VAMOS AO TEATRO?
Sim! Vamos!
Mas temos
condições favoráveis a isso? E que condições seriam essas?
Este artigo
vale para o Rio de Janeiro, cidade
na qual manterei meu foco, porém se aplica, creio, a todas as outras grandes
cidades brasileiras. Para São Paulo, também cai como uma luva.
As pessoas que
vivem de TEATRO, desde produtores,
passando por artistas e chegando às equipes técnicas, vivem discutindo,
diuturnamente, o porquê da carência de público nos teatros cariocas, com
exceções de algumas grandes produções ou de um espetáculo ou outro, que, mesmo
não contando com um elenco “global”, torna-se um grande fenômeno de público e
sucesso de crítica, como é o caso de “CARANGUEJO
OVERDRIVE” e “BR-TRANS”, por
exemplo, que tiveram seus ingressos ferrenhamente disputados por milhares de
pessoas, 99,9% das quais levadas pelo meio de divulgação mais eficaz/eficiente,
em TEATRO, que é o “de boca em boca” (a expressão, tão
utilizada, “boca a boca” está errada,
não se aplica a esta situação).
Certo é que os
dois espetáculos acima mencionados, para não citar outros, são de uma qualidade
INQUESTIONÁVEL, tendo sido vistos,
por muita gente, por mais de uma vez, inclusive eu (“CARANGUEJO OVERDRIVE”, cinco; “BR-TRANS, três). E, se tivesse
oportunidade, assistiria muitas outras mais.
No foco dos
debates, estão sempre presentes o “alto” valor (para os nossos padrões) cobrado
pelos ingressos, em função da “farra” da meia-entrada; o custo altíssimo, para
a divulgação dos espetáculos, nas mais diferentes mídias; a crise econômica por
que passa o país; a instabilidade financeira do povo brasileiro, a falta de
incentivo daqui e de lá e até do Pokémon GO.
Sim, tudo isso
pode fazer sentido e ocupa uma parcela de verdade, na causa geral de termos
excelentes espetáculos com casas vazias ou com a ocupação que não era a
esperada. Há, porém, no meu entender, um outro fator, contra o qual, se não me
equivoco, nunca vi alguém se manifestar e no qual acredito estar uma das
grandes causas para a crise aqui discutida.
Refiro-me aos horários das sessões de TEATRO. Durante
a semana, salvo raras exceções, no Centro da Cidade, como o Centro Cultural Banco do Brasil, o da Justiça Federal, o dos Correios; o SESC Ginástico, o SESI;
o Teatro Dulcina, o Serrador, o Eva Herz e os velhos João
Caetano e Carlos Gomes (talvez outro esquecido), por exemplo, as peças
iniciam (sem contar os atrasos, que não tolero, DE FORMA ALGUMA, mas que “fazem parte da (péssima) cultura
brasileira”) às 21h; algumas, às 21h30min. Aos domingos, os horários são mais
cedo.
E por que só
aos domingos? Por que as pessoas trabalham, para ganhar o seu dinheiro, com o
qual pagam seus ingressos, e precisam acordar cedo, no dia seguinte, 2ª feira?
E isso não é o que ocorre nos outros dias também? Há muita gente que trabalha,
inclusive, aos sábado e domingos. Já pensaram nisso?
Já pensaram,
também, que, apesar de, infelizmente, o TEATRO
ainda ser considerado um lazer para a elite, faz-se necessário que esse
conceito seja sepultado de vez, ainda que, nos últimos anos, com uma ligeira
maquiada, venhamos observando uma maior afluência de pessoas menos favorecidas,
economicamente, às salas de espetáculo?
Mas essas pessoas
não têm carro, condução própria. Muitas delas – a maioria – moram bem distante
dos locais de concentração dos teatros - zona sul, Centro da Cidade e um pouco
na Barra da Tijuca – e precisam de
transporte público, para voltar às suas casas, o que, todos sabemos, é um
dos grandes problemas desta cidade e de tantas outras.
Tenho contato
com muita gente, que engrossa essa classe social e que adoraria ser frequentador
assíduo das salas de espetáculo, pessoas que me confessam não ir ao TEATRO “porque é muito longe da minha casa, acaba muito tarde e eu não tenho
condução para voltar”.
Se o indivíduo
precisa de um metrô, tem de se ver na pela de uma Cinderela e ficar de olho no
relógio, a fim de não perder a última viagem, já que o metropolitano encerra suas
atividades à meia-noite. O sonho pode virar um pesadelo: a carruagem vira
abóbora.
As empresas de
ônibus reduzem, drasticamente, a frota, após um determinado horário: 22h, 23h,
meia-noite... E passam a trafegar com dilatadíssimos espaços entre um ônibus e
o próximo. As barcas encerram suas atividades também à meia-noite. O povo do
outro lado da Baía, com poucas opções de TEATRO
nas suas cidades (Niterói e São Gonçalo) também tem de ficar sentado, no
meio-fio, aguardando um ônibus, que vá pela ponte Rio-Niterói. E em quantos
lugares do Rio de Janeiro passam ônibus para Niterói e São Gonçalo? E os
moradores da Baixada Fluminense? Os trens trafegam depois de meia-noite? Não!
Não chegam nem perto. Nos finais de semana, então, parece brincadeira, segundo
informações de quem mora lá ou de quem conhece habitantes daquela região. Um
verdadeiro absurdo!
Todos,
empresários, concessionários e “administradores públicos”, alegam prejuízos,
para rodar de madrugada, mas não mencionam os elevados lucros que conseguem
durante o dia. E vivem, paradoxalmente, incentivando o uso de transporte
público.
É ficar à
mercê de vans, muitas das quais são “piratas”, de táxis”, de UBER, de carona
solidária...
E, se a pessoa
desejar jantar, após o espetáculo, isso se torna um luxo, só ao alcance de
poucos, pois encontra raras opções de bons restaurantes abertos àquela hora.
Mas isso já é outro problema. Se tiver condições de chegar até o LA FIORENTINA, por exemplo, que
funciona até alta madrugada, “seus problemas acabaram”. (Valeu o comercial,
Djalma! Como cliente assíduo, crítico de TEATRO
e jurado de Prêmios de TEATRO, acho
que já sou merecedor daquele desconto...)
Brincadeiras à
parte, nos Estados Unidos (Broadway)
e na Europa, principalmente em Londres (West End), os espetáculos começam às 19h; alguns, às
19h30min.
Somos, sem
dúvida, um povo mimetista, mas que nem sempre imita o que deveria ser imitado.
Está aí algo que deveríamos copiar: o horário dos teatros americanos e europeus.
Por que não? E iniciar as sessões nos horários estabelecidos, proibindo a
entrada dos retardatários, que atrapalham os que chegaram no horário devido.
Sei que serei
alvo de críticas negativas (“CRITICAR é fazer uma análise crítica;
salientar as qualidade e/ou defeitos de algo ou de alguém.”) e de
justificativas várias. Interesso-me por todas, desde que sejam consistentes e
educadas, e proponho um debate amplo sobre o tema.
Hão de dizer,
por exemplo, que o problema é cultural, é do trânsito intenso, mais cedo. Sei,
entretanto, de amigos, de Nova York
e de Londres, por exemplo, que,
quando se programam para ir ao TEATRO,
não voltam para suas casas, após o trabalho. Suas famílias é que vão ao
encontro deles, o que mais fácil, em termos de mobilidade, para o horário,
fazem seus lanches, antes da sessão, e vão para o seu lazer teatral.
Não seria o
caso de uma união de todos da classe artística, para pensar no assunto e
refletir sobre ele? Nem que fosse por uma experiência temporária, como teste.
Sem uma visão de pitonisa, eu aposto que daria certo. Não custaria tentar.
#ficaadica.
Concordo com vc, Gilberto!
ResponderExcluirEm geral, prefiro ir ao teatro aos domingos não só pela ausência de trânsito, maior facilidade de estacionar, como principalmente por ser mais cedo.
Fui numa estréia há 3 semanas atrás e saí sem cumprimentar ninguém, com medo de ter q caminhar depois, sozinha até o carro.
Existem pessoas tb q desanimam pra sair depois q chegam em casa vindas do trabalho. Acredito que se pudessem ir direto ao teatro após expediente, teriam maior disposição.
Enfim, uma excelente ideia q vale a pena tentar!