sábado, 24 de maio de 2025


“O(S) MAMBEMBE(S)”

ou

(UMA ODE

AO TEATRO

E AOS ATORES.)

ou

(EXCELENTE

RELEITURA

DE UMA OBRA CONSAGRADA.)

 

 

 

         Antes de mais nada, é preciso justificar o título da peça, com a desinência nominal de número plural (S) grafado entre parênteses. É simples o motivo. Trata-se de uma adaptação do original, escrito, a quatro mãos, pelo escritor e dramaturgo maranhense ARTUR AZEVEDO e JOSÉ PIZA, “O Mambembe”, uma comédia clássica do TEATRO BRASILEIRO, escrita em 1904, que conta as aventuras de uma trupe mambembe viajando pelo Brasil. A história acompanha a saga de uma trupe teatral que viaja pelo interior do país, enfrentando dificuldades para realizar espetáculos e atrair público. A peça explora diversos aspectos da vida cotidiana, como namoros, infidelidades conjugais, relações familiares e sociais. 




         A peça chega ao Rio de Janeiro, depois de ter sido apresentada, a céu aberto, em vias públicas, no Maranhão, Pará, Espírito Santo e Minas Gerais, além de ter tido a honra de abrir a programação oficial do “33º Festival de Curitiba”, onde, infelizmente, por motivos alheios à minha vontade, não tive a oportunidade de assistir, o que fiz agora, com muita boa expectativa, a qual acabou sendo superada pela apresentação, neste espetáculo, em que a vida imita a arte.

 


 

SINOPSE:

O ator-empresário Frazão convida Laudelina Pires, uma jovem e talentosa atriz amadora, para ser a primeira-dama de sua companhia itinerante.

Ao saírem em turnê pelo interior do país, os artistas se deparam com o Brasil dos coronéis e passam a depender da boa vontade dos poderes locais para o sucesso de sua viagem.

Com a alegria e a agilidade de uma COMÉDIA sobre rodas, OS MAMBEMBES convidam a todos para uma viagem ao mundo do TEATRO, um mundo em que jogo, trabalho e divertimento podem significar uma coisa só.


 


         Além da já referida apresentação no “Festival de Curitiba”, no Teatro Positivo, para um público de 2.400 espectadores, esta é a primeira temporada feita num teatro, na formatação de palco italiano. Apesar de eu ter gostado muito da montagem, confesso que fui mordido pelo “bichinho da curiosidade”, para ver esse espetáculo encenado numa praça pública, como uma montagem do grupo “O Galpão”, de Belo Horizonte, por achar que a proposta da direção da peça esteja muito mais de acordo com uma encenação mambembe de fato, ao ar livre. Mas analisemos o que temos para falar.



         A universalidade e a atemporalidade do texto estão presentes no palco, de forma marcante, com uma transposição para o momento atual, guardadas as singularidades do original. Encarrega-se de representar os personagens um elenco afinadíssimo de grandes nomes do TEATRO BRASILEIRO, em ordem alfabética: CLÁUDIA ABREU, CAMILA BOHER, DEBORAH EVELYN, JULIA LEMMERTZ, LEANDRO SANTANNA, ORÃ FIGUEIREDO e PAULO BETTI, acompanhados pelo músico CAIO PADILHA, que também exercita a sua porção ator. A concepção contemporânea é de EMÍLIO DE MELLO, que divide a direção do espetáculo com GUSTAVO GUENZBURGER. Em sua “mambembagem” (Acabei de criar um neologismo.), “a vida imita a cena”, dado que o grupo de atores profissionais caiu na estrada, literalmente, e já foi aplaudido por um público estimado em mais de 18 mil pessoas, na maioria, espectadores que tiveram o seu primeiro contato com o TEATRO.




         Se, hoje, a peça é consagrada e muito bem recebida pelo público, isso não aconteceu sempre, e, quando apresentada pela primeira vez, em 1904, apesar de o texto ter sido exaltado pela crítica e pelos intelectuais que, como o próprio autor, ajudaram a inaugurar a Academia Brasileira de Letras, o mesmo não aconteceu por parte do grande público, que não aceitou, de cara, “o refinamento do novo tipo de comédia musical proposta em ‘O mambembe’, e o espetáculo teve que fechar as portas depois de poucas apresentações”. Destarte, “O Mambembe” só se tornaria um marco do TEATRO BRASILEIRO, apenas meio século depois de escrito.



         Em 1959, o texto voltou a ser encenado pelo importantíssimo, para O TEATRO BRASILEIRO, grupo do “Teatro dos Sete” em sua estreia, no Theatro Municipal, sonhado por ARTUR AZEVEDO, e foi um dos maiores sucessos da história do nosso TEATRO, elevando o autor ao rol dos grandes dramaturgos nacionais e marcou a carreira de uma geração de artistas como Fernanda Montenegro, Sergio Britto e Ítalo Rossi, entre alguns, dirigidos pelo grande encenador italiano Gianni Ratto. Foi uma grande superprodução com mais cerca de outros 40 artistas contratados. “O público ficou encantado com o que viu e lotou dezenas de milhares de cadeiras, em seis meses de temporada, transformando “O Mambembe”, definitivamente, em um clássico da nossa dramaturgia, como acontece até hoje. O Teatro Casa Grande, com quase 1000 lugares estava superlotado, e assim vem acontecendo, conforme apurei.




         Um pouco da atual montagem, de acordo com o “release” da peça, que recebi via DANIELLA CAVALCANTI, assessoria de imprensa: “CLÁUDIA ABREU e EMÍLIO DE MELLO planejavam uma empreitada conjunta há muito tempo, e viram, no texto de ARTUR AZEVEDO (e JOSÉ PIZA), a chance de produzir um espetáculo falando sobre TEATRO. Mas o espetáculo teria que mambembar na vida real, levando TEATRO para lugares em que os atores do Rio, normalmente, não conseguem trabalhar. Em algumas semanas, CLÁUDIA e EMÍLIO já estavam realizando leituras com atores amigos e, poucos meses depois, conseguiam, em parceria com o produtor ARLINDO BEZERRA, um patrocínio, através de edital. Nessa hora, surgiram os primeiros desafios: Como encenar, com apenas sete atores, um texto que tem 80 personagens, linguagem do século XIX e estrutura de um grande musical em três atos? Foram necessários oito meses de trabalho na adaptação do texto original, realizada por EMÍLIO, em parceria com o dramaturgo DANIEL BELMONTE e o diretor e pesquisador GUSTAVO GUENZBURGER. GUSTAVO também foi convidado por EMÍLIO para dividir, com ele, a direção do espetáculo. Reuniu-se, então, um elenco de amigos, artistas com longa carreira de TEATRO, que já trabalharam, muitas vezes, juntos e que teriam disposição para encarar, com bom humor, os percalços de um teatro itinerante. Essa rede de amizades e conhecimentos teatrais acabou sendo fundamental, para que a trupe de “O(S) MAMBEMBE(S)” pudesse transformar, em criação teatral, os desafios de uma encenação verdadeiramente contemporânea, para o clássico de ARTUR AZEVEDO (...)”.





         Acho muito difícil alguém encontrar algum defeito, um ponto fraco, nesta montagem, a começar pelo tripé de sustentação de qualquer espetáculo teatral: texto, direção e interpretação. O texto é impecável, para os padrões da época em que foi escrito e deve assim ser encarado pelo público, que, realmente, me parece fazê-lo. A direção é muito “enxuta” e inteligente, com uma excelente ideia de fazer com que vários atores representem, em revezamento, mais de um personagem, masculinos e femininos, sem distinções de gênero, o que confere uma graças a mais à peça. Essa troca de papéis estabelece uma linguagem de jogo e liberdade criativa, que define o tipo de TEATRO que se deseja homenagear. O público identifica os personagens por meio de uma peça de roupa e acessórios, que são trocados entre os artistas, em cena ou fora dela, com as coxias à mostra. O elenco não poderia ter sido melhor reunido, com o devido destaque para todos. São nomes que dignificam a arte de representar, alguns dos quais muito famosos, por suas atuações na TV, mas que nem por isso deixaram de topar a experiência divina de mambembar por praças públicas e parques, em contato muito próximo com o público.



         No que diz respeito aos demais “ingredientes” que entram na “feitura deste bolo de festa de aniversário”, devidamente “confeitado”, tudo funciona a contento, sem escassezes nem excessos: a cenografia, de MARCELO ESCAÑUELA; o figurino, de MARCELO OLINTO; e a iluminação, de NADJA NAIRA.



       Tanto o texto original quanto este, da adaptação, permitem a reunião de “diversas camadas de tempo e de estilos teatrais”. A farsa, a “commedia dell’arte”, o realismo tchekoviano, a desconstrução do aqui agora, programa de auditório, melodrama, metalinguagem – todas as ferramentas que os atores puderem dispor estão sendo manejadas, na tarefa de destrinchar com olhos de hoje o clássico de ARTUR AZEVEDO.

 


 

FICHA TÉCNICA:

Idealização do Projeto: Cláudia Abreu e Emílio de Mello

Texto: Artur Azevedo e José Piza

Adaptação Dramatúrgica: Daniel Belmonte, Emílio de Mello e Gustavo Guenzburguer

Direção Geral: Emílio de Mello

Direção: Emílio de Mello e Gustavo Guenzburguer

Direção Musical e Músico / Ator: Caio Padilha

 

Elenco: Cláudia Abreu, Camila Boher, Debora Evelyn, Julia Lemmertz, Leandro Santanna, Orã Figueiredo e Paulo Betti

 

Direção de Movimento: Cristina Moura

Cenografia: Marcelo Escañuela

Figurino: Marcelo Olinto

Iluminação: Nadja Naira

Caracterização: Mona Magalhães

“Designers”: Celina Kuschnir e Laura Nogueira

Assessoria de Imprensa: Vanessa Cardoso e Daniella Cavalcanti

Fotos: Elisa Maciel, Annelize Tozetto, Lina Sumizono, Humberto Araújo e Maringas Maciel

Coordenação de Produção: Arlindo Bezerra

Direção de Produção: Dadá Maia


 


 



SERVIÇO:

Temporada: De 15 de maio a 22 de junho de 2025.

Local: Teatro Casa Grande.

Endereço: Avenida Afrânio de Melo Franco, n° 290 – Leblon – Rio de Janeiro.

Telefone: (21) 2511-0800.

Dias e Horários: 5ª e 6ª feira e sábado, às 20h; domingo, às 18h.

Valor dos Ingressos: Plateia VIP = R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia-entrada); Plateia Setor 1 = R$ 180 (inteira) e R$ 90 (meia-entrada); Balcão Setor 2 = R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia-entrada); Balcão Setor 3 – R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia-entrada).

Venda de ingressos: Plataforma Eventim ou na Bilheteria do Teatro. Funcionamento da Bilheteria: 4ª feira, das 12h às 18h; 5ª e 6ª feira, das 15h às 20h30; sábado, das 14h às 20h30; domingo, das 13h às 19h30.

Capacidade: 926 pessoas.

Duração: 90 minutos.

Classificação Etária: Livre.

Gênero: COMÉDIA.


 


 

         Atualmente, o Rio de Janeiro vem recebendo um considerável número de COMÉDIAS, felizmente de boa qualidade – a maioria – e esta, sem dúvida, é uma das melhores a que venho assistindo ao longo deste ano, o que merece a minha RECOMENDAÇÃO.

 

 

 



FOTOS: ELISA MACIEL, ANNELIZE TOZETTO, LINA SUMIZONO, HUMBERTO ARAÚJO e MARINGAS MACIEL

 

 

 

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!

 

 

 

 

 



 

 

 







 









































































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