sábado, 22 de junho de 2024

“UM PORRE DE

SHAKESPEARE”

ou

(UM ESCRACHO “CLASSUDO”.)

ou

(O BARDO 

ESTÁ DANDO

CAMBALHOTAS 

NO TÚMULO;

MAS É DE 

TANTO RIR.)



 

     Depois da minha mais recente experiência no Teatro do Núcleo Experimental, em São Paulo, na noite do dia 15 de junho de 2024, nunca mais poderei dizer que já vi de tudo no TEATRO. Quem nem ouviu falar do que está acontecendo lá agora (De 01 de junho em curso a 23 de julho próximo), depois de ler estes comentários críticos, tem até o direito de achar que estou mentindo, no entanto, compre seu ingresso, rapidamente, e corra até aquele simpático espaço cultural, na Barra Funda, para ver, com seus próprios olhos, o que eu vi - e adorei - e se divertir à farta com o espetáculo “UM PORRE DE SHAKESPEARE”.

 



           A ideia não é original (E que mal há nisso? Nenhum, é claro!), uma vez que bebe na fonte de “Drunk Shakespeare” ("Shakespeare Bêbado", em português. Não confundir com “Shakespeare Embriagado”, uma outra encenação que anda por aí, na capital paulista.). O espetáculo sobre o qual estou me propondo a escrever é uma tradução e adaptação de um que estreou em Londres, onde fez grande sucesso, assim como em várias praças norte-americanas, como Nova York - circuito “off-Broadway” –, Washington DC e Chicago, por exemplo.

 

 


 

           “Drunk Shakespeare” foi criada por Scott Griffin e David Hudson e, no Brasil, recebeu as bênçãos de ZÉ HENRIQUE DE PAULA, que resolveu encená-la, sem patrocínio, no Núcleo Experimental, um grupo de artistas que, desde 2005, se dedica a explorar novos autores, e novas ideias, e repensar os clássicos. Focando na busca de excelência artística, na formação e aperfeiçoamento de seus atores e na opção por textos que dialoguem com a sociedade contemporânea, uma de suas vertentes é, também, explorar a relação entre a música e o TEATRO, pautados na ideia de que o conjunto das atividades lá desenvolvidas sejam uma plataforma para aquilo que a cultura pode oferecer de melhor ao povo de uma cidade: entretenimento aliado a inteligência, debate de ideias conciliado ao prazer, experiência estética unida a uma responsabilidade social. Tanto é verdade, que lá já foram levadas a cena espetáculos inesquecíveis, como “Urinal”, “Lembro Todo Dia de Você”, “Cabaret dos Bichos”, “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”, “Codinome Daniel”, todos premiadíssimos, e, agora, este delicioso “Um Porre de Shakespeare”, que está indo pelo mesmo caminho.

 

 




             A dinâmica do espetáculo contraria qualquer noção de “bom senso” e do famigerado e desagradável “politicamente correto”, uma vez que, logo no início de uma encenação de “MacBeth”, uma das clássicas tragédias de William Shakespeare”, sobre a qual reza uma lenda, no TEATRO inglês, de que não se pode ou não se deve pronunciar tal título, sob pena de atrair azar para o espetáculo, ocorre o que, a meu juízo, nunca se viu num palco de TEATRO. “MacBeth”, seria, então, o texto “maldito” do “velho bardo”. Em “UM PORRE DE SHAKESPEARE”, um dos componentes do elenco, de sete atores, é sorteado, por alguém da plateia, para se embebedar durante a encenação, não completa, da referida tragédia, que acaba, inevitavelmente, ganhando cores de COMÉDIA, sendo mantido o texto original, representado com seriedade e dentro de uma estética shakespeariana. O “release” da peça, que me chegou às mãos via DOUGLAS PICCHETTI (Pombo Correio Comunicação - Assessoria de Imprensa), fala em 5 doses de uma bebida alcoólica, entretanto o que vi foi, logo no início da encenação, o ator destinado ao “porre” tomar, de uma só vez, quatro doses e, no decorrer da peça, mais algumas, cerca de 10. Cachaça “Salinas”, de boa procedência (Perdão pelo “merchan”! Momento descontração!). A grande novidade é que, no decorrer da encenação, e muito por conta das reações do “pinguço do dia”, o improviso vai se acentuando até o final na peça, como um jogo.

 

 



 

 

SINOPSE:

Na “Sociedade Literária do Velho Bardo Bêbado”, três atores e três atrizes se encontram, todas as noites, para celebrar o bom e velho Will e a sua tragédia mais famosa, “a escocesa”, aquela cujo nome “ninguém pode ousar pronunciar”.

Infelizmente (ou felizmente) um deles, ou uma delas, irá tomar várias doses de uma bebida alcoólica, no início da peça.

É obvio que o sorteado estará à mercê de seu estado etílico, enquanto os demais cinco componentes da trupe permanecerão sóbrios em cena.

Agora, cabe aos outros manter a história nos trilhos, contando com as surpresas que, inevitavelmente, surgirão, no decorrer da peça.

Aqui, cada apresentação é diferente, dependendo de quem beber - e do que essa pessoa bebeu!

 


 


 

 

 

         Reparem que a SINOPSE fala em “infelizmente” alguém ser o sorteado. Na verdade, ninguém gostaria de ser o “premiado”; pelo menos foi o que o elenco demonstrou na hora do sorteio, na sessão a que assisti, e a explicação é mais que óbvia: embriagado, o indivíduo não consegue administrar, racionalmente, o seu comportamento, seja no que faz, seja no que fala. Como, então, se lembrar das falas do personagem, das suas marcações e, até mesmo, do que ele/ela está fazendo ali, diante de tanta gente, que não faz outra coisa, a não ser rir muito; não só do bêbado, mas, sim, do grupo todo?

 

 


 

   A questão do sorteio é importante, porque faz com que cada espetáculo seja único, a depender do sorteado e de suas reações num determinado dia. Com relação ao tal sorteamento, ainda cabe dizer que, o elenco em cena é de 6 artistas, entretanto, na FICHA TÉCNICA, são 7, uma vez que quem for sorteado numa noite ganha o direito não participa do próximo dia de encenação. Não é, de verdade, algo muito interessante, instigante e surpreendente? Morasse eu em São Paulo (Moro, infelizmente, no Rio de Janeiro.), e, certamente, assistiria à peça várias vezes.

 

 


 

         O elenco é formado por BRUNA GUERIN, FABIANA TOLENTINO, LUCIANA RAMANZINI, CLEOMÁCIO INÁCIO, DENNIS PINHEIRO, GABRIEL LODI e RODRIGO CAETANO. No dia em tive a felicidade de ir ao Núcleo, GABRIEL não participou da sessão, e CLEOMÁCIO INÁCIO foi a “vítima”. Ele e seus companheiros de cena – mais ele, por ter atuado “alteradinho”, que todos – me fizeram deixar o Teatro com os maxilares e as bochechas doendo, de tanto rir com a porção, digamos, “besteirol” (Adoro um!!!) da peça. Aproveito, aqui, para retificar uma teoria na qual sempre acreditei, e preguei, que é a de que “qualquer ator cômico consegue representar bem num drama, mas a recíproca não é verdadeira, uma vez que é muito mais fácil fazer chorar que rir”. Mantenho-me firme na justificativa de tal teoria, entretanto, pela primeira vez, vi um sexteto de excelentes atores e atrizes que sempre vi atuando em papéis sérios, uma vez ou outra com alguma pincelada de humor, mas não numa COMÉDIA, propriamente dita, arrancando tantos risos e gargalhadas de uma plateia inteira, que lotava o espaço do Núcleo Experimental. Para ser um bom ator/atriz de COMÉDIA, dois fatores são indispensáveis: inteligência e rapidez de raciocínio, além, evidentemente, de talento inato para fazer graça, o que existe, de sobra, no elenco que vi atuando em “UM PORRE DE SHAKESPEARE”.

 


 

         A palavra “PORRE”, que entrou na tradução da peça para o Brasil, poderia remeter a dois significados: uma “bebedeira”, que seria o literal ou, então, na forma de gíria: coisa, situação ou pessoa que provoca aborrecimento”. Não partam para assistir à peça pensando no segundo. Lá, só existe o primeiro. É certo que, também, o vocábulo poderia ser empregado, ainda, com uma conotação de “excesso, abundância”: Um “porre” de Shakespeare poderia ser uma “overdose” do autor.


 


 

        Para a montagem do espetáculo, o espaço do Núcleo Experimental mereceu passar por uma nova configuração, com cadeiras e mesas ao longo das paredes, no sentido do comprimento, ficando um vasto espaço entre as duas alas, destinado à encenação. ZÉ HENRIQUE DE PAULA, que responde pela direção do espetáculo, ainda assina a cenografia, como consta na FICHA TÉCNICA, mas que eu prefiro chamar de “ambientação cênica”, que corresponde à aproximação com um bar, misturado a uma espécie de “centro cívico”, ou algo parecido, com uma cristaleira antiga; muitos quadros, prateleiras e relógios nas paredes; objetos de cena; dois tronos, sobre um baixo praticável, ao fundo do corredor, onde dois espectadores assumem os papéis de rei e rainha e têm um papel surpresa e especial na montagem; e a cereja do bolo: um enorme e belo quadro de William Skakespeare, o patrono da “Sociedade Literária do Velho Bardo Bêbado” e homenageado da noite; o “Will”, “para os íntimos”.

 

 



        ÙGA AGÚ é uma multiartista que, apesar de incipiente no ofício de figurinista (Começou como assistente de figurino em 2020.), já demonstra bastante competência e autonomia, tendo feito parte da equipe de figurinos dos musicais “Cabaret dos Bichos” e “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” (2021), duas das melhores produções do Núcleo Experimental, ambos também dirigidos por ZÉ HENRIQUE DE PAULA, com quem a artista dividiu a assinatura dos figurinos de “Codinome Daniel”, o sucesso mais recente do Núcleo, antes deste “...SHAKESPEARE”. Todos os trajes usados pelos atores, na atual produção, são muito divertidos e criativos, misturando detalhes de época com saborosas “loucuras” saídas da cabeça da figurinista.

 









          O espaço cênico é muito extenso, como uma passarela, e as cenas são distribuídas por todo o seu comprimento, o que exigiu muito cuidado da parte de FRAN BARROS, responsável pelo ótimo desenho de luz da peça. Percebi que há algumas marcações um pouco mais “soltas” e outras rígidas, que acontecem, obrigatoriamente, num determinado ponto e que dependem do correto funcionamento da luz. Os efeitos luminosos são precisos e muito bem empregados.   

 

 




 

   A ideia de trazer o espetáculo para o Brasil partiu de ZÉ HENRIQUE e RENATA ALVIM, os produtores por aqui - ele, pelo Núcleo Experimental; ela, pela Rega Início Produções -, depois de ambos terem assistido, juntos, à peça em Nova Iorque, em 2023. “Nos divertimos muito e, então, decidimos trazer a peça ao Brasil, em uma coprodução...”, diz ele.

 

 



  Um detalhe bem interessante, que diferencia a versão brasileira das demais, é o fato de que, em toda apresentação, a pessoa que bebeu na sessão anterior não está em cena, pois estará se recuperando em casa. Por tal motivo, cada ator está preparado para interpretar dois papéis diferentes, o seu e o de um colega. Isso é extremamente formidável, pois, nas palavras do diretor, “Esse revezamento faz com que nunca haja um elenco igual ao outro nos mesmos papéis. E essa matemática toda faz com que, na temporada inteira, nunca haja uma escalação em que os atores façam os mesmos papéis na mesma combinação de elenco. Ou seja, todas as sessões desta temporada terão uma combinação diferente da outra, tanto pela escalação do elenco quanto pela pessoa que bebe na sessão. O jogo é a peça. Fazemos uma homenagem ao TEATRO, ao maior dramaturgo de todos os tempos e ao ofício do ator, que está sendo colocado em risco e em xeque todas as noites”.

 

 



 


FICHA TÉCNICA:

Adaptação e Direção: Zé Henrique de Paula 


Elenco (por ordem alfabética): Bruna Guerin, Cleomácio Inácio, Dennis Pinheiro, Fabiana Tolentino, Gabriel Lodi, Luciana Ramanzini e Rodrigo Caetano. 


Cenografia: Zé Henrique de Paula

Figurinos: Ùga Agú

Iluminação: Fran Barros

Assistente de Cenografia: Dani Bezerra

Assistente de Figurinos: Cauã Stevaux

Cenotécnico: Jhonatta Moura

Fotos: Adriano Dória

“Design” Gráfico: Laerte Késsimos

Redes Sociais: 1812 Comunicação

Assessoria de imprensa: Pombo Correio

Produção: Renata Alvim e Zé Henrique de Paula

Produção Executiva: Luanda Scandura

Assistente de Produção: Victor Lima

Realização: Rega Início e Núcleo Experimental

  




 

SERVIÇO:

Temporada: De 01 de junho a 21 de julho de 2024.

Local: Teatro do Núcleo Experimental.

Endereço: Rua Barra Funda, nº 637, Barra Funda, São Paulo – SP.

Telefone: (11) 3259-0898.

Dias e Horários: Sábados, segundas e terças-feiras, às 20h; domingos, às 18h.

Valor dos Ingressos: Mezzanino: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada); Palco: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada); Mesa: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia-entrada); Rei e Rainha: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada).

Observe a possibilidade de descontos (Consulte o “site” do Núcleo Experimental.)

Vendas “on-line” (com taxa de conveniência):  SYMPLA - sympla.com.br/

Bilheteria Física (sem taxa de conveniência): Todos os dias, das 12h às 18h. Em dias de espetáculos, a bilheteria permanece aberta até o início da apresentação. 

Duração: 2h10min (Com 10 minutos de intervalo).
Classificação Etária: 18 anos. Os menores de 18 anos, acompanhados dos pais ou responsáveis legais são admitidos.

Gênero: COMÉDIA. 

 

 



  

Uma curiosidade: Na chamada do espetáculo, em Nova Iorque, há o seguinte “AVISO LEGAL DE CONTEÚDO”: “‘DRUNK SHAKESPEARE’ é um programa apenas para adultos (+21 anos). O ‘show’ inclui linguagem forte, vulgaridade, humor sexual e interação com o público. Também pode incluir elementos de nudez. O ‘show’ é diferente a cada noite, dependendo de quem está bebendo... e do que está bebendo. Então, você sabe o que esperar! AVISO DE SAÚDE: Não toleramos o consumo excessivo de álcool. Nossos atores estão em um sistema de rodízio regular e são, cuidadosamente, monitorados em todos os momentos. Beber com moderação pode ser divertido. Beber em excesso pode arruinar sua vida. Promovemos o consumo saudável.”. Com relação à nossa montagem, garanto que apenas algumas coisas dos referidos “AVISOS” existem por cá. Detesto a interação no TEATRO, quando o espectador é feito de idiota e é desrespeitado, servindo de piada para os demais, os quais só acham graça, porque não estão na situação ridícula do foco da cena. Isso, EM HIPÓTESE ALGUMA, ocorre em “UM PORRE DE SHAKESPEARE”. Todas as participações da plateia são espontâneas e totalmente dentro do maior respeito e empatia, de modo que todos se divertem muito, sem o menor constrangimento. Também não há “vulgaridade” nem “elementos de nudez”. Há, sim, muito bom humor e um escracho “classudo”.

 

 



Um detalhe que, de modo algum, não pode passar despercebido é quão atual é “Macbeth”, no panorama do Brasil de hoje. “Macbeth” é uma tragédia que narra a inescrupulosa e sangrenta ascensão do general de mesmo nome ao trono da Escócia. Intriga, mentiras, traição, usurpação do trono, luta pelo poder... Como um texto escrito há mais de 4 séculos – acredita-se que entre 1603 e 1607 – pode conter tanta semelhança com o momento recente no Brasil, pelo seu aspecto político? Muito oportuna foi a escolha dos produtores.

 

 



Tenho esperança de que a atual temporada seja prorrogada – Se depender do público, não há o que discutir. –, pois gostaria de rever o espetáculo, que RECOMENDO COM O MAIOR EMPENHO, em agosto próximo, quando voltarei a São Paulo.

 

 

 

 

 

FOTOS: ADRIANO DÓRIA.

 


GALERIA PARTICULAR

(Fotos: Guilherme De Rose.)

 

 

Com Cleomácio Inácio, Luciana Ramanzini, 

Dennis Pinheiro e Rodrigo Caetano.


Com Bruna Guerin.


Com Fabiana Tolentino.


Com Dennis Pinheiro.


Com Zé Henrique de Paula.

 

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