ESTUDO
SOBRE A MALDADE
(ELA NÃO COMEÇOU COM
IAGO,
MAS ELE É A BASE DE
TUDO.
ou
COMO É BOM
SER SURPREENDIDO
POR UM GRANDE
ESPETÁCULO TEATRAL!)
Como são gostosas e
gratificantes as boas surpresas que
o TEATRO nos proporciona!
Comecei, na última 2ª feira (19/06/2017), a minha
maratona semanal, como amante do TEATRO
– e, nesta semana, serão nove peças
-, com o pé direito.
Havia recebido,
recentemente, um simpático convite, via “e-mail”, de uma pessoa que eu não
conhecia e de quem, até então, não havia ouvido falar, para assistir a uma
peça: “ESTUDO SOBRE A MALDADE”, em
cartaz na Galeria do Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto,
de sábado a 2ª feira, sempre às 19h (VER SERVIÇO.)
Diariamente,
chegam, à minha caixa de mensagens, alguns desses convites.
A pessoa em questão se
chama BRUCE DE ARAÚJO,
que, além de ser o criador do projeto,
escreveu o texto, que ele mesmo dirige e interpreta.
Pensei: quem será
esse super craque, que cobra o escanteio e corre, para marcar o gol? Só
faltava, também, ser o técnico e o massagista do time.
Confesso que fui
meio cético ao Sérgio Porto. Não
tenho vergonha de dizer. Isso implicava um deslocamento, de carro, de mais de 30 quilômetros , do
Recreio dos Bandeirantes até o Humaitá, enfrentando engarrafamentos e outras
armadilhas do trânsito carioca. E se fosse decepcionante?! Como é precioso,
para mim, o meu tempo!
Só que, para estar
num Teatro, para ver TEATRO, não há limites de distância nem
obstáculos para mim.
Como jurado de um Prêmio de TEATRO, o Prêmio Botequim Cultural, e crítico teatral, procuro aceitar o
número máximo de convites, sem me importar com celebridades envolvidas nos
projetos, e fico muito curioso, quando pouco, ou nada, sei sobre o espetáculo a
que vou assistir.
Também confesso que
o “release” que o próprio BRUCE me encaminhara continha uma sinopse que me chamou muito a atenção.
O espetáculo
entrara em cartaz havia apenas dois dias. Tinha cumprido, portanto, só duas
sessões, até a data que agendei para conferir o trabalho desse corajoso ator.
Pois bem!!!
Fiquei
profundamente impressionado com o que vi, pela qualidade do texto, da direção
e da interpretação.
É tão bom, quando um espetáculo supera, em
muito, as nossas expectativas!!!
É certo, também,
que um detalhe me estimulava a ir e parecia me dizer que eu não me
decepcionaria: era o nome de MIWA YANAGIZAWA estar ligado ao projeto, em três
áreas, junto com BRUCE:
criação, texto e direção.
Uma grande
profissional, que tem um nome a zelar, como MIWA, não iria assinar algo que não fosse,
no mínimo, bom.
SINOPSE :
“ESTUDO SOBRE A MALDADE” é uma criação de BRUCE DE ARAÚJO e MIWA
YANAGIZAWA, a partir da pesquisa sobre o personagem Iago, da obra “Othello – o
Mouro de Veneza”, de William
Shakespeare.
Mais do que dar voz ao
vilão shakespeariano, um ator, em cena, investiga o cotidiano da maldade nas
relações humanas.
A
peça traça um paralelo entre o Iago,
de Shakespeare, e a maldade
contemporânea, que parece, infelizmente, só fazer aumentar. Iago foi mau; a humanidade contemporânea
parece ser perversa.
Extraído do “release” da peça, com pequenas supressões
e adaptações: “Um dos mais complexos personagens de William Shakespeare, Iago, vilão
da peça “Othello”, é o disparador de reflexões de “ESTUDO SOBRE A MALDADE”.
(...)
O trabalho parte do desejo de se falar da sociedade contemporânea, cada vez mais afundada em guerras, preconceitos e exacerbação do discurso de ódio. O olhar parte da história de Iago, um homem vingativo, que, por não ser promovido por seu chefe, o mouro Othello, arma um jogo, maquiavélico e sem escrúpulos, de vingança.
O trabalho parte do desejo de se falar da sociedade contemporânea, cada vez mais afundada em guerras, preconceitos e exacerbação do discurso de ódio. O olhar parte da história de Iago, um homem vingativo, que, por não ser promovido por seu chefe, o mouro Othello, arma um jogo, maquiavélico e sem escrúpulos, de vingança.
O
fascínio humano pelo mal e o modo como o mundo continua caminhando para a
violência, nessa obsessão por destruir, são a força motriz que dão base à
releitura da personagem – que, para o pesquisador Harold Bloom, dentre todos os
vilões da literatura, ‘tem a honra nefasta de ocupar uma posição inatingível’.
A
encenação cria uma costura entre a obra shakespeariana e o cotidiano, frio e
violento, mundial. Inspirados nas ideias de Antonin Artaud sobre o Teatro da
Crueldade, BRUCE e MIWA erguem a dramaturgia, centrada em temas, fatos ou obras
que dialogam entre si.”
BRUCE DE ARAÚJO chama a atenção para um
detalhe importante, na peça: “A ideia é usar a figura de Iago, para se
questionar sobre a maldade. Não como um julgamento ou lições de moral, mas como
uma reflexão nossa, e conosco, sobre quem somos e o que projetamos. É uma peça
que não dá resposta, mas abre um vasto caminho de perguntas.”
O monólogo merece
mais ser chamado de uma “performance”
mesmo. O termo parece conferir mais valor ao trabalho; é mais amplo,
semanticamente falando, para um espetáculo em que a interpretação supera o texto, que, por si, já é bom, já que este se
apropria de trechos de um clássico do TEATRO
universal, de um dos maiores dramaturgos
que a Humanidade conheceu, e o intercala com citações de fatos atuais, que nos
horrorizam à farta. Fala das tragédias humanas, dos extermínios, da falta de
solidariedade humana, da exploração do homem sobre o Homem (A inicial maiúscula
apenas no segundo “Homem” é
proposital.), dos conflitos urbanos e rurais, dos conluios pelo poder, da
intolerância, do ódio ao outro, da violência nossa de cada dia...
Fala de tudo o que
estamos acostumados a encontrar nas mídias, todos os dias, em doses cavalares.
E uma das reflexões que o texto mos
provoca, e nos incomoda bastante, é a de que não nos damos conta de que pouco, ou
nada, fazemos para mudar esse panorama. Seria por medo, covardia, acomodação?
Saí do Teatro muito mexido e não parava de
pensar, enquanto dirigia, de volta a casa, nas duas primeiras pequenas frases
da maravilhosa crônica de Marina
Colasanti “Eu Sei, Mas Não Devia”; aliás, na crônica inteira, cuja leitura
sugiro a quem não a conhece: “Eu sei que
a gente se acostuma. Mas não devia”.
A direção também é muito boa e parece
deixar o ator meio livre em cena, em termos de marcações, tirante as extremamente
necessárias, como no início da peça, quando BRUCE se senta numa cadeira, a cerca de um metro de distância da
primeira fila de espectadores, e conta, durante muito tempo, a história de Iago, faz um resumo da peça “Othello”. Com alguns minutos, cheguei
a pensar que o espetáculo seria “só aquilo”, o que, certamente, o tornaria monótono.
Ledo engano! Até com contador de histórias, o ator é ótimo.
Ele vai narrando a
trajetória de Iago e nós vamos
construindo um filme em nossas cabeças. Depois, ele passa a ocupar todo o
espaço cênico, praticamente vazio, pois, além da já citada cadeira, o único
elemento que completa o cenário é um boneco utilizado em treinos de lutas (recuso-me a utilizar o termos “artes”)
marciais, principalmente no box.
O espetáculo pode
ser considerado “alternativo”,
porque foge aos horários tradicionais e por outros motivos, entretanto é muito
bom que não se entenda o “alternativo”
como algo menor, o que, geralmente se dá. Muito
pelo contrário! Alguns detalhes técnicos rompem com o tradicional e acabam
sendo uma atração a mais, como a ótima iluminação
(ou quase falta de), assinada por BERNARDO
LORGA, de pouca intensidade e não preocupada em jogar foco no ator. São
excelentes as sombras e a falta de iluminação, em determinadas cenas, algo inusitado,
em TEATRO, e que dá muito certo,
nesta montagem.
Há, também, uma boa
trilha sonora, a seis mãos: ZÉ AZUL, JOYCE SANTIAGO e BRUCE DE
ARAÚJO (Olha o BRUCE, jogando em
outra posição! Que time de sorte ter esse craque na equipe!!!).
O figurino é o que menos importa nesta
montagem: uma calça, uma camiseta e nem prestei atenção se o ator utiliza algum
calçado.
Agora, chegou a
hora de analisar o trabalho do ator.
Excelente! Natural, espontâneo,
verdadeiro, não tivesse ele aprendido com MIWA,
numa de suas oficinas. Apesar da pouca idade, portanto incipiente no ofício, já
se mostra, em cena, como um velho profissional, um veterano, com personalidade
e ótima presença de palco. A mim, convenceu bastante. Uma grata surpresa!
FICHA TÉCNICA:
Criação, Direção e Texto: Bruce de Araújo e Miwa Yanagizawa
Diretor Assistente : Pedro Yudi
Diretor Assistente : Pedro Yudi
Ator: Bruce de Araújo
Figurino e Cenário: Miwa Yanagizawa, Bruce de Araújo e Pedro Yudi
Iluminação: Bernardo Lorga
Direção de Movimento: Laura Samy
Trilha Sonora: Zé Azul, Joyce Santiago e Bruce de Araújo
Fotos: Diogo Monteiro
Iluminação: Bernardo Lorga
Direção de Movimento: Laura Samy
Trilha Sonora: Zé Azul, Joyce Santiago e Bruce de Araújo
Fotos: Diogo Monteiro
Projeto Gráfico: Diogo Monteiro
Produção: Felipe Pedrini
Produção: Felipe Pedrini
SERVIÇO:
Temporada: De 17 de junho até 10 de julho de 2017.
Local: Galeria do Centro Cultural Municipal Sérgio Porto.
Local: Galeria do Centro Cultural Municipal Sérgio Porto.
Endereço: Rua Humaitá, 163 – Humaitá – Rio de Janeiro (Entrada pela Rua
Visconde Silva).
Telefone: (21) 2535-3846.
Dias e Horários: Sábados, domingos e 2ªs feiras, às 19 horas.
Lotação: 20 lugares.
Duração do Espetáculo: 70 minutos.
Indicação Etária: 16 anos
Bruce de Araújo e Miwa Yanagizawa.
“ESTUDO
SOBRE A MALDADE” é a primeira peça escrita por BRUCE DE ARAÚJO. Espero que seja a primeira de muitas.
Este espetáculo é extremamente simples, do ponto
de vista de investimentos na produção,
mas de uma incomensurável riqueza de conteúdo e de forma, dentro da
simplicidade.
O ESPETÁCULO É ÓTIMO, o que me faz
recomendá-lo, com o maior empenho, lembrando que a temporada é curta e que o
espaço só acomoda 20 pessoas por sessão.
Por favor, os
amigos que confiam no, que julgo ser, meu bom gosto e nos meus critérios de
avaliação não devem perder este espetáculo.
Fica a dica!!!
(FOTOS: DIOGO MONTEIRO.)
Amei a critica!
ResponderExcluirPerdi 70 minutos da minha vida... 🤨
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