JUSTA
(MAIS QUE UMA
“PEÇA-MANIFESTO”,
UM ESPETÁCULO
NECESSÁRIO
E
OPORTUNO.)
Ainda
que, infelizmente, já em final de temporada, não poderia deixar de escrever
sobre um espetáculo de que gostei muito, nos últimos tempos: “JUSTA”, em cartaz no Teatro III, do CCBB do Rio de Janeiro (VER SERVIÇO.).
O “marketing” vende o espetáculo como uma
“peça-manifesto”, entretanto ela
representa muito mais do que isso. Se fosse, “apenas”, um “manifesto”, já seria muito importante, porém acrescentem-se, ao
substantivo, os adjetivos “necessário”
e “oportuno”, por sua natureza, por sua contemporaneidade, pela brilhante ideia de sua composição, pelo excelente texto e por tantos e tantos motivos outros.
SINOPSE:
Num
palco, um casal de atores. Ela se multiplica em vários personagens. Ambos estão
em busca de uma reflexão sobre o momento ético em que vive a sociedade
brasileira.
Na história, políticos corruptos (praticamente,
um pleonasmo) passam a ser assassinados em Brasília (Por um “serial
killer”?), e, prestes a se aposentar, um INVESTIGADOR (RODOLFO VAZ)
é incumbido, muito a contragosto, de descobrir quem está cometendo os
homicídios.
As pistas o levam a um bordel, chamado “O Colégio”, muito conhecido entre senadores e deputados, que o frequentavam
com grande assiduidade (mais, talvez, do que compareciam àqueles que deveriam
ser seus locais de trabalho).
Enquanto segue o curso das investigações, novos assassinatos acontecem,
mas o INVESTIGADOR tem sua atenção
desviada para uma prostituta em especial, que é cega e atende pelo nome de JUSTA (YARA DE NOVAES).
Ironicamente, é amor à primeira
vista – da parte dele.
Segundo
o “release”, enviado pela assessoria de imprensa (CÍNTIA MAGALHÃES),
“‘JUSTA’
é um romance policial, com suspense e muito crítico, que trata
da investigação de uma série de assassinatos contra políticos corruptos.
Durante a investigação, um oficial justiceiro (...) encontra um amor improvável
(...) e se depara com a questão da corrupção brasileira encontrada em diversos
níveis”.
O espetáculo, escrito por NEWTON MORENO e dirigido
por CARLOS GRADIM, segundo este, “é
uma tentativa de criar uma alegoria cênica do esgotamento ético em que estamos
mergulhados. É um berro. É uma forma urgente de reencantamento com a beleza da
justiça".
Por essa
declaração, podemos sentir quão necessário
e oportuno é o espetáculo, uma grata
contribuição, para que possamos refletir acerca do mar de lama no qual Brasília e outras praças nos obrigam a
afundar, funcionando, a peça, como aquela corda, atirada, na qual possamos nos
agarrar e escapar da morte.
Curioso é que
o processo de criação da peça partiu de um pedido do diretor e da atriz do
espetáculo ao autor, no sentido de
que “escrevesse
um texto que tratasse da prostituição”. Durante o referido processo, os
três, juntos, “começaram a desvendar um cenário político conturbado e em momento de
exaustão e chegaram à brilhante conclusão de que os dois universos se uniam”.
Sim, prostituição e política caminham juntas;
no Brasil, pelo menos.
Devemos, no
entanto, entender que, neste espetáculo, a prostituição
é tratada de forma diferente. Ganha um “up”.
“Vai
além da conotação sexual, da mulher que troca sexo por dinheiro, pois engloba a
troca de votos por propina, entre outros aspectos da prostituição”. Prostituição rima com corrupção. Brasília é, metaforicamente,
transformada num grande bordel, com o perdão dos cidadãos honestos e decentes
que habitam a capital do país. É só uma
metáfora. E lembremos que a história se desenvolve em Brasília, mas ela é, apenas, um símbolo, um microcosmo, uma vez que
o que é tratado, na peça, respinga em várias outras cidades, sejam elas
capitais ou não.
O público sai
do teatro num misto de vingado e
desesperançado. Vingado, porque todos se põem no lugar da prostituta JUSTA. Eu, com a maior convicção,
queria ser a PUTA JUSTA, não pelos prazeres da carne – se
é que ela goza deles, ou com eles - entre lençóis, mas por sua atitude de
tentar resgatar a dignidade do povo brasileiro. Ao mesmo tempo, deixei o Teatro III do CCBB desesperançado,
frustrado, por saber que, infelizmente, os assassinados parecem Fênix e, se não renascem de suas
próprias cinzas, chocam seus ovos, antes de morrer, deixando seus descendentes
como sucessores na “carreira”, tais quais eles, para darem prosseguimento aos
seus roubos e desmandos, de uma forma geral. Mas vale, pelo desabafo. Pelo
menos, por 90 minutos,
experimentamos um “orgasmo moral”.
A peça, vencedora de inúmeros prêmios, dentro e fora do Brasil, chega ao Rio de Janeiro sob a chancela da ODEON CIA. TEATRAL, fundada por CARLOS GRADIM e YARA DE NOVAES,
e trata, basicamente, de corrupção e
justiça, dois ingredientes que fazem
parte, nos dias atuais, do cardápio do brasileiro. O amor fica num plano muito
distante.
O texto, de NEWTON MORENO, é um primor. Parece ter
sido escrito e terminado um pouco antes do terceiro sinal, tamanha é a sua
relação com os dias atuais. Não poderia ser mais pertinente à triste realidade
brasileira do momento. Ainda que, na maioria do tempo, seja narrativo, muito
bem narrado, aliás, pelo personagem de ROFOLFO
VAZ, com poucos diálogos, nem de longe passa pela monotonia. Muito pelo
contrário, há muita ação na narrativa. À medida que os fatos são narrados, o
espectador vai construindo um filme, em suas mentes. Isso é, por demais, excitante
e válido.
No papel do INSPETOR, RODOLFO VAZ “abusa” do direito de ser
um grande ator, assim como o faz YARA DE NOVAES, como atriz, a qual se multiplica em várias
personagens, com destaque para a que dá título à peça, JUSTA, a PUTA NORDESTINA, dona do bordel, e a PUTA MANCA.
Ambos estão vivendo, em cena, uma plenitude profissional de fazer
inveja, com um certo destaque para YARA,
que representa dentro e fora da cena, enquanto RODOLFO é o alvo das atenções. Ela, porém, jamais perde o foco. Sem
recorrer a figurinos diferentes e/ou
a recursos de maquiagem, YARA interpreta várias personagens nos
detalhes, principalmente na mudança da voz e com a expressão corporal. Um trabalho digno de premiação.
Devemos louvar a ótima direção,
de CARLOS GRADIM (mais uma), por
conseguir uma encenação teatral com o
formato de um manifesto. GRADIM
decodificou todas as intenções do texto
e soube conduzi-lo com total maestria, explorando todos os elementos fornecidos
pela cenografia. Mantém o caráter de
“peça-manifesto”, sem se afastar dos
elementos teatrais.
Trata-se de uma “peça-manifesto”, sem ser panfletária, na conotação negativa da
palavra.
É digno de elogios o fantástico cenário
/ instalação, de ANDRÉ CORTEZ,
que nos põe à mostra uma extensa mesa, como um balcão de tele-jornal, equipada
com material sofisticado de transmissão, como microfones, equipamentos de som -
os mais variados - e nove aparelhos de TV, de tela plana, por meio dos quais o
espectador tem contato com cenas de exposição da genitália feminina, seios, cenas
de sexo explícito e algumas emblemáticas frases de efeito, de protesto. A tecnologia a serviço do TEATRO; não se sorepondo
ao TEATRO.
Nos figurinos, de FÁBIO HITOSHI, não há o que se
destacar, a não ser dizer que eles me pareceram bastante ajustados aos
personagens e à proposta do espetáculo.
Acho que a iluminação, de TELMA FERNANDES, que optou por não
revelar, com ênfase, todos os setores da cena, alternando-os, de acordo com a
necessidade, e com parcimônia, possa ter uma relação, ou melhor, uma ligação
com o fator “críptico”, ou seja,
aquilo que foi desenvolvido para esconder alguma coisa, que não pode ou que não
deve ser revelada. O adjetivo vem de “cripta”,
que, entre outras acepções, significa a laje de pedra que serve para selar os túmulos,
ocultar o que não deve estar em contato com o público, a sociedade. Será que
viajei muito alto e vou conseguir aterrissar?
Deve ser citada a boa trilha
sonora, assinada por DR. MORRIS,
que inclui uma bela interpretação de Laila
Garin, do “Hino de Ninar”.
FICHA TÉCNICA
Texto: Newton Moreno
Direção Geral: Carlos Gradim
Diretor Assistente: Leandro Daniel
Direção Geral: Carlos Gradim
Diretor Assistente: Leandro Daniel
Elenco: Yara De Novaes e Rodolfo Vaz
Direção de Movimento e Assistência de Direção: Murillo Borges
“Design” de Luz: Telma Fernandes
Cenografia: André Cortez
Figurinos: Fábio Hitoshi
Trilha Sonora Original: Dr. Morris
Produção Musical: Yvo Ursini
Voz do “Hino De Ninar”: Laila Garin
Gargalhada: Teuda Bara
Conteúdo Audiovisual: George Queiroz
Programação de Vídeo: Júlio Parente
Assistente de Cenografia: Carmem Guerra
Direção de Produção: Caseiras Produções Culturais – Ana Luísa Lima
Produção Executiva: Igor Biond
Assistência de Produção: Marianna Botelho
Estagiário de Produção: Roy D’Peres
Administração da Temporada: Beatriz Lima
Cenotecnia: André Salles
Operação de Luz: Boy Jorge JP
Operação deÁudio: Vitor Vieira
Equipamento de Som: Rz Sound
Contrarregragem: Roy D’Peres
Projeto Gráfico: Beto Martins e Gabriela Rocha
Fotos: João Caldas (Formato Estúdio) e Elisa Mendes
Assessoria de Imprensa: Approach Comunicação
Coordenação Geral Instituto Odeon: Thais Boaventura, Mariana Braga, Hannah Drummond e Ingrid Boiteux
Direção de Movimento e Assistência de Direção: Murillo Borges
“Design” de Luz: Telma Fernandes
Cenografia: André Cortez
Figurinos: Fábio Hitoshi
Trilha Sonora Original: Dr. Morris
Produção Musical: Yvo Ursini
Voz do “Hino De Ninar”: Laila Garin
Gargalhada: Teuda Bara
Conteúdo Audiovisual: George Queiroz
Programação de Vídeo: Júlio Parente
Assistente de Cenografia: Carmem Guerra
Direção de Produção: Caseiras Produções Culturais – Ana Luísa Lima
Produção Executiva: Igor Biond
Assistência de Produção: Marianna Botelho
Estagiário de Produção: Roy D’Peres
Administração da Temporada: Beatriz Lima
Cenotecnia: André Salles
Operação de Luz: Boy Jorge JP
Operação deÁudio: Vitor Vieira
Equipamento de Som: Rz Sound
Contrarregragem: Roy D’Peres
Projeto Gráfico: Beto Martins e Gabriela Rocha
Fotos: João Caldas (Formato Estúdio) e Elisa Mendes
Assessoria de Imprensa: Approach Comunicação
Coordenação Geral Instituto Odeon: Thais Boaventura, Mariana Braga, Hannah Drummond e Ingrid Boiteux
SERVIÇO:
Temporada: de 21 de outubro a 19 de
novembro de 2017
Local: Centro Cultural Banco Do Brasil
(CCBB) – Rio de Janeiro – Teatro III
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 - Centro - Rio de Janeiro
Dias e Horários: De 4ª feira a
domingo, às 19h30
Duração: 90 minutos
Indicação Etária: 18 anos
Valor dos Ingressos: R$20,00 (inteira)
e R$10,00 (meia entrada)
(Os ingressos também podem ser
adquiridos pelo “site” eventim.com.br)
Apresentação extra: dia
18/11, às 17h.
É uma pena que a
temporada tenha sido tão curta e, até onde sei, não há perspectivas para outra,
no Rio de Janeiro; para este ano,
pelo menos. Também continuamos órfãos de um outro espetáculo da companhia, que cumpriu um curtíssima
temporada, no OI Futuro Flamengo,
logo no início do ano: “Love, Love, Love”,
que considero uma das melhores montagens do primeiro semestre de 2017, assim como “JUSTA” está para o segundo.
Intervenham, DEUSES DO TEATRO! Ponham as “galharufas” para funcionar!
Corram e comprem seus ingressos
antecipadamente, pois eles esgotam e, todos os dias, formam-se filas, esperando
por desistências.
Este espetáculo deveria ser filmado e
passado, em horário nobre, em cadeia de TV,
para ACORDAR OS BRASILEIROS
ANESTESIADOS, COM RELAÇÃO À SITUAÇÃO POLÍTICA EM QUE ESTAMOS MERGULHADOS, NO BRASIL.
(FOTOS: JOÃO CALDAS
e
ELISA MENDES.)
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