A
ORDEM NATURAL
DAS COISAS
(A DESORDEM
NAS COISAS NATURAIS.
ou
O CAOS NOSSO
DE CADA DIA.
ou
REINVENTAR-SE, PARA CONTINUAR
SOBREVIVENDO.)
Que alegria é fechar uma
semana com um dos melhores espetáculos
do ano, até agora, e um dos mais
interessantes textos dos últimos tempos: “A ORDEM NATURAL DAS COISAS”, em cartaz no SESC Copacabana – Mezanino (VER SERVIÇO.)! Lamento não ter
assistido a ele antes.
Antes de mais nada, é
preciso dizer que escrever sobre este espetáculo
é um grande desafio, uma vez que, a cada curva, nos deparamos com uma surpresa
e uma revelação, explícita ou velada, e é preciso todo cuidado, para evitar “spoilers”, que poderiam subtrair, de
quem ainda vai assistir à peça, o prazer da novidade.
Embora, no “release” da peça, haja a indicação de que ela dure 90 minutos, na verdade, excede esse tempo, aproximando-se das duas horas, se não me equivoco, as
quais passam sem que o percebamos, de tão presos que ficamos ao magnífico texto, de LEONARDO NETTO, que também dirige,
com mãos certeiras, o espetáculo,
mais um, no meio de 204 produções
teatrais que levaram o “calote” da atual prefeitura do Rio de Janeiro (fomento)
e que só pôde se tornar uma realidade, graças ao esforço hercúleo de um grupo
de abnegados profissionais do TEATRO,
merecedores do nosso maior respeito, agradecimento e consideração. Não fossem
eles, só teríamos o registro desse incrível
texto num livro, editado pelo
selo “Another Hot Books”, da Editora Livros Ilimitados, cujo
lançamento se deu no dia 7 de maio,
na Livraria Travessa, de Ipanema. Li-o,
na 2ª feira, um dia após ter visto a peça, reli-o, no dia seguinte, e recomendo sua leitura.
SINOPSE:
A peça aborda o poder de interferência do outro sobre nossas vidas e
até que ponto essas influências definem quem somos.
“A ORDEM NATURAL DAS COISAS” envolve quatro personagens, sendo que
uma (VERÔNICA) não é materializada,
em cena, porém é a grande detonadora de toda a trama, ou, pelo menos, o estopim
para a grande explosão de um barril de pólvora.
LÚCIO (JOÃO VELHO) é um publicitário em crise, aspirante a escritor,
às voltas com um bloqueio criativo. Abandonado pela noiva (VERÔNICA), a que não está em cena, no dia do casamento, como já
dito, ele mergulha em mais dúvidas e questionamentos, em um processo que
sofrerá a interferência de duas pessoas: o consultor de “Feng Shui” EMILIANO (CIRILLO LUNA), seu amigo e irmão
da noiva, seu ex-futuro cunhado, portanto, e CECÍLIA (BEATRIZ BERTU),
jovem formada em História da Arte,
apaixonada pela cultura dos anos 60
e vizinha temporária de LÚCIO, muito
bem articulada.
A partir das relações
entre os três, após a desilusão de ter sido abandonado na hora do casamento,
nota-se que muitas coisas estão fora da
ordem, para LÚCIO, e daí vai
surgindo e se desenvolvendo uma série de situações, as quais culminam com um
final bastante surpreendente.
Este é o
segundo texto assinado por LEONARDO NET TO,
excelente ator, que acertou ao se
permitir ser um dramaturgo. Ele já
nos brindou, há três anos, com outra peça,
também de excelente qualidade, “Para os
que Estão em Casa”, encenada na Arena
do próprio SESC Copacabana, grande
sucesso de público e de crítica, à época, de cujo elenco fazia parte o trio escalado para o espetáculo aqui analisado. Foi durante a temporada daquela peça que surgiu a ideia de escrever
esta. E já espero que venham muitas outras, que uma continue inspirando a
criação de mais textos brilhantes do
autor.
Mas não é
apenas a qualidade do texto que não
nos deixa sentir a passagem do tempo
cronológico, tomados que ficamos pelo psicológico;
a excelente interpretação do elenco é
outro fator hipnotizante neste espetáculo.
Mas, sobre isso, falarei adiante.
LEONARDO disse que “O quanto a gente
tem controle sobre a própria vida e a interferência que o outro pode exercer
sobre nós são questões que me motivaram a escrever esse texto”. Isso pode, até, parecer uma
bobagem, algo não tão relevante assim, porém, realmente, as pessoas não se dão
conta da extensão e dos estragos que estão correlatos a essa interferência. Por
termos escolhido viver em sociedade, por sermos seres sociáveis, ela existe e
nos sufoca, aos poucos, sem que possamos, às vezes, sequer, esboçar uma
tentativa de nos livrarmos dos seus tentáculos. Quando percebemos, já,
praticamente, não há uma saída, nem de emergência. E ela se dá por vários motivos
e com as mais diversas intenções.
Leonardo Netto, o autor e diretor.
O que teria levado VERÔNICA a desistir
do casamento no dia em que passaria a ser, oficialmente, a mulher de LÚCIO?
Em momento algum, isso fica esclarecido, na peça, e é motivo de um
constante questionamento, não só por parte do noivo abandonado (Mais por
este, é claro!), mas também pelos outros dois participantes da trama. Essa
ocultação do motivo é um elemento genial, no enredo, porque dá margem a
várias especulações e ilações, que começam no palco e terminam na plateia.
Todos se perguntam o porquê daquela “loucura” e as possíveis respostas são
muitas. Eu tenho um palpite, mas não é recomendável revelá-lo (Que pena!!!),
pois estaria ligado a detalhes que poderiam tirar a graça desta crítica. Na
verdade, o motivo real do abandono no altar é o que menos interessa na trama; o
que é matéria de intenso foco é a tal da interferência de terceiros na nossa
vida e nos nossos destinos, assim como a solidão, sozinho ou acompanhado.
O ato de abandonar um quase
cônjuge no altar não é frequente, entretanto acho que todos conhecemos, pelo
menos, uma história semelhante, dentro e fora dos folhetins, de ambas as
partes, porém sempre há uma justificativa, algo que serve de “desculpa” para aquele
ato. Não foi o que aconteceu por parte de VERÔNICA. Ela desapareceu, sem
deixar uma explicação. Nem o irmão sabia o motivo.
Além de o “plot” ser muito
interessante e instigante, o seu desenvolvimento se dá por meio de cenas muito
bem construídas, com a utilização de diálogos bastante naturais, sendo tudo tão
verossímil e coerente, que o espectador não consegue se desligar da trama, um
minuto sequer, buscando captar o que está nas entrelinhas e por trás de cada
ação.
Parece-me que, na
verdade, o ser abandonado pela noiva foi a gota que fez transbordar um copo que
não tinha espaço para mais nada, um copo cheio de insatisfações, de toda a ordem,
que esperava o momento de derramar, extravasar. Tudo indica que LÚCIO só enxergava o copo meio vazio.
Um aspecto muito
favorável do texto são os cortes,
entre cenas, durante os quais um dos atores se dirige, ostensivamente, à
plateia, com falas que parecem estar fora do contexto, mas que devem ser
ouvidas com muita atenção, porque, direta e indiretamente, contêm elementos que
nos ajudam a entender o desenvolvimento da trama. Fica a dica!
Primeiro é EMILIANO, que, num tom nada didático, fala,
logo no início da peça, sobre o que
vem a ser o “Feng Shui” e seus
benefícios para quem o segue. Trata-se de uma “arte milenar chinesa (...), que
tem como função organizar a vida do ser humano, atraindo abundância,
prosperidade, harmonia e sucesso para todos os aspectos da vida”.
Consultor dessa arte, ele é pago para isso; é seu trabalho. Ele estaria ali, de
graça, para ajudar o amigo a renascer, a ser uma Fênix. Segundo o “Feng
Shui”, “a porta de entrada de uma casa
é também a porta de entrada da energia vital. É pela porta de entrada que as
coisas começam a viver”. Há uma mensagem subliminar de que EMILIANO está ali para abrir essa “porta
de entrada”.
Depois, LÚCIO é quem nos fala das quatro
ideias, “ilusórias, obviamente”, que norteiam o trabalho de um redator
publicitário, para convencer o consumidor a desejar e sentir necessidade de um
determinado produto ou serviço. Elas servem para vender tudo, qualquer tipo de
objeto de desejo. A primeira delas é a de que o mundo é um lugar interessante e divertido. A segunda é a de que a pessoa pode ser poderosa ou sedutora.
A terceira garante que o ser humano pode
se sentir seguro. A quarta se sustenta na certeza de que qualquer um pode ser saudável. Fazendo
uso das quatro, ao mesmo tempo, pode-se, até, chegar a convencer o indivíduo de
que ele é feliz. Resumo da ópera: A
Terra é cor de rosa; eu tenho a força e sou o cara; eu me sinto inatingível,
dentro da minha fortaleza; tenho saúde física e mental. Resumindo: meu nome é Felicidade.
Adiante, é a vez de CECÍLIA discorrer sobre uma técnica de
pintura, chamada “dripping”,
desenvolvida pelo artista plástico norte-americano Jackson Pollock, relacionada à criação de uma “teia de sentidos múltiplos”,
a teia em cujo emaranhado os três estão presos.
Mais tarde, volta CECÍLIA a ser a protagonista de uma
dessas falas, chamando a atenção para um meteorologista norte-americano, que, nos
anos 60, descobriu que “os
fenômenos mais simples se desenvolvem de forma tão complexa e caótica quanto a
vida”. Tornar complexo o que é simples parece inerente ao ser humano.
Pulada uma cena, volta LÚCIO a tomar uma dessas falas, das mais
interessantes, falando sobre seu estado emocional, “estar no fundo do poço”,
chamando a atenção para o significado desta e de várias outras frases feitas,
todas de origem bíblica. Isso é muito interessante, a ideia de que o poço pode
não ser o fim, e sim o começo, o gatilho para uma tomada de consciência e
atitude de reviravolta na vida de uma pessoa, um grande estímulo para se
abandonar a inércia. Ou não!!!
Agora é a vez de EMILIANO discorrer sobre a felicidade,
lembrando Aristóteles, que teria
dito que “os humanos vivem para serem felizes”, o que ele não está
enxergando em LÚCIO, mas, também,
não aparenta estar, ele próprio, dentro do que pregava o filósofo grego, por
boicotar o que lhe poderia trazer a felicidade.
Por último, volta CECÍLIA a assumir o foco, para
falar sobre o amor, o que se vem dizendo sobre ele há cerca de três mil anos;
ou melhor, para dizer que “é tudo um blá-blá-blá teórico, que não tem
nada a ver com a realidade”. Muito se fala sobre o que parece não ser
real, não existir; pelo menos, nos moldes em que desejamos.
Insisto em que prestem
bastante atenção a essas intervenções “não-dramáticas”
e totalmente a serviço da dramaturgia.
Há vários pontos e
cenas, na peça, que considero geniais ou, pelo menos, marcantes, como, por
exemplo, a primeira aparição de CECÍLIA.
Quando ela toca a campainha, para travar contato com LÚCIO, a reação deste, que, de certa forma, será mantida até a
última cena (Ou não?), é a de que VERÔNICA estava do outro lado da porta,
arrependida e pronta a voltar e iniciar um casamento. A eterna espera...
A cena em que LÚCIO fala do medo de conviver com o
“outro”, que é um ser malvado ou, até mesmo, um “monstro”, e trata, na sua
visão, da evolução natural do grau de
maldade do ser humano é emocionante. Primeiro, quase num momento de transe,
guardadas as devidas proporções, ele confessa, de uma forma fantasiosa, seus
medos; depois, disserta sobre a tal evolução
do nível de maldade, usando, para isso, as causas pelas quais o homem
aprendeu a matar, indo da necessidade de abater um “inimigo”, para se alimentar
e se defender, chegando ao extremo de matar por divertimento, requintes de
perversidade, ilustrando sua explanação com exemplos que todos conhecemos, tristes
acontecimentos que estiveram, e ainda estão, expostos na mídia.
Quão bela é a cena em
que EMILIANO, pisando em ovos, com
todo cuidado, medindo as palavras, controlando a respiração, da forma mais
sutil e pura possível, transpirando sensibilidade, faz, quase que
indiretamente, uma confissão. Mérito do
texto, mérito da direção, mérito dos atores, especialmente de CIRILLO LUNA. Ele comove a plateia.
A hora do que poderia
ser uma “virada” ou, pelo menos, a
preparação para uma, a última cena da peça (Será
que ela acontece?), é de uma beleza ímpar, pelo sentimento de libertação que
há nela, e a marcação, determinada
pelo diretor, sugere um final aberto, que suscita muitas
expectativas e faz o público sair discutindo o que pode representar a cena. De
quem LÚCIO fica à espera?
Creio que dirigir um texto escrito pelo próprio diretor
deva ser uma tarefa nem mais fácil, nem mais difícil do que se fosse concebido
por outro dramaturgo, porém,
certamente, mais gratificante, porque, ao escrever, o autor/diretor já vai, de certa forma, visualizando as cenas e, de
posse do texto pronto e de um excelente elenco em suas mãos, já sabe
bem mais o que deseja e como deve fazê-lo, para passar, ao público, as suas
intenções. LEONARDO NET TO realizou
um ótimo exercício de direção,
sempre com o cuidado de trabalhar as tenuidades e requintes de seu próprio texto, sugerindo, com muita
propriedade, mais do que escancarando. Durante os ensaios de mesa, acredito que
direção e elenco tenham descoberto, juntos, detalhes sutis do perfil de cada personagem, trabalhando, com os atores, as idiossincrasias de LÚCIO, EMILIANO e CECÍLIA.
Ter à sua disposição um
ótimo elenco, com o qual se tem
grande afinidade e para o qual o espetáculo foi escrito, também facilita
bastante o trabalho da direção. E o
que se pode dizer desse elenco? No
mínimo, que é formado por um trio de excelentes
atores, todos num grande momento de suas carreiras, com destaque,
indiscutível, para JOÃO VELHO, que,
fugindo a todos os personagens que já o vi representar (e foram muitos), realiza, neste espetáculo, seu melhor trabalho, sem desmerecer, em
absoluto, o ótimo rendimento de CIRILLO
LUNA e BEATRIZ BERTU.
O trio pratica, em
cena, uma plena interação, uma troca tão grande de “generosidade cênica” (Criei
uma expressão, para designar a “química”, a cumplicidade, o entrosamento entre
atores num palco.), que só gera lucro para quem se encanta com as três
atuações, bem naturalistas, o que me
pareceu, salvo engano ou exagero, muito próximas ao método de Stanislavski,
que não exclui a relação ator/texto,
mas, acima de tudo, a atuação abandona o verossímil e se torna crível. O
público, em função do excelente trabalho de interpretação, consegue acreditar
no que está vendo, a ponto de a encenação se assemelhar a um acontecimento do
dia a dia. Isso os três atores
conseguem com muita naturalidade e
verdade cênica, quando atingem a capacidade de, na interpretação, deixar claros vários subtextos. Tal prática os três dominam com muita propriedade.
JOÃO, surpreendentemente, para quem o conhece, como ator, é o retrato do convencimento, com
relação ao personagem, quando
representa LÚCIO, um homem, como ele
mesmo se considera, “no fundo do poço”,
totalmente subjugado a um processo de autopiedade, num estado fronteiriço à depressão,
numa linha tênue entre o sadio e o doente, em função do abandono pela noiva, no
altar. Ele considera sua vida sem sentido, está descrente de tudo e de todos e
não esboça nenhuma reação ou vontade de sair daquela inércia e procurar oxigênio,
para continuar a viver, até que alguém opera um ensaio de transformação no seu
tedioso viver. Ou não!!! Está
insatisfeito com seu trabalho, sua profissão de publicitário, não consegue ir
além do quarto capítulo de um livro que está, há muito tempo, tentando
escrever. Considera-se um derrotado. Mesmo nesse estado, ainda consegue ser
bastante irônico e sarcástico com os dois que dele se aproximam. Talvez por um mecanismo de defesa, debocha de EMILIANO e desfaz de sua atividade
profissional; faz piadinhas, algumas de mau gosto e, até mesmo, um pouco
ofensivas, uma vez que “gato escaldado”, está sempre em posição de defesa, seguida
de um ataque. LÚCIO, tanto quanto EMILIANO, também tem um quê de
enigmático, um tempero raro, nesta cozinha, e que vai gerar excelentes sabores.
LÚCIO: É mais
fácil acreditar que, quando uma coisa ruim acontece, é porque tem um
significado maior que a gente não consegue ver na hora...
João Velho - Lúcio.
Um bom trabalho de protagonista só existe quando o ator contracena com outros, que, por
serem talentosos, iluminam as suas ações, funções que cabem a CIRILLO LUNA e BEATRIZ BERTU, os
quais prestam o necessário suporte a JOÃO.
Ao dar vida ao
personagem EMILIANO, CIRILLO LUNA ratifica seu grande
potencial de ator, que consegue
atribuir protagonismo a personagens coadjuvantes. Ex- futuro cunhado de LÚCIO, o consultor de “Feng Shui”, amigo de infância deste,
parece estar mais presente na vida do amigo do que a própria ex-noiva. Sua
personalidade é de um homem fino, educado, gentil e de uma enorme sensibilidade
e generosidade, capaz de renunciar à sua felicidade em prol da alheia; de LÚCIO, em especial. Há um mistério
sobre ele, que vai se revelando, de forma bem delicada e lenta, no decorrer da peça. Pela felicidade do amigo, é capaz,
até, de incentivá-lo a encontrar uma nova companheira. Tenta, dentro da sua
crença no “Feng Shui”, ajudar LÚCIO a se desfazer de tudo o que VERÔNICA levara para o apartamento, uma
forma de tirá-la, de vez, de sua vida, e “arrumar harmoniosamente” o
apartamento, mas não obtém êxito em suas intenções. É muito mais que um amigo
para LÚCIO, pois se disponibilizou a
se manter ao lado deste,
servindo-lhe de “muleta”, após a inesperada queda. CIRILLO valoriza
muito o lindo e riquíssimo personagem, criado por LEONARDO NET TO.
EMILIANO: Tem
um monte de coisas que eu não quero que aconteçam e acontecem mesmo assim.
Cirillo Luna - Emiliano.
BEATRIZ BERTU atua, na trama, como CECÍLIA, para cumprir dois “scripts”,
o do texto da peça e um “outro”, dentro deste. É o que se pode chamar, a
princípio, de uma vizinha invasiva, que entra, na vida de LÚCIO, para, com muita dificuldade, sob forte resistência, movê-lo
um pouco, tirá-lo do marasmo e apresentar-lhe uma nova possibilidade de viver
intensamente. Aliás, não precisava nem ser “intensamente”. Esse é o único,
porém importantíssimo, objetivo da personagem na trama. Ela assume atitudes e diz
coisas a LÚCIO que fazem com que
ele, pelo menos, aparentemente, esboce alguma reação positiva. Mas será que isso acontece de verdade? BEATRIZ representa, com muita dignidade
e competência, o seu papel.
CECÍLIA: Acho
que tudo tem um sentido, a gente é que nem sempre percebe. E não perceber pode
ser uma grande tortura, eu admito, mas o sentido está lá, em algum lugar.
Beatriz Bertu - Cecília.
Uma montagem que não conta com muitos
recursos financeiros, ou melhor, dispõe de poucos, precisa apelar para os
melhores recursos humanos, ou seja, precisa se cercar de bons profissionais, capazes
de executar seus trabalhos da forma mais correta possível, sem custos excessivos.
Foi, exatamente, o caminho seguido, por exemplo, por ELSA ROMERO, ao conceber um ótimo cenário, simples, porém muito expressivo e totalmente dentro do que
pedia o texto. Ela utilizou muitas
caixas de papelão, de vários tamanhos, dentro das quais estariam os objetos
pessoais da mudança de VERÔNICA,
todas espalhadas, de forma caótica, pelo chão do apartamento de LÚCIO, assim como embalagens de
presentes e alguns destes à mostra. O único móvel da casa é uma cadeira. Completa
o conjunto uma luminária, creio que, propositalmente, bem simples e que, salvo
engano, nem chega a ser acesa. Como o texto
contém uma cena que deve ser passada num bar, a parede de fundo do apartamento
é vazada, toda em ripas, com um espaço aberto, à esquerda do palco, como um enorme janelão, deixando-se
ver, ao fundo, o ambiente de uma lanchonete, marcado, apenas, por uma mesa
redonda e duas cadeiras.
Os figurinos, de MAUREEN
MIRANDA, ajudam na composição dos três personagens. EMILIANO e CECÍLIA, ao
longo da trama, vestem variações de figurinos
do dia a dia, simples e despojados. LÚCIO,
na primeira cena, está vestido com requinte, com roupa de noivo, da qual vai se
libertando e passa a usar o que de mais simples e confortável há em seu
guarda-roupa, totalmente dentro do seu clima de “jogado no mundo”.
Como sempre, é muito
eficiente a luz de AURÉLIO DE
SIMONI, sem grandes variações, como
pede o texto e pondo em evidência a
ação e/ou a fala de cada personagem, quando e quanto necessário.
Bem de acordo com o texto, por
exigência deste, em algumas cenas, conta-se com uma boa trilha sonora, também assinada por LEONARDO NET TO, voltada
para “hits” do “rock” da década de 60,
uma das preferências de CECÍLIA,
que, coincidentemente, eram, também, os preferidos por VERÔNICA, a dona dos vinis, os quais foram descobertos dentro de
uma das caixas, bem como uma eletrola portátil. Destaque para os Beatles, com faixas do antológico álbum
“Rubber Soul”.
Também agrega valores a esta montagem
o bom trabalho de direção de movimento,
a cargo de MÁRCIA RUBIN.
FICHA TÉCNICA:
Texto e Direção: Leonardo Netto
Elenco: Beatriz Bertu (Cecília), Cirillo
Luna (Emiliano) e João Velho (Lúcio)
Cenário: Elsa Romero
Figurinos: Maureen Miranda
Iluminação: Aurélio de Simoni
Direção de Movimento: Márcia Rubin
Trilha Sonora: Leonardo Netto
Design Gráfico: Lê Mascarenhas
Fotos: Dalton Valério
Mídias Sociais: Rafael Teixeira
Direção de Produção: Luísa Barros
Produção Executiva: Alice Stepansky e Thaís
Pinheiro
Mobilização de Recursos: Marcela Rosário
Realização: Sesc Rio e Fulminante Produções
Culturais
SERVIÇO:
Temporada: De 03 de maio a 03 de junho de 2018.
Local: SESC Copacabana (Mezanino).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – Rio de
Janeiro.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h; domingo, às
20h.
Valor dos Ingressos: R$7,50 (associados do SESC), R$15,00 (meia
entrada) e
R$ 30,00 (inteira).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: 2ª feira, das 9h às 17h; De
3ª a 6ª feira, das 9h às 21h; sábado, das 13h às 21h; domingo e
feriado, das 13h às 20h.
Informações: (21) 2547-0156.
Capacidade: 70 lugares.
Classificação Etária: 14 anos.
Duração: 90 minutos.
Gênero: Drama.
|
Tive
de me conter muito, para não adiantar e revelar o que merece ser descoberto só
por quem assiste à peça.
“A ORDEM NATURAL DAS COISAS” é um espetáculo IMPERDÍVEL, daqueles de que jamais conseguiremos nos esquecer e só
nos faz pensar, cada vez mais, na grande máxima de João Guimarães Rosa: “Viver é muito perigoso”. Mas também
é um desafio bastante prazeroso.
Recomendo, com o maior empenho, o espetáculo e ainda pretendo revê-lo.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
COMPARTILHEM ESTA
CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O MELHOR DO TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: DALTON VALÉRIO)
GALERIA PARICULAR:
Aplausos.
Aplausos.
Com Beatriz Bertu, Cirillo Luna e João Velho,
Com Leonardo Netto.
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