O BRANCO DOS SEUS OLHOS
(AGRADABILÍSSIMA SURPRESA
PARA O ENCERRAMENTO DE UM ANO TEATRAL.)
É
natural que os atores, falando de um espetáculo que estão ensaiando, para futura
estreia, se manifestem estusiasticamente, porém, poucas vezes, vi uma atriz
demonstrar tanto prazer e expectativa por um trabalho como AMANDA VIDES VERAS se manifestou comigo, duas ou três vezes em que
nos encontramos, enquanto ensaiava O
BRANCO DOS SEUS OLHOS, espetáculo surpreendente, que está em cartaz no Espaço SESC Copacabana (Sala Multiuso),
em curtíssima temporada de apenas três semanas, terminando em 21 de dezembro / 2014, no próximo domingo.
SINOPSE:
Após uma temporada na
Argentina, o casal RAQUEL (KARINE
TELES) e LAURO (FABIANO NUNES),
volta ao Brasil e lida com a descoberta, por parte de RAQUEL, de uma possível traição de LAURO com uma amiga sua, de infância, KARINA (AMANDA VIDES VERAS).
Como a traição “teria
ocorrido” apenas no âmbito virtual, o espetáculo traz à tona uma reflexão sobre
as novas relações amorosas, a partir da internet e suas redes sociais.
RAQUEL, extremamente racional, metódica, sarcástica,
autoritária, é uma alta executiva, que faz carreira, de forma insólita, num banco
falido. LAURO, sensível, acomodado (até certo ponto), pacífico e cordato,
submisso, por vezes, até que lhe atinjam um elástico limite de tolerância, é um dançarino contemporâneo, que deixa
o país e a carreira, para acompanhar a esposa, dez anos mais velha, a um país
estranho. Lá, a relação começa a
se deteriorar. Ela prefere a reclusão no
lar, enquanto ele busca estabelecer novas relações na cidade, com o intuito de
conseguir se fazer conhecer e conseguir trabalho, para deixar de depender da
esposa. O distanciamento de interesses
causa uma profunda insegurança em RAQUEL,
que, para prendê-lo mais a si, e para não perdê-lo, lhe faz uma proposta:
financiar um espetáculo-solo do marido, promovendo o lançamento de sua
carreira.
O texto brinca com o tempo, real e psicológico, e mostra cenas do
encontro entre as duas “rivais’ no apartamento do casal, no Rio de Janeiro, e
outras, de “flashback”, mostrando o dia a dia do casal em Buenos Aires.
Durante todo o tempo da ação, no Brasil, LAURO é aguardado, no apartamento, por KARINA, uma fabricante de chás artesanais, que não sabe de um “pequeno
detalhe”, o qual não deve ser mencionado, nesta resenha, para não roubar, ao
espectador, o prazer da surpresa preparada para a plateia, nos dez últimos
minutos da peça.
Enquanto é destratada e humilhada por RAQUEL, KARINA só tenta se
defender da acusação de traição.
Karina, Lauro e Raquel.
O
espetáculo surpreende por vários motivos.
Um deles é o excelente texto,
o primeiro para TEATRO, do jovem
roteirista de TV ÁLVARO CAMPOS,
contanto com a luxuosa supervisão do talento da premiadíssima JÚLIA SPADACCINI. O espectador vai sendo conduzido a um raciocínio,
que desmorona, com uma grande surpresa, ao final da peça. São excelentes os diálogos, dinâmicos e
vivos. Para quem se inicia na
dramaturgia teatral, ÁLVARO acertou
em cheio e se credencia a outros voos.
Outro aspecto que agrega
valor a esta encenação é a ótima direção
de ALEXANDRE MELLO, que acumula mais
de duas décadas de experiência no teatro, com algumas indicações a prêmios. ALEXANDRE
imprime um ritmo ao espetáculo, que vai num crescendo, prendendo a atenção do
espectador, sem, contudo, apelar para os clichês que costumam ser utilizados
com o objetivo de gerar suspense. É
exatamente isso que valoriza a grande surpresa do clímax da peça. De forma brilhante, soube explorar o espaço físico
em que a história é contada, criando interferências de um espaço no outro, sem
tornar nada confuso.
Um ótimo texto e uma brilhante
direção não são capazes de garantir a qualidade de um espetáculo, se o elenco não for de primeira linha. Aqui, o trio é formado por três excelentes profissionais,
perfeitamente nivelados e mergulhados em seus personagens, o que gera um
trabalho digno de todos os elogios.
Amanda, Karine e
Fabiano.
KARINE TELES, que vi, recentemente, atuando num equivocado “espetáculo”
(Carne, no CCBB), ao qual não sei se
devo chamar de “teatro”, dá uma belíssima aula de atuação, na pele de sua RAQUEL.
A atriz parece brincar com a personagem, a qual representa com uma
naturalidade poucas vezes vista em cena.
Há momentos em que não parece teatro, tamanha é a verdade como são ditas
suas falas, quer contracenando com AMANDA,
quer com FABIANO. Uma ótima atriz, pouco conhecida do grande público,
mas que já entrou para a minha galeria de favoritas.
Karine Teles.
AMANDA VIDES VERAS já ocupa um posto, nessa mesma galeria, desde
que a vi, pela primeira vez, e mais de uma vez, no espetáculo Uma Vida Boa, por cujo trabalho foi
indicada a prêmios. AMANDA é uma atriz de grandes possibilidades, de múltiplos recursos
e, nesta peça, surpreende, na pele de alguém que demonstra uma fragilidade,
oculta por um sentimento de vingança.
Sabe angariar a simpatia do público e não a perde, mesmo quando da
revelação final do texto. Carisma e
talento não faltam a esta jovem grande atriz.
Amanda Vides
Veras.
FABIANO NUNES, além de bom ator, tem uma presença em cena que me
hipnotizou, desde sua primeira aparição, e assim foi até o final da peça, em
todas as cenas em que dança. Seus gestos,
leves e harmoniosos, demonstram que, ali, naquele trabalho, houve muita preparação
e empenho. Desliza e quase flutua, com
uma leveza que faz bem aos olhos e à alma.
Fiquei encantado com o trabalho deste jovem ator. A princípio, julguei que seu personagem fosse
um mero coadjuvante, o que constatei não ser verdade, ao longo da peça. Não é qualquer ator/dançarino que faria bem o
papel de LAURO, muito bem defendido
por FABIANO.
Fabiano Nunes.
Este espetáculo é uma
prova de que uma produção modesta pode ganhar vulto, quando é bem cuidada e
cercada de excelentes profissionais, como são PAULO FRANCISCO PAES, responsável pela trilha original e direção
musical; ELISA FALHAUBER, que
assina os figurinos; PAULA MARACAJÁ, responsável pela bela coreografia e pela preparação corporal; GABRIELA
IMELK, na direção de produção; e
PABLO SANÁBIO, produtor associado.
A dança que
encanta.
Discutindo a
relação.
Um espetáculo como O BRANCO DOS SEUS OLHOS não pode ocupar
uma pauta de apenas três semanas. Há uma
expectativa de nova temporada, em janeiro e fevereiro, em outro teatro da zona
sul, entretanto não espere pela segunda oportunidade. Vá, correndo, ao Espaço SESC Copacabana, e confira o que estou dizendo.
É bem provável
que você até se surpreenda até mais do que eu.
Descontração, após
a tensão.
FICHA TÉCNICA:
Autor: Álvaro Campos
Direção: Alexandre Mello
Supervisão de Dramaturgia: Júlia Spadaccini
Elenco: Amanda Vides Veras (Karina), Fabiano Nunes (Lauro) e Karine
Teles (Raquel)
Trilha Sonora e Direção Musical: Paulo Francisco Paes
Figurinos: Elisa Falhauber
Coreografia e Preparação Corporal: Paula Maracajá
Fotografia: Ana Rovati
Direção de Produção: Gabriela Imelk
Produtor Associado: Pablo Sanábio
SERVIÇO:
Espaço SESC Copacabana – Sala Multiuso – Rua Domingos
Ferreira, 160, Copacabana. Tel.: 2547-0156.
Ingressos: R$ 5 (associados do Sesc), R$ 10
(estudantes e idosos) e R$ 20 (inteira).
Temporada: Até 21 de dezembro.
Horários: quinta-feira a sábado, às 19h; domingo, às
18h.
Capacidade: 80 lugares
Classificação etária: 14 anos
Duração: 75 min
Gênero: Drama
(FOTOS:
ANA ROVATI)
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