OUVI
DIZER
QUE
A VIDA
É
BOA
(SÓ TE DIGO UMA COISA:
“CARPE DIEM!”)
Fico
com pena, quando, por problemas de agenda, só consigo assistir a um bom espetáculo no final da temporada e, por
isso, não tenho condições de revê-lo, que é o que irá acontecer, infelizmente,
com a peça “OUVI DIZER QUE A VIDA É BOA”, a não ser que haja outras temporadas
(MERECE!!!). A peça está em cartaz, em suas últimas sessões, na Arena do SESC Copacabana (VER SERVIÇO.).
As
crises, de todas as ordens, principalmente a econômica, que vimos atravessando
nos últimos tempos, são, evidentemente negativas, porém, curiosamente, de forma
paradoxal, também podem ser vistas positivamente. Falo, especificamente, do TEATRO. Apesar de tudo e de todos os
que lutam contra, ainda há muita gente, grandes profissionais, que doam o
sangue e dão a alma, para conseguir pôr um espetáculo de pé, como é o caso da CIA. DRAMÁTICA DE COMÉDIA, com 24 anos de estrada e bons serviços
prestados ao TEATRO BRASILEIRO, ao
resolver montar um texto inédito de JOÃO BATISTA, da forma mais simples –
não simplista ou simplória -, porém com muito profissionalismo e competência.
JOÃO escreveu um excelente texto, partindo de uma simples frase, inserida numa
situação: “Ah! Uma hora, é uma coisa; outra hora, é outra. O tempo vai
passando...”.
SINOPSE:
Há alguns anos, num jornal
de domingo, uma das entrevistadas, numa matéria sobre “terceira idade”, era uma senhora, moradora do Rio de Janeiro, que afirmava que um grande sonho, que nunca havia
realizado, era “ver o mar”.
Indagada sobre as razões
de nunca tê-lo realizado, tendo morado tão perto dele, durante, praticamente,
toda a vida, ela respondia: “Ah! Uma hora, é uma coisa; outra hora, é
outra. O tempo vai passando...”.
Essa curiosa personagem da vida real serviu de ponto
de partida para a criação de uma personagem
de ficção, cuja saga, desde a infância, é contada em um tom bem-humorado.
A personagem (CAROL MACHADO), que não tem nome, vive seu sonho/drama,
da infância à velhice, sempre encontrando obstáculos à sua realização.
“OUVI DIZER QUE A VIDA É BOA” explora o absurdo das situações pelas
quais passa a personagem, a qual, por
várias vezes, se vê na iminência de realizar seus sonhos, de ver o mar, conhecer
lugares e outros mais, mas, como bem disse a senhora, na entrevista, “O
tempo vai passando.”.
E A VIDA VAI PASSANDO.
De acordo com o “release”,
enviado por LEILA GRIMMING (ASSESSORIA
DE IMPRENSA) “O espetáculo é uma narrativa musical, que dá continuidade à pesquisa
de linguagem desenvolvida pela companhia em suas produções mais recentes (...).
...as músicas do espetáculo são parte integrante da narrativa (...)”. Originalmente
composta por MARCELO ALONSO NEVES,
são todas executadas ao vivo, contando com o acompanhamento dos próprios atores, que tocam vários instrumentos
musicais, de forma simples e singela, seguindo o tom da peça.
Considero
quatro grandes destaques no espetáculo: o texto, a trilha
sonora original, a iluminação e a interpretação de CAROL MACHADO,
entretanto todos os demais profissionais envolvidos no projeto e os outros
elementos também contribuem para esta ótima montagem.
O
texto, além da excelente ideia, nos passa uma linda, grande e importante
mensagem, a de que, para que consigamos ser felizes, não importam os obstáculos
que surjam à nossa frente, é necessário pôr em prática a teoria do “carpe
diem”, uma expressão,
em latim, que significa "aproveite o dia". Trata-se
de uma metáfora que nos sugere ou,
mais que isso, nos impele a viver a vida intensamente, minuto a minuto, uma vez
que ela é efêmera, o tempo passa rapidamente e não podemos deixar escapar as
oportunidades de conhecer e vivenciar o máximo possível aquilo que ela nos oferece,
principalmente as coisas boas. O termo foi escrito pelo poeta romano Horácio (65 a.C. - 8 a.C.), no Livro I de “Odes”.
A principal característica estrutural do texto reside no fato de os diálogos serem muito curtos e ágeis,
“secos”, sem qualquer “gordura”, o que concede um potente dinamismo à peça. Devo
chamar a atenção de quem me lê para alguns pontos, no texto, como o motivo que levou a personagem a se casar (Amor ou um “certo” interesse?); as
intervenções da mulher do primo do marido, em cuja casa o casal migrante morava,
quando vieram para o Rio de Janeiro;
a importância do advérbio de lugar “lá”;
o pouco valor que o marido dava para o mar (Quem
tem não valoriza.); os diversos sentidos (valores denotativos e conotativos) do verbo “passar”; a fusão, de sentido, do verbo “esperar” (algo no tempo e a
chegada de uma filha); as coincidências que havia no texto de um folhetim, que a personagem conseguiu numa igreja, com
toda a sua vida, quando ela decidiu ir, sozinha, “lá”. Vale muito a pena prestar bastante atenção ao texto.
A trilha sonora
original, composta por um mestre no ramo, MARCELO ALONSO NEVES, tantas vezes premiado, é um primor, pela
simplicidade e singeleza das melodias e das letras, que ajudam a construir e
contar a saga da personagem. Estas
se apoiam num mote: adiamento e passagem
do tempo.
RENATO MACHADO,
outro premiadíssimo profissional, assina uma das melhores iluminações, considerando as peças a que venho assistindo neste
ano. A luz “dialoga” com os atores e marca, em zonas,
distintamente, cada momento da peça,
servindo, também, de elemento para mostrar o tempo passando e a eterna espera.
É feita, digamos, de forma setorial, privilegiando os vários espaços por onde a
ação acontece.
CAROL MACHADO apresenta-se em uma de suas melhores atuações. Ela “encarna a mulher que, à medida
que o tempo passa, se anula, diante das exigências da vida, cuidando da
família, do irmão, depois do marido e dos filhos, da casa e dos pequenos
afazeres da comunidade em que vive, enquanto deixa de lado suas vontades e
desejos”. Uma bela lição de altruísmo. Em qualquer que seja a situação,
qualquer que seja a idade da personagem,
a atriz se mantém atenta ao que faz,
sabendo utilizar, de forma bem expressiva, as ferramentas da voz e das
expressões corporais, principalmente as máscaras faciais. Os desejos da personagem, não realizados, geram
frustrações, como não poderia deixar de ser, mas ela parece, de certa forma,
assimilá-las e “dar a volta por cima”, nem que seja aparentemente.
Os que, com CAROL,
completam o elenco cumprem, com
sobriedade e correção, seus papéis, todos, também, sem nomes. São eles: ANA MOURA, CLEITON RASGA,
GISELDA MAULER, LUCAS
MIRANDA, LUCIANO MOREIRA e SÔNIA
PRAÇA.
O cenário, de DÓRIS ROLLEMBERG,
é muito simples e atende à proposta da peça, comportando o mínimo necessário
para o desenvolvimento das cenas: um feixe de galhos secos, no teto (confesso
que não consegui atingir a proposta); uma mesa; duas cadeiras; uma mesinha de
canto; alguns instrumentos musicais, agrupados numa parte da arena; duas
maletas; um banquinho e alguns objetos de cena, como um ferro elétrico e
utensílios de cozinha.
Os
figurinos, de MAURO LEITE, não apresentam detalhes de destaque a
serem comentados, a não ser o fato de apresentarem um certo “exotismo” nas
combinações das peças (não combinam, propositalmente), puxando para um lado meio
em desajuste com uma estética, “dita”, normal.
JOÃO BATISTA, contando com a facilidade de também
ser o autor do texto, faz um bom
trabalho de direção, com uma
proposta de que os personagens falem
com ênfase em determinadas sílabas, num ritmo frasal que foge ao convencional,
muito próximo dos personagens rodriguianos.
FICHA TÉCNICA:
Autor e Diretor: João
Batista
Elenco (por ordem alfabética): Ana Moura, Carol
Machado, Cleiton Rasga, Giselda Mauler, Lucas Miranda, Luciano Moreira e Sônia Praça
Trilha Sonora Original e Direção Musical: Marcelo Alonso Neves
Cenografia: Dóris
Rollemberg
Iluminação: Renato Machado
Figurino: Mauro Leite
Preparadora Vocal: Paula
Leal
Fotografia e Vídeo: Rai
Júnior
Produção: Palavra Z Produções
Culturais
Direção de Produção: Bruno
Mariozz
Assessoria de Imprensa: Leila Grimming
Realização: Companhia
Dramática de Comédia
SERVIÇO:
Temporada: De 07 de junho a 1º de julho de 2018.
Local: Espaço SESC Copacabana
- Arena.
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – Rio de
Janeiro.
Telefone: 2547-0156.
Horários: De 5ª feira a
sábado, às 20h30min; domingo, às 19h.
Valor dos Ingressos: R$30,00
(inteira); R$15,00 (jovens de até 21 anos, maiores de 60, estudantes e classe
artística); R$7,50 (associados SESC).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, das 15h às 21h.
Pagamento apenas em
espécie.
Ingressos antecipados
somente no local.
Duração: 60 min.
Capacidade: 242 lugares.
Classificação Indicativa: 12
anos.
Acesso para portadores
de necessidades especiais.
Gênero Comédia Dramática.
Esta peça foi uma grata
surpresa, para mim, motivo que me leva a recomendá-la.
E
VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS
TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
COMPARTILHEM
ESTA CRÍTICA,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS
DIVULGAR O BOM
TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS:
RAI JÚNIOR.)
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