ADORÁVEL
GAROTO
(UM BELO
ESPETÁCULO-SURPRESA!)
Está em cartaz, no Mezanino
do Espaço SESC (Copacabana), até o dia 16 de novembro (2014) um
espetáculo que merece recomendação: ADORÁVEL
GAROTO (Beautiful Child).
Trata-se
da estreia, como diretora, de MARIA MAYA,
que, de forma muito “ousada”, foi buscar logo um texto de NICKY SILVER, um dos mais festejados dramaturgos da atualidade, nos
Estados Unidos, para dar o pontapé inicial na sua nova carreira de diretora,
que espero acumule com a de atriz.
Mas, como dizia minha avó, só pode
“ousar” “quem tem garrafa vazia pra vender”.
Traduzindo, para aqueles que não tiveram uma avó sábia, como a minha, e
que adorava ditos populares e frases feitas, só com competência, vale a pena
arriscar. Isso, é cereto, MARIA
provou que tem, nesta sua primeira experiência em direção.
O autor
do texto já é bem conhecido, no Brasil, por algumas peças aqui encenadas, como “Os Altruístas”, “Homens
Gordos de Saia” e “Criados em
Cativeiro”. Mas seu nome, entre nós, está
mais ligado a Pterodátilos, montagem
protagonizada por Marco Nanini, que
foi muito premiada e deixou ótimas lembranças aos amantes do bom TEATRO.
NICKY, como MARIA,
também é ousado em seus temas e, utilizando um humor perfurante, ferino,
cáustico, explora os dramas do dia a dia, com o dedo no núcleo da ferida, mas
de uma forma, aparentemente, delicada, como se não desejasse provocar dor. Mas ela chega; não fisicamente, mas atinge a
alma do espectador. Por vezes, alguns
diálogos de SILVER se assemelham ao Teatro do Absurdo (realismo absurdo).
O elenco.
No caso de ADORÁVEL GAROTO, o tema em discussão chega a ser patético, e a plateia
sorri, em algumas cenas, com aquele “riso amarelo”, de constrangimento, diante
do que vê e ouve. Parece surreal o
centro da trama nesta peça. A pedofilia,
assunto tão exposto, atualmente, em todas as vitrinas midiáticas, é abordada
num relacionamento entre um professor e um garoto de oito anos, Brian (NEM EU ME ENGANEI AO ESCREVER, NEM VOCÊ
ESTÁ LENDO ERRADO.) Faz
lembrar uma relação que ocorre, entre um homem e uma menina, em Blackbird, um excelente espetáculo,
ainda em cartaz.
O texto de SILVER amalgama diversos gêneros, numa combinação de drama,
comédia e farsa, abordando temas diversos e arrebatadores, como os mais insólitos
tipos de infrações, isolamentos, punições, perversidades, negação de toda ordem,
disfunções físicas e, principalmente, psicológicas e sociais, além da
sexualidade, captada por todos os tipos de lentes, com focos exatos ou desfocada.
Seus personagens, praticamente todos, são
tipos urbanos, nunca simples e desinteressantes. Todos passeiam por seus textos com um humor ácido
na ponta da língua, muito críticos e cruéis, em maior ou menor escala.
ISAAC (MICHEL BLOIS), o
protagonista, professor de Arte e também pintor, fere um código moral, em
função do que passa a ser alvo da repugnância do público, mas, ao mesmo tempo,
é acarinhado, por um sentimento de piedade, em função de sua justificativa para
o seu ato, o que lhe parece tão puro e natural - pelo menos aos seus olhos.
Michel Blois / Isaac.
Isaac / Michel Blois.
ALGUNS
DESTAQUES:
1) Bom texto, mas não o melhor de NICKY
SILVER, na minha opinião.
2) Ótima direção, de MARIA MAYA, para
a sua primeira experiência na área. Que
venham muitas outras!
3) Elenco bem afinado:
MICHEL BLOIS (ISAAC) dá conta do filho desregrado, desajustado, desatinado, insensato,
alienado, delirante, inconsequente, submisso e frágil, muito frágil, tanto física
como moralmente, o que passa ao público, com sua ótima interpretação, marcada
por perfeitas inflexões, entonações, modulações de voz e, principalmente, expressões faciais.
LEONARDO FRANCO
(HARRY), há algum tempo afastado dos palcos, mas sempre muito bem-vindo e
apto a fazer um bom trabalho, interpreta um homem de caráter, no mínimo, duvidoso, chefe de uma “família de papel” e
“no papel”, totalmente omisso quanto à criação e à vida do filho, ao qual fez
questão de levar à universidade, onde o rapaz passaria a morar, sem voltar a
casa, até o momento contado na peça, como uma simbologia do rompimento dos
laços entre pai e filho. Irônico, meio
cafajeste, mentiroso, ardiloso. Bom o
trabalho do LEO.
ISABEL CAVALCANTI (NAN) interpreta a mãe
que ninguém gostaria de ter. Parece
viver totalmente em outro planeta, sem referências de sensatez, ponderação, bom
senso, ao mesmo tempo, muito irônica, com o marido, e negligente e leviana, com
relação ao filho. Uma verdadeira “porra-louca”,
bem interpretada pela atriz.
MABEL CEZAR (DRA. ELIZABETH HILTON) sabe
tirar partido da situação - não sei se vinda da direção ou se já existente no
texto (acredito mais na segunda hipótese) - de atuar sentada na plateia, como espectadora de todo o drama,
interferindo, vez por outra, e arrancando gargalhadas da assistência, com suas
críticas e sugestões. Não é uma
representante do público, como se pode pensar, mas é alguém que observa, de
fora, a situação e se envolve nela. Bom
o seu trabalho.
RAQUEL ROCHA (DÉLIA) é a secretária de HARRY, e sua amante. A atriz convence na pele da “outra”, a fraca
e oprimida, relegada a um plano inferior, que só faz aumentar, com a chegada de
ISAAC. Também gostei de sua atuação.
5)
A iluminação apresenta ótimos
momentos de beleza plástica.
6)
O cenário é simples, porém muito
original, criativo e inspirador: uma casa com paredes de vidro, apresentando
apenas um cômodo, uma sala de estar/jantar, com poucos móveis e objetos de
cena, rodeada por um “jardim” totalmente seco, sem vegetação viva, apenas
coberto por lascas e pedaços de madeira morta.
Bastantes sugestivos os detalhes da “vegetação” do “jardim” e da
transparência, proporcionada pelas paredes de vidro, como se o autor do texto
desejasse não esconder todos os tipos de situação que se passam dentro daquelas
quatro paredes ou para atrair o público para o que se passa lá dentro.
SINOPSE (fornecida pela Produção,
com adaptações):
Vivendo sozinho desde os tempos da faculdade, ISAAC (MICHEL BLOIS), já adulto, volta
à casa dos pais, HARRY (LEONARDO FRANCO)
e NAN (ISABEL CAVALCANTI), em busca
de abrigo.
O casal, de meia-idade, vive em conflito, mantendo um
casamento “de fachada”. HARRY está tendo um caso com sua
secretária, emocionalmente instável.
O rapaz encontra um lar esfacelado pela
incomunicabilidade entre seus pais, e tudo se agrava, quando ele expõe os
motivos de sua volta, que desnorteiam os pais, já em crise.
O drama do filho, por vias
inesperadas, acaba unindo HARRY e NAN, em torno de um objetivo comum:
salvar e proteger o próprio filho, apesar de ele ter quebrado um código moral
absolutamente inquestionável. Filho é
filho.
Amor, culpa, memórias e julgamento se entrelaçam
nesta trama, que reúne humor e drama.
FICHA
TÉCNICA:
Texto: Nicky
Silver
Adaptação:
Gustavo Klein
Tradução:
Roberto Bürguel
Direção:
Maria Maya
Elenco: Isabel Cavalcanti (Nan), Leonardo Franco (Harry), Mabel Cezar
(Dra. Elizabeth Hilton), Michel Blois (Isaac) e Raquel Rocha (Delia)
Direção de
Arte, Cenários e Figurinos: Ronald Teixeira
Direção de
Movimento: Viétia Zangrandi
Iluminação:
Adriana Ortiz
Assistente
de Direção: Álvaro Chaer
Preparação
Vocal: Verônica Machado
Cenógrafos
Assistentes: Eloy Machado e George
Bravo
Figurinistas
Assistentes: Eloy Machado e Liza
Machado
Assistentes
de Produção: Ailime Cortat e Alessa
Fernandes
Visagismo:
Mayco Soares
Designer:
Letícia Andrade
Marketing:
Fábia Gomes
Mídia Social:
Júlia Mendonça
Fotos: Daniel
Chiacos
Assessoria
de imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
Produção
Executiva: Letícia Napole
Direção de
Produção: Giba Ka e Maria Maya
Realização:
Dois Pontos Produções e De Paula Produções
SERVIÇO:
Local:
Mezanino do Espaço SESC - Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana.
Horários: 5ª
feira a sábado, às 21h, e domingo, às 20h.
Duração: 90min
Ingressos:
R$20,00, R$10,00 (meia entrada) e R$5,00 (associados SESC)
Capacidade
do Teatro: 90 espectadores
Classificação
Etária: 16 anos
Temporada:
Até 16 de novembro
(FOTOS: DANIEL CHIACOS)
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