PAULO FREIRE –
O ANDARILHO
DA UTOPIA
(UMA LINDA HOMENAGEM
AO VERDADEIRO “PATRONO
DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA”.
ou
UM ESPETÁCULO QUE DEVERIA
SER VISTO POR TODOS OS BRASILEIROS.
Por motivos diversos, não consegui assistir a uma peça,
em sua primeira temporada, no Parque das Ruínas, o que me deixou
profundamente triste. Felizmente, ela voltou ao cartaz, no Teatro Glaucio Gill
(VER SERVIÇO), e eu pude vivenciar o enorme prazer de ver, em cena, uma
bela e justíssima homenagem a um dos mais ilustres brasileiros de todos os
tempos, o grande educador PAULO FREIRE, na peça “PAULO FREIRE – O
ANDARILHO DA UTOPIA”.
Este
é um espetáculo que deveria ser visto por todos os brasileiros –
minha utopia -, independentemente de credos ou posicionamentos políticos.
Só gente muito imbecil, oca, culturalmente falando, como a cúpula do atual (DES)governo
federal, comandada por um cacique amorfo, para não enxergar a importância desse
ilustríssimo cidadão brasileiro, que está correndo o risco, até mesmo, de ter
cassado, seu título de “Patrono da Educação Brasileira”, que lhe foi
outorgado, por total mérito, em 13 de abril de 2012, pela Lei (federal)
12.612/2012.
Trata-se
de um espetáculo muito leve, na forma, e profundo, no conteúdo; lírico,
poético, até divertido, de uma beleza e pureza indescritíveis, surgido da
junção de força de três pessoas, no primeiro momento: RICHARD RIGUETTI
(ator), LUIZ ANTÔNIO ROCHA (diretor) e JUNIO SANTOS (dramaturgo).
Os três nos apresentam um belíssimo espetáculo, a partir do grande legado
“que PAULO FREIRE deixou na mente e nos corações dos brasileiros”,
trecho extraído do “release”, enviado por MÁRCIA VILELLA
(TARGET ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO).
A peça é de uma indispensabilidade tal e de uma
atualidade impressionantes, se considerarmos os pensamentos do grande educador
e muitas de suas frases célebres: “Não é possível refazer este país,
democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, ofendendo a vida, destruindo
sonho, inviabilizando o amor. Se a educação, sozinha, não transforma a
sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda". Ainda está no já
referido “release”: “Esse foi um dos últimos escritos do
mestre PAULO FREIRE, antes de falecer, em 2 de maio de 1997. Assustadoramente
atual. Em tempos em que a educação pública corre o risco de ser drasticamente
reduzida, lutar pela dignidade humana é fundamental.”.
E
continua o excelente “release”: “A peça derrama, no palco, a
trajetória e os causos de um dos mais notáveis pensadores da história da
educação mundial. O espetáculo propõe uma reflexão, mostrando a sociedade e o
planeta em constante mudança, através da ótica freiriana, misturando elementos
das linguagens do teatro, do palhaço e do teatro de rua.”. Foi,
exatamente, tudo isso o que me pegou, desde a primeira cena, quando o ator
entra, pela plateia, cantando, até a última, que é de arrebatar os nossos
corações.
SINOPSE:
É no interior de Pernambuco, à sombra de uma mangueira, que a história começa.
Um menino, com um
graveto na mão, inicia o seu processo de leitura do mundo.
É submetido à
fome, assim como grande parte da população brasileira.
Na fantasia, ele
aparece, no espetáculo, como um astronauta, um professor, um brasileiro com
sonhos e fome de tudo.
Na infância e na
juventude, outra fome ocupa o seu tempo: as palavras.
E ele as devora,
como se elas fossem pedaços de comida.
E essa foi a sua
busca, até a eternidade: as palavras.
Através delas, e
com elas, percorre territórios, disseminando a sua pedagogia de ensino e
revoluciona a educação mundial, movido pelo desejo de liberdade de si e dos
outros, de justiça, igualdade, e superação dos obstáculos.
Considerado um dos pensadores mais notáveis, na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado “pedagogia crítica”, e criador do “Método Paulo Freire de Alfabetização”, o homenageado nasceu em Recife (19 de setembro de 1921) e faleceu em São Paulo, de um ataque cardíaco (2 de maio de 1997), aos 75 anos. Além de grande educador, também se destacou como um, igualmente, respeitado filósofo.
“Sua
prática didática fundamentava-se na crença de que o educando assimilaria o
objeto de estudo, fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, em
contraposição à, por ele denominada, educação bancária, tecnicista e alienante:
o educando criaria sua própria educação, fazendo, ele próprio, o caminho, e não
seguindo um já previamente construído; libertando-se de chavões alienantes, o
educando seguiria e criaria o rumo do seu aprendizado. Destacou-se por seu
trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como
para a formação da consciência política. (...) Foi o brasileiro mais
homenageado da história, com pelo menos 35 títulos de 'Doutor Honoris Causa', de
universidades da Europa e América, e recebeu diversos galardões, como o prêmio
da UNESCO de Educação para a Paz, em 1986. (...) Sua família fazia parte da
classe média, mas PAULO FREIRE vivenciou a pobreza e a fome, na infância,
durante a depressão de 1929, uma experiência que o levaria a se preocupar com
os mais pobres e o ajudaria a construir seu revolucionário método de
alfabetização. Por seu empenho em ensinar os mais pobres, PAULO FREIRE
tornou-se uma inspiração para gerações de professores, especialmente na América
Latina e na África. O talento como escritor o ajudou a conquistar um amplo
público de pedagogos, cientistas sociais, teólogos e militantes políticos,
quase sempre ligados a partidos de esquerda. (...) A partir de suas primeiras
experiências no Rio Grande do Norte, em 1963, quando ensinou 300 adultos (cortadores
de cana) a ler e a escrever, em 45 dias, PAULO FREIRE desenvolveu um
método inovador de alfabetização, adotado, primeiramente, em Pernambuco. Seu
projeto educacional estava vinculado ao nacionalismo desenvolvimentista do
governo João Goulart.”. (Extraído da Wikipédia.)
Por
suas ideias revolucionárias, em prol dos menos favorecidos pela sorte, FREIRE
representava um “perigo”, para os gorilões de plantão, que aplicaram o golpe
militar de 1964, “página infeliz da nossa história”, sendo, por isso
mesmo, perseguido, acusado de subversão. Pagou muito caro por sua coragem de
colocar em prática um trabalho de educação libertadora, que identifica a
alfabetização com um processo de libertação. Esteve preso, em 1964, por 72
dias, até ser exilado, pela ditadura militar, para o Chile, onde
trabalhou, por cinco anos, no Instituto de Capacitação em Reforma Agrária e
escreveu seu principal livro: “Pedagogia do Oprimido”, em 1968.
Ainda passou um tempo nos Estados Unidos e na Suíça, período
durante o qual prestou consultoria educacional a governos de países pobres, a maioria
no continente africano. FREIRE só retornou ao Brasil em 1980,
beneficiado pelo decreto da anistia, assinado em 1979.
Passemos,
agora, a comentar a excelente encenação, assinada por LUIZ ANTÔNIO
ROCHA, o qual “propõe uma estrutura narrativa que leva a um lugar de
ideias e reflexão”, misturando histórias, canções e formas brincantes,
como o circo, principalmente a palhaçaria, o TEATRO tradicional e o TEATRO
de rua, criando um ambiente propício a uma constante interação entre ator
e público, que dinamiza muito a montagem. “Essa brincadeira que
propomos rompe barreiras de tempo e lugar. Nos leva à lua, um lugar de exílio e
reflexão. Traz o encanto das palavras encharcadas de significados tão amorosas
de PAULO FREIRE e de suas ideias. São ideias mais que nunca atuais, vivas e
necessárias diante da realidade que, neste momento, nos envolve."
destaca o diretor, cuja proposta de direção aplaudo de pé, por
ser inventiva, criativa, utilizando poucos, porém expressivos, recursos.
Segundo
JUNIO SANTOS, dramaturgo, que costurou um vasto e rico material
de pesquisa, além de sua contribuição pessoal, “Ler a vasta obra de PAULO
FREIRE é necessário e prazeroso. Complicado é - entre tantas palavras e textos
significativos - extrair o conteúdo da dramaturgia. Por isso, criamos roteiros
cenopoéticos, temperados com cantigas, poemas, com cheiros de vida e cheiros de
gente, para propagar a esperança que não cansa na voz, no corpo, na força que
desejamos imprimir com o espetáculo.”. Se era essa a intenção, além de
fazer com que o público se sentisse abraçado pelo universo freiriano, o que é
recíproco, por parte do ator, em relação à plateia, o objetivo é
plenamente alcançado.
Salvo
engano, se a memória já não começa a me trair, não conhecia o trabalho do ator
RICHARD RIGUETTI, cuja formação circense – ele é um palhaço -, observada
logo nas suas primeiras intervenções, colabora bastante, para a execução do
trabalho ora analisado. Aplicando-se muito bem, em relação ao corpo a às
máscaras faciais, com domínio de público e um forte carisma, ele interpreta o personagem
protagonista, porém, vez por outra, fala como ator ou como um brasileiro
comum, admirador da obra do grande educador.
O
que o espetáculo tem de pobre, em termos materiais, essa carência dá
margem a ideias interessantíssimas, da direção, da cenografia, do
figurino e da iluminação.
LUIZ
ANTÔNIO ROCHA é muito criativo e utiliza materiais e objetos do
dia a dia, para representar o que precisa ser mostrado, certamente, em comunhão
com EDUARDO ALBINO, que assina a cenografia e o figurino.
Aquela vai sendo incorporada, ao espaço cênico, à medida que as cenas
vão se sucedendo, umas às outras. Quando o espectador adentra a plateia, vê
apenas um grande círculo de linóleo, na cor “terra’, representando a aridez do
sertão nordestino. Num ponto da cena, apenas um bonsai, iluminado por um foco
fino de luz, numa alusão à mangueira, sob, e sobre, a qual o menino PAULO
passou parte da infância, no quintal de sua casa. Mais lindo, poético e
significativo do que tal singularidade?
O
figurino se resume a uma bermuda “cargo” e um blusão. O personagem carrega,
cruzados, dois embornais, com aplicações de bordados, de dentro dos quais retira
objetos, utilizados em cena. Na cabeça, um chapéu de couro, típico dos vaqueiros,
andarilhos, nordestinos, sendo que, numa das partes, ora da frente, ora de
trás, depois de virado de posição, pelo ator, estão acopladas as lentes
dianteiras de um binóculo, numa clara analogia a que o educador enxergava mais
do que ninguém, a distância, com uma visão mais acurada e de vanguarda. Um observador à frente de seu tempo. Nos
pés, um sapato de “clown”, que identifica a formação profissional
do ator.
A
iluminação, a cargo de RICARDO LIRA JR., é bem diversificada,
enriquece e põe em destaque as intenções da direção, para cada cena, ajudando a criar imagens muito bonitas.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia: Junio
Santos
Direção: Luiz
Antônio Rocha
Assistente de
Direção – Márcia Rosa
Interpretação: Richard
Riguetti
Cenário e Figurino
– Eduardo Albini
Direção de
Movimento – Michel Robin
Preparação de Ator
– Beth Zalcman
Preparadora
Corporal – Aline Bernardi
Projeto de Luz –
Ricardo Lira Jr.
Assessoria
Pedagógica – Josy Dantas
Preparadora Vocal
– Jane Celeste
Letras das Músicas
– Ray lima e Junio Santos
Fotos: Danton
Valério
Realização: Grupo
Off-Sina e Espaço Cênico Produções Artísticas
SERVIÇO:
Temporada: De 7 de
junho a 1º de julho de 2019.
Local: Teatro
Glaucio Gill.
Endereço: Praça
Cardeal Arcoverde. s/nº - Copacabana – Rio de janeiro.
Telefone; (21)
2332-7904.
Dias e Horários:
De 6ª feira a 2ª feira, sempre às 20h.
Valor dos ingressos:
R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).
Capacidade: 150
lugares.
Recomendado para
maiores de 12 anos.
Gênero: Ato Cenopoético*
(*Cenopoesia
se apresenta em forma de linguagem híbrida, propondo um caminhar, que dialoga
pluralidade de expressão e de linguagem, provocando o pensar e o sentido da
ação coletiva, o encontro dos sujeitos de corpo inteiro, o ser com arte como
ser de vida, de sonho, de afeto, de atitude poética frente à realidade. A obra
cenopoética resulta de processo de criação democrático e aberto, retomando a
natureza humana da arte, na qual todos somos capazes de viver e de fazer arte.
Esse caminhar em chãos de diversidades faz com que sua prática transite em
trilhas transcênicas e plurais, preocupando-se com o decorrer do processo
criativo, e não com o produto final da obra. É uma manifestação do diverso,
resultante da profusão dos repertórios humanos, em que suas combinações são
geradas a partir da mistura de linguagens, do cruzamento entre saberes, da interseção
entre liberdade criativa e postura política, no entrelaçamento entre cuidado e afeto.
Enquanto obra aberta, a cenopoesia vem se apresentando como um fenômeno
sociocultural interlocutor da criatividade individual e coletiva, expressa
através da arte, por meio de diálogo autônomo, afetivo e interdependente entre
várias linguagens, saberes e experiências, como modo de, poeticamente,
sintetizar as contradições sociais e de possibilitar leitura crítica do mundo,
na perspectiva de conhecer, de refletir e de intervir sobre a realidade. Sem
textos preconcebidos, pré-moldados, a cenopoesia acode a um pretexto; e, no
contexto, o texto surge (em atos) e se constrói; concretiza-se e age em suas curvas,
urnas, químicas, diferentes sabenças, expressões, temperaturas. Da percepção
alquímica à intervenção, à vivência, o desafio, de repente, torna o que seria
espetáculo um ato de resistência, em linguagem híbrida e leve, reconstituindo-se
como síntese dialógica no tempo de ser de cada um que se presenteia com esse
cenoato, que tem finalidade e, talvez não tenha fim.”)
(JOSI DANTAS, RAY LIMA e JUNIO SANTOS).
Da
privilegiada poltrona que me ofereceram, na primeira fila, pude observar,
durante todo o tempo que durou a encenação, como a plateia se sentia
emocionada e feliz com o que via e ouvia, assim como eu, que, em alguns
instantes, senti a visão meio turva, comprometida, por lágrimas que eu teimava
em não liberar.
Recomendo, com empenho, o espetáculo, terminando
esta apreciação crítica com uma frase de PAULO FREIRE, para
reflexão: "Eu não posso ser, se os outros não são.".
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: DANTON VALÉRIO.)
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