A REUNIFICAÇÃO
DAS
DUAS
COREIAS
(18 VARIAÇÕES SOBRE UM MESMO
TEMA.
ou
O AMOR ESTÁ NO AR.)
Sim,
o amor está no ar. Variando, entre o real, o sonho e o ideal, mas está no ar, posto
em cena, num texto premiado, do dramaturgo francês JOËL POMMERAT, no palco do Teatro
OI Futuro Flamengo (VER SERVIÇO).
A
estrutura da peça não é linear, não apresenta uma única história, mas uma
sucessão de diversas situações, todas girando sobre um mesmo tema, o “amor”,
explorado num misto de linguagem cinematográfica com literatura, em forma de
pequenos folhetins, lembrando, até mesmo, em algumas das cenas, histórias em
quadrinhos. Cheguei até a enxergar um pouco de fotonovelas (os “novinhos” façam
o favor de pedir ajuda ao Tio Google).
O
texto é inédito, no Brasil, e aqui
chegou, graças à iniciativa da produtora MARIA
SIMAN (PRIMEIRA PÁGINA PRODUÇÕES), que travou contato com o texto, em 2014, por meio de uma amiga francesa,
com a indicação desta de que “você vai amar esta peça”. MARIA gostou mesmo e, com sua peculiar competência,
pôs a mão na massa.
Solange Badim, Reiner Tenente e Bianca Byington.
Para
alguém falar de amor, em pleno século XXI, seja por qual veículo de comunicação
for, torna-se uma tarefa bem difícil de ser executada, porquanto parece que
tudo já foi dito sobre ele e que a probabilidade de ser repetitivo ou pouco
original é iminente. Parece! POMMERAT,
no entanto, conseguiu escrever vários pequenos textos sobre o tema – muito bons, a maioria -, explorando-o por
vieses interessantes e de forma muito criativa, utilizando histórias plausíveis,
outras menos; algumas impossíveis, talvez, numa linguagem de fácil assimilação
e de difícil aceitação, em certos casos, quando algumas pessoas da plateia se identificam
com determinadas situações, que as levam a uma região de desconforto, o que é
muito bom, uma vez que é sinal de que a peça está atingindo o seu objetivo, já
que não se trata de um TEATRO “digestivo”,
mas de um texto cujo objetivo é
mexer com a emoção, fazer pensar e tocar feridas expostas, ou quase, em
cicatrização. Sim, percebe-se, claramente, que a peça tem a intenção de
aprofundar dedos em chagas passadas ou presentes, enquanto, também, serve de
alerta para as futuras, que poderão surgir no caminho de cada um dos assistentes.
Nunca devemos nos esquecer de que, sempre que se toca em amor, não se pode
deixar de mencionar o desamor, a causa de tantos sofrimentos e que
desestabiliza o ser humano. Ambos caminham, juntos, no texto de POMMERAT.
O
amor, nesta peça, se apresenta em diversas formatações e manifestações, quase
sempre de maneira pouco convencional, e aborda situações que nos afligem,
sobremaneira, nos dias de hoje. Há altos e baixos, na peça, a qual acho um
pouco longa, em função de umas três ou quatro histórias, talvez, que julgo
desnecessárias ao todo, ou, pelo menos, a mim, pouco ou nada disseram. Fiquei
com a sensação de algumas “barrigas”, mas o resultado final é muito bom.
Assisti
ao espetáculo duas vezes, numa mesma semana, já que, na primeira, uma pane, na
mesa de luz, imediatamente sanada no dia seguinte, fez com que uma determinada
cena fosse interrompida três vezes. Ainda que tivesse prosseguido, até o final,
quebrou-se, para mim, um pouco o clima, motivo que me fez rever a peça, para não
ficar com uma impressão não condizente com a verdadeira identidade da proposta,
excelente, por sinal.
Seu
título segue um caminho totalmente diferente daquele pelo qual, "tecnicamente", se
deve pautar um escritor, seja ele dramaturgo ou não: o de nomear sua obra com
um título que tenha uma ligação direta com seu tema e que, se possível, possa
criar um apelo de “marketing”. “A
REUNIFICAÇÃO DAS DUAS COREIAS” é um ótimo título, para a “venda” da peça,
porém, muito ao contrário do que se possa imaginar, não tem nenhum fundo
político, sendo apenas um fragmento, dentro da fala de um personagem, num dos
melhores momentos do espetáculo, quando MARCELO
VALLE, na pele de um marido que vai visitar a mulher desmemoriada, interna
numa instituição para tratamento médico (talvez um caso de Alzeheimer), tenta
explicar-lhe que ambos são casados, que têm dois filhos e em que circunstâncias
se conheceram, utilizando, metaforicamente, a imagem de uma possível
reunificação entre dois países, que já foram um só, a Coreia, atualmente
dividida entre, do Norte e do Sul, depois de uma inevitável ruptura, como a que
se deu na vida do casal.
Cada
história é precedida pela projeção de um título, criando uma expectativa no público.
Entre alguns quadros, alguém do elenco, a título de criar um tempo para a troca
de cenário e/ou de figurino (parece-me tenha sido esse o propósito), interpreta
canções populares, todas francesas, incluindo uma hilária versão, para aquele
idioma, de “Nuvem de Lágrimas”, de Paulo Debétio e Paulinho Rezende, cuja interpretação provoca gargalhadas na
plateia, não sem motivo.
São
18 histórias, vividas por 47 diferentes personagens, nos quais sete grandes atores (BIANCA BYINGTON, GUSTAVO
MACHADO, LOUISE CARDOSO, MARCELO VALLE, REINER TENENTE, SOLANGE BADIM e VERÔNICA DEBOM, em ordem alfabética) se revezam, apresentam as várias faces
do amor, ou este maquiado de drama, humor, ingenuidade, vingança e até ódio,
que se separa daquele (o amor) por uma linha tênue.
A
temática da peça não tem como não ser do interesse geral, pois fala de pessoas,
das relações entre elas, o que sempre é muito instigante. Trata, antes de tudo,
das relações humanas, de todos os imbróglios e dificuldades que revestem a
situação de convivência entre os iguais, de se manter sãos, mentalmente, numa sociedade, já tão
marcada por vícios, medos, incompreensões, intolerâncias, deturpações; enfim,
uma sociedade doente, moribunda, que parece estar, ela mesma, a cavar sua própria
sepultura.
O
que mais me agrada, na peça, é a proposta de mexer com o espectador, de tirá-lo
de sua zona de conforto e chamá-lo à realidade, ora por meio de situações
consideradas sérias, dramáticas, ora apelando para um tipo de humor, que é tão
dramático quanto as cenas “sérias”. Percebe-se, na plateia, uma inquietação, um
riso nervoso, que tenta esconder uma possível identificação das pessoas com os
personagens e as situações representadas, de forma teatral. É impossível sair
do teatro sem estar mexido por dentro, sem levar, para casa, reflexões a serem
desenvolvidas, para o próprio bem-estar interior de cada espectador. Eu saí
muito provocado, nas duas vezes em que assisti à peça.
Não
é para se deixar o teatro, odiando POMMERAT,
por ele ter feito sangrar, quem sabe, alguma(s) ferida(s), mas, sim,
agradecendo-lhe, por ter acendido uma luz vermelha, dentro de cada um de nós,
que nada mais é do que um alerta, para que possamos rever nossos valores e
aprender a viver como humanos e em sociedade, respeitando, semeando e valorizando
o sentimento maior: o amor.
Cada
quadro é apresentado por meio da projeção de palavras, que sintetizam uma
faceta em que está inserido determinado aspecto amoroso, está focado numa
situação diversa, em que o amor, a mola-mestra do mundo, direta ou
indiretamente, está presente. De todos, os meus destaques vão para estes
títulos: “FAXINA”, “GRÁVIDA”, “ESPERA”, “AMOR”, “MEMÓRIA” e “CASAMENTO”.
Em
“FAXINA”, que abre o espetáculo, o
insólito se faz presente, quando duas faxineiras, no desempenho de suas
funções, se deparam com um homem enforcado, PEDRO, pendurado no teto. Adentra uma terceira, esposa do
enforcado, que não consegue perceber o corpo pendente, acima da cabeça das
três. Creio que intencionalmente, por parte do dramaturgo. Motivos não lhe
faltam. Apesar de viver um amor conflituoso, que levou ao rompimento do
casamento, ela sonha com uma volta, um recomeçar, com uma renovação daquele
amor “acabado”. É o patético dentro do patético que há no amor. A esperança no amor.
“GRÁVIDA” é outro quadro que me chamou
a atenção, pela inversão de valores, que tem lá sua “explicação”, ligada ao
amor, evidentemente. Uma jovem – pode-se dizer que recém-saída da adolescência –
grávida procura uma médica, feliz da vida, porque vai se tornar mãe e encontra,
por parte daquela, que, no mínimo, por uma jura feita, quando de sua colação de
grau, deveria lutar pela preservação da vida e, consequentemente, ser contra o
aborto – e nem seria por motivos religiosos nem morais – uma reação totalmente
oposta à esperada.
A médica usa
de todos os argumentos para persuadir a jovem ANINHA a abortar, sob a justificativa de que o pai da criança, FREDERICO, é um louco, um
inconsequente. Faz-se necessário dizer que o casal é interno num centro de
recuperação para drogados. A moça resiste, bravamente, ao "conselho" daquela
“profissional de saúde”, e o diálogo que travam é um dos mais interessantes da
peça, por conta dos argumentos de ambas. ANINHA
defende seu amor por um homem ao qual ela se iguala, na condição de internos e
drogados, acreditando, piamente, que aquele filho poderia ser a tábua de
salvação para o casal, uma motivação para a cura. Ela tem plena certeza de que o ama. A médica, de forma bastante
pragmática, não consegue enxergar o lado belo da maternidade, do amor, naquela
situação, e realça todos os defeitos do rapaz, no que é contradita por ANINHA, a qual faz questão de deixar
bem claro que aquela criança representaria a concretização, a materialização do
amor e a redenção das atitudes “tortas” do casal. E a plateia se vê dividida
entre a emoção e a razão, como se esta combinasse com amor. Ótimo trabalho de BIANCA BYINGTON, como a médica.
“ESPERA” trabalha com a “cegueira” que
o amor provoca, os sentimentos refreados, a dificuldade de expressá-los, ou,
simplesmente, com a ilusão e a ingenuidade, além da carência, um dos maiores
males do mundo moderno. Dois vizinhos – parece que de porta – aguardam seus
respectivos cônjuges, tarde da noite. Ele vai ao apartamento dela, movido por
um pretexto criado, e ambos se confessam no aguardo, ansioso, por seus pares.
Há uma distância, além da física, entre ambos. A princípio, total. O único fato
que os une é a mesma situação em que se encontram: sós (ou solitários?), à
procura de quem os perceba, como pessoas, pelo menos, ainda que não
desmerecessem os respectivos companheiros e demonstrassem confiança neles.
A partir de um
determinado momento, uma sonoplastia se faz importante, quase um terceiro
personagem do quadro, por meio da qual se ouvem passos nas escadas. Passos
duplos. Isso faz com que ambos pensem se tratar dos esperados, de volta ao lar.
O diálogo entre os dois vizinhos, em cena, é meio truncado, econômico, reprimido,
cheio de justificativas, da parte de um ao outro, para a demora de quem
aguardavam, sem que aquilo fosse necessário ou fizesse o menor sentido, por
parte de um com relação ao outro. Vai-se criando um clima de busca de um apoio, de um no
outro.
O som dos
passos, nas escadas, evolui, para o corredor, aproxima-se; melhor dizendo,
cessam, nas imediações das portas dos dois apartamentos. É muito tarde da noite;
ou seria da madrugada, não me recordo bem. O som dos passos cede espaço a
gemidos, provenientes de uma total ou parcial relação sexual meio “selvagem”. À
medida que, lá fora, tudo vai “evoluindo”, dentro daquelas quatro paredes,
também há uma significativa alteração no comportamento dos vizinhos. Ela coloca
um disco na vitrola e, aos poucos, os dois vão se aproximando, um do outro, e
dançam, abraçados. E fica, para todos, personagens e plateia, a intrigante
versão dos fatos. Quem estaria gemendo lá fora? Em caso de os aguardados
cônjuges, teriam se encontrado, por acaso, na chegada a casa, ou estariam juntos
o tempo todo da ausência? Como seguiria a vida dali em diante, para os dois
casais? E se não fossem eles? E se fossem?
O elenco, com o diretor João Fonseca, em primeiro plano.
“AMOR” foi o quadro que mais me
agradou, que mais mexeu comigo, que me fez ir discutindo com a minha amiga, até
que eu a deixasse em sua casa, de carona, e me levou a continuar dirigindo, até
a minha, por bastante tempo ainda, refletindo sobre a situação.
Um pai e uma
mãe de um menino, ANTÔNIO, pequenino
(não me lembro se fazem menção à idade da criança, mas creio ser em torno de 9
ou 10 anos, precisão etária que não faz nenhuma diferença), procuram a escola da
criança, extremamente nervosos, preocupados, irritados com uma situação
narrada, naturalmente, pelo filho, ocorrida durante uma excursão, um
acampamento, parece, de responsabilidade da escola, sob a orientação de um
professor, DANIEL, magistralmente
interpretado por MARCELO VALLE,
ainda que todos ou outros atores também se saiam muito bem em suas atuações. Completa
a cena a diretora da escola, a quem, diretamente, o casal vai procurar.
E
o que ocorrera, de tão “grave”, que provocou tanta celeuma? Numa noite, durante
a excursão, o pequenino ANTÔNIO
sofrera “bullying”, por parte dos coleguinhas, por ter urinado na calça. Com a
única intenção, na qual acredito piamente, de evitar uma humilhação maior ao menino, o professor o levou para o seu quarto e cuidou dele, fazendo-o tomar
um banho e trocar as vestes. Profundamente envergonhado, exausto e abalado,
emocionalmente, a criança acabou por se deitar na cama do professor,
adormecendo. Este, então, acomodou-se mal, no chão, para, também, dormir. Esse
relato, como explicação para o fato, foi feito, da forma mais natural possível,
aos reclamantes e à sua superiora, pelo professor DANIEL.
O
que gera todo o mal-estar é uma velada acusação, em momento algum revelada
explicitamente, por parte dos pais da criança, contra o professor, de
pedofilia, uma vez que não acreditavam nas reais intenções do docente, ainda
que este tentasse explicar, da forma mais sincera e pura, o que, realmente,
acontecera e que ele não pudera evitar, por instinto de proteção à indefesa
criança, para que esta não sofresse mais.
Cria-se
uma situação delicadíssima, em que a diretora, conhecendo a boa índole
de seu funcionário, fica numa posição muito constrangedora e dividida, pois
parece acreditar nas únicas boas intenções de DANIEL, porém vê-se na obrigação de atender bem aos pais de ANTÔNIO, tentando compreender-lhes a
preocupação, ou melhor, a indignação de ambos. E os ânimos vão se acirrando, à
medida que frases são proferidas, com um sentido, e, deturpadamente,
decodificadas de outro.
Para
mim, é o melhor de todos os textos da peça. É nele, parece-me, que o autor
tenta expressar o verdadeiro sentido da palavra “AMOR”, o que não é bem compreendido pelos demais em cena. O professor,
no calor da discussão, diz que tem uma “preferência”
por ANTÔNIO, por ele ser um “menino especial”. Há uma deturpação do
sentido das palavras. O menino contara aos pais que o professor o “acariciara”, ao vê-lo deitado em sua
cama, evidentemente para deixá-lo mais calmo e se sentir protegido e AMADO. O substantivo “preferência”, o adjetivo “especial” e o verbo “acariciara” geraram uma "guerra", de
proporções inimagináveis.
Em certo
trecho, o pai pergunta, completamente descontrolado, se DANIEL tem filhos, ao que este responde afirmativamente, precisando
a quantidade: 25. Obviamente,
referindo-se aos alunos de sua classe. É emocionante e me fez quase chorar, porque,
em 47 anos de magistério, aposentado recentemente, convivi com muitos “antônios” e tive muitos outros “filhos” também, além dos meus dois biológicos, embora, felizmente,
nunca tenha passado por situação análoga àquela.
A fala do professor,
em certo momento, “Eu tenho amor pelo
seu filho”, já que, ao que parece, a criança é carente do amor de pai e mãe
biológicos, toca fundo no coração da plateia e no meu, especialmente, porque
todos sabemos que, hoje em dia, grande parte dos pais, se não for a maioria,
transfere, à escola, a função de educar e amar, verdadeiramente, seus filhos. O
professor, além de ensinar, tem de ser pai, mãe, psicólogo, padre, pastor, pai-de-santo...
Enfim, tem de substituir a família, em tudo. É triste, mas é real.
Por
ser professor e conhecer, muito de perto, essa situação, fiquei muito envolvido
pelo quadro, vendo-me passar por aquilo. Fui, virtualmente, ao palco, levado
por MARCELO VALLE / DANIEL, em
brilhante e comovente atuação.
Mas o que
contribuiu, da mesma forma, bastante, para que a cena não me saísse da cabeça foi
poder me colocar, também, como pai, na posição dos pais do menino, diante de
tantas notícias que, infelizmente, povoam as manchetes de jornais, com relação
à pedofilia, envolvendo “religiosos” e “educadores”, principalmente, as últimas
pessoas, na face da Terra, que poderíamos acreditar envolvidas numa atitude vil
desse tipo, o que, aliás, é INADMISSÍVEL
por parte de qualquer pessoa. Como não tirar a razão daquele casal? Como
fazê-los entender a profundidade do amor, puro e de instinto paternal, de um
professor por um indefeso aluno? Como fazê-los entender que, felizmente, ainda
existem pessoas de coração puro e do nível profissional de DANIEL? Como dizer a eles como deveriam amar seu filho?
Marcelo Valle, Louise Cardoso, Bianca Byington e Gustavo Machado.
“MEMÓRIA” é outra cena linda, já mencionada,
em que um marido (MARCELO VALLE)
tenta, com tenacidade, resgatar a consciência, a memória, de uma mulher (LOUISE CARDOSO) – a sua mulher -,
interna, num local para tratamento, ao que parece, de algo parecido com Alzheimer.
Ela, lá, está bem, fisicamente, porém completamente destruída, internamente,
pela falta de memória, ausente da sua própria história. Parece feliz, em função
da involuntária alienação, ao passo que ele se mostra sofredor, mas não
desesperançoso de voltarem a ter uma vida em comum, como um casal feliz, que
parecem ter sido. E a maior prova disso é que repete o mesmo ritual,
diariamente, de passear com ela, pelas dependências do hospital, assim como lhe
passa as mesmas informações, em respostas, atendendo às perguntas da mulher,
sobre o passado dos dois. Às vezes, até acontece uma relação sexual entre eles.
É triste, mas bonita, a resignação dele.
Marcelo Valle e Louise Cardoso.
Em
todos os quadros, há a participação de duplas, trios ou quartetos de atores. O
único, salvo engano, em que há uma participação de todo o elenco é o quadro
chamado “CASAMENTO”.
Um noivo
deveria se casar, em segundas núpcias, com uma mulher, na mesma condição.
Enquanto se preparam para a cerimônia, começam a vir à tona os envolvimentos
anteriores do homem com todas as outras irmãs da futura esposa. Revelações inesperadas de um passado. Foram
relacionamentos clandestinos, rápidos e descompromissados, todos em função do
apelo sensual e sexual do “dom Juan”, mas nenhum deles chegou à concretização
de uma união, porém irão interferir e impedir que o casamento, com a mulher que
ele ama, ou parece amar, aconteça. Fica, no ar, a dúvida de que possa existir,
de verdade, um amor entre os dois ou se seria, por parte do homem, uma forma de
se redimir de seus envolvimentos anteriores com as outras mulheres da família.
Ou, mesmo, se seria mais uma aventura, nas suas estatísticas “amorosas”.
É
um quadro que, a princípio, pode ser conduzido para o lado da comédia, entretanto
o patético da situação acaba por provocar um riso nervoso, por trás do qual se
esconde uma reprovação do público, sempre disposto a julgar e a jogar a primeira
pedra.
A
crítica à parte técnica da peça, propriamente, começa aqui, quando exalto a
interpretação do excelente e bem escalado elenco, seja para o espetáculo, no
todo, seja para cada um dos quadros. Todos, sem exceção, (em ordem alfabética), BIANCA BYINGTON, GUSTAVO
MACHADO, LOUISE CARDOSO, MARCELO VALLE, REINER TENENTE, SOLANGE
BADIM e VERÔNICA DEBOM, têm
atuações excelentes e marcantes e, cada um tem direito a seus momentos de
maior destaque. Não gostaria de realçar o trabalho de nenhum dos sete, entretanto,
por motivos os mais diversos, encantaram-me mais, no geral, as interpretações
de BIANCA BYINGTON, GUSTAVO MACHADO, MARCELO VALLE e SOLANGE
BADIN, esta, ainda, encantando nos números musicais.
O elenco: Marcelo Valle, Bianca Byington, Gustavo Machado,
Solange Badim, Verônica Debom, Reiner Tenente e Louise Cardoso.
JOÃO FONSECA assina mais uma de suas
boas direções, imprimindo um ritmo e
o tom adequados a cada cena/quadro/história/situação, procurando traduzir todas
as intenções do autor do texto, com
bastante naturalidade e verdade cênica. JOÃO
indica o caminho certo para a construção de cada cena, totalmente cônscio de
sua responsabilidade, obtendo um produto final de excelente qualidade.
Muito
me agradou o cenário, de NELLO MARRESE,
formado por apenas quatro biombos, uma porta e quatro cadeiras, as quais pouco
são utilizadas em cena e ficam, a maior parte do tempo, no que se pode chamar
de “coxia”, naquele teatro. Tudo muito prático, em função das pequenas
dimensões do palco, entretanto muito nem explorado pela direção, nas várias configurações que assumem as peças cênicas.
Gustavo Machado, Bianca Byington e Louise Cardoso.
Para
ANTÔNIO GUEDES, responsável pelos figurinos da peça, deve ter sido uma
tarefa bastante árdua, um grande desafio, desenhar tantos modelos, para 47
diferentes personagens, sendo que deveriam ser práticos, uma vez que as trocas
são muito rápidas. Com seu imenso talento, GUEDES
deu conta do recado e criou modelos totalmente adequados às cenas, sem grandes
apelos visuais, mas dentro dos padrões exigidos pelo texto e por cada situação.
Profissional
de largo reconhecimento, detentor de tantos prêmios, RENATO MACHADO merece um destaque por mais um excelente trabalho de
iluminação.
O
nome de LEANDRO CASTILHO não deve
ser omitido nesta crítica, já que sua direção
musical é excelente, criando climas diversos, que cada cena exige.
JOËL POMMERAT entrou no Brasil pela
porta da frente, caminhando sobre um "tapis rouge", o que muito se deve, além
de seu primoroso texto, a uma
excelente produção, assim como uma direção perfeita e um elenco de primeira linha.
"A REUNIFICAÇÃO DAS DUAS COREIAS" está, e continuará, fazendo,
com certeza, uma bela carreira entre nós!
Marcelo Valle e Solange Badim.
FICHA TÉCNICA:
Texto:
Joël Pommerat
Tradução:
Bia Ittah
Direção:
João Fonseca
Direção
de produção: Maria Siman e Ana Lelis
Elenco: Louise
Cardoso, Bianca Byington, Solange Badim, Marcelo Valle, Gustavo Machado, Verônica
Debom e Reiner Tenente
Luz:
Renato Machado
Figurinos:
Antônio Guedes
Cenários:
Nello Marrese
Direção
Musical: Leandro Castilho
Assistente
de Direção: Reiner Tenente e Pedro Pedruzzi
Produção
Executiva e Administração: Ana Lelis
Assessoria
de Imprensa: Lu Nabuco Assessoria em Comunicação
Designer
Gráfico e Fotos: Victor Hugo Ceccato
Realização:
Primeira Página Produções
SERVIÇO:
Temporada:
De 24 de junho a 28 de agosto
Local: Oi Futuro Flamengo - Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo – Rio
de Janeiro
Dias e Horários: De 5ª feira a domingo, às 20h
Valor
do Ingressos: R$30,00 (meia-entrada, para quem fizer jus ao benefício previsto
por lei)
Telefone da Bilheteria: 3131-3070
Gênero:
Comédia dramática
Classificação
Etária: 12 anos
Vendas Online: ingresso.com
Louise Cardoso e Reiner Tenente.
Joël Pommerat (autor do texto) e João Fonseca (diretor).
(FOTOS: VICTOR HUGO CECCATO.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário