O
ESCÂNDALO
PHILIPPE
DUSSAERT
(TUDO ELEVADO À MÁXIMA
POTÊNCIA.)
Faz
quase meia hora e há um homem sentado, diante de um computador, uma tela em
branco, com um propósito, o de escrever uma crítica a um espetáculo teatral, e
ele não sabe o que dizer nem como começar. Esse homem sou eu e a peça é “O ESCÂNDALO PHILIPPE DUSSAERT”, em
brilhante carreira no Teatro Maison de
France, Rio de Janeiro.
Desde
que assumi o meu lado crítico teatral,
raríssimas vezes, vi-me em tal constrangedora situação: ter muito o que
expressar e não saber como. O que dizer de um espetáculo em que tudo é superlativo, elevado à máxima potência?
Como começar a escrever sobre uma peça que é unanimidade (Burro é quem não pensa igual a todos, com relação a esse espetáculo,
Sr. Nélson Rodrigues.)
De
repente, percebo que a tela já não está mais em branco e que, afinal, consegui
dar o pontapé inicial ao meu texto. Dois
parágrafos escritos. Mas é preciso muita cautela, para não entregar o jogo.
Faz-se necessário preservar um grande segredo que o texto nos reserva, no final da peça, que eu jamais deixaria
escapar, nem sob tortura.
É
certo que o escrito pelo dramaturgo
é ótimo, a direção idem, os elementos técnicos perfeitos, mas a
espinha dorsal, que sustenta esta montagem,
se chama MARCOS CARUSO, uma
unanimidade nacional, quer como artista, quer como pessoa, de uma gentileza e
elegância a toda prova, a ponto de receber cada espectador, com um aperto de
mão e um agradecimento pela ida ao TEATRO.
São 43 anos de carreira; mais de 35
peças, como ator; 10 textos por ele escritos, sozinho ou a quatro mãos, com Jandira Martini (É dele, por exemplo, o
fenômeno teatral “Trair e Coçar é Só
Começar”, que, este ano, está completando 30 anos em cartaz. A peça integrou várias edições do Guinness Book, como recordista da temporada
mais longa.); um retumbante sucesso, de público e de crítica, em todas as mídias,
com destaque para a TV. Finalmente, MARCOS CARUSO se apresenta num
espetáculo solo, inédito no Brasil, escrito pelo francês JACQUES MOUGENOT, que, também, é ator, com
direção de FERNANDO PHILBERT e tradução
de MARILU DE SEIXAS
CORRÊA.
Após mais de quatro décadas de carreira e
convites recebidos por diretores e produtores, para montar seus trabalhos, MARCOS CARUSO brinca que é a primeira
vez em que é “escolhido pelo público”,
para uma peça. Isto porque foi de um trio de senhoras, que nunca fizeram
teatro, mas assistiram, em Paris, à peça e compraram seus direitos, que veio a
proposta para o ator fazer o primeiro monólogo na carreira.
Extraído do “release”, enviado pela assessoria de imprensa
(leia-se JOÃO PONTES e STELLA STEPHANY), "O ESCÂNDALO
PHILIPPE DUSSAERT" é
um texto que investiga, com fino humor, os limites da arte contemporânea e as polêmicas em torno do
assunto, através da história de um escândalo do pintor francês Philippe
Dussaert. Vencedora do Prêmio Philippe
Avron, por esta peça, JACQUES
MOUGENOT está, há quase uma década, em cartaz, ultrapassando a marca das 600
apresentações, na França. (...) Nesta peça, o dramaturgo francês usa a figura
de um pintor contemporâneo e sua polêmica carreira, para fazer, junto ao
público, uma reflexão sobre o que é e o que não é arte – o tema é terreno fértil para
infindáveis controvérsias e polêmicas.
São palavras de MARCOS CARUSO: “Cada vez mais, eu me interesso pelo teatro contemporâneo. Como
autor, diretor ou ator, quero, cada vez mais, me debruçar sobre temas
contemporâneos. ‘O ESCÂNDALO PHILIPPE DUSSAERT’ permite uma investigação, em
que ator e plateia, de maneira divertida e surpreendente, desvendam um dos
maiores escândalos da história da arte contemporânea.”.
Faço
coro ao que disse CARUSO, e a peça
serviu de grande válvula de escape, para eu me assumir, de uma vez por todas,
como um grande cético acerca do que se convencionou chamar de arte contemporânea, principalmente no
campo das artes plásticas. Tenho
muitas restrições ao que se expõe por aí, em nome de uma liberdade de
expressão, na forma de “obras”, as quais, absolutamente, não me dizem nada, não
me emocionam nem um pouco; ao contrário, na maioria das vezes, me provocam uma
grande rejeição e raiva, pela perda de tempo de ter ido até elas, e, tenho a
certeza, à grande maioria das pessoas também.
Tenho visto, por aí, no Brasil e fora daqui, exposições das quais saio
me perguntando como, por que e para que alguém se propôs a “criar” algo tão
bizarro, que acha ser arte. Será que acha mesmo? Muita gente, ainda que não
goste – e aqui incluo os críticos de artes
plásticas – para não ser diferente, embarca numa de que estão diante de uma
espécie de “oitava maravilha do mundo”. Chegam a ser patéticas e ridículas as
“explicações” que tentam dar, para justificar tantas aberrações. Posso dizer
que lavei a alma, vendo a peça, graças a PHILIPPE
DUSSAERT e a MARCOS CARUSO.
Não sei se procedem duas histórias
que me contaram acerca dessas aberrações “mudernas”. Uma delas é a de que um
determinado pintor colocou, no chão, uma imensa tela, em branco, pegou algumas
galinhas, introduziu-lhes os(as) pés/patas (?) em latas de tintas, de
diferentes cores, soltou-as sobre a tela e provocou seus deslocamentos (XÔ! XÔ!), até saírem todas de lá.
Imaginem o que ficou “pintado”!!! Dizem que ele fez isso, exatamente, para
zombar de alguns críticos, os quais, obviamente, adoraram a “obra de arte”.
Seria cômico, se não fosse ridículo, a ser verdade.
A outra, segundo consta, com o mesmo
propósito, por parte do seu “autor”, diz que o pintor encostou uma enorme tela
numa parede, molhou o rabo de alguns cavalos, em tintas bem coloridas, e
empurrou-os, com o traseiro voltado para a tela, até que quase encostassem
nela. Os movimentos pendulares dos rabos eram como “pinceladas” ao acaso,
formando outra “grande obra de arte”. Não duvido das duas e penso haver outras
histórias semelhantes por aí.
Um dos aspectos que mais me agradam
no texto é o fato de o autor não fazer concessões e criticar,
sem qualquer parcimônia, críticos, aos quais os tiros parecem ser mais
direcionados, artistas, pintores, a imprensa “especializada” e a falsa “intelligentsia”
do bloco “Unidos das Vaquinhas de Presépio”, tudo com aquele toque bem-humorado
e irônico da velha e boa, e sempre atual, “comédie
fraçaise”, o que é garantia de boas gargalhadas, ainda mais quando o texto, de excelente qualidade, é
conduzido por um ator do alto (sem piadas ou trocadilhos) do talento de um MARCOS CARUSO.
E, como eu já disse, tantas vezes,
que “o que dá pra rir dá pra chorar /
questão só de peso e medida” (plagiando Billy Blanco), não é para se chegar às lágrimas; absolutamente,
não! Mas é, também, para fazer pensar, refletir bastante nos conceitos atuais
de “arte”. O que você poderia pensar de uma “arte” que se baseia na “significância do não signo” e que
prega a “representação do nada” e a “plenitude do vazio”. Chega a ser
hilário, para não ser deselegante.
SINOPSE:
A peça conta a história do
pintor PHILIPPE DUSSAERT, nascido no
norte da França, em 1947, que perseguiu, obstinadamente, em sua trajetória, o
sentido mais profundo do minimalismo.
Sua proposta inicial é
inusitada: reconhecido pelo seu talento de exímio copista, reproduz quadros
famosos de pintores, como Da Vinci, Manet, Cézanne, Vermeer, porém
exclui, da imagem, quaisquer personagens humanos ou animais e preserva,
fielmente, o cenário ao seu fundo.
Causando surpresa e
inquietude no mundo das artes, ele segue, radicalizando sua proposta e, pouco a
pouco, vai ganhando o mercado de arte contemporânea - suas obras se tornam,
cada vez mais, valiosas e disputadas por grandes museus e colecionadores.
A trajetória de DUSSAERT chega ao ápice, quando ele expõe,
e vende, ao custo de 8 milhões de francos, sua obra maior. O episódio deflagra
uma reviravolta, que ficou conhecida como “O
ESCÂNDALO PHILIPPE DUSSAERT”.
A proposta cênica da peça é a de que um ator, como numa palestra, vá
contando a inusitada trajetória de DUSSAERT, o que pode parecer, a quem
não teve ainda o prazer de se deleitar com o espetáculo, que seja algo
enfadonho. Mas não! Absolutamente, não o é! Muito pelo contrário!!! Graças ao
talento do ator e à correta direção de FERNANDO PHILBERT,
melhor a cada novo trabalho como diretor, vemos um ator se
movimentando, da forma mais natural possível, apropriando-se de todo o palco do
Maison, dirigindo-se à plateia não num tom professoral, mas como alguém
que nos estivesse contando uma história na mesa de um bar, por exemplo.
A
direção acertou em cheio em saber aproveitar todo o potencial do ator,
deixando-o livre para criar – é a impressão que passa.
CARUSO
tem a capacidade de gerar uma intimidade tal com a plateia, a ponto de, vez por outra – ocorreu no dia em que assisti à peça – algumas pessoas, talvez por
ingenuidade ou por exibicionismo, sim, darem pitacos, sem ser nos momentos em
que o ator lhes pede que o façam. Fica parecendo uma grande roda de bate-papo.
No
início, a apresentação parece mesmo uma palestra, bem dinâmica, logo de saída,
mas, com uns quinze minutos de espetáculo, percebe-se a mudança de
comportamento do ator, o qual passa a representar, ainda que, repito, com a
maior naturalidade possível.
Ele
vai, com total maestria, contando a progressão das façanhas do personagem
protagonista, que não se confunde com o ator protagonista, até a revelação
final da peça, que é de surpreender a todos. Duvido de que alguém possa, no
decorrer do espetáculo, aguardar um final tão inusitado, inopinado.
CARUSO
parece uma cobra, “hipnotizando” os “sapos” da plateia, não só pelos olhos, mas
também pelos ouvidos. É impossível piscar, deixar-se distrair por qualquer
outro elemento; apenas o texto e sua irretocável interpretação, digna
de prêmios têm sentido, durante 80 minutos. Até os malditos celulares (pelo
menos, no dia em que vi a peça), tiveram descanso. Aliás, perdão, celulares!
Malditos são os que fazem uso de vocês, durante um espetáculo, qualquer que
seja ele.
NATÁLIA
LANA projetou um cenário, lindo,
moderno e funcional, à altura do espetáculo, propondo, apenas, telões, para as
várias e interessantíssimas projeções do material de vídeo, criado por RICO
VILAROUCA, além de uma mesa e um banco alto, cromados, para o
“conferencista".
É dela, também, o elegante figurino de CARUSO, que se torna mais bonito e ganha mais destaque, em função da fina
postura de um dândi, como ele.
O espetáculo pede uma luz
discreta, para os momentos mais “didáticos”, quase nula, em outros, para pôr em
destaque as projeções, e, ao mesmo tempo exuberante, por mais que possam ser
opostos, nos momentos em que o texto
o pede. Isso é o que consegue, com seu ótimo trabalho, VILMAR OLOS.
Também não podem passar sem um bom comentário as musicais incidentais, muito bem selecionadas, por MAÍRA FREITAS, responsável pela trilha sonora. Belas combinações de imagens e sons!
FICHA TÉCNICA:
Texto:
Jacques Mougenot
Tradução: Marilu de Seixas
Corrêa
Direção:
Fernando Philbert
Interpretação:
Marcos Caruso
Cenário
e Figurino: Natália Lana
Iluminação:
Vilmar Olos
Direção
Musical: Maíra Freitas
Vídeos:
Rico Vilarouca
Assistente
de Direção Vinícius Marins
Fotos:
Paula Kossatz
Direção
de Produção: Carlos Grun - Bem Legal Produções
Realização:
Galeria de Arte Cor Movimento Ltda
Assessoria
de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De 26 de agosto a 18 de
dezembro
Local: Teatro Maison de France
Endereço:
Avenida Presidente Antonio Carlos, 58 – Centro / Rio de Janeiro
Tel: (21)
2544-2533
Dias
e horários: 5ª feira e 6ª feira, às 20h; sábado, às 21h; domingo, às 18h
Valor
dos Ingressos: 5ª feira e 6ª feira = R$60,00; sábado e domingo = R$70,00
Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, a partir das 13h30min
Capacidade:
353 espectadores
Classificação
Etária: 12 anos
Duração:
80 minutos
Gênero:
Comédia
Não há o que pensar ou discutir: troque,
imediatamente, qualquer programa, qualquer um mesmo, de 5a feira a domingo, por
uma ida ao Teatro Maison de France, a fim de assistir a “O ESCÂNDALO PHILIPPE
DUSSAERT, com direção, magnífica, de FERNANDO PHILBERT e interpretação insuperável de MARCOS
CARUSO.
UM DOS
MELHORES ESPETÁCULOS DE 2016!!!
(FOTOS: PAULA KOSSATZ.)
Galeria Particular: com Marcos Caruso e Fernando Philbert.
Foto: Marisa Sá.)