezes sobre-humanos.”.



É tão grande a semelhança entre “ESTADO DE SÍTIO” e o livro “A Peste”, do mesmo autor, publicado em 1947, um ano antes da peça, que, para muitos estudiosos e seus admiradores, em geral, aquela é uma adaptação dramatúrgica do romance.





É impressionante como um texto escrito há 71 anos possa ser tão atual e caber, como uma luva, nos dedos, das duas mãos, do Brasil dos nossos dias! A peça, de fundo escancarada e despudoradamente político, traz uma crítica feroz aos regimes totalitários, fascistas e, especialmente, em forma metafórica, à ditadura de Franco, de 1939 a 1975, quando ele morreu. A Cádiz da história, porém, pode se multiplicar em vários nomes, espalhados pelo mundo, em vários países, inclusive a “terra do pau-brasil”, o estado onde estava situada a capital do Brasil, anterior à atual, e a ex-“Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil...”, todas, nas três esferas. destruídas e devastadas por terríveis PESTEs, tanto as que já passaram, como o cometa, quanto as que se estabeleceram, recentemente, e estão no poder.





“ESTADO DE SÍTIO” chega ao Rio de Janeiro, vindo de vitoriosa temporada em São Paulo, com vários prêmios e indicações na bagagem: Prêmio Shell São Paulo, de Melhor Música, para BABAYA MORAIS e MARCO FRANÇA; Três indicações ao Prêmio Shell São Paulo, de Melhor Cenografia, para J. C. SERRONI, Melhor Figurino, para GABRIEL VILLELA e Melhor Música, para BABAYA MORAIS e MARCO FRANÇA, esta categoria vencedora, como já citado; Indicação ao Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de Melhor Direção, para GABRIEL VILLELA.





       Constando no “release”, já mencionado, o texto se apresenta como “uma alegoria da ocupação, da ditadura e do totalitarismo” e da usurpação, acrescento. Mas, como na letra de Chico Buarque de Holanda, “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia...”, a força do amor e a união vencem o mal. O medo, sem dúvida, é o fio condutor da peça e representa o grande desafio a ser vencido por todo Homem, durante toda a sua existência. A cada situação de medo vencida, outra se apresenta, muitas vezes, como um desafio maior.





Faz parte do corpo do “release”, com relação à encenação: “O totalitarismo infecta o organismo social de maneira insidiosa; os sintomas podem não ser facilmente identificáveis, mas os efeitos são implacáveis. Para colocar ‘ESTADO DE SÍTIO’ em cena, GABRIEL VILLELA parte do princípio de que ‘a epidemia deveria ultrapassar a condição de alegoria – o que, na atual conjuntura, talvez, reduzisse a poética de CAMUS a uma espécie de alerta político, correndo, inclusive, o risco de fazermos um espetáculo panfletário – para atingir a categoria mais ampla de símbolo’”. Não acho que o espetáculo seja panfletário, de modo algum, mas não posso negar que o encenador põe na mesa o suficiente para que cada espectador faça analogias com o momento político atual do Brasil e tire suas conclusões, fique, realmente, alerta, posicionando-se do lado de cá ou de lá, com muita convicção com relação à posição tomada. Vejo, na encenação de GABRIEL, várias das funções do TEATRO: informar, ilustrar, esclarecer, denunciar e, até, divertir, porém de forma apartidária, aparentemente, muito embora, nas entrelinhas e nas metáforas, o espectador atento consiga identificar, no fundo, suas intenções. E não há nenhum mal nisso. Afinal, pelo menos no papel, vivemos num regime democrático, e eu, neste caso especial, de “ESTADO DE SÍTIO”, caminho, braços dados, ao lado de VILLELA.





O trabalho de GABRIEL VILLELA, temos de reconhecer, não é acessível a todos, pelo excesso daquilo que é dito ou mostrado, indiretamente, sob as mais diversas e criativas formas, o que não vejo, tanto, como um defeito; ao contrário, penso ser uma virtude, embora, somos forçados a reconhecer, para o grande público, muita coisa fique no ar. É muita inteligência, criatividade e bom gosto, reunidos num só artista. O que é totalmente isento de discussão é que o espetáculo é deslumbrante, do ponto de vista plástico, como são todas as montagens do diretor, e requer muita atenção do público, para entender toda a trama; o espectador tem de estar atento a muitos detalhes, que se apresentam de forma metafórica ou simbólica, marca mais que registrada do teatro villeliano, como, logo no início, nesta peça, a linda passagem de um ator (NATHAN MILLÉO GUALDA), lentamente, cruzando o palco, todo vestido de branco, empunhando um guarda-chuva, na mesma cor, do qual, quando sacudido, em intervalos mais ou menos iguais, se espalha talco, pelo espaço: é o COMETA, visitando Cádiz e lançando uma possível maldição, na crença dos ignorantes e/ou místicos.





Pouco tenho a acrescentar, com relação ao texto, de excelente qualidade, atualíssimo, universal, tendo recebido ele uma ótima tradução, a despeito de eu não ter tido acesso ao original. Como modesto conhecedor da obra de CAMUS, com o qual travei um considerável conhecimento, durante meu curso de Letras, penso que ALCIONE ARAÚJO e PEDRO HUSSAK souberam captar todas as intenções do autor e codificá-las no nosso idioma, de modo a que nada de importante ficasse de fora do corpo final da obra. Há uma cena que leva o público ao delírio, quando, em meio a uma discussão, o JUIZ chama sua esposa de “ADÚLTERA!”, o que provoca uma reação, por parte dela, retrucando, com muita ênfase: “JUIZ!”, em tom de profunda ofensa. Gargalhadas ecoam pelo Teatro.





Também creio que não se faz necessário falar muito mais da direção de GABRIEL VILLELA, apenas acrescentando que há uma grande simbiose entre ele e seu elenco. Sempre foi assim, e não seria diferente agora. Poucos diretores de TEATRO conseguem criar uma estética tão particular, capaz de identificá-lo, para os que já estão acostumados a ela, sem que, previamente, saibam quem é o diretor da peça. É como um conhecedor da obra de um grande pintor reconhecer sua assinatura, numa tela, sem tê-la visto. Como poucos, GABRIEL tem a mão destinada a transformar um clássico do TEATRO numa montagem ímpar, totalmente singular, sem descaracterizar a obra original, sem mutilá-la. Procurando se afastar de uma representação realista, explora, nas interpretações de seus atores, um tom brechtiano, para que o público possa, e consiga, captar a mensagem, sem confundir a ficção com a realidade, não se iludindo com a realidade do contexto. É o método de Brecht, sendo posto em prática, na proposta de afastamento do público em relação ao que ocorre no palco, não fisicamente, e sim emocionalmente, “de forma que o espectador não deva se envolver com o espetáculo, e sim, manter a imparcialidade e a postura crítica diante dos acontecimentos expostos no palco”.





Nas encenações de GABREIL VILLELA, o elemento plástico salta aos olhos do espectador, e as imagens relativas a cenários e figurinos, principalmente, ficam guardadas na retina, de modo que, anos depois, ou a vida inteira, sempre que desejamos, elas vêm à nossa mente. Assim acontece comigo e creio que o mesmo se dá com todos os admiradores de seus magníficos trabalhos, nessas duas áreas.





Em “ESTADO DE SÍTIO”, o admirável cenário, de J. C. SERRONI, destaca-se de forma incrível, com a aplicação e o aproveitamento de peças e objetos utilizados, uma parte quase fixa, e outros elementos móveis, para atender a diferentes necessidades, de acordo com as cenas, reaproveitados, umas nas outras, de forma inteligente e criativa, formando um universo puxado para o barroco mineiro. É preciso que se chame a atenção para o teto, uma grande estrutura, um emaranhado de ramos contorcidos, negros, que lembram uma gigantesca coroa de espinhos, o qual assume posições diferentes, vai descendo, aos poucos, acompanhando o processo crescente de instauração do medo naquela Cádiz sitiada, ameaçada e condenada a um futuro desastroso. Também chama a atenção uma enorme estrela de seis pontas, também negra, ao fundo do palco, a marca da morte.




Nesta montagem, os figurinos, sempre, sem a menor contestação, um ponto alto, nas encenações de VILLELA, também são assinados por ele, fugindo, totalmente, e não sem motivo, de uma de suas características, nessa área, que é a utilização de uma paleta de cores variadíssima, focada mais nos tons claros e vivos, berrantes. Para estar dentro do clima da peça, ou para ajudar a criá-lo, obedecendo ao estado de espírito de uma população aterrorizada pelo medo, GABRIEL optou pelo preto, para confeccionar todos os incríveis trajes. Medo, autoritarismo, PESTE e MORTE não pedem colorido. Raríssima é a presença de outro cor ou matiz que não seja o preto fechado. Sem o multicolorido habitual, em seus figurinos, poderia parecer que o resultado, em cena, não agradasse, porém posso garantir-lhes que o guarda-roupa também é um deslumbramento.





Ainda sob a rubrica plasticidade, cabe espaço para um comentário sobre a luz, de DOMINGOS QUINTILIANO, que abre mão das cores, sobre a qual só cabem elogios, por sua potência criativa, ajustada a cada cena, muito relacionada à cenografia, a qual destaca.





Um dos grandes destaques, nesta encenação, vai para o trabalho de visagismo, com ênfase na magnífica maquiagem artística, de CLAUDINEI HIDALGO, a qual, extrema e propositalmente, exagerada, realça o caráter grotesco e tosco dos personagens, bem distante da realidade. Assisti ao espetáculo na primeira fila e, percebi os detalhes, nas caracterizações, o que, em alguns personagens, parecia uma máscara, e não a aplicação de material de maquiagem sobre a pele, tal é a perfeição como ela é feita e ajuda a criar e a realçar “máscaras” faciais, as quais põem em destaque a interpretação dos atores. Os olhos crescem; a boca do personagem NADA (CHICO CARVALHO) lembra a do Coringa, inimigo do herói Batman; os adereços do visagismo, os quais também estão inseridos nos figurinos, são incrivelmente fantásticos. O conjunto das maquiagens pareceu-me ter alguma relação com as chamadas “pinturas negras”, de Francisco de Goya, o célebre pintor e gravador espanhol, hoje expostas no Museu do Prado, diante das quais, em visita ao local, muito me encantei e me emocionei.





Outro grande elemento de impressionante relevo, em “ESTADO DE SÍTIO”, é a parte musical, o que também é uma constante em outros trabalhos de GABRIEL, seja com canções originais, sejam com músicas conhecidas. Como ele sempre se cerca de grandes profissionais, mais uma vez BABAYA MORAIS e MARCO FRANÇA se incumbiram dessa parte e, competentes, como sempre são, assinam uma trilha sonora de requintado gosto e funcionalidade, no espetáculo, e a sua direção musical, tirando partido das excelentes vozes de todos do elenco, com alguns destaques, nos solos. Mas, também, nos coros, a harmonia das vozes concorre para um prazer direcionado à alma, via nossos ouvidos. Presente, nessa trilha sonora, estão “arranjos polifônicos, que ligam e colaboram com a dramaturgia. Utilizam desde canções revolucionárias icônicas, como Fisia il Vento, o Hino da Resistência Francesa, a músicas ciganas de Goran Bregovic e outras cantadas em ladino (língua falada por comunidades judaicas originárias da Península Ibérica)”.





 Chegou a hora do elenco. Que elenco!!! Todos brilham em cena, porque são, acima de tudo, profissionais do palco, gente que respira TEATRO, com total domínio do corpo e da voz, falando e cantando sem microfones. Um elenco mais que homogêneo, no qual todos têm seus momentos de “protagonismo”, mas um trio se destaca, pela força e importância de seus personagens: ELIAS ANDREATO (PESTE), CLAUDIO FONTANA (MORTE) e CHICO CARVALHO (NADA).





ANDREATO encarna a PESTE e o faz de forma irretocável, impondo a “ordem” e o “respeito”, por meio de ameaças, claras e veladas, um vilão com um requinte de maldade coberto por um véu transparente de uma tragicomicidade. Um de seus melhores trabalhos, no meu entendimento.




FONTANA é a MORTE, secretária da PESTE. Subserviente, debochado e irônico, como sua “chefe”, CLAUDIO, na pele da personagem, me encantou, sobremaneira, naquele que considero, como no caso de ELIAS ANDREATO, seu melhor trabalho de interpretação, a despeito de outros, anteriores, que, também, me agradaram muito. Os dois atores formam, praticamente, um ser uno, separados, apenas, por um grau hierárquico, porém muito próximos no restante de suas caracterizações.





Fã incondicional do trabalho de CHICO CARVALHO (NADA), não posso dizer que este seja seu melhor desempenho, no palco, pois o coloco no mesmo patamar de seus últimos, sob a direção de GABRIEL VILLELA, a saber, a partir do mais recente: “Boca de Ouro”, “Peer Gynt” e “A Tempestade”. O NADA, seu personagem, na peça ora analisada, se apresenta como o narrador da trama. É um bêbado, andarilho errante, questionador contumaz de tudo, inclusive de tudo o que parte da PESTE e da MORTE, e sua característica mais marcante é a forte dose de ironia e sarcasmo, na forma mais superlativa, provocando boas gargalhadas, com seu humor cáustico. CHICO era o motivo dos comentários, no saguão do Teatro Ginástico, após a sessão de estreia. Todos ao mais favoráveis possíveis, ratificados por mim.





Fazem parte, ainda, do maravilhoso elenco, de 13 excepcionais artistas, Rosana Stavis (Mulher do Juiz e Benzedeira), Nábia Vilela (Vitória, filha do Juiz), Leonardo Ventura (Juiz, Alcaide e Pescador), Pedro Inoue (Diego), Arthur Faustino (Governador e Velha), André Hendges (Padre), Rogério Romera (Homem do Povo e Cérbero), Jonatan Harold (músico), Nathan Milléo Gualda (Astrólogo, Cometa e Cérbero) e Zé Gui Bueno (Alcaide e Cérbero). Para quem não sabe, CÉRBERO é o cão de três cabeças, que guarda a entrada do mundo dos mortos, na mitologia grega, o submundo Hades. Lá, ele recebe as almas dos mortos e impede que tentem escapar. A introdução desse elemento é uma sensacional ideia da direção.










FICHA TÉCNICA:

Texto: Albert Camus
Tradução: Alicone Araújo e Pedro Husak

Direção: Gabriel Villela
Diretores Assistentes: Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo

Elenco / Personagem: Elias Andreato (Peste), Claudio Fontana (Morte), Chico Carvalho (Nada), Rosana Stavis (Mulher do Juiz e Benzedeira), Nábia Vilela (Vitória, filha do Juiz), Leonardo Ventura (Juiz, Alcaide e Pescador), Pedro Inoue (Diego), Arthur Faustino (Governador e Velha), André Hendges (Padre), Rogério Romera (Homem do Povo e Cérbero), Jonatan Harold (músico), Nathan Milléo Gualda (Astrólogo, Cometa e Cérbero) e Zé Gui Bueno (Alcaide e Cérbero)

Cenografia: J. C. Serroni
Assistentes de Cenografia: Gabriela Rinaldi, Nathália Campos e Priscila Soares
Pintura de Arte e Adereços Cenográficos: Andréia Mariano, Ingrid Oliveira, Marcelo Machado, Naiana Leotti, Priscila Chagas e Tais Santiago
Maquinistas de Montagem: Alício Silva, Ingrid Oliveira, Marcelo Machado, Priscila Chagas e Wagner Almeida

Figurinos: Gabriel Villela
Assistente de Figurinos: Nour Koeder
Coordenação do Ateliê de Figurinos: José Rosa
Costureira: Zilda Peres

Iluminação: Domingos Quintiliano
Operador de Iluminação: Cleber Eli

Direção Musical: Babaya Morais e Marco França
Preparação Vocal: Babaya Morais
Arranjos: Marco França

Maquiagem: Claudinei Hidalgo
Assistentes de Maquiagem: Patricia Barbosa e Luís Cambuzano

Fotografia: João Caldas Filho e Andrea machado
Assistência de Fotografia: Andréia Machado

Diretor de Palco: Alexander Peixoto
Camareira: Ana Lucia Laurino
Coordenação Galpão de Ensaios: Mara Santiago
Produção Executiva: Augusto Vieira
Direção de Produção: Claudio Fontana
Realização: SESC Rio
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany












SERVIÇO:

Temporada: De 04 a 28 de julho de 2019.
Local: Teatro Sesc Ginástico.
Endereço: Avenida Graça Aranha, 187, Centro – Rio de Janeiro.  
Telefone: (21) 2279-4027.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$30,00, R$15,00 (meia entrada) e R$7,50 (associados Sesc) - Entrada solidária: 50% de desconto, mediante a doação de 1 kg de alimento não perecível, que será doado ao projeto Mesa Brasil.
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, das 13h às 20h.
Capacidade: 513 espectadores.
Duração: 90 minutos.
Classificação Indicativa: 14 anos.
Gênero: Drama.










            O texto deixa bem claro o aspecto negativo de qualquer postura autoritária, venha ela da direita ou da esquerda. Não é a posição, o lado, o que importa, e sim o comportamento arbitrário e despótico. Esse é o aspecto nefasto, foco maior da crítica contida na peça.





            Mesmo não sendo classificada como uma tragédia, menos, ainda, grega, desta, há um vestígio, nesta montagem, representada pela presença e atuação de um coro.




        
             “A vontade do governador é que nada aconteça em seu governo e que tudo continue bem, como sempre foi”. Alguém se identifica com essa frase? E com esta: “O Governador lhes é grato. Nada é bom quando é novo.”?





“ESTADO DE SÍTIO”, uma OBRA-PRIMA, é uma superprodução, com 13 atores em cena, e não é um espetáculo para ser visto apenas uma vez. Já estou me preparando para revê-lo e aplaudir, mais ainda, aquele grande trabalho em equipe.




Recomendo o espetáculo com toda a minha força!!!




E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO, 
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!









(FOTOS: JOÃO CALDAS FILHO
E
ANDREA MACHADO.)




GALERIA PARTICULAR 
(FOTOS - MARISA SÁ.):



Bate-papo sobre a peça, após a sessão de estreia, 
com o diretor, Gabriel Villela e Egberto Leão.


Bate-papo sobre a peça, após a sessão de estreia, 
com o diretor, Gabriel Villela e Egberto Leão.


Bate-papo sobre a peça, após a sessão de estreia, 
com o diretor, Gabriel Villela e Egberto Leão.


Com Claudio Fontana.



























































































































































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