DISTORÇÕES
(UMA ALEGORIA,
MAIS QUE UM CONJUNTO DE METÁFORAS,
A SERVIÇO DO BOM
TEATRO BRASILEIRO.)
TEATRO já é bom, por natureza;
quando a peça agrada, melhor ainda; quando é ótima, alegria total. Foi
assim que deixei o Teatro I do SESC Tijuca (VER SERVIÇO.), há alguns
dias, depois de ter assistido a “DISTORÇÕES”, uma excelente montagem de
um texto idem.
A dramaturgia, um verdadeiro primor, é inédita,
escrita pelo jovem e talentoso dramaturgo FABRÍCIO BRANCO, premiado na 8ª
edição do Prêmio, de dramaturgia, “Seleção Brasil em Cena”,
promovido pelo Centro Cultural Banco do Brasil, com a peça “Solo”,
que esteve em cartaz neste ano.
A encenação é o resultado de um longo processo, de
mais dois anos, a partir do momento em que as duas atrizes da peça,
CARMEN FRENZEL e MARIANA CONSOLI, “perceberam que o humor
cotidiano havia dado lugar para uma sensação coletiva de tristeza, em uma
sociedade bombardeada por notícias capazes de tirar o sono. Foi nesse momento
que, a convite das atrizes, FABRÍCIO foi convocado a participar do processo, na
tentativa de sintetizar as questões propostas e criar uma dramaturgia em que
realidade e imaginação pudessem ser misturadas, tal qual uma centrifugação de
ideias.”. (Texto extraído do “release”, enviado por FERNANDA
MIRANDA (DOIS PONTOS ASSESSORIA).
SINOPSE:
Uma frase, em uma
etiqueta, altera a rotina de duas funcionárias de uma lavanderia.
A mesmice do dia a
dia das duas protagonistas é quebrada, quando ambas se deparam com uma
etiqueta de roupa, solta no fundo de um cesto.
Elas percebem a
existência de uma frase, que desenrola toda a conotação de uma sequência de
histórias: “Bem aqui, descobri a tua história.”.
A etiqueta deixa
as duas mulheres intrigadas sobre a procedência do pequeno pedaço de pano e, imaginando
de onde o pedacinho de pano saiu, UMA (CARMEN FRENZEL / MARIANA CONSOLI)
e OUTRA (MARIANA CONSOLI / CARMEN FRENZEL) – elas trocam de
“personalidade”, no decorrer da peça - mergulham em águas profundas de um mundo
imaginário, metaforicamente falando, onde “pedaço de roupa é pedaço de
gente”.
É pelas mãos
dessas mulheres que histórias de vida são passadas a limpo, torcidas e distorcidas.
Realidade e imaginação se misturam, são distorcidas,
giram, convulsivamente, dentro do tambor de uma máquina de lavar roupas, metáfora
maior da nossa vida.
O texto, que, de certa forma, flerta bastante com
o teatro do absurdo, é uma pérola de dramaturgia, muito bem
construído, do ponto de vista arquitetônico, estrutural, com diálogos
inteligentes, ágeis e mergulhados em imagens metafóricas interessantíssimas.
Também extraído do já referido “release”: “‘DISTORÇÕES’
é uma comédia dramática onde (sic) o riso e o choro se misturam
em um ciclo de água, que vira ciclo de vida.”. E eu acrescento: “O
que dá pra rir dá pra chorar / Questão só de peso e medida / Problema de hora e
lugar / Mas tudo são coisas da vida”.
De acordo com a visão do diretor, “O
artefato (a etiqueta, desprendida de uma peça de roupa, encontrada no
fundo de um cesto) serve de motivador para as personagens desenrolarem um
cobertor de histórias individuais e coletivas, em um exercício lúdico de
provocação pessoal”. É exatamente isso o que acontece, atraindo o
público a entrar naquele jogo e se divertir muito, apesar de não se tratar de
uma comédia pura, e sim de um misto de comédia e drama,
abrindo-se a proposta de reflexão sobre nossas ações e reações, diante de tudo aquilo
e todos aqueles com que, ou quem, nos deparamos, e convivemos, ao longo de
nossas vidas.
Acho muito interessante um trecho, também extraído do “release”,
que merece um comentário: “Segundo o diretor, a teatralidade é algo que
sempre guiou seus trabalhos como artista. Aliada à teatralidade está sempre a
ludicidade, ou a capacidade de transformar a vida em jogo, em brincadeira,
montando e desmontando situações, pessoas, lugares etc.. O texto proposto por FABRÍCIO
é um convite a tudo isso. Como fazer deste espaço-tempo, onde surgem estas duas
personagens, chamadas, pelo autor, de UMA e OUTRA; um grande tabuleiro, um
playground, um terreno baldio onde se joga, se brinca, se transforma a partir
das palavras, das roupas, das imagens.”.
Podemos entender por “teatralidade” a “qualidade
daquilo que é teatral ou tem condições para ser representado em cena”,
ou seja, o mesmo que “qualidade daquilo que tem condições cênicas para se
representar”. Não passa de algo que existe para gerar um efeito. É uma
condição a ser descoberta por uma pessoa que propõe um processo de
representação de uma realidade, ainda que absurda ou de importância pouco
relativa, mesmo que a visão de quem “teatralizou” possa ser lida, e
relida, sob diversas óticas, pelo público a quem se destina; no caso, um espetáculo
teatral. Segundo Patrice Pavis, um grande teórico contemporâneo
do TEATRO, em seu “Dicionário do Teatro”, “a teatralidade
seria aquilo que, na representação ou no texto dramático, é especificamente
teatral (ou cênico) (...).”.
O espetáculo é lúdico, porque a vida também o é, quando aceitamos participar dos jogos que ele nos oferece.
EDUARDO
VACCARI conseguiu enxergar, no brilhante texto de FABRÍCIO
BRANCO, uma possibilidade de ir além do que o texto, aparentemente,
propõe e diz, e encontra possibilidades mil de fazer com que cada espectador
possa se identificar com todas as situações que desfilam em cena, a partir dos
relatos que envolvem o surrealismo de “roupas que ganhavam vida em uma
lavanderia, a partir das mãos de duas mulheres”. Não é por acaso que as
personagens são anônimas, identificadas apenas como UMA e OUTRA,
alternando-se nas identificações. Todos nós somos UMA ou OUTRA (pessoa).
Ainda
que o texto, o bom texto – sempre repetirei – seja considerado a
espinha dorsal de um espetáculo, podendo inviabilizá-lo ou ser o vetor
de uma grande montagem, ele não se basta para que seja alcançado um
produto final de qualidade, um espetáculo que faz o espectador feliz e o
leva a recomendá-lo. Em “DISTORÇÕES”, a ficha técnica reúne
nomes de profissionais de renomada competência, totalmente aplicados à proposta
da encenação.
Assim,
temos a potência de duas grandes atrizes, CARMEN FRENZEL e MARIANA
CONSOLI, mergulhadas, profundamente, em suas personagens, dando-nos
uma excelente aula de interpretação, numa química nem sempre vista num
palco. Há uma indiscutível cumplicidade entre as duas, numa atuação em que UMA
não se destaca, em relação à OUTRA, e vice-versa.
Um
destaque deve ser atribuído ao criativo cenário, de CARLOS ALBERTO
NUNES, que conseguiu criar a ambientação de uma lavanderia, com elementos
próprios de uma, porém de uma forma superlativa.
NÍVEA
FASO
foi muito feliz nos figurinos e nas transformações por que eles passam,
assim como ANA LUZIA DE SIMONI acertou, na iluminação, e MARCELLO
H, na trilha sonora.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia:
Fabrício Branco
Direção: Eduardo
Vaccari
Elenco: Carmen
Frenzel e Mariana Consoli
Cenografia: Carlos
Alberto Nunes
Cenógrafa Assistente: Arlete Rua
Figurino: Nívea
Faso
Iluminação: Ana
Luzia de Simoni
Trilha Sonora:
Marcello H
Visagismo e Maquiagem:
Diego Nardes
Assistente de
Visagismo e Cabelos: Lucas Souza
Fotos de Divulgação:
Flávia Paulo
Design Gráfico:
Marcello Queiroz
Produção: Carmen
Frenzel e Mariana Consoli
Produção
Executiva: Ludmyla Arêas
Assessoria de
Imprensa: Dois Pontos Assessoria
Idealização:
Carmen Frenzel, Fabrício Branco e Mariana Consoli
Realização: Sesc
Rio e Falantes Produções Artísticas
SERVIÇO:
Temporada: Dias 06,
07, 08, 09, 20, 21, 22, 23, 27, 28, 29 e 30/06.
Local: SESC Tijuca
- Teatro I.
Endereço: Rua
Barão de Mesquita, 539 - Andaraí, Rio de Janeiro.
Capacidade: 228
lugares.
Telefone: (21)
3238-2139.
Dias e Horários:
De 6ª feira a domingo, às 20h.
ATENÇÃO:
Nos dias 13, 14, 15 e 16/06 não haverá apresentação.
Valor dos Ingressos:
R$7,50 (habilitado Sesc), R$15,00 (meia-entrada), R$30,00 (inteira).
*Levando
1kg de alimento não perecível o ingresso também sai no valor da meia- entrada
(R$ 15,00).
Classificação Etária:
12 anos.
Gênero: Comédia Dramática.
Duração: 75 minutos.
(Foto: Gilberto Bartholo.)
A peça exige que o espectador não se permita uma
distração, o que o fará correr o risco de deixar de saborear algum detalhe bem
temperado do texto ou ficar meio perdido, a partir de quando se religar
à encenação.
Além
de ter gostado muito da peça, eu me identifiquei bastante com o que vi,
muito ligado a um momento pelo qual venho passando, à guisa de não sei o quê. O
fato é que, ultimamente, venho pondo em prática uma observação, à distância, das pessoas - as que não conheço, de preferência - e fico a imaginar
quem são elas, que tipo de vida levam, quem habita o seu universo, o que pode
justificar seus atos... É um comportamento meu, que, que passei a desenvolver e
até chegou a me preocupar um pouco; não mais hoje. Penso – pode ser que esteja
errado - que não há nada de patológico nisso e que, ao contrário, é um bom
exercício de, até mesmo, autoconhecimento, a partir das histórias que crio,
mas, logo, logo, delas me desfaço, esqueço-as na primeira esquina.
Acho
que todos os que se propuserem a seguir a minha recomendação, para ver a peça, passarão por uma experiência inesquecível, além de assistir a um excelente
espetáculo teatral.
(As atrizes e o autor da peça.)
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: FLÁVIA PAULO.)
Maravilhoso
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