COLE
PORTER –
ELE
NUNCA DISSE
QUE
ME AMAVA
(O QUE JÁ ERA BOM
PODE FICAR, AINDA, MELHOR.
ou
UMA REVERÊNCIA
À ALTURA DO HOMENAGEADO.
Corria
o ano de 2000, quando CHARLES MÖELLER e CLAUDIO BOTELHO estrearam, no extinto Café-Teatro de Arena, no Rio
de Janeiro (Rua Siqueira Campos 143), um de seus melhores trabalhos, embora estivessem iniciando a
grande carreira de sucessos que, hoje, conhecemos. O espetáculo era “COLE PORTER
– ELE NUNCA DISSE QUE ME AMAVA”. A montagem
tornou-se um grande marco na carreira da dupla e rendeu, a CLAUDIO, o Prêmio Governador
do Estado, pela direção musical da
peça, que ficou em cartaz, com LOTAÇÃO ESGOTADA, por dez meses (BONS TEMPOS AQUELES!!!), e teve uma longa e gloriosa carreira, em outros teatros cariocas, incluindo
temporada em São Paulo (Teatro Teatro Alfa Real, atual Teatro
Alfa; Theatro Maksoud Plaza e Teatro Antônio Fagundes ) e em Portugal (Cassino Estoril), por mais
dois anos. Foram todas temporadas
longuíssimas e de pleno sucesso de público e de crítica, num total de quatro
anos. A montagem brasileira foi
considerada o primeiro divisor de águas na carreira da dupla M&B. E foi o momento perfeito para CLAUDIO ter tido a ideia de criar a
chancela: UM ESPETÁCULO DE CHARLES
MÖELLER & CLAUDIO BOTELHO, de grande respeitabilidade, conseguida por
meio de muito trabalho e competência.
O espetáculo apresenta a história do grande
compositor norte-americano COLE PORTER, falecido
em 1964, pela ótica
de seis mulheres que fizeram
parte da sua vida. A ideia de
montar um espetáculo baseado na
vida de PORTER surgiu
depois que a dupla de brilhantes encenadores assistiu,
em novembro de 1999, a uma montagem de “Kiss me Kate”, na Broadway, espetáculo que, quase
duas décadas depois, montaram, com grande sucesso, no Brasil. De acordo com a dupla M&B, a peça aqui analisada não pode ser
considerada uma revista ou um musical de “book”, mas uma fantasia musical. Para mim,
é um deslumbramento musical. E, por que
não dizer, também, visual?
No elenco original, algumas
das muitas divas do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO: ADA CHASELIOV (infelizmente,
agora, brilhando nos palcos celestiais),
ALESSANDRA VERNEY, GOTTSHA, INEZ VIANA, IVANA DOMENICO e STELLA MARIA RODRIGUES. Daquele
naipe de grandes cantrizes,
permaneceram, na atual montagem, em cartaz
no Theatro Net Rio (VER SERVIÇO.), ALESSANDRA VERNEY, GOTTSHA e STELLA MARIA RODRIGUES. Os outros papéis foram
preenchidos com outras três talentosas “habitués” dos nossos musicais: MALU
RODRIGUES, ANALU PIMENTA e BEL LIMA.
SINOPSE:
O musical de CHARLES MÖELLER & CLAUDIO BOTELHO, um espetáculo original, apresenta a vida e obra do compositor americano COLE PORTER (1891-1964) pela ótica feminina. Seis atrizes, representado mulheres importantes na vida do artista, narram sua história e revelam a personalidade dúbia e contraditória, bem como o fascínio e o repúdio que PORTER causava.
O espetáculo é uma celebração do talento e da genialidade de um dos
maiores compositores do mundo. Repleto de picardia, bem típica da personalidade
de COLE, a comédia musical extrai este fino humor da extravagância, dos bons e
dos maus costumes dos chamados “anos
loucos”.
A história é contada sob o
ponto de vista das mulheres que o acompanharam e marcaram sua vida. São elas: LINDA PORTER (STELLA MARIA RODRIGUES),
esposa de COLE, com quem foi casado
muitos anos; KATE PORTER (BEL LIMA),
a mãe de COLE, rica e obsessiva,
para tornar o filho um astro; ELSA MAXWELL
(ANALU PIMENTA), uma famosa colunista de fofocas e amiga indispensável de COLE PORTER, que deu visibilidade ao
compositor, dentro da elite; ETHEL
MERMAN (GOTTSHA), a primeira grande diva
da Broadway e atriz preferida de COLE; BESSIE MARBURY (ALESSANDRA VERNEY), a agente do compositor; e, por
fim, ANGÉLICA (MALU RODRIGUES), personagem fictícia e misteriosa.
O homenageado não está
presente, fisicamente, no palco, mas aparece, em “off”, em gravações na bela voz de CLAUDIO BOTELHO.
Considerado,
por muitos, como o maior compositor
norte-americano de todos os tempos, COLE (Albert) PORTER, durante seus 73 anos de vida, deixou-nos grandes obras musicais, para o TEATRO,
como “Kiss Me Kate” (1948), seu maior sucesso, como também
escreveu lindas e inesquecíveis canções para o cinema e para grandes cantores
de sua época, como “Night and Day” e
“I’ve Got You Under My Skin”, por
exemplo, ambas com dezenas de gravações. PORTER
conheceu o “glamour” do sucesso e, também, passou por muitos sérios reveses,
em sua vida, tendo sofrido demais, fisicamente, com ferimentos e doenças
graves, incluindo uma amputação, tendo falecido, de falência renal, após uma
cirurgia, e passado seus últimos anos em relativa reclusão, praticamente, no
ostracismo. Embora tenha morrido só em 1964, a
partir de 1958, não escreveu mais uma única canção. Em 1937, sofreu um
acidente, ao cair de um cavalo, tendo quebrado as duas pernas e, praticamente,
perdeu o movimento delas. Passou por mais
de trinta cirurgias, em cerca de vinte anos, e, para o resto de
sua vida, padeceu de fortes dores, com osteomielite crônica, culminando com a
amputação da perna direita, com ameaças de ter de amputar, também a esquerda.
Tornou-se deprimido, alcoólatra, decadente, sem vida social. Fugia da sua dolorosa
agonia física no trabalho e continuou criando por um bom tempo, até 1958, como já foi dito.
Iniciou sua carreira, compondo a música e escrevendo a
letra de peças teatrais, em 1916. Sua consagração, porém, chegou
muito mais tarde, com o musical “Kiss
me, Kate”, estreado em Nova York , que foi
representado várias vezes. Em 1953,
voltou à crista da onda com outro grande sucesso, o musical “Cancan”. Também compôs a música do filme “Alta Sociedade” (1956). Aliás, muitos de seus musicais foram adaptados para o cinema
e algumas de suas canções continuam a desfrutar de grande popularidade. Foi
muito incentivado pela mãe, Kate Porter,
que descobriu nele, ainda criança, o talento que viria a conquistar o mundo,
uma precocidade, um "menino-prodígio". Em sua
vasta obra musical, de aprovação quase
unânime, percebe-se uma grande dose de melancolia, inquietação e solidão. Por
outro lado, não se pode negar que, em suas letras e composições, abundam uma
grande sofisticação, uma técnica apurada e um estilo singular, como uma digital
do artista. Compôs mais de 800 canções e, pelo menos, uma centena delas foram, são e sempre
serão grandes sucessos, internacionalmente falando, conhecidas e cantadas até
hoje.
Não resta a menor
dúvida de que PORTER foi um homem
extremamente carismático, um “bom vivant”, até um determinado
momento de sua vida, dono de um exuberante talento musical, genial, porém,
também frágil e mentiroso, além de viver fazendo extravagâncias em viagens e
festas.
Além de sua mãe,
outras mulheres tiveram um papel importantíssimo na sua vida e estão presentes
neste espetáculo. Sobre seis delas,
falarei adiante.
Para
quem, como eu, teve a oportunidade de assistir à primeira montagem do musical
(Vi três ou quatro vezes.), o que
está, no palco, é um “COLE PORTER...”
completamente repaginado, em todos os sentidos, com pequenas alterações no texto, que lhe acrescentaram um certo
frescor, e alteração no “set list”, mantida , entretanto, a mesma
qualidade do que se viu há quase duas décadas. Para os que estão vendo o espetáculo pela primeira vez, certamente,
estes sairão do Theatro com a
sensação de flutuar, num espaço preenchido por sons inebriantes, ainda mais
entoados pelas vozes da seis magníficas
intérpretes.
Os trechos em negrito
e itálico foram extraídos do “release”,
enviado pela produção (CARLA REIS / TINA SALLES).
“Estamos 20 anos mais maduros, como artistas, e temos,
hoje, mais conhecimento da obra de COLE PORTER. Por isso, apesar de uma
remontagem, é um novo espetáculo, com a inserção de canções e texto. É uma nova
visão, mas mantém o nosso mesmo amor por COLE PORTER.”, revela CLAUDIO
BOTELHO.
“Revisitei o texto; afinal, eu tinha 32 anos na época”, comenta CHARLES
MÖELLER. “Hoje, passados 20 anos, tudo mudou. A discografia de COLE PORTER está
inteiramente disponível na Internet, o que não existia naquela época. Além
disso, temos, hoje, disponíveis, imagens raras de PORTER, um universo de documentários,
entrevistas inteiras; ou seja, muito mais material do que tínhamos há 20 anos.”,
completa o diretor, ressaltando que
manteve a estrutura do espetáculo,
com as mesmas personagens, mas com
essa riqueza de dados que a Internet
possibilitou.
Foram selecionadas mais
de 30 canções que pontuam a trajetória de PORTER, quase todas cantadas no original, em inglês, e algumas ganharam uma excelente versão brasileira, de CLAUDIO BOTELHO, um mestre nesta seara. “Não há uma preocupação cronológica na apresentação dessas canções;
elas estão entrelaçadas, a partir do contexto da ação teatral. Além de
sucessos, indispensáveis aos fãs do artista, como ‘Night and Day’, ‘So in Love’,
‘I Get a Kick out of You’, ‘Everytime We Say Goodbye’, ‘I´ve Got You Under My
Skin’, Love for Sale’ e ‘Let´s Do It’, o público conhecerá algumas composições
não tão famosas, praticamente inéditas no território nacional.”. Se o espectador estiver bem atento e conhecer o idioma de PORTER, perceberá a relação que há entre as letras das canções e as cenas que as antecedem ou as sucedem.
“A ideia de montar um espetáculo baseado na vida de COLE
PORTER nasceu depois que CHARLES MÖELLER e CLAUDIO BOTELHO assistiram a uma
montagem de ‘Kiss me Kate’, na Broadway. ‘Saímos extasiados. Era a primeira vez
que víamos um COLE PORTER na Broadway. A primeira vez que o encontrávamos no
seu veículo original, o TEATRO. E aquilo nos incendiou de tal forma, que, no
restaurante, minutos depois do espetáculo, já falávamos do ‘nosso’ COLE PORTER,
aquele que ‘tínhamos’ que fazer no Brasil, o mais urgente possível”, argumentou CHARLES
MÖELLER.
Passemos a uma análise criteriosa do espetáculo, começando pelo texto, que não tem outra pretensão, que já é grande, a não
ser a de contar passagens e vivências da trajetória pessoal e profissional
desse grande gênio musical: COLE PORTER. CHARLES é bastante econômico e preciso nas
palavras, caprichando em poucas, porém bem acertadas, pitadas de humor e
acidez, quando alguma das seis mulheres se reporta ao personagem central da peça. Em 100 minutos, divididos em dois atos, ele condensa
73 anos de vida, jogando luz em dados, realmente, marcantes da vida e personalidade de
PORTER.
O espetáculo não poderia ser dirigido por outra pessoa, que não fosse o
próprio CHARLES MÖELLER, o qual, em tom de brincadeira (Sei que posso usar.), como
o “dono
da bola”,
também assina as coreografias. Joga em várias posições. Mas é um “dono da bola” que marca muitos gols; não é um “peladeiro”.
É
craque!!!.
A direção explora a suavidade, a leveza, tudo
quanto um espetáculo como este pede. Movimentos suaves das atrizes, assim como seus deslocamentos em
cena; um belo trabalho de direção de movimento.
Nome de incomensurável peso, nesta montagem, CLAUDIO BOTELHO é responsável pela versão brasileira e por uma direção musical irretocável, proporcionando-nos o prazer de saborear
cada verso ou nota das canções de COLE, nas vozes certas, quanto aos solos,
e numa perfeita harmonia, nos duetos e coros.
O elenco é uma legião de anjos canoros, cantrizes da mais alta qualidade, muito bem
escaladas para a final de um campeonato mundial de futebol, permanecendo no campo das metáforas e comparações. Não há como destacar um nome,
dentre as seis, que encantam, no conjunto ou em seus maravilhosos solos. São
todas muito bem inseridas no universo dos musicais, de renome no cenário do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO. Talvez – pode ser que eu esteja equivocado,
mas acho que não – a que tenha “menos estrada percorrida”, menos tempo de
atuação, menos espetáculos já encenados, seja BEL LIMA, que eu admiro demais, como a todas
as outras, e que faz um excelente trabalho, também, de atriz, como, aliás, também, todas as suas
cinco colegas de cena, evidentemente.
Alguns comentários sobre cada atriz e sua personagem, começando por STELLA MARIA RODRIGUES. Ela interpreta LINDA PORTER, a esposa de COLE. "LINDA foi mais do que uma esposa, tivemos mais que um
casamento. Nunca impôs qualquer convenção matrimonial. Tínhamos quartos separado;
muitas vezes, casas separadas; mas estávamos sempre juntos, por opção. LINDA
era o ser humano que eu gostaria de ter sido!" (COLE
PORTER, assumidamente homossexual, ou bissexual, o que, em nada,
absolutamente, importa.). Considero essa frase uma das mais belas declarações
de amor que já tive a oportunidade de conhecer. “Linda
Lee Thomas, depois LINDA PORTER, era filha de um banqueiro e sempre viveu uma
vida de luxos. Conheceu COLE PORTER em Paris, em 1918, e, mesmo sendo oito anos
mais velha que ele, no ano seguinte, já estavam casados. O casamento não era
nada convencional, mas como se dizia, ‘seja o que for que você possa dizer
sobre o casamento deles, a relação era amorosa, carinhosa e dedicada’. O casal
mantinha uma vida glamourosa, entre casas em Paris, Veneza ou Nova York, festas
e cruzeiros pelo mundo. LINDA foi a grande incentivadora da carreira de COLE. A
cada estreia de um espetáculo do marido, ela o presenteava com uma carteira de
cigarros, com o nome e data da produção. Permaneceram juntos até a morte dela,
em 1954, vítima de enfisema pulmonar.”. O trabalho de STELLA
é lindo, e sua postura e presença de palco, marcantes. Aliás, estes últimos
elogios podem ser estendidos às outras cinco atrizes. Que elegância das
seis! Como sabem pisar num palco e
preencher totalmente seus espaços!
BEL LIMA é KATE
PORTER, a compulsiva, obsessiva e super protetora do filho, uma mulher
muito rica e um pouco (?) excêntrica, meio “over”, capaz até de falsificar os
documentos de COLE, quando criança,
para que ele pudesse ser considerado um “menino-prodígio”,
a despeito de seu real talento, que ela se encarregava de superlativar. “Graças a seu empenho feroz, o filho único foi de
Indiana para o mundo.”. "Minha mãe era deliciosamente
engraçada. Acho que foi a primeira grande atriz histriônica que eu conheci.
Mamãe era capaz de coisas inimagináveis...". (COLE PORTER,) BEL,
que eu já conhecia de outros espetáculos e pela qual me encantei, ao substituir Adriana Garambone (Que tarefas difícil!),
no musical “Pippin”, também de M&B, me encantou, mais ainda, na
pele de KATE.
ALESSANDRA
VERNEY encarna BESSIE MARBURY, a agente
de COLE. "BESSIE era a pessoa certa
no lugar mais do que certo: Nova York! Ela era extravagante, irreverente, mas
carimbou meu passaporte para o mundo do entretenimento, pra sempre".
(COLE PORTER.) “Elisabeth
‘BESSIE’ Marbury foi uma famosa agente e produtora literária e teatral, que
tinha clientes do quilate de Oscar Wilde e Bernard Shaw. Seu escritório era um
centro de negócios teatrais de Nova York e contribuiu para o desenvolvimento da
comédia musical americana. Foi BESSIE quem produziu o primeiro musical de COLE
PORTER, 'See America First'. Ela nunca se casou, mas viveu, por mais de 20 anos,
com a decoradora Elsie de Wolfe...”.
É sempre um enorme privilégio encontrar VERNEY
num palco, principalmente num musical de M&B.
Como as demais colegas de cena, ela assimilou todas as características de sua personagem e a compôs de forma
brilhante.
Eu nem sei o que dizer de GOTTSHA, uma das veteranas do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO, que, por
várias vezes, já vi roubar cenas em que, originalmente, não seria para ela
brilhar, tamanho é seu talento. Aqui, ela representa uma das maiores atrizes que a Broadway e o mundo já conheceram: ETHEL MERMAN, falecida em 1984,
conhecida por sua voz potente, como a de GOTTSHA,
e por suas atuações marcantes, tendo sido considerada, pela crítica e pelo
público, “a primeira dama dos musicais”.
"Ele sempre disse que você é,
disparada, a melhor de todas!" (ANGÉLICA.) “Dá para acreditar que ela
era uma simples estenógrafa e secretária e, mesmo sem ter tido uma única aula
de canto, se tornou a ‘indiscutível primeira-dama da comédia musical
norte-americana’? Das décadas de 1930
a 1950, nenhuma temporada da Broadway seria completa, se
não apresentasse um musical com a grande ETHEL MERMAN! Nesse período, a estrela,
de personalidade impetuosa e humor ácido, era a ‘queridinha’ de compositores,
como George Gershwin, Irving Berlin e, claro, Cole Porter. Sua voz estrondosa
foi ouvida, pela primeira vez, em um palco da Broadway, em 1930, quando ela
colocou o teatro abaixo, interpretando "I Got Rhythm", no musical, de
Gershwin, "Girl Crazy". Os compositores competiam por ela, sabendo
que ela iria acertar cada nota na marca, segurá-la pelo tempo que fosse
necessário, e dar-lhe o sombreamento certo. Letristas estavam igualmente certos
de que ela tornaria cada sílaba distinta. ‘La Merm ’ não tentou analisar sua técnica ou estilo.
Quando lhe pediram para explicar seu sucesso, ela disse: ‘Eu apenas me levanto
e grito e espero que minha voz se destaque’”. Mesmo com toda a
delicadeza e leveza a que já fiz referência, com relação ao sexteto de atrizes, GOTTSHA foge, um pouquinho, ao padrão, porque não é fácil esconder ou segurar o tsunâmi que há dentro dela.
O próximo foco vai para ANALU PIMENTA, ELSA MAXWELL, uma “promoter”, na trama. "ELSA MAXWELL foi minha melhor amiga. Foi por
causa dela que eu me tornei uma espécie de celebridade, entre a elite. Ela me
tornou, simplesmente, indispensável...". (COLE PORTER.)
“ELSA MAXWELL foi uma famosa colunista de fofocas,
compositora e, principalmente, a mais badalada anfitriã de seu tempo, conhecida
por promover suntuosas festas para a realeza europeia e para figuras da alta
sociedade, de COLE e LINDA PORTER a Maria Callas. De Rainier, de Mônaco, a
Aristóteles Onassis. ELSA estava em toda parte, de Veneza a Hollywood. Mencione
uma celebridade, e ela responderia: ‘Minha amiga mais íntima!’”. Uma mulher sofisticada, de fino gosto, de extrema
elegância. É assim que se porta ANALU,
neste musical.
E “last, but not least”, chegou
a vez de MALU RODRIGUES, que
interpreta ANGÉLICA (com a grafia
correta, em português, pelo seu diferencial, com relação às outras), uma personagem fictícia, misteriosa,
enigmática. Considero fantástica a sua criação e, mais
ainda, que ela tenha caído no colo de MALU,
uma figurinha carimbada, nos musicais
com a grife M&B. MALU e ANGÉLICA calçam o mesmo número de sapato. Ela faz um ótimo
contraponto com as personagens reais.
"De todas as mulheres que passaram
pela vida dele, era a mim que ele amava.”, diz ela. Na verdade, ele nunca disse que amava nenhuma delas, até por
sua orientação sexual. Estou me referindo ao amor pleno, de corpo e alma,
porque o que parece é que, a todas, ele amava fraternalmente, um amor puro, de
bem-querer, de reconhecimento, de gratidão, de admiração mútua... MALU RODRIGUES já iniciou sua carreira “grande”
e custa-nos crer que ela possa crescer mais ainda, entretanto é isso o que
vemos, a cada nova produção de que
participa. Ouvi-la cantar cura, se não o
corpo, com toda certeza, a alma.
Agradou-me muito a opção de ROGÉRIO FALCÃO por um cenário
bem “clean”,
deixando o palco, praticamente, vazio, livre, para COLE e as mulheres de sua vida, com poucos elementos cênicos (apenas alguns interessantes pequenos móveis de papelão), fazendo descer belos painéis, com pinturas de Tamara de Lempicka, artista polonesa, uma expoente da pintura Art Déco, e aglomerados, também de papelão, com placas encaixadas. O fundo do cenário
também se presta a projeções de ótimas imagens de COLE PORTER, quase no final do espetáculo.
Um dos pontos altos do musical, que deixa o público totalmente embevecido (Foram alguns dos
maiores comentários que ouvi, no dia da sessão para convidados.) são, sem a
menor sombra de dúvida, os figurinos,
cridos por MARCELO MARQUES. São
deslumbrantes, de emocionar. E o melhor de tudo é que são de um requinte e de
uma “riqueza” indescritíveis, tudo fruto do bom gosto e da criatividade do
grande artista, que é MARCELO, um “fazedor
de milagres”, visto que o orçamento da produção
não era dos maiores.
As coreografias,
assinadas por MÖELLER, são
comedidas, leves, delicadas, totalmente dentro do padrão e da proposta do espetáculo.
MARCELO
CASTRO, membro efetivo da “família” M&B, é responsável pelos arranjos musicais, bem como rege o trio
de excelentes músicos, do qual faz
parte, tocando piano. Os outros são MÁRCIO ROMANO, na bateria e percussão, e OMAR CAVALEIRO, com seu contrabaixo. Que trio fantástico, para fazer o “som de COLE
PORTER!
MARCELO
CLARET garante um som puro,
cristalino, assinando o “design” de som,
e BETO CARRAMANHOS deixa a sua marca
de grande visagista que é. O “physique
du rôle” das personagens é
belíssimo, graças, em muito, às mãos mágicas de BETO.
“COLE PORTER
-...” é um espetáculo para os ouvidos
e para os olhos, convergindo para a nossa alma. Para contribuir com a
plasticidade do musical, valorizando
tudo o que se vê no palco, ajudando a criar diferentes atmosferas, entra em campo PAULO CESAR MEDEIROS, com uma lindíssima e
funcional iluminação.
Geralmente, um dos esteios dos espetáculos fica de fora, nas críticas,
inclusive nas minhas, porém – antes tarde do que nunca – não se pode achar que
toda a beleza e correção do que se vê em cena acontece só por conta dos criadores.
Há, por trás de tudo e de todos, como verdadeiros anjos da guarda, com a incumbência
de preparar o terreno, para a semeadura, uma equipe de produção, da qual, aqui, destaco os nomes de TINA SALLES (coordenação artística) e CARLA REIS (produção executiva).
FICHA TÉCNICA:
Texto: Charles Möeller
Direção: Charles Möeller (Diretora Residente: Juliana Rolim)
Versão Brasileira: Claudio Botelho
Direção Musical: Claudio Botelho
Direção Musical: Claudio Botelho
Elenco (por ordem alfabética): Alessandra
Verney (Bessie Marbury), Analu Pimenta (Elsa Maxwell), Bel Lima (Kate Porter),
Gottsha (Ethel Merman), Malu Rodrigues (Angélica) e Stella Maria Rodrigues
(Linda Porter).
Músicos: Marcelo Castro (piano e regência),
Márcio Romano (bateria e percussão) e Omar Cavaleiro (contrabaixo)
Coreografias e Direção de Movimento: Charles Möeller (Coreógrafa Assistente: Roberta Serrado)
Arranjos Musicais: Marcelo Castro
Figurino: Marcelo Marques
Cenário: Rogério Falcão
“Design” de Som: Marcelo Claret
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Visagismo: Beto Carramanhos
Fotografias: Daniel Coelho
Coordenação Artística: Tina Salles
Produção: Luciana Conde
Direção de Produção: Beatriz Braga
Direção de Produção: Beatriz Braga
Produção Executiva: Carla Reis.
SERVIÇO:
Temporada: De 15 de março a 28 de abril de
2019.
Local: Theatro Net Rio.
Endereço: Rua Siqueira Campos 143,
Copacabana (2º piso) – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2147-8060.
Dias e Horários: 6ª feira, às 20h; sábado,
às 21h; domingo, às 17h.
Valor dos Ingressos: 6ª feira: R$130,00
(platéia e frisa) R$100,00 (balcão 1) e R$50,00 (balcão 2); sábado e domingo:
R$180,00 (platéia e frisa) R$120,00 (balcão 1) e R$70,00 (balcão 2). “Site” de
vendas: https://www.ingressorapído.com
Duração: 100 minutos.
Indicação Etária: 12 anos.
Gênero: Comédia Musical.
Nunca
vou conseguir estabelecer um “ranking” sobre os trabalhos de MÖELLER & BOTELHO, simplesmente, porque,
para mim, é impossível pôr uma de suas montagens
ocupando a primeira colocação de um pódio. Nem sob tortura, eu satisfaria meus “algozes”.
Muitos espetáculos da dupla poderiam
se acotovelar sobre esse primeiro patamar e, “COLE PORTER -...”, esta atual
montagem, certamente, é um deles. É uma das várias OBRAS-PRIMAS assinadas por M&B..
Não
é preciso dizer que já vou rever, esta semana, o musical e que o RECOMENDO,
SEM PESTANEJAR OU PENSAR DUAS VEZES.
Começamos
com o pé direito, em termos de musicais,
o ano de 2019. Oxalá surjam tantos
outros do quilate deste!!!
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR
(FOTOS: DANIEL
COELHO.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário