sexta-feira, 8 de abril de 2016


A VIDA DELA

 

 

(“MAS LOUCO É QUEM ME DIZ

E NÃO É FELIZ, NÃO É FELIZ”

– Arnaldo Baptista e Rita Lee.)

 

(SERÁ?!...)

 

 

 


 

 

 

 

            Adoro ser presenteado com boas surpresas, sempre que vou ao TEATRO. Quando me dispus a assistir ao espetáculo “A VIDA DELA”, em cartaz, infelizmente, apenas até o próximo domingo, dia 10 (VER SERVIÇO), não sabia quão feliz sairia da pequena Sala Multiuso do Espaço SESC, por ter assistido a uma ótima e surpreendente encenação.

 

Conheço o trabalho individual dos três ótimos atores que fazem parte do elenco - ISABEL GUÉRON, RODOLFO MESQUITA E VANDRÉ SILVEIRA -, aprecio bastante as assinaturas de direção de DELSON ANTUNES, mas não me lembrava de ter assistido a alguma peça de PRISCILA GONTIJO, que assina o texto e de quem me tornei um grande admirador.

 

Com base no “release”, adaptado, enviado pela assessora de imprensa Lyvia Rodrigues (Aquela Que Divulga), a peça foi escrita em 2011, para atender a um projeto de atriz IZABEL GUÉRON, e retrata as angústias do reencontro entre três irmãos numa família disfuncional.

 

 

 


Vandré Silveira, de pé;

sentados, Izabel Guéron e Rodolfo Mesquita.

 

 

 

 
SINOPSE:
 
 
“A VIDA DELA” é uma comédia dramática sobre o reencontro de três irmãos.  IZABEL (IZABEL GUÉRON), uma professora de artes, especialista em teatro do absurdo, escreve textos teatrais, que nunca foram encenados e JONAS (VANDRÉ SILVEIRA), cineasta, sobrevive de filmes publicitários. Um dia, eles recebem um telefonema do pai, que os informa de que o irmão caçula, EDUARDO (RODOLFO MESQUITA), engenheiro desempregado, está com um distúrbio mental grave, marcado pelo conflito com a realidade, e que apenas eles podem ajudá-lo.
 
Isso faz com que os três irmãos retornem à casa paterna e ao convívio diário, o que não ocorria desde a infância, com o trio tendo que lidar com as excentricidades um do outro.
 
Esse reencontro abre aquele doloroso arquivo afetivo, que eles gostariam de manter fechado. Na situação, porém, não há como se esquivar. É essa convivência intricada que a peça aborda.
 
Por mais árduo que seja, há reciprocidade aqui e, também, afeto. 
 
O pai, escritor, se faz presente, apenas, pelo som, ininterrupto, de sua máquina de escrever e não se permite ser interrompido.
 

 

 

 


Jonas discute com Izabel.

 

 

IZABEL, a personagem, carrega uma mala, cheia de adereços cenográficos; JONAS leva o iPad, para editar seu novo filme publicitário; o pai tranca-se no quarto, junto de sua antiga Olivetti. EDUARDO é o caçula solitário, que rompeu com as tradições familiares. Ele só possui um amigo, o eletricista que conserta o fio de alta tensão da rua. EDUARDO é o único irmão que não cumpriu a “sina” artística e que está à margem da família e da própria sociedade.

 

Nesse reencontro, traumas e ressentimentos vêm à tona e o que parecia ser a crise de apenas um dos irmãos reverbera em todos.

 

PRISCILA GONTIJO consegue, com seu texto ácido e bem humorado, expor as agruras do ser humano contemporâneo, equilibrando-se entre seus desejos e cobranças sociais. O que esperamos da vida? O que esperam de nós? “Essas questões surgem no ambiente familiar, entre irmãos, que se tornam cúmplices, mesmo quando não querem. Certas coisas só um irmão é capaz de entender. O texto é sobre isso também”, conclui PRISCILA.

 

 

 

 O projeto do espetáculo foi idealizado pela atriz Isabel Gueron

Os dois, egoisticamente, só fazem discutir sobre

quem poderia ficar cuidando de Eduardo,

se é que tinham condições para isso.

 

 

            Utilizando uma rede social, conversei com PRISCILA, a quem, infelizmente, não conheço pessoalmente, curioso que estava por saber o que a motivou a escrever esse excelente texto, se havia algum motivo especial para a escolha e o que ela esperava da reação do público.

 

De forma muito solícita e gentil, ela me respondeu que o tema da loucura perpassa todas as suas peças, que é algo do seu universo íntimo e também das reminiscências de uma infância incomum, onde conviveu, frente a frente, com alguns fantasmas. Segundo ela, “como escreveu Nelson Rodrigues, esse tema é a minha flor de obsessão”.

 

 

 


 

 

 

Acrescentou que, desde criança, ia, aos domingos, com a mãe, visitar uma das tias, diagnosticada como esquizofrênica paranóica. Outra sofria de psicose maníaco-depressiva, como a doença era chamada, naquela época, hoje, conhecida como transtorno bipolar, salvo engano. Isso significava que existia o fantasma da loucura entre as mulheres da casa.

 

PRISCILA sempre se sentiu intrigada e atraída pela fronteira entre a lucidez e a loucura e, mais tarde, entre o teatro e a realidade.

 

Perguntas que fazia a si mesma: O que seria estar fora dos padrões de normalidade? O que é ser normal?

 

Tais perguntas ficaram nela e, repetindo suas palavras, “se algo me atravessa, preciso escrever”.

 

Com relação ao texto de “A VIDA DELA”, o seu desafio era escrever o encontro entre irmãos, com um que rompeu a barreira, que saiu, digamos, dessa caixa, que chamamos “normalidade”, e a reação dos outros, aparentemente "normais", diante disso. Ela não queria cair no drama e nem no sentimentalismo. O maior desafio, ao se sentar, para escrever, era elaborar algo denso, mas com o filtro do humor (daí a classificação de “comédia dramática”), “porque o humor salva e nos redime das angústias mais pungentes, tudo isso, com delicadeza, sem vulgarizar o tema. Humor com ternura”.

 

Para elaborar o texto e dar-lhe a forma final, a dramaturga precisou de meses sozinha, observando, escutando-se e escutando ao outro, provocando-se, principalmente, para chegar a uma estrutura que mobilizasse essas camadas.

 

O motivo especial para a abordagem do tema, mais do que isso, um desejo, era “mexer no vespeiro, trazer, à tona, temas tabus, rever preconceitos refletir sobre o que consideramos como insanidade e como normalidade”. Para isso, utilizou, como dois de seus personagens, artistas, que vivem dentro da ficção, “já que todo autor é um pouco obsessivo com a criação”.

 

 

 


 

 

 

Durante sua vida inteira, PRISCILA conviveu com escritores. Otto Lara Resende, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Henfil frequentavam a sua casa e ela não conseguia dormir, para poder ficar escutando as histórias. Hoje, diz que tem insônia e não pode dormir sem ler, herança de sua infância.

 

Por conta disso, acrescentou que sua vida ficou mais próxima da ficção do que da realidade. “Uns loucos, outros autores. E os pés no chão? Não havia chão. E dei a mão para os autores, para sobreviver. Mas autores como Kafka e Dostoiévski. Me alfabetizei assim, pois a minha realidade era muito estranha”.

 

            Com sua peça “A VIDA DELA”, a autora espera provocar, no espectador, apenas a retirada do véu da indiferença, sabendo que é isso é muito, mas espera, ao menos, que cada um que assistir ao espetáculo possa “refletir sobre a nossa ‘vista cansada’, que, muitas vezes, aceita, como verdade, coisas que podem ter outras leituras”. Gostaria a brilhante dramaturga de que cada espectador pudesse sair do teatro com perguntas, encarando os próprios fantasmas.

 

Terminou nosso breve bate-papo, dizendo que “Todos nós somos um pouco loucos. E até acredito, que, nos dias que correm, ser normal é a maior loucura!”

 

Creio que PRISCILA atinge seus objetivos, com este texto, dirigido, de forma excelente, por DELSON ANTUNES, com supervisão de WALTER LIMA JR. e magistralmente representado por um trio de atores, com ótimos trabalhos em seus currículos, artistas que, no projeto, se entregaram, completamente, à proposta e mergulharam nas profundezes dos seus personagens, culminando todos os esforços num belo espetáculo de TEATRO, que merece ser visto por um grande público, quantitativamente falando, o que nos leva a desejar que uma nova, e mais longa, temporada se faça acontecer.

 

Realço, nesta montagem, como já disse, no parágrafo anterior a atuação dos atores.

 

 

 

A Vida Dela

Da esquerda para a direita, Vandré Silveira,

Izabel Guéron e Rodolfo Mesquita.

 

 

 

IZABEL GUÉRON, representa seu melhor papel, sabendo alternar momentos que mexem com a percepção do espectador e o levam a um exercício, com o objetivo de entender se determinadas atitudes e/ou falas fazem parte do universo da “normalidade” ou se é uma consequência de uma “contaminação”, transmitida por EDUARDO, personagem de RODOLFO MESQUITA.

 

RODOLFO, com toda certeza, na minha visão, está vivendo seu melhor momento no palco, de todos os muitos trabalhos do ator a que já tive a oportunidade de assistir. Dos três personagens, por sua fragilidade interior, creio eu, e, até mesmo, uma certa dose de pureza, é o que mais conquista a simpatia do público (Ou seria piedade? Não sejamos loucos!), talvez, também, por ser o que carrega a maior dose de humor. Acho que todos os que assistem ao espetáculo gostariam de estar no lugar de IZABEL GUÉRON, na linda e emocionante cena em que é EDUARDO é acalentado pela irmã, aconchegado em seu colo. Não foi outro o meu desejo, confesso.

 

 

 

A vida dela - crédito Fernanda Tomaz2

Linda cena!

 

 

 

Quanto ao trabalho de VANDRÉ SILVEIRA, como já disse, também é ótimo - bem nivelados os três atores -, em termos de interpretação. Embora o personagem tenha “escapado da caixa”, parece que a loucura é genética naquela família (o pai também não foge à regra) e, embora, aparentemente, o JONAS tente não demonstrar o seu quinhão de loucura, esta escorre pelos dedos de suas mãos fechadas, expondo-se à assistência, o que demanda, por parte do ator, um trabalho muito delicado e competente. Por mais que sejam díspares, os dois personagens, sempre que estava em cena, sua imagem me remetia ao maior momento, até agora, de sua carreira, que foi o personagem John Merrick, de “O Homem Elefante”.

 

Contribuem, sobremaneira, para que eu recomende o espetáculo, o bom cenário, de JOSÉ DIAS, a ótima iluminação, de FERNANDA MANTOVANI e TIAGO MANTOVANI, a correta trilha sonora, de RODRIGO MARANHÃO, o figurino, de LUIZA MARCIER e a direção de movimento, de ANA BEVILACQUA.

 

Não posso me conformar com aquela frase, mais que batida, que diz que “o que é bom dura pouco” e espero que cada um dos que me leem seja um apoiador do espetáculo, entrando no link www.catarse.me/avidadela, contribuindo, com o mínimo que seja, para que o espetáculo consiga se manter em outras temporadas.

 

 

 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Priscila Gontijo
Direção: Delson Antunes
Assistente de Direção: Renata Caldas
Consultoria: Walter Lima Jr. 
 
Elenco: Isabel Guéron (Izabel), Rodolfo Mesquita (Eduardo) e Vandré Silveira (Jonas)
 
Trilha Sonora: Rodrigo Maranhão
Iluminação: Fernanda Mantovani e Tiago Mantovani
Cenário: José Dias
Figurino: Luiza Marcier
Direção de Movimento: Ana Bevilacqua
Programação Visual: Gio Vaz 
Fotos: Fernanda Tomaz
Assessoria de imprensa: Aquela Que Divulga
Produção: Pagu Produções Culturais 
 

 

 

 


Izabel e Eduardo.

 

 

 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 25 de março a 10 de abril de 2016.
Local:  Espaço Sesc  (Sala Multiuso).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – Rio de Janeiro.
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 6ª feira a dom, das 15h às 21h.
Telefone: 2548-1088
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às  19h; domingo, às 18h. 
Valor do Ingresso: R$20,00 (inteira); R$10,00 (meia-entrada); R$5,00 (associados do SESC).
Recomendação Etária: 14 anos
Duração: 80 minutos
Capacidade: 50 lugares
 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

(FOTOS: FERNANDA TOMAZ.)

 

 

 

 

 

 

 

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
A VIDA DELA
 
 
(“MAS LOUCO É QUEM ME DIZ
E NÃO É FELIZ, NÃO É FELIZ”
– Arnaldo Baptista e Rita Lee.)
 
(SERÁ?!...)
 
 
 
 
 
 
 
            Adoro ser presenteado com boas surpresas, sempre que vou ao TEATRO. Quando me dispus a assistir ao espetáculo “A VIDA DELA”, em cartaz, infelizmente, apenas até o próximo domingo, dia 10 (VER SERVIÇO), não sabia quão feliz sairia da pequena Sala Multiuso do Espaço SESC, por ter assistido a uma ótima e surpreendente encenação.
 
Conheço o trabalho individual dos três ótimos atores que fazem parte do elenco - ISABEL GUÉRON, RODOLFO MESQUITA E VANDRÉ SILVEIRA -, aprecio bastante as assinaturas de direção de DELSON ANTUNES, mas não me lembrava de ter assistido a alguma peça de PRISCILA GONTIJO, que assina o texto e de quem me tornei um grande admirador.
 
Com base no “release”, adaptado, enviado pela assessora de imprensa Lyvia Rodrigues (Aquela Que Divulga), a peça foi escrita em 2011, para atender a um projeto de atriz IZABEL GUÉRON, e retrata as angústias do reencontro entre três irmãos numa família disfuncional.
 
 
 
Vandré Silveira, de pé;
sentados, Izabel Guéron e Rodolfo Mesquita.
 
 
 
 
SINOPSE:
 
 
“A VIDA DELA” é uma comédia dramática sobre o reencontro de três irmãos.  IZABEL (IZABEL GUÉRON), uma professora de artes, especialista em teatro do absurdo, escreve textos teatrais, que nunca foram encenados; JONAS (VANDRÉ SILVEIRA), cineasta, sobrevive de filmes publicitários. Um dia, eles recebem um telefonema do pai, que os informa de que o irmão caçula, EDUARDO (RODOLFO MESQUITA), engenheiro desempregado, está com um distúrbio mental grave, marcado pelo conflito com a realidade, e que apenas eles podem ajudá-lo.
 
Isso faz com que os três irmãos retornem à casa paterna e ao convívio diário, o que não ocorria desde a infância, com o trio tendo que lidar com as excentricidades um do outro.
 
Esse reencontro abre aquele doloroso arquivo afetivo, que eles gostariam de manter fechado. Na situação, porém, não há como se esquivar. É essa convivência intricada que a peça aborda.
 
Por mais árduo que seja, há reciprocidade aqui e, também, afeto. 
 
O pai, escritor, se faz presente, apenas, pelo som, ininterrupto, de sua máquina de escrever e não se permite ser interrompido.
 
 
 
 
Jonas discute com Izabel.
 
 
IZABEL, a personagem, carrega uma mala, cheia de adereços cenográficos; JONAS leva o iPad, para editar seu novo filme publicitário; o pai tranca-se no quarto, junto de sua antiga Olivetti. EDUARDO é o caçula solitário, que rompeu com as tradições familiares. Ele só possui um amigo, o eletricista que conserta o fio de alta tensão da rua. EDUARDO é o único irmão que não cumpriu a “sina” artística e que está à margem da família e da própria sociedade.
 
Nesse reencontro, traumas e ressentimentos vêm à tona e o que parecia ser a crise de apenas um dos irmãos reverbera em todos.
 
PRISCILA GONTIJO consegue, com seu texto ácido e bem humorado, expor as agruras do ser humano contemporâneo, equilibrando-se entre seus desejos e cobranças sociais. O que esperamos da vida? O que esperam de nós? “Essas questões surgem no ambiente familiar, entre irmãos, que se tornam cúmplices, mesmo quando não querem. Certas coisas só um irmão é capaz de entender. O texto é sobre isso também”, conclui PRISCILA.
 
 
 
 O projeto do espetáculo foi idealizado pela atriz Isabel Gueron
Os dois, egoisticamente, só fazem discutir sobre
quem poderia ficar cuidando de Eduardo,
se é que tinham condições para isso.
 
 
            Utilizando uma rede social, conversei com PRISCILA, a quem, infelizmente, não conheço pessoalmente, curioso que estava por saber o que a motivou a escrever esse excelente texto, se havia algum motivo especial para a escolha e o que ela esperava da reação do público.
 
De forma muito solícita e gentil, ela me respondeu que o tema da loucura perpassa todas as suas peças, que é algo do seu universo íntimo e também das reminiscências de uma infância incomum, onde conviveu, frente a frente, com alguns fantasmas. Segundo ela, “como escreveu Nelson Rodrigues, esse tema é a minha flor de obsessão”.
 
 
 
 
 
 
Acrescentou que, desde criança, ia, aos domingos, com a mãe, visitar uma das tias, diagnosticada como esquizofrênica paranóica. Outra sofria de psicose maníaco- depressiva, como a doença era chamada, naquela época, hoje, conhecida como transtorno bipolar, salvo engano. Isso significava que existia o fantasma da loucura entre as mulheres da casa.
 
PRISCILA sempre se sentiu intrigada e atraída pela fronteira entre a lucidez e a loucura e, mais tarde, entre o teatro e a realidade.
 
Perguntas que fazia a si mesma: O que seria estar fora dos padrões de normalidade? O que é ser normal?
 
Tais perguntas ficaram nela e, repetindo suas palavras, “se algo me atravessa, preciso escrever”.
 
Com relação ao texto de “A VIDA DELA”, o seu desafio era escrever o encontro entre irmãos, com um que rompeu a barreira, que saiu, digamos, dessa caixa, que chamamos “normalidade”, e a reação dos outros, aparentemente "normais", diante disso. Ela não queria cair no drama e nem no sentimentalismo. O maior desafio, ao se sentar, para escrever, era elaborar algo denso, mas com o filtro do humor (daí a classificação de “comédia dramática”), “porque o humor salva e nos redime das angústias mais pungentes, tudo isso, com delicadeza, sem vulgarizar o tema. Humor com ternura”.
 
Para elaborar o texto e dar-lhe a forma final, a dramaturga precisou de meses sozinha, observando, escutando-se e escutando ao outro, provocando-se, principalmente, para chegar a uma estrutura que mobilizasse essas camadas.
 
O motivo especial para a abordagem do tema, mais do que isso, um desejo, era “mexer no vespeiro, trazer, à tona, temas tabus, rever preconceitos refletir sobre o que consideramos como insanidade e como normalidade”. Para isso, utilizou, como dois de seus personagens, artistas, que vivem dentro da ficção, “já que todo autor é um pouco obsessivo com a criação”.
 
 
 
 
 
 
Durante sua vida inteira, PRISCILA conviveu com escritores. Otto Lara Resende, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Henfil frequentavam a sua casa e ela não conseguia dormir, para poder ficar escutando as histórias. Hoje, diz que tem insônia e não pode dormir sem ler, herança de sua infância.
 
Por conta disso, acrescentou que sua vida ficou mais próxima da ficção do que da realidade. “Uns loucos, outros autores. E os pés no chão? Não havia chão. E dei a mão para os autores, para sobreviver. Mas autores como Kafka e Dostoiévski. Me alfabetizei assim, pois a minha realidade era muito estranha”.
 
            Com sua peça “A VIDA DELA”, a autora espera provocar, no espectador, apenas a retirada do véu da indiferença, sabendo que é isso é muito, mas espera, ao menos, que cada um que assistir ao espetáculo possa “refletir sobre a nossa ‘vista cansada’, que, muitas vezes, aceita, como verdade, coisas que podem ter outras leituras”. Gostaria a brilhante dramaturga de que cada espectador pudesse sair do teatro com perguntas, encarando os próprios fantasmas.
 
Terminou nosso breve bate-papo, dizendo que “Todos nós somos um pouco loucos. E até acredito, que, nos dias que correm, ser normal é a maior loucura!”
 
Creio que PRISCILA atinge seus objetivos, com este texto, dirigido, de forma excelente, por DELSON ANTUNES, com supervisão de WALTER LIMA JR. e magistralmente representado por um trio de atores, com ótimos trabalhos em seus currículos, artistas que, no projeto, se entregaram, completamente, à proposta e mergulharam nas profundezes dos seus personagens, culminando todos os esforços num belo espetáculo de TEATRO, que merece ser visto por um grande público, quantitativamente falando, o que nos leva a desejar que uma nova, e mais longa, temporada se faça acontecer.
 
Realço, nesta montagem, como já disse, no parágrafo anterior a atuação dos atores.
 
 
 
A Vida Dela
Da esquerda para a direita, Vandré Silveira,
Izabel Guéron e Rodolfo Mesquita.
 
 
 
IZABEL GUÉRON, representa seu melhor papel, sabendo alternar momentos que mexem com a percepção do espectador e o levam a um exercício, com o objetivo de entender se determinadas atitudes e/ou falas fazem parte do universo da “normalidade” ou se é uma consequência de uma “contaminação”, transmitida por EDUARDO, personagem de RODOLFO MESQUITA.
 
RODOLFO, com toda certeza, na minha visão, está vivendo seu melhor momento no palco, de todos os muitos trabalhos do ator a que já tive a oportunidade de assistir. Dos três personagens, por sua fragilidade interior, creio eu, e, até mesmo, uma certa dose de pureza, é o que mais conquista a simpatia do público (Ou seria piedade? Não sejamos loucos!), talvez, também, por ser o que carrega a maior dose de humor. Acho que todos os que assistem ao espetáculo gostariam de estar no lugar de IZABEL GUÉRON, na linda e emocionante cena em que é EDUARDO é acalentado pela irmã, aconchegado em seu colo. Não foi outro o meu desejo, confesso.
 
 
 
A vida dela - crédito Fernanda Tomaz2
Linda cena!
 
 
 
Quanto ao trabalho de VANDRÉ SILVEIRA, como já disse, também é ótimo - bem nivelados os três atores -, em termos de interpretação. Embora tenha “escapado da caixa”, parece que a loucura é genética naquela família (o pai também não foge à regra) e, embora, aparentemente, o personagem tente não demonstrar o seu quinhão de loucura, esta escorre pelos dedos de suas mãos fechadas, expondo-se à assistência, o que demanda, por parte do ator, um trabalho muito delicado e competente. Por mais que sejam díspares, o seu JONAS sempre me remetia ao maior momento, até agora, de sua carreira, que foi o personagem John Merrick, de “O Homem Elefante”.
 
Contribuem, sobremaneira, para que eu recomende o espetáculo, o bom cenário, de JOSÉ DIAS, a ótima iluminação, de FERNANDA MANTOVANI e TIAGO MANTOVANI, a correta trilha sonora, de RODRIGO MARANHÃO, o figurino, de LUÍSA MARCIER e a direção de movimento, de ANA BEVILACQUA.
 
Não posso me conformar com aquela frase, mais que batida, que diz que “o que é bom dura pouco” e espero que cada um dos que me leem seja um apoiador do espetáculo, entrando no link www.catarse.me/avidadela, contribuindo, com o mínimo que seja, para que o espetáculo consiga se manter em outras temporadas.
 
 
 
 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Priscila Gontijo
Direção: Delson Antunes
Assistente de Direção: Renata Caldas
Consultoria: Walter Lima Jr. 
 
Elenco: Isabel Gueron  (Izabel)
             Rodolfo Mesquita (Eduardo)
             Vandré Silveira (Jonas)
 
Trilha Sonora: Rodrigo Maranhão
Iluminação: Fernanda Mantovani e Tiago Mantovani
Cenário: José Dias
Figurino: Luisa Marcier
Direção de Movimento: Ana Bevilacqua
Programação Visual: Gio Vaz 
Fotos: Fernanda Tomaz
Assessoria de imprensa: Aquela Que Divulga
Produção: Pagu Produções Culturais 
 
 
 
 
Izabel e Eduardo.
 
 
 
 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 25 de março a 10 de abril de 2016.
Local:  Espaço Sesc  (Sala Multiuso).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – Rio de Janeiro.
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 6ª feira a dom, das 15h às 21h.
Telefone: 2548-1088
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às  9h; domingo, às 18h. 
Valor do Ingresso: R$20,00 (inteira); R$10,00 (meia-entrada); R$5,00 (associados do SESC).
Recomendação Etária: 14 anos
Duração: 80 minutos
Capacidade: 50 lugares
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(FOTOS: FERNANDA TOMAZ.)
 
 
 
 
 
 
 
           
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

 

 

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