DUAS VEZES UM QUARTO (2X1/4)
(DUAS EM UMA OU UMA EM DUAS?)
São
dois pequenos textos, de um mesmo autor; uma peça inédita, outra não. Ambas começam num bar e são desenvolvidas num
quarto. Cada uma delas explora um relacionamento
de casal. Ambas tratam da mesma problemática.
O
diferencial da peça é o fato de as duas serem encenadas simultaneamente, no
mesmo “palco”, dividido em dois cenários, intercalando-se os diálogos, o que
representa um excelente exercício de atenção da plateia e concentração dos
atores. Muito interessante a proposta.
O Teatro III do CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL
exibe, até o dia 19 de outubro, de 4ª
feira a sábado, às 21h, e, aos domingos, às 20h, o espetáculo DUAS VEZES UM QUARTO (2X1/4), que reúne
as peças A DAMA DA LAPA e DILÚVIO EM TEMPOS DE SECA, duas das
primeiras escritas por MARCELO PEDREIRA,
entre 2001 e 2003, ele que também dirige as duas encenações, cada uma delas
interpretada por um casal diferente.
A DAMA DA LAPA,
com CARLA MARINS e JOSÉ KARINI, é inédita, no Brasil, pois
já foi encenada em Lisboa, no ano passado, e adaptada para a telona (Incuráveis, com Dira Paes e Fernando Eiras).
Nesta peça, um homem e uma mulher se
conhecem num bar e vão para o quarto dela.
Ele, um “candidato a suicida”, não muito convicto; ela, uma
prostituta. Diariamente, eles se
encontram, como se aquela fosse a última noite de vida para ele. Ele não tem a pretensão de pagar à mulher
pelos préstimos sexuais, mas a remunera, e bem, para que ela lhe disponibilize
seus ouvidos. Sim, é isso mesmo: ele só
deseja que ela o ouça. E os dois passam
a viver uma relação de cumplicidade total.
José Karini e Carla Marins.
Em
DILÚVIO EM TEMPOS DE SECA, com LUCAS GOUVÊA e GUTA RUIZ, um escritor atormentado e à procura do texto perfeito,
de uma inspiração para produzi-lo, e uma ex-modelo, muito extrovertida,
simpática e divertida, o tipo que, nos dias de hoje, é chamado, popularmente,
de “descolada”, também se cruzam, casualmente, num bar, e iniciam uma relação
doentia no quarto/ateliê dele, aguardando passar o “dilúvio” que se abate sobre
a cidade e se estende por alguns dias.
Lucas Gouvêa e Guta Ruiz.
Para
pôr em prática o seu projeto, MARCELO
PEDREIRA, conta com um bom elenco.
Imagino que, para um(a) ator/atriz, não seja tarefa muito simples e fácil
parar de contracenar com seu(sua) parceiro(a), enquanto a ação passa para um
espaço ao lado, sem perder a concentração.
São bons os trabalhos dos dois casais de atores. LUCAS
e KARINI, já os conheço de muitos
outros trabalhos e, aqui, repetem o bom desempenho de sempre. CARLA,
muito mais presente em outras mídias, também se sai de maneira satisfatória,
incorporando bem sua personagem.
Chamou-me a atenção o trabalho de GUTA,
atriz paulista, que eu não conhecia. Tem
muita personalidade, trabalha muito bem a voz e tem forte presença em cena. Os personagens são anônimos, creio que representando
a possibilidade de cada um poder se enxergar na perspectiva de algum
deles. São apenas a “dama da Lapa”, o “suicida”,
“o escritor” e a “mulher do dilúvio”.
Gosto dos dois cenários, de PAULO DENIZOT,
mas o da direita, espaço que pertence ao escritor, é bem mais criativo e
detalhista do que o da esquerda, o do quarto da prostituta: o mesmo clichê de
sempre, nos móveis e na decoração.
Talvez pudesse fugir ao tradicional.
Talvez?
TICIANA PASSOS assina um figurino que atende às necessidades do
texto.
Quanto
à iluminação, de PAULO DENIZOT, faço os mesmos
comentários referentes à cenografia. Luz predominantemente vermelha, para o quarto
da prostituta, e branca para o outro.
Nada de novo, mas nada que seja tão “pecaminoso”.
Um destaque
vai para a boa trilha sonora, de MARCELO PEDREIRA. É interessante como essa prática, a de o
próprio diretor assinar a trilha sonora, vem crescendo ultimamente. Acho isso muito bom, porque ninguém melhor
que o diretor, ou o próprio autor do texto, para saber que sons poderiam
valorizar mais cada cena e ajudar a passar o que ele(s) deseja(m).
Penso que o
espetáculo é uma boa, e barata, opção de lazer, apesar do desconforto do Teatro III do CCBB, por suas incômodas
cadeiras e pela falta de ar-condicionado (no dia em que assisti à peça). Poderá não acrescentar muito, mas, certamente,
vai agradar e chamar a atenção do espectador para uma reflexão sobre os
batidos, eternos e universais temas abordados na peça: a solidão, muitas vezes,
buscada, ou fabricada, pelo próprio “solitário”, e a dificuldade e, até mesmo,
incapacidade de comunicação, dos homens, apesar de coabitarem uma “aldeia
global”.
Carla, Lucas, Guta e Karini.
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