terça-feira, 4 de novembro de 2014


ADORÁVEL GAROTO

 

 

 

 

(UM BELO

ESPETÁCULO-SURPRESA!)

 

 

 

 


 

 

 

         Está em cartaz, no Mezanino do Espaço SESC (Copacabana), até o dia 16 de novembro (2014) um espetáculo que merece recomendação: ADORÁVEL GAROTO (Beautiful Child).

 

            Trata-se da estreia, como diretora, de MARIA MAYA, que, de forma muito “ousada”, foi buscar logo um texto de NICKY SILVER, um dos mais festejados dramaturgos da atualidade, nos Estados Unidos, para dar o pontapé inicial na sua nova carreira de diretora, que espero acumule com a de atriz.

 

Mas, como dizia minha avó, só pode “ousar” “quem tem garrafa vazia pra vender”.  Traduzindo, para aqueles que não tiveram uma avó sábia, como a minha, e que adorava ditos populares e frases feitas, só com competência, vale a pena arriscar.  Isso, é cereto, MARIA provou que tem, nesta sua primeira experiência em direção.

 

            O autor do texto já é bem conhecido, no Brasil, por algumas peças aqui encenadas, como “Os Altruístas”, “Homens Gordos de Saia” e “Criados em Cativeiro”.  Mas seu nome, entre nós, está mais ligado a Pterodátilos, montagem protagonizada por Marco Nanini, que foi muito premiada e deixou ótimas lembranças aos amantes do bom TEATRO. 

 

NICKY, como MARIA, também é ousado em seus temas e, utilizando um humor perfurante, ferino, cáustico, explora os dramas do dia a dia, com o dedo no núcleo da ferida, mas de uma forma, aparentemente, delicada, como se não desejasse provocar dor.  Mas ela chega; não fisicamente, mas atinge a alma do espectador.  Por vezes, alguns diálogos de SILVER se assemelham ao Teatro do Absurdo (realismo absurdo).

 

 

 


O elenco.

 

 

 

No caso de ADORÁVEL GAROTO, o tema em discussão chega a ser patético, e a plateia sorri, em algumas cenas, com aquele “riso amarelo”, de constrangimento, diante do que vê e ouve.  Parece surreal o centro da trama nesta peça.  A pedofilia, assunto tão exposto, atualmente, em todas as vitrinas midiáticas, é abordada num relacionamento entre um professor e um garoto de oito anos, Brian (NEM EU ME ENGANEI AO ESCREVER, NEM VOCÊ ESTÁ LENDO ERRADO.)  Faz  lembrar uma relação que ocorre, entre um homem e uma menina, em Blackbird, um excelente espetáculo, ainda em cartaz.

 

O texto de SILVER amalgama diversos gêneros, numa combinação de drama, comédia e farsa, abordando temas diversos e arrebatadores, como os mais insólitos tipos de infrações, isolamentos, punições, perversidades, negação de toda ordem, disfunções físicas e, principalmente, psicológicas e sociais, além da sexualidade, captada por todos os tipos de lentes, com focos exatos ou desfocada.  Seus personagens, praticamente todos, são tipos urbanos, nunca simples e desinteressantes.  Todos passeiam por seus textos com um humor ácido na ponta da língua, muito críticos e cruéis, em maior ou menor escala.

 

ISAAC (MICHEL BLOIS), o protagonista, professor de Arte e também pintor, fere um código moral, em função do que passa a ser alvo da repugnância do público, mas, ao mesmo tempo, é acarinhado, por um sentimento de piedade, em função de sua justificativa para o seu ato, o que lhe parece tão puro e natural - pelo menos aos seus olhos.

 

 

 


Michel Blois / Isaac.

 

 


Isaac / Michel Blois.

 

 

 

ALGUNS DESTAQUES:

 

            1) Bom texto, mas não o melhor de NICKY SILVER, na minha opinião.

 

            2) Ótima direção, de MARIA MAYA, para a sua primeira experiência na área.  Que venham muitas outras!

 

            3) Elenco bem afinado:

 

MICHEL BLOIS (ISAAC) dá conta do filho desregrado, desajustado, desatinado, insensato, alienado, delirante, inconsequente, submisso e frágil, muito frágil, tanto física como moralmente, o que passa ao público, com sua ótima interpretação, marcada por perfeitas inflexões, entonações, modulações de voz e, principalmente, expressões faciais.

 

LEONARDO FRANCO (HARRY), há algum tempo afastado dos palcos, mas sempre muito bem-vindo e apto a fazer um bom trabalho, interpreta um homem de caráter, no mínimo, duvidoso, chefe de uma “família de papel” e “no papel”, totalmente omisso quanto à criação e à vida do filho, ao qual fez questão de levar à universidade, onde o rapaz passaria a morar, sem voltar a casa, até o momento contado na peça, como uma simbologia do rompimento dos laços entre pai e filho.  Irônico, meio cafajeste, mentiroso, ardiloso.  Bom o trabalho do LEO.

 

            ISABEL CAVALCANTI (NAN) interpreta a mãe que ninguém gostaria de ter.  Parece viver totalmente em outro planeta, sem referências de sensatez, ponderação, bom senso, ao mesmo tempo, muito irônica, com o marido, e negligente e leviana, com relação ao filho.  Uma verdadeira “porra-louca”, bem interpretada pela atriz.

 

            MABEL CEZAR (DRA. ELIZABETH HILTON) sabe tirar partido da situação - não sei se vinda da direção ou se já existente no texto (acredito mais na segunda hipótese) - de atuar sentada na plateia, como espectadora de todo o drama, interferindo, vez por outra, e arrancando gargalhadas da assistência, com suas críticas e sugestões.  Não é uma representante do público, como se pode pensar, mas é alguém que observa, de fora, a situação e se envolve nela.  Bom o seu trabalho.

 

            RAQUEL ROCHA (DÉLIA) é a secretária de HARRY, e sua amante.  A atriz convence na pele da “outra”, a fraca e oprimida, relegada a um plano inferior, que só faz aumentar, com a chegada de ISAAC.  Também gostei de sua atuação.

 

            5) A iluminação apresenta ótimos momentos de beleza plástica.

 

            6) O cenário é simples, porém muito original, criativo e inspirador: uma casa com paredes de vidro, apresentando apenas um cômodo, uma sala de estar/jantar, com poucos móveis e objetos de cena, rodeada por um “jardim” totalmente seco, sem vegetação viva, apenas coberto por lascas e pedaços de madeira morta.  Bastantes sugestivos os detalhes da “vegetação” do “jardim” e da transparência, proporcionada pelas paredes de vidro, como se o autor do texto desejasse não esconder todos os tipos de situação que se passam dentro daquelas quatro paredes ou para atrair o público para o que se passa lá dentro.

 

 

 


 

 

 


 

 

 


 
SINOPSE (fornecida pela Produção, com adaptações):
            Vivendo sozinho desde os tempos da faculdade, ISAAC (MICHEL BLOIS), já adulto, volta à casa dos pais, HARRY (LEONARDO FRANCO) e NAN (ISABEL CAVALCANTI), em busca de abrigo.

            O casal, de meia-idade, vive em conflito, mantendo um casamento “de fachada”.  HARRY está tendo um caso com sua secretária, emocionalmente instável.

            O rapaz encontra um lar esfacelado pela incomunicabilidade entre seus pais, e tudo se agrava, quando ele expõe os motivos de sua volta, que desnorteiam os pais, já em crise.

O drama do filho, por vias inesperadas, acaba unindo HARRY e NAN, em torno de um objetivo comum: salvar e proteger o próprio filho, apesar de ele ter quebrado um código moral absolutamente inquestionável.  Filho é filho.

            Amor, culpa, memórias e julgamento se entrelaçam nesta trama, que reúne humor e drama.

 
















FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Nicky Silver

Adaptação: Gustavo Klein

Tradução: Roberto Bürguel

Direção: Maria Maya

Elenco: Isabel Cavalcanti (Nan), Leonardo Franco (Harry), Mabel Cezar (Dra. Elizabeth Hilton), Michel Blois (Isaac) e Raquel Rocha (Delia)

Direção de Arte, Cenários e Figurinos: Ronald Teixeira

Direção de Movimento: Viétia Zangrandi

Iluminação: Adriana Ortiz

Assistente de Direção: Álvaro Chaer

Preparação Vocal: Verônica Machado

Cenógrafos Assistentes: Eloy Machado e George Bravo

Figurinistas Assistentes: Eloy Machado e Liza Machado

Assistentes de Produção: Ailime Cortat e Alessa Fernandes

Visagismo: Mayco Soares

Designer: Letícia Andrade

Marketing: Fábia Gomes

Mídia Social: Júlia Mendonça

Fotos: Daniel Chiacos

Assessoria de imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

Produção Executiva: Letícia Napole

Direção de Produção: Giba Ka e Maria Maya

Realização: Dois Pontos Produções e De Paula Produções
 



















 
SERVIÇO:

Local: Mezanino do Espaço SESC - Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana.

Horários: 5ª feira a sábado, às 21h, e domingo, às 20h.

Duração: 90min

Ingressos: R$20,00, R$10,00 (meia entrada) e R$5,00 (associados SESC)

Capacidade do Teatro: 90 espectadores

Classificação Etária: 16 anos

Temporada: Até 16 de novembro
 



 

(FOTOS: DANIEL CHIACOS)

 

 


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