O
QUE É QUE
ELE
TEM
(UM PROVA DE AMOR,
UM TRIBUTO À VIDA,
UM ATO DE CORAGEM,
UM ESPETÁCULO EMOCIONANTE.)
Está
em cartaz, no Teatro SESI Centro, no
Rio de Janeiro (VER SERVIÇO.), um monólogo que é, exatamente, tudo o que
escrevi no subtítulo desta crítica.
E mais algumas coisas...
Junte-se
uma linda e emocionante história, um
texto muito bem escrito, uma direção correta, uma interpretação impecável e os suportes criativos e técnicos necessários a
uma boa montagem teatral e ela
surge, num palco, sem mistérios e ao alcance de qualquer pessoa de
sensibilidade apurada. E emociona muito
o espectador.
Em
seu primeiro solo, a excelente atriz LOUISE CARDOSO nos conta a
trajetória de duas vidas: a da cantora OLÍVIA
BYINGTON e de seu filho JOÃO,
com o cineasta Miguel Faria Jr.. O espetáculo é uma transposição, para o
palco, feita por RENATA MIZRAHI, do
livro homônimo, “O QUE É QUE ELE TEM”,
escrito por OLÍVIA, no qual ela
conta o que representou, e representa, até hoje, a entrada de JOÃO na sua vida, a relação entre
ambos, ele que nasceu com uma síndrome raríssima, a de Apert, sobre a qual falarei, de leve, um pouco mais adiante.
Da forma mais
corajosa, e amorosa, também, OLÍVIA
publicou, em 2016, um livro, a
partir de suas memórias, abrindo o coração e escancarando as portas da sua
intimidade, no qual ela remexe em cada meandro do seu interior, para tornar
pública a sua vida, a partir dos 22 anos,
quando JOÃO veio ao mundo, segundo
ela, para fazê-la muito feliz. Na época do lançamento da publicação, houve
muitos comentários elogiosos, da crítica e dos leitores, os quais se comoveram
muito com os detalhes da narrativa. Assisti, à época, a inúmeras entrevistas da
autora, sobre o livro, e fiquei
conhecendo muito de seu conteúdo. Uma vez, com um exemplar, que me caiu nas
mãos, por acaso, durante umas horas, li, rapidamente, alguns trechos, que
mexeram bastante comigo e me instigaram a lê-lo na íntegra, o que nunca
consegui fazer, infelizmente, mas continuo interessado em. Chamou-me a atenção,
além, obviamente, da maneira natural e poética como ela ia contando,
cronologicamente, os fatos, a linguagem
empregada, a escrita, muito simples,
para atingir qualquer leitor.
“O QUE É QUE ELE TEM” conta uma
história de um amor incondicional entre uma mãe e seu filho, nascido com a síndrome
de Apert, causada por uma mutação genética, que gera acrocefalia (desenvolvimento do
crânio anormal) e sindactilia (pés e mãos fundidos total ou parcialmente), para
simplificar as suas características e o que ela significa para os seus
portadores.
SINOPSE:
Logo que nasceu, em 1981, JOÃO foi diagnosticado com a raríssima
síndrome de Apert.
Aos 22 anos e mãe de primeira viagem, OLIVIA BYINGTON viu seu filho sair, diretamente da maternidade,
para o centro cirúrgico, quando iniciou uma
verdadeira odisseia, com dezenas de cirurgias, alguns erros médicos e viagens
para tratamento em outros países.
Ela precisou interromper a
bem-sucedida carreira de cantora, que iniciava, para se lançar ao enorme
desafio que vinha pela frente.
Após todo o período inicial, ainda que os problemas de saúde, volta
e meia, voltassem a aparecer, OLIVIA
começou uma outra batalha, bem maior e, ainda, mais complexa: a luta pela
inclusão de seu filho em um mundo que não está preparado para conviver com a diferença.
Essa tempestade de revelações
e emoções é o que aguarda o espectador que vai assistir a “O QUE É QUE ELE TEM”.
Sei que o(a)
meu(minha) leitor(a) pode estar pensando se vale a pena sair de casa, para assistir
a uma peça “pra baixo”, que vai
fazer com que ele(a) deixe o Teatro
chateado(a), triste, deprimido(a), até (Quem sabe?) Pois é! Esse pensamento é
bastante compreensível, no entanto, prepare-se para o oposto. Vale muito a pena assistir a este
espetáculo. Eu diria, até, que todas as pessoas deveriam assistir a ele.
Por mais que sejam abordados, comentados e mostrados momentos tristes, difíceis,
durante os 37 anos de existência do
filho tão amado, passagens dramáticas, isso surge de uma forma tão leve e
natural, graças à maneira como OLÍVIA
enxergou o “problema” de JOÃO, sem
perder a lucidez e se utilizando, até mesmo, de pitadas de um humor ingênuo e
leve e, mais ainda, pela maneira, tão delicada, como RENATA MIZRAHI soube dramatizar a narrativa, que acaba por ser um dos melhores monólogos deste ano de 2018,
no Rio de Janeiro, fadado a uma
longa carreira, sucesso de público e de crítica.
No princípio,
como nem poderia deixar de ser, OLÍVIA
teve de, ela, principalmente e em primeiro lugar, tentar entender o que estava
se passando e, acima de tudo, “aceitar” o filho, como ele nascera. Mas “aceitação” é sinônimo de “aquiescência”, “anuência”,
“concordância”, “consentimento”... Envolve passividade,
o que não combina com OLÍVIA BYINGTON.
Mas, também, significa “acolhimento”,
“receptividade”. E era disso que JOÃO precisava, e precisará, até o
final de sua vida. Mais que ser aceito,
ele tinha o direito de ser amado, e
não poderia ter caído em melhores braços do que os daquela mãe. OLÍVIA foi, é e sempre será “A MÃE”.
Não sobra,
neste espetáculo, espaço para a
vitimização e a autocomiseração. De acordo com o “release” da peça,
enviado por PEDRO NEVES (FACTORIA
COMUNICAÇÃO), “É uma história de muitas vitórias. OLÍVIA não se
faz de coitada, em momento algum. Ela vai à luta, enfrenta os problemas, com
absoluta leveza, coragem e muita determinação. Ela e JOÃO são exemplos de otimismo e
amor à vida. A adaptação para o TEATRO
privilegia muito a essência desse comportamento e dessa visão de
mundo tão importante”, no dizer de LOUISE CARDOSO.
LOUISE leu o livro, apresentado a ela
por FLÁVIO MARINHO, idealizador do projeto, apaixonou-se
por ele e chegou até OLÍVIA, com a
proposta de tornar sua obra numa peça
teatral. Desde logo, acho que não a OLÍVIA
escritora, mas “a mãe do JOÃO”
comprou a ideia, embarcou naquele sonho, agora tornado realidade. E que bela realidade!
Foi ótima a
lembrança do nome de RENATA MIZRAHI,
para a transformação da obra, de uma mídia em outra. RENATA é dos mais representativos nomes, dentre os jovens dramaturgos brasileiros, vencedora de
vários prêmios e indicada a tantos outros. Ela parece ter sido bastante fiel ao
livro de origem (Não o li, ainda, mas quem já o fez me garante que sim.),
costurando bem todas as passagens, transformadas em cenas, numa linguagem
também simples e direta, com pequenos intervalos, breves, porém profundos
silêncios, que servem de descanso, físico e emocional, à atriz, para uma retomada de fôlego, e de toques para a reflexão do
espectador, conseguindo, facilmente, prender a atenção do público, o que não é
fácil, num monólogo, aproximando bastante,
numa grande cumplicidade, palco e plateia.
A montagem é bastante simples, porém de
um requinte total, representado, além da impecável atuação da atriz, por um conjunto de elementos,
que, somados, atingem um excelente resultado.
Poucas atrizes, além de LOUISE CARDOSO, quero crer, estariam tão bem em cena, na pele de OLÍVIA BYINGTON. LOUISE não parece, mesmo, representar; ela conversa com as pessoas.
É como se estivesse fazendo uma leitura dramatizada, valorizando, bastante, o texto, com sua vasta experiência de
grande atriz, amparada pela ótima direção de FERNANDO PHILBERT, o qual explora a empatia do público, em relação
à personagem em cena.
Na cenografia, assinada por NATÁLIA LANA, destaca-se um moderno e
arrojado conjunto, formado por um sofá e uma cadeira, de metal, esta, durante
quase todo o tempo de duração do espetáculo, ao lado daquele, como se formasse
uma só peça, tendo, como assento, tiras largas de espuma, retorcidas, formando, o todo, algo diferente, raro de ser visto, um pouco estranho, parecendo
desconfortável, à primeira vista. Só que não!!! Ao lado desse agrupamento, uma
pequena mesa, no mesmo estilo. No centro do palco, um enorme tapete vermelho e,
ao fundo, penduradas, placas metalizadas, disformes, sobre as quais são
projetadas imagens, acompanhando o texto,
num excelente trabalho de videografismo,
dos irmãos RICO e RENATO VILAROUCA, sobre ilustrações, para o livro, da própria OLÍVIA BYINGTON.
Durante toda a peça, LOUISE CARDOSO veste um único figurino,
elegante e discreto, desenhado por RITA
MURTINHO.
A peça não exige muito da iluminação, mas VILMAR OLOS encontrou os momentos exatos em que mudanças de luz devem ser feitas, para realçar detalhes
e situações ou tirar de foco o que não é de interesse, temporariamente.
MARCELO ALONSO NEVES merece um elogio
especial, pela felicíssima ideia de montar uma trilha sonora calcada em gravações de OLÍVIA BYINTON, uma justa e merecida homenagem, que, ainda por cima, não foi gratuita, uma vez que as canções se encaixam, perfeitamente, nos momentos
em que são inseridas na montagem.
Belo trabalho de direção de movimento realizou MÁRCIA RUBIN. Não é tarefa muito fácil
estabelecer posturas e movimentos para uma só pessoa num monólogo, para evitar a monotonia.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Renata Mizrahi - Inspirado
no livro “O Que É Que Ele Tem”, de Olívia
Byington
Direção: Fernando Philbert
Assistente de Direção: Luiz Octavio Moraes
Atuação: Louise Cardoso
Cenário: Natália Lana
Figurino: Rita Murtinho
Iluminação: Vilmar Olos
Trilha Sonora: Marcelo Alonso Neves
Direção de Movimento: Márcia Rubin
Projeções Cênicas e Videografismo: Rico Vilarouca e Renato Vilarouca
Preparação Vocal: Luciana Oliveira
Visagismo: Rose Verçosa
Projeto Gráfico: Redondo Estratégia + Design
Ilustrações: Olívia Byington
Assessoria de Comunicação: Factoria Comunicação
Mídias Sociais: Theodora Duvivier
Fotos: Lenise Pinheiro
Produção Executiva e Administração: Cristina Leite
Direção de produção:
Alessandra Reis
Idealização: Flávio Marinho
SERVIÇO:
Temporada: De 15 de novembro a 16 de dezembro de 2018.
Local: Teatro SESI – Centro.
Endereço: Avenida Graça Aranha, nº 1 – Centro – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia entrada).
Compras na Bilheteria do Teatro ou no “site” divertecultural.com
Indicação Etária: (Não recebi tal informação, mas acredito ser de 12
anos, embora houvesse crianças menores, na plateia, no dia em que assisti à peça.)
Gênero: Monólogo Dramático.
Pegando
carona no já citado “release”, “O QUE É QUE ELE TEM” “Mais
do que uma história de superação, é uma história de amor,
que nos faz refletir sobre conviver em sociedade e lidar com as diferenças.”
(LOUISE CARDOSO).
A
peça, além de tudo o que tem de bom,
é muito oportuna, bastante aplicável aos dias de hoje, quando tanto se discute
a importância e a necessidade da inclusão social, para aqueles que são
considerados “diferentes”.
Alguns,
como aconteceu comigo, antes de assistir ao espetáculo, a princípio, devem estranhar a falta de pontuação, ao
final do título, que é uma frase;
ou não. Se viesse seguido de um ponto de interrogação, seria, exatamente, a
pergunta que OLÍVIA ouviu tantas
vezes, na vida, feita por palavras ou por olhares covardes ou indiscretos. Se viesse
seguido de um ponto, este indicaria um final, uma conclusão. Parece-me que a
ausência de pontuação é proposital e mostra, simplesmente, que OLÍVIA não deseja nada mais do que
esclarecer a síndrome que JOÃO carrega
e mostrar que ele tem muito mais do que deformações físicas e outras sequelas. Ele tem muita alegria, amor à vida, paixão
por uma namorada, bom humor e uma luz interior, que cativa aqueles que com ele
convivem, parentes e amigos.
Para
encerrar, nada melhor que transcrever duas frases que me marcaram, durante a peça, desde o momento em que foram
ditas, seguidas, até o fechar da cortina:
“Nada é melhor, para alguém com deficiência,
do que o convívio em sociedade”.
“Nada é melhor, para a sociedade, do que o convívio
com as diferenças”.
E VAMOS AO
TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTA
CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO
BRASILEIRO!!!
(FOTOS:
LENISE PINHEIRO)
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