terça-feira, 23 de agosto de 2016


VAMOS AO TEATRO?




 

 

Sim! Vamos!

Mas temos condições favoráveis a isso? E que condições seriam essas?

Este artigo vale para o Rio de Janeiro, cidade na qual manterei meu foco, porém se aplica, creio, a todas as outras grandes cidades brasileiras. Para São Paulo, também cai como uma luva. 

As pessoas que vivem de TEATRO, desde produtores, passando por artistas e chegando às equipes técnicas, vivem discutindo, diuturnamente, o porquê da carência de público nos teatros cariocas, com exceções de algumas grandes produções ou de um espetáculo ou outro, que, mesmo não contando com um elenco “global”, torna-se um grande fenômeno de público e sucesso de crítica, como é o caso de “CARANGUEJO OVERDRIVE” e “BR-TRANS”, por exemplo, que tiveram seus ingressos ferrenhamente disputados por milhares de pessoas, 99,9% das quais levadas pelo meio de divulgação mais eficaz/eficiente, em TEATRO, que é o “de boca em boca” (a expressão, tão utilizada, “boca a boca” está errada, não se aplica a esta situação).  

Certo é que os dois espetáculos acima mencionados, para não citar outros, são de uma qualidade INQUESTIONÁVEL, tendo sido vistos, por muita gente, por mais de uma vez, inclusive eu (“CARANGUEJO OVERDRIVE”, cinco; “BR-TRANS, três). E, se tivesse oportunidade, assistiria muitas outras mais.

No foco dos debates, estão sempre presentes o “alto” valor (para os nossos padrões) cobrado pelos ingressos, em função da “farra” da meia-entrada; o custo altíssimo, para a divulgação dos espetáculos, nas mais diferentes mídias; a crise econômica por que passa o país; a instabilidade financeira do povo brasileiro, a falta de incentivo daqui e de lá e até do Pokémon GO.

Sim, tudo isso pode fazer sentido e ocupa uma parcela de verdade, na causa geral de termos excelentes espetáculos com casas vazias ou com a ocupação que não era a esperada. Há, porém, no meu entender, um outro fator, contra o qual, se não me equivoco, nunca vi alguém se manifestar e no qual acredito estar uma das grandes causas para a crise aqui discutida.

Refiro-me aos horários das sessões de TEATRO. Durante a semana, salvo raras exceções, no Centro da Cidade, como o Centro Cultural Banco do Brasil, o da Justiça Federal, o dos Correios; o SESC Ginástico, o SESI; o Teatro Dulcina, o Serrador, o Eva Herz e os velhos João Caetano e Carlos Gomes (talvez outro esquecido), por exemplo, as peças iniciam (sem contar os atrasos, que não tolero, DE FORMA ALGUMA, mas que “fazem parte da (péssima) cultura brasileira”) às 21h; algumas, às 21h30min. Aos domingos, os horários são mais cedo.

E por que só aos domingos? Por que as pessoas trabalham, para ganhar o seu dinheiro, com o qual pagam seus ingressos, e precisam acordar cedo, no dia seguinte, 2ª feira? E isso não é o que ocorre nos outros dias também? Há muita gente que trabalha, inclusive, aos sábado e domingos. Já pensaram nisso?

Já pensaram, também, que, apesar de, infelizmente, o TEATRO ainda ser considerado um lazer para a elite, faz-se necessário que esse conceito seja sepultado de vez, ainda que, nos últimos anos, com uma ligeira maquiada, venhamos observando uma maior afluência de pessoas menos favorecidas, economicamente, às salas de espetáculo?

Mas essas pessoas não têm carro, condução própria. Muitas delas – a maioria – moram bem distante dos locais de concentração dos teatros - zona sul, Centro da Cidade e um pouco na Barra da Tijuca – e precisam de transporte público, para voltar às suas casas, o que, todos sabemos, é um dos grandes problemas desta cidade e de tantas outras.

Tenho contato com muita gente, que engrossa essa classe social e que adoraria ser frequentador assíduo das salas de espetáculo, pessoas que me confessam não ir ao TEATRO “porque é muito longe da minha casa, acaba muito tarde e eu não tenho condução para voltar”.

Se o indivíduo precisa de um metrô, tem de se ver na pela de uma Cinderela e ficar de olho no relógio, a fim de não perder a última viagem, já que o metropolitano encerra suas atividades à meia-noite. O sonho pode virar um pesadelo: a carruagem vira abóbora.

As empresas de ônibus reduzem, drasticamente, a frota, após um determinado horário: 22h, 23h, meia-noite... E passam a trafegar com dilatadíssimos espaços entre um ônibus e o próximo. As barcas encerram suas atividades também à meia-noite. O povo do outro lado da Baía, com poucas opções de TEATRO nas suas cidades (Niterói e São Gonçalo) também tem de ficar sentado, no meio-fio, aguardando um ônibus, que vá pela ponte Rio-Niterói. E em quantos lugares do Rio de Janeiro passam ônibus para Niterói e São Gonçalo? E os moradores da Baixada Fluminense? Os trens trafegam depois de meia-noite? Não! Não chegam nem perto. Nos finais de semana, então, parece brincadeira, segundo informações de quem mora lá ou de quem conhece habitantes daquela região. Um verdadeiro absurdo!

Todos, empresários, concessionários e “administradores públicos”, alegam prejuízos, para rodar de madrugada, mas não mencionam os elevados lucros que conseguem durante o dia. E vivem, paradoxalmente, incentivando o uso de transporte público.

É ficar à mercê de vans, muitas das quais são “piratas”, de táxis”, de UBER, de carona solidária...

E, se a pessoa desejar jantar, após o espetáculo, isso se torna um luxo, só ao alcance de poucos, pois encontra raras opções de bons restaurantes abertos àquela hora. Mas isso já é outro problema. Se tiver condições de chegar até o LA FIORENTINA, por exemplo, que funciona até alta madrugada, “seus problemas acabaram”. (Valeu o comercial, Djalma! Como cliente assíduo, crítico de TEATRO e jurado de Prêmios de TEATRO, acho que já sou merecedor daquele desconto...)

Brincadeiras à parte, nos Estados Unidos (Broadway) e na Europa, principalmente em Londres (West End), os espetáculos começam às 19h; alguns, às 19h30min.

Somos, sem dúvida, um povo mimetista, mas que nem sempre imita o que deveria ser imitado. Está aí algo que deveríamos copiar: o horário dos teatros americanos e europeus. Por que não? E iniciar as sessões nos horários estabelecidos, proibindo a entrada dos retardatários, que atrapalham os que chegaram no horário devido.

Sei que serei alvo de críticas negativas (“CRITICAR é fazer uma análise crítica; salientar as qualidade e/ou defeitos de algo ou de alguém.”) e de justificativas várias. Interesso-me por todas, desde que sejam consistentes e educadas, e proponho um debate amplo sobre o tema.

Hão de dizer, por exemplo, que o problema é cultural, é do trânsito intenso, mais cedo. Sei, entretanto, de amigos, de Nova York e de Londres, por exemplo, que, quando se programam para ir ao TEATRO, não voltam para suas casas, após o trabalho. Suas famílias é que vão ao encontro deles, o que mais fácil, em termos de mobilidade, para o horário, fazem seus lanches, antes da sessão, e vão para o seu lazer teatral.

Não seria o caso de uma união de todos da classe artística, para pensar no assunto e refletir sobre ele? Nem que fosse por uma experiência temporária, como teste. Sem uma visão de pitonisa, eu aposto que daria certo. Não custaria tentar.

#ficaadica.  

 

 



 

 

 

Um comentário:

  1. Concordo com vc, Gilberto!
    Em geral, prefiro ir ao teatro aos domingos não só pela ausência de trânsito, maior facilidade de estacionar, como principalmente por ser mais cedo.

    Fui numa estréia há 3 semanas atrás e saí sem cumprimentar ninguém, com medo de ter q caminhar depois, sozinha até o carro.

    Existem pessoas tb q desanimam pra sair depois q chegam em casa vindas do trabalho. Acredito que se pudessem ir direto ao teatro após expediente, teriam maior disposição.
    Enfim, uma excelente ideia q vale a pena tentar!

    ResponderExcluir