terça-feira, 31 de outubro de 2017


GOD

(DEUS /

MIGUEL FALABELLA /

CACO ANTIBES.

E DAÍ: QUE MAL HÁ NISSO?)
 

 

 

            Eu não pensava, em hipótese alguma, em iniciar, da forma como inicio, a minha crítica a “GOD”, espetáculo que estava em cartaz no Teatro OI Casa Grande (infelizmente, terminou a temporada no último domingo, dia 29/10/2017), mas, depois de ter lido muitas críticas negativas ao espetáculo, embora respeite a opinião alheia e não me considere dono da verdade, não posso deixar de fazê-lo de outra forma.

           A maioria reclama de ter visto um DEUS / MIGUEL FALABELLA / CACO ANTIBES no palco. E que mal há nisso?!

            Será que as pessoas, depois de tantos anos de “janela”, não conhecem MIGUEL FALABELLA; seu estilo, seu jeito irreverente, sua maneira de ser, que pode agradar a uns e desagradar a outros? Eu até entendo isso.

Será que ele não tem o direito de explorar o personagem que o tornou uma celebridade?

Será que as pessoas não leem uma sinopse ou uma simples notícia, ou entrevista, sobre o espetáculo que as aguarda?

Alguma vez, por acaso, FALABELLA disse a alguém que faria, em português, o que foi feito, em inglês, na Broadway? A mesma coisa?

Será que essas pessoas se deram o trabalho de ler, na ficha técnica, que se trata de uma “versão brasileira”, do próprio FALABELLA?

            “Ingenuidade” dessas pessoas, para utilizar um eufemismo.
 
 
 
 



            Vi a peça em São Paulo e me diverti bastante, porque não esperava outra coisa, em termos de encenação e de interpretação do ator. O texto, bastante inteligente, assim como a ideia da peça, eu não conhecia, mas esperava que fosse bom. Sim, é bom!!! Sim, é muito bom!!! Não é uma comédia? Então, é para fazer rir. A peça faz rir, e muito.

Não vi a montagem da Broadway e não sei qual era a proposta lá, porém sabia, muito bem, antes de escolher ver a peça, qual era a intenção de FALABELLA, porque me informei, e poderia imaginar, sem muito esforço, o que eu veria no palco.

            Não tive a oportunidade de escrever sobre o espetáculo, da primeira vez em que assisti a ele, no Teatro Procópio Ferreira, e fiquei na esperança de poder dar a minha opinião sobre a montagem / versão brasileira, quando ela fosse trazida para o Rio, ainda que após o término da temporada carioca, como está acontecendo agora, na expectativa de que venha outra. Público não faltará.

            Assisti a “GOD”, pela segunda vez, na penúltima semana, e, se me fosse possível, veria uma terceira. Estou precisando me divertir muito, com um bom humor, feito por quem tem competência para tal.

            Minha crítica, publicada pós-temporada, não vai contribuir para aumentar o borderô – nem seria minha pretensão -, da mesma forma como todas as negativas, escritas sobre o espetáculo, não foram capazes de diminuir a frequência do público, em todos os teatros brasileiros por onde a peça tem passado. Foram duas temporadas em São Paulo, no Teatro Procópio Ferreira e viagens pelo nordeste, sul, Minas Gerais , Goiânia, Anápolis e várias outras cidades na chamada “Turnê Mambembe” . Será que o público leva a crítica a sério?
 
 
        



 
SINOPSE:
Quando alguma coisa está errada, pode confiar: DEUS toma as devidas providências. E, dessa vez, o Todo-Poderoso, Rei do Universo, autor do espaço e do tempo, decide vir à Terra, pessoalmente... ou quase isso.
 
Cansado dos Dez Mandamentos, por não serem respeitados por suas criaturas, e de toda a incerteza que eles vêm gerando à humanidade, o Criador toma forma humana, através de MIGUEL FALABELLA, para propor novas leis e esclarecer qualquer mal-entendido a seu respeito. E o resultado disso é hilário!!!
 
No espetáculo, ele e seus dois arcanjos dedicados, MIGUEL (MAGNO BANDARZ) e GABRIEL (ELDER GATTELY), respondem a algumas das questões mais profundas que têm atormentado a humanidade, desde a Criação, em apenas 90 minutos.
 
De uma forma muito particular, o DEUS de FALABELLA vem, para arrancar muitas risadas do público e desvendar os maiores segredos do universo ou, pelo menos, do Brasil.
 
Afinal, Deus não é brasileiro?
 

 


 


O espetáculo “An Act of God”, no original (“Um Ato de Deus”), escrito por DAVID JAVERBAUM, recebeu versão brasileira e direção de FALABELLA, contando com a codireção de FERNANDA CHAMMA, de grande e notório saber no mundo dos musicais, principalmente como grande coreógrafa que é.
Na Broadway, o espetáculo foi aclamado e premiado, tendo sido uma das grandes atrações locais, durante o tempo em que esteve em cartaz, tendo recebido, do respeitado jornal The New York Times, o comentário de “delirantemente, divinamente engraçado".
Longe, bem longe mesmo, da ultrapassada teoria de que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, sou obrigado a concordar com tal afirmação, no que se refere a “GOD”. Foi bom lá e é bom aqui. Tenho a plena certeza de que, lá, as piadas e as críticas estavam voltadas para a cultura local, e por isso funcionavam. E o que fez, inteligentemente, FALABELLA? Exatamente o mesmo. Manteve a estrutura da peça, mas, obviamente, foi levado a trocar piadas e a inserir elementos que levam o público às gargalhadas, quando este reconhece as mazelas do nosso povo, dos nossos “mandatários”, da cultura brasileira. E nem poderia ser de outra forma.
 
 


Lembro-me, sempre, de não achar graça em muitas piadas feitas pelos apresentadores da festa do “Oscar”, exatamente, por não entendê-las, porque são piadas locais, que só funcionam para os americanos; muitas vezes, são comentários críticos sobre fatos muito recentes, ocorridos naquele mesmo dia, até horas antes de o espetáculo ser transmitido.
A ideia da peça não é tão original, admito, mas é interessante e, vestida com o texto “que cobre suas vergonhas”, a peça se torna genial.
O DEUS encarnado em FALABELLA é “hight tech”, moderníssimo, que troca as tábuas sagradas e a Bíblia por iPads. É um ser “antenado”, que, por exemplo, conhece, profundamente, as restrições ao glúten e às gorduras trans, assuntos que dominam a mídia dos nossos dias, e está por dentro de todas as canalhices praticadas pela grande maioria dos políticos brasileiros. Sua onisciência está focada no Brasil, durante o tempo de duração da peça, que poderia ser classificada como um misto de monólogo cômico e “stand up”.
Não se trata, exatamente, de um monólogo, pois, a despeito de o ator ficar em cena, durante uma hora e meia, falando sem parar, ele também contracena, raramente, com os dois atores que lhe servem de “escada”, os dois anjos, GABRIEL (ELDER GATTELY) e MIGUEL (MAGNO BANDARZ). Por outro lado, foge da total classificação como “stand up”, uma vez que existem cenário, figurino e texto, mas não deixa de apresentar os cacos e as muitas improvisações, que só um ator da inteligência de MIGUEL FALABELLA sabe fazer.
A estrutura do espetáculo é bem simples: em “off”, DEUS, em conversa com seus anjos, estes já em cena, anuncia que está farto do que está ocorrendo na Terra, ninguém obedecendo aos seus mandamentos, considerados, até por Ele, meio ultrapassados, e avisa que descerá a ela, para pregar novos mandamentos. Pede, então, aos anjos, que escolham uma pessoa da plateia, para lhe servir de “cavalo”. Propõem-lhe que assuma a forma de um ator, meio “decadente”, chamado MIGUEL FALABELLA. Ele aceita a sugestão e a peça começa.
 
 


E DEUS surge, deslumbrante, na forma humana, louro e de olhos azuis, descendo uma escadaria que liga o céu à Terra, ou vice-versa.
Cada novo mandamento é apresentado e, sobre ele, chovem comentários e instruções, tudo da forma mais engraçada, escrachada, anárquica, possível, entretanto, no fundo, contendo bastantes verdades. Humor crítico, o melhor de todos.
Alguns dos antigos mandamentos são, até, mantidos, mas “repaginados”. Dentre os novos, há, por exemplo, “Separar-me-ás do Estado”, durante o qual DEUS aproveita, bastante, o gancho, para tecer críticas sobre a influência das religiões, mormente a evangélica, na política atual, deixando bem clara a posição de que vivemos num Estado laico.
Outro bem interessante é “Não me dirás o que devo fazer”, durante cuja explanação critica o que as pessoas “exigem” de DEUS.
Também merece um destaque muito especial, por ser atualíssimo, um novo mandamento, que diz, em outras palavras, que “DEUS não se importa com quem as pessoas transam”, uma, mais que explícita, crítica à homofobia. Chega, inclusive, ao “absurdo” extremo, para a desaprovação de muitos religiosos (sou cristão e adorei a blague), de desconstruir a história de Adão e Eva, para dizer que esta era, antes, um homem, chamado Jéfferson, que “fazia companhia” a Adão, no Paraíso. Ambos eram amantes e viviam na maior paz, no maior “love”, entretanto a “maldita” serpente os fez comer do fruto proibido e os dois, muito levianamente, se deixaram “seduzir pela cobra”. Como castigo pela desobediência, DEUS submeteu Jéfferson a uma cirurgia de redesignação sexual, o que, no fundo, equivale dizer que Eva era trans, aumentando o mistério da prole que os dois tiveram.
É claro que esse tipo de piada subverte, completamente, a teoria, chata e engessada, do “politicamente correto”, mas não vejo nada de errado nela e me diverti muito, durante a”contação” (criei um neologismo) dessa história.
A propósito, muitas outras passagens bíblicas recebem roupagem nova, na versão do DEUS falabelliano.   
 


            O ator está completamente à vontade em cena, dominando o “timing” exigido para o humor, enriquecendo o texto, “original”, com seus cacos e nunca perdendo a oportunidade de criticar os “pobres”, marca registrada de seu eterno personagem Caco Antibes; excelente, por sinal.

            Os dois atores em papéis coadjuvantes cumprem sua função com dignidade.

            FERNANDA CHAMMA, dentro da sua especialidade, fez um excelente trabalho de coreografia, em menor escala, e direção de movimento, com a proposta de fazer com que os dois anjos (ou arcanjos; não entendo da hierarquia celeste) assumam diversas posições, como estátuas, lembrando poses de pintores e escultores famosos. É um detalhe que poucas pessoas, penso eu, percebem e que é muito interessante.

O cenário da peça é muito bonito, bastante “clean”, com predominância do branco. MARCO PACHECO pôs em cena uma escadaria (Ora, se poderia faltar uma para MIGUEL FALABELLA!!! E para DEUS também, é claro!!!). Um detalhe importante sobre essa escada é que ela é alta e com degraus diminuindo, de acordo com a altura, para criar uma profundidade.

            No palco, um grande sofá branco, para DEUS, de vez em quando, dar uma descansadinha e conversar com a plateia (Afinal, ninguém é de ferro; nem Ele.). Nenhuma alusão ao sofá da Hebe, sem querer ousar fazer concorrência ao humor de  FALABELLA.

Nas laterais, duas pequenas colunas gregas, jônicas, em material que imita mármore branco. Servem de base, de apoio, aos dois anjos.

Ao fundo, no alto, uma tela, em forma de círculo, serve a várias excelentes projeções (Ótimo trabalho de videografismo, não assinalado, infelizmente, na ficha técnica.), inclusive a de cada novo mandamento.
 
 
 
 


MARCO PACHECO também assina os ótimos e lindos figurinos. O dos anjos mistura elementos clássicos, reconhecidos nas representações iconográficas, com toques modernos, como a calça, de um tipo de material plastificado e elástico, e os tênis pretos, com aplicações de “spikes”, que fazem parte do estilo “punk” e que consistem em tachas, que reluzem com a luz dos refletores.          

            Para DEUS, o figurinista caprichou no visual. MIGUEL usa uma lindíssimo e bem talhado terno branco, impecavelmente passado, seguindo as tendências dos cortes modernos, com uma gravata num tom azul, de encantar.

            Nos pés, tênis, como os dos anjos, porém imaculadamente brancos.

            A iluminação, de ADRIANA ORTIZ, põe em destaque toda a beleza plástica que se vê em cena.

            A trilha sonora, de LENADRO LAPAGESSE, segue a proposta do espetáculo e varia, adequadamente, de acordo com cada cena.
 
 

           
 


 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: David Javerbaum
Versão Brasileira e Direção: Miguel Falabella
Codireção: Fernanda Chamma
 
Elenco: Miguel Falabella, Elder Gattely e Magno Bandarz
 
Voz, em off, de Deus: Bruno Garcia
 
Cenário e Figurino: Marco Pacheco
Iluminação: Adriana Ortiz
Trilha Sonora: Leandro Lapagesse
Visagismo: Dicko Lourenço
Produção Geral: Sandro Chaim
Transportadora Oficial: Avianca
Promoção: Globo
Realização: Aveia Cômica e Chaim Produções
Assessoria de Imprensa: Mattoni Comunicação
 



 
 


            “GOD” é o que se pode chamar de um bom entretenimento e tenho a certeza de que agradou à grande maioria dos que conseguiram assistir ao espetáculo.

            Homem de tantos projetos e ocupações, um multiartista, não sei se FALABELLA tem planos para uma outra temporada no Rio de Janeiro, mas torço para que isso possa vir a se tornar realidade.
 

 




       E VAMOS AO TEATRO!!!


       OCUPEMOS OS TEATROS!!!

 

 

(FOTOS: DIVULGAÇÃO.)
 
 
 
 
 

 
 


 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 






 




 


 
 

 
 

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