CASÓRIO
(BOM DIVERTIMENTO PARA
QUEM JÁ É CASADO, JÁ O FOI OU AINDA SONHA COM A EXPERIÊNCIA.)
Dizer,
simplesmente, que uma peça “é sobre amor” parece-me muito pouco, já que este é o mais
nobre sentimento humano e abarca uma infinidade de implicações. A primeira frase da sinopse do espetáculo CASÓRIO, escrita, creio, pela
própria autora de seu texto, a também atriz MARCÉLLI OLIVEIRA, diz assim; “Casório é uma peça sobre amor.”.
Eis a referida sinopse,
com mínimas intervenções de nossa parte:
CASÓRIO é uma peça sobre amor. Amor e tempo. Amor e dor. Amor e perda. Amor. Quatro
mulheres, cada uma com suas diferentes personalidades, contam um pouco da sua
história, de seus medos e expectativas, ao lado do homem que escolheram. Um dia, que esperavam ser de total felicidade
e contemplação, se torna ambíguo e duvidoso, fazendo com que, em um curto
espaço de tempo, na sacristia de uma igreja, elas se tornem íntimas, revelando,
umas às outras, seus segredos e suas carências. Mulheres comuns, com sonhos, como todas as
outras, dilemas a serem resolvidos e escolhas a serem feitas. Elas acreditam no amor, mas temem sofrer, se
separar. Preocupam-se com o possível desgaste do casamento e
acabam tornando-se cúmplices das histórias e dramas umas das outras.
As personagens não têm
nomes, mas cada uma traz consigo uma personalidade bem definida e marcada. TAMMY DI CALAFIORI faz a noiva 1, uma mulher que ama o noivo, mas
morre de medo de se prender a uma única relação para sempre. PAULA
GIFFONI é a noiva 2, romântica,
sonhadora, casando, virgem, com seu primeiro amor. A noiva 3 é CAROL GARCIA, menina
doce e apaixonada, que conta muitas histórias engraçadas sobre ela e seu noivo.
E MARCÉLLI
OLIVEIRA é a noiva 4, uma mulher
dividida entre dois sonhos: o de casar com seu noivo, a quem ama de verdade, e
o de ser mãe, já que os dois ela sabe que não pode concretizar.
Paula, Tammy, Carol e Marcélli.
Gostei do espetáculo, a
despeito de ser uma montagem modesta, porém muito bem cuidada, em todos os
aspectos, desde o texto, passando pela direção e atuação do elenco, sem falar nos demais
elementos necessários à montagem de um espetáculo teatral.
MARCÉLLI OLIVEIRA, que também está em cartaz, às 3ªs e 4ªs feiras, no Teatro dos Quatro (Shopping da Gávea),
com outro texto de sua autoria, Às
Terças, onde também atua, revela bastante talento para uma dramaturga
incipiente. Em CASÓRIO, explora, com propriedade, toda a gama de problemas afetos
à difícil arte de dividir um teto com um(a) parceiro(a) e as dúvidas em fazê-lo. E isso me faz lembrar a
frase de uma modesta auxiliar do consultório dentário de uma amiga, quando, em
conversa com esta, durante a qual reclamava muito do marido, tendo sido
criticada pela patroa, por seu comportamento, disse-lhe: “É que a senhora não conhece ele,
doutora. Vai comer um quilo de sal com
ele!” Quanta sabedoria
concentrada numa pessoa tão simplória!
É muito bom o texto de MARCÉLLI.
As quatro noivas.
Um brinde a quê?
Uma revelação?
No elenco, as quarto atrizes se saem
muito bem, contando, ainda, com a ótima participação de um único ator, que
também se reveza na função de músico, ZECA
RICHA, este se multiplicando em alguns “tipos de homem”, todos
interpretados a contento. Bom o trabalho
de todo o elenco.
As personagens femininas, além de
serem “nomeadas” por números, o que é uma indicação de que cada uma delas pode
servir de identificação para algumas (?) espectadoras, também são tratadas como
“a noiva das 6” , “a noiva das 7”…, o que só faz reforçar essa nossa tese. Achei interessante esse detalhe. Mas os personagens vividos por ZECA, certamente, também “ocupam
cadeiras” no Café Pequeno. É bastante curioso, após as sessões, o fato
de algumas pessoas aguardarem as atrizes, principalmente, para fazerem, também,
fora do palco, suas “confidências”, dizendo: “Eu sou você.” Ou, as que não têm
coragem de abrir, publicamente, as gavetas de sua intimidade: “Conheço alguém
igual a você.”
A personagem de PAULA GIFFONI é exageradamente romântica e sonhadora e vê,
na união dos pais, casados há muitos anos, um exemplo a ser seguido. Idealiza o casamento e o noivo, a ponto de
deixar de lado seus sinceros pensamentos, sua vontade própria e sua real
“identidade”, temendo que sua verdadeira personalidade possa desapontá-lo e
ela, assim, perca seu grande amor.
Insegurança e falta de autoestima são suas principais características.
TAMMY DI CALAFIORI interpreta uma
personagem totalmente oposta à anteriormente citada, pois é totalmente
“descolada”, daquelas que não se contentam com um único amor na vida e acha que
existem muitas pessoas interessantes no mundo, para se perder tempo, ficando a
vida inteira com uma pessoa só. Tem, em
casa, no casamento dos pais, o exemplo de uma união falida, de fachada, mas “duradoura”,
e tem medo de chegar a esse mesmo ponto, porque acredita que as pessoas permanecem
juntas por comodismo e medo do novo, dos desafios. Na verdade, sua personagem representa a mulher
de hoje, em oposição à de antigamente, se bem que esse “antigamente”, para
muitas, ainda hoje, infelizmente, seja o “agora”.
A
personagem de CAROL GARCIA é uma
mulher doce e sensível, que relata, durante a peça, sua história com seu noivo,
contando fatos engraçados e curiosos dos dois e da falta de pontualidade do
futuro marido, que, até para o dia do casamento se atrasa, e muito. Conhecedora dessa péssima característica do
rapaz, não se importa que as outras passem a sua frente, na realização da
cerimônia, pela certeza do grande atraso que a aguarda, se é que ele honrará o
compromisso. Uma incógnita que o
espectador carrega consigo para casa.
A
noiva de MARCELLI OLIVEIRA vive um
grande dilema: casar com o homem que ama ou ser mãe, já que ter filhos é uma de
suas grandes prioridades, se não for a maior, desde a adolescência. Decepcionou-se, sobremaneira, com um amor do
passado, porém acabou encontrando o que ela considera ser “o homem perfeito”, o
pai ideal para seus futuros filhos. Não
contava, porém, com o fato de, só um dia antes do casamento, por medo de perdê-la,
o “príncipe encantado” lhe ter revelado ser estéril, por ter sido
vasectomizado. Uma “escolha de Sofia”?
Junte-se
tudo isso, transformado em diálogos interessantes e bem escritos, e temos um
bom texto teatral.
Carol.
Marcélli e Zeca.
Tammy.
A
boa direção do espetáculo é de ALEXANDRE CONTINI, que também dirige Às Terças, contando, em CASÓRIO, com a supervisão de JOÃO FONSECA, de quem é discípulo; um
aplicado discípulo, diga-se de passagem.
Imaginem se JOÃO, um dos mais
consagrados encenadores brasileiros, iria ligar seu nome a um espetáculo que
não fosse bom!...
A ficha técnica traz, ainda, outros nomes
de destaque, dentre os quais citamos:
THIAGO VALENTE : ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO e DIREÇÃO DE MOVIMENTO
LORENA LIMA : CENOGRAFIA
DANIELA SANCHEZ e JOÃO ELIAS : ILUMINAÇÃO
FILOMENA MANCUZO : FIGURINOS
FREDERICO DEMARCA : DIREÇÃO MUSICAL
TALLYS MORENO : DIREÇÃO DE CENA
CARLA DE CONTI : FOTOGRAFIAS
FILOMENA MANCUZO, MARCÉLLI OLIVEIRA e PAULA GIFFONI : PRODUÇÃO
Carol.
Paula.
A peça está em cartaz desde 2012,
com pequenas pausas, entre uma temporada e outra, tendo viajado, em turnês,
pelo Brasil, e, agora, está sendo exibida, até
o dia 22 de junho, no Teatro Café
Pequeno, às 6ªs feiras e sábados, às
20h30min, e, aos domingos, às 19h30min.
Recomendo bastante o
espetáculo, como simples divertimento e, também, por que não dizer, como um material para uma
boa reflexão acerca das relações amorosas e, principalmente, do papel do
casamento na sociedade moderna. Afinal
de contas, muitas vezes, é na base da “brincadeira” que as verdades são ditas.
Desilusão.
E agora?
Será que vale a pena?
O fim do começo ou o começo do fim?
(FOTOS: DIVULGAÇÃO / PRODUÇÃO DO ESPETÁCULO;
CARLA DE CONTI; LORENA LIMA ;
FÁGINA DO ESPETÁCULO NO FACEBOOK e SITE WWW.TEATROCASORIO.COM)
Com Marcélli Oliveira.
Com Paula Giffoni.
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