sábado, 31 de agosto de 2024

 “JANDIRA –

EM BUSCA DO

BONDE PERDIDO”

ou

(UMA ODE À VIDA,

VIA MORTE.)

ou

(A CAMINHO

DO PONTO FINAL

DO BONDE.


 

           Em 29 de janeiro do ano em curso (2024), o Brasil perdia, aos 78 anos de idade, vítima de um câncer de pulmão, uma grande representante das Artes Cênicas, JANDIRA MARTINI, atriz, dramaturga, diretora e produtora teatral. Durante quase quatro décadas, formou uma dupla com o amigo MARCOS CARUSO, com quem escreveu, a quatro mãos, cerca de 20 peças, as quais renderam, aos dois, muito prêmios de TEATRO, como os mais cobiçados: Moilière, MambembeApca e Shell. O maior sucesso da dupla, como dramaturgos, é a COMÉDIA “Sua Excelência, o Candidato”, que mostra os bastidores da "politicagem" brasileira, e que, por isso mesmo, está cada vez mais atual e merecia uma nova montagem (Fica a dica.), além do que se tornou um dos clássicos da dramaturgia brasileira. JANDIRA trabalhou em TEATRO, cinema e televisão. Para os paulistanos, sempre foi muito conhecida, pelo trabalho sobre as tábuas, porém, para os cariocas e demais brasileiros, sua fama chegou, de verdade, por meio de suas atuações na TV, principalmente na Rede Globo de Televisão. JANDIRA era paulista, de Santos, onde nasceu em 10 de julho de 1945. Seu último trabalho como atriz de TEATRO foi, exatamente, numa primeira montagem do monólogo ora comentado, em 2020, com o título, então, de Em Busca do Bonde Perdido”, que narra a descoberta de uma doença e as mudanças de perspectivas de vida, após esse acontecimento.


JANDIRA MARTINI.


SINOPSE:

A peça convida o público a um passeio pelas memórias mais marcantes da autora, através de um texto direto, enxuto e coloquial, evocando os blocos carnavalescos da cidade de Santos, sua terra natal, as descobertas da infância, momentos dramáticos, a vida dedicada ao TEATRO.

Um diagnóstico inesperado desencadeia o maior dos dramas humanos, que a todos iguala: a tomada de consciência da finitude, da fragilidade humana e do inevitável confronto com a morte.

Mas, se o tema é transitoriedade e vulnerabilidade, para além disso, há uma narrativa de paixão pelo próprio ofício, pelas pessoas, vivências e, sobretudo, uma declaração de amor à vida.

O último texto da atriz e dramaturga JANDIRA MARTINI (1945-2024) é um relato autobiográfico bem-humorado e poético sobre a tomada de consciência da finitude.

 

[

 

 

         Seria JANDIRA MARTINI, assim como MARCOS CARUSO, atores que escrevem ou dramaturgos que atuam? A meu juízo, trata-se de uma preocupação desnecessária, já que ambos demonstram talentos nas duas vertentes. JANDIRA se considerava uma atriz que escreve, uma das primeiras falas da personagem, na peça, quando ISABEL TEIXEIRA quebra a quarta parede e se dirigir, diretamente, ao público.

 

Marcos Caruso e Jandira Martini

(Foto extraída da internet.)

         A dramaturgia é inspirada em sua própria jornada pessoal, seus últimos anos, lutando contra um câncer, e dedicação ao TEATRO. Em sua própria definição, o texto é “Um monólogo sobre uma situação imprevista, surpreendente. Uma atriz que se revela, diante de seu público, ao narrar, com humor, sua inesperada e assustadora experiência. Auto ficção? Sem dúvida. Um ‘stand-up’? Seria, se fosse cômico. E cômico não chega a ser. Nem trágico. Apenas dramático.”. Nada melhor do que a própria autora para dizer o que o espectador verá no palco, durante 70 minutos de muita ação, emoção e divertimento. Por que não? É como se a autora debochasse da morte, produzindo humor e tirando partido de um assunto “pesado”, tornando-o mais leve e natural, para ser aceito, visto ser uma questão inevitável. Na verdade, não se trata der um lamento pela aproximação da morte, mas um canto e um preito de louvor e agradecimento à vida.

  

 

         Confesso que, em alguns momentos – poucos, é verdade -, senti-me incomodado, não por qualquer defeito na encenação - muito pelo contrário -,mas pelo tema abordado. Até algum tempo atrás, eu pensava como o saudoso Chico Anysio, que dizia não temer a morte, mas seu sentimento, diante dela, seria de "pena", por deixar de viver, deixar de aproveitar as coisas boas que a vida nos proporciona. Hoje, não tenho nenhuma dúvida em dizer que tenho, sim, medo de morrer, e isso me perturba um pouco, vez por outra. Mas, para isso, há um bom terapeuta à minha disposição. Não pensem, porém, que deixei o Teatro das Artes, no Shopping da Gávea (VER SERV IÇO.) mal, “pra baixo”, triste e arrependido de ter aceitado o convite de STELLA STEPHANY, assessora de imprensa do espetáculo. Não! Muito pelo contrário!

 

 

 

           Não fazia ideia do que iria encontrar, na noite de ontem, naquele Teatro, e fique surpreso e “cabreiro”, não vou negar; cético, é verdade, quando as cortinas se abriram e me deparei com um palco totalmente vazio e uma atriz entrando em cena, trazendo uma cadeira de praia, que seria – Pasmem! – o único "elemento cênico" em todo o espetáculo. Como assim?! Cadê o cenário?! Temi pelo que viria, mas ainda tinha a esperança de que tudo daria certo, porque não era qualquer atriz que estava em cena. Era ISABEL TEIXEIRA, outra grande intérprete, como foi JANDIRA, e que também se tornou conhecida, pelo grande público brasileiro, por seus recentes papéis na televisão, a despeito de já ter uma considerável carreira construída no TEATRO, em São Paulo. Sua atuação é intensa e memorável. A atriz demonstra ter ido fundo numa pesquisa sobre a homenageada e, como diz MARCOS CARUSO, diretor do solo, “BEL respira e transpira TEATRO. BEL é JANDIRA.”. Não há como discordar. Que atriz de grandes possibilidades! Que talento intenso, vigoroso! Monólogos, em geral, são apresentados em palcos pequenos, em ambientes acanhados, porém a atriz domina o espaço, apodera-se de todo o grande palco do Teatro das Artes e atrai todas as atenções de uma plateia que a aplaude, frenética e merecidamente, ao final do solo.

 

 


 

           E, já que falei em CARUSO, creio que, como maior amigo de JANDIRA, conhecendo-a bastante, consequentemente, não havia ninguém mais indicado para dirigir o espetáculo. Acertaram os produtores ao lhe fazer o convite para segurar as rédeas do monólogo. De comum, entre eles, além do talento, o bom humor, que o diretor, com muita felicidade transferiu para a encenação, contando com o potencial de atriz de ISABEL TEIXEIRA. A ideia de optar por um cenário minimalista e bastante econômico, além de forçá-lo a buscar ótimas soluções de marcações para a atriz, ainda facilita a locomoção da peça para outros Teatros. Bom texto, boa direção e boa atuação são capazes de, até mesmo, nos fazer esquecer os elementos de criação, como a cenografia, o figurino e a iluminação.

 

 

           O figurino e a iluminação, dois importantes elementos de suporte numa produção teatral, são assinados por dois de seus melhores e mais premiados artistas, FABIO NAMATAME e BETO BRUEL, respectivamente. Na linha do “menos é mais”, “comme il fault”, NAMATAME desenhou um traje elegante, mas sem sofisticação e bastante prático, que combina uma calça comprida, larga, uma espécie de camiseta e um tipo de casaco, sobretudo, confeccionados em tecidos leves e em tons pastéis. Acompanha o figurino, um complemento importantíssimo, para a personagem: uma enorme bolsa, de onde ela retira objetos incorporados à representação. Ao contrário do “cinto de inutilidades” do Batman, é uma verdadeira “bolsa de utilidades”, quase um “personagem coadjuvante”, na peça; “até a página 5”. BETO, um profissional acostumado a criar desenhos de luz bastante requintados, acompanhou a proposta da direção e ilumina o palco de forma comedida e precisa, utilizando apenas uma cor, diferente da branca, o verde, numa única cena em que a tonalidade se faz totalmente necessária.

  


 

           Concordo, plenamente, com MARCOS CARUSO, quando utiliza três frases para definir a montagem: “Uma corajosa exposição. Uma improvável abertura de sentimentos de uma das pessoas mais fechadas que conheci. Uma peça que fala de uma dor de todos nós, com um grau elevado de bom humor e poesia.”. Causou-me um sentimento que não sei como codificar a atitude de JANDIRA, de se sentar para escrever um texto para o TEATRO, sobre a sua caminhada para os últimos tempos de vida, isso com tanta placidez, aceitação, resiliência e bom humor, zombando da “indesejada das gentes”, eufemismo criado pelo “Príncipe dos Poetas”, Manuel Bandeira. Em seus momentos mais difíceis, a personagem/narradora busca socorro nas palavras e pensamentos de Molière, Machado de Assis, Oscar Wilde, Shakespeare, (a quem chama de "tio") e outros deuses da escrita, sua grande paixão.”

  

 

 

FICHA TÉCNICA:

Texto: Jandira Martini

Direção: Marcos Caruso


Elenco: Isabel Teixeira

 

Cenografia: (Não há referência.)

Figurino: Fabio Namatame

Iluminação: Beto Bruel

Trilha Sonora: Aline Meyer

Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

Fotos: Roberto Setton

Produção Executiva: Silvia Rezende

Direção de Produção: Roberto Monteiro e Fernando Cardoso

Realização: Mesa2 Produções


 

 

 


 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 09 de agosto a 01 de setembro de 2024.

Local: Teatro das Artes RJ (Shopping da Gávea).

Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52 - 2º piso – Gávea - Rio de Janeiro.  

Telefone: (21) 2540-6004.

Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 20h; domingo, às 18h.

Valor dos Ingressos: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia-entrada).

Vendas: https://divertix.com.br/rio-de-janeiro/home (com taxa de conveniência) ou na bilheteria do Teatro, de 3ª feira a dom, das 15h até as 20h.

Capacidade: 417 pessoas.

Duração: 70 minutos.

Classificação Etária: 12 anos.

Gênero: Monólogo (Biográfico).

 

 

 

           Sem querer dar palpite no trabalho de direção, muito menos diminuí-lo ou criticá-lo negativamente, eu colocaria, no final do espetáculo, a projeção de alguma(s) foto(s) de JANDIRA MARTINI, ao fundo. Acham que ficaria "cafona"? Seria um forma de trazer à lembrança de muita gente o rosto da querida e consagrada artista, já que somos um "país sem memória"


JANDIRA MARTINI. 

(Foto encontrada nas redes sociais.)


           É uma pena que o solo tenha tenha sido apresentado em curta temporada no Rio de Janeiro. Merece outras e já está com a agenda comprometida, para ser apresentado em algumas cidades brasileiras, nas quais, certamente, alcançará o mesmo sucesso feito por aqui. RECOMENDO O ESPETÁCULO.

 


 


 

 

 

 FOTOS: ROBERTO SETTON.

 

 

 

 

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sexta-feira, 30 de agosto de 2024

 “UM GRANDE ENCONTRO

- O MUSICAL”

ou

(UMA GRANDE IDEIA.)

ou

(PARA AQUECER

O CORAÇÃO BRASILEIRO.)





 

            Quando anunciei, a algumas poucas pessoas, que, em pouco tempo, estando em São Paulo, assistiria a um musical, chamado “UM GRANDE ENCONTRO – O MUSICAL”, ouvi comentários, nada discretos nem elegantes, como este: “Só você mesmo, pra ver essas coisas!”. Não tendo entendido bem, perguntei sobre “que tipo de coisas” e obtive como resposta algo parecido como isto: “Esses musicais feitos pra ganhar dinheiro, sem nada de bom e construtivo, sem nenhum comprometimento com nada!”. Possivelmente, quem me disse isso nem tenha assistido à peça. Como não sou dos que se deixam “emprenhar pelo ouvido” – Perdão pelo termo grosseiro! –, mantive minha decisão e agendei uma ida ao “Marte Hall”, onde o espetáculo fica em cartaz, apenas, até o próximo domingo, 01 de setembro de 2024, espaço que eu ainda não conhecia, na capital paulista, e que me agradou muito, e fui, numa tarde de sábado, 17 próximo passado, sem me deixar influenciar por aqueles comentários. Fui para me divertir e gostar. Fui, diverti-me bastante, gostei e, por essa razão, aqui estou escrevendo sobre o musical. Antes de mais nada, agradeço a FERNANDA TEIXEIRA (Arteplural – Assessoria de Imprensa), pelo convite.

 



         Dizer que o espetáculo é “a última bolacha do pacote” – Em São Paulo; no Rio, seria “biXcoito” (Momento descontração!) – seria um exagero e eu estaria fugindo à verdade, mas afirmar que é um espetáculo gostoso de se assistir, divertido, bonito, alegre, bastante honesto, feito com muito cuidado e respeito ao público e, principalmente, que atinge o objetivo a que se propõe, quanto a tudo isso, é a mais pura verdade. O TEATRO não tem, sempre, que criticar, denunciar, exigir mudanças na sociedade e “outros que tais”, engajado numa causa ou panfletário... E que história é essa de que ele sempre tem que “estar comprometido”? Comprometido com o quê? Comprometido, sim, mas com o seu objetivo, com a sua verdade, com a obrigação de procurar apresentar um produto de qualidade, com o público a que se destina e ao qual pretender agradar. Naquela tarde de sábado, eu fazia parte desse público, e todos os que lá estávamos gostamos muito do que vimos e aplaudimos, com vontade, os artistas do espetáculo, simplesmente porque encontramos tudo isso nele.

  

 

  A peça é inédita e, embora tenha sido baseada num belo momento da Música Popular Brasileira, um encontro que reuniu, na segunda metade da década de 1990, em dois discos e “shows”, numa enorme celebração, quatro grandes cantores e compositores do nordeste brasileiro, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Elba Ramalho e Zé Ramalho, traz uma história ficcional, por meio de uma dramaturgia costurada por canções que se tornaram clássicos da MPB, fruto daquele encontro do quarteto já mencionado. Esse, na verdade, é o único ponto de relação entre o texto e aquele profícuo momento da nossa música genuína.

 


 O roteiro também não é nenhuma novidade. Já fomos apresentados a ele nos palcos, nas telonas e nas telinhas, sob os mais diferentes disfarces, mas sempre aquela história do herói que deixa sua terra natal, em busca de uma oportunidade – no caso, aqui, um artista popular - e que ama uma mocinha, por quem é correspondido, mas encontra obstáculos que existem para atrapalhar e desfavorecer o encontro de duas almas que se amam. E daí? Toda história tem que ser inédita? Ou melhor, todo roteiro? Se assim fosse, vários sucessos do TEATRO, do cinema, da literatura e da TV não existiriam. O que vale é o modo como o trivial é contado, a dinâmica como chega ao destinatário. Aqui, temos uma história simples, que se assemelha a tantos folhetins da televisão. Daria uma excelente novela das 18 ou 19, sei lá!  E que mal há nisso? Não vejo nenhum. 

 


 

 

SINOPSE:

Ambientada no início dos anos 1970, “UM GRANDE ENCONTRO – O MUSICAL” celebra o amor, fruto dos encontros, por meio da trajetória do romance que entrelaça a vida de Tom Silva (VICTOR MEDEIROS), jovem músico sonhador, e Diana Abrantes (MARINA BRAGA), também conhecida como Margarida, uma mulher de espírito livre, presença marcante, engajada em seus ideais e resiliente, mas que precisa enfrentar as barreiras criadas pela obsessão de Tião Cavalcanti (OSMAR SILVEIRA).

Tom cresceu pelas ladeiras de Olinda.

Filho de músico, Tom, um rapaz sonhador, cantor virtuoso, sentimental, romântico e de espírito aventureiro, herdou o talento do recém-falecido pai.

Para amenizar a tristeza de sua perda, é levado, por seu melhor amigo, Lito (MÁRCIO SAM), para a badalada praia de Boa Viagem, onde acontece o primeiro e inusitado encontro com Diana.

É paixão à primeira vista.

Tudo seguia bem para um próximo encontro, até a interferência de Tião, Sebastião Cavalcanti, o antagonista da trama, um jovem poderoso, perigoso e obsessivo, filho de políticos influentes, que manda e desmanda nas areias de Boa Viagem, obcecado por Margarida.

Junto de seus capangas, tentam enganar Tom, fingindo-se de noivo da moça.

Frustrado e se sentindo enganado por ela, Tom decide partir para o Rio de Janeiro e ir em busca de realizar seu desejo: o de tocar no concurso de uma rádio, transmitido para todo o país, direto do Teatro Thereza Raquel, em Copacabana.

Diana, a Margarida, não se conforma com o sumiço de Tom e tenta reencontrá-lo.

Tião entra em cena novamente e fará de tudo para impedir um novo encontro entre os dois.

Entre amores, sonhos, conflitos e amizades, costuradas por músicas inesquecíveis da MPB, a busca de um encontro irá acontecer.


 

 


 

   A dramaturgia é boa, bem escrita; feita para ser entendida tanto pelo intelectual acadêmico como pelo representante do “povão”, que também tem que ser considerado, no quesito público. Os diálogos são bem simples e naturais, codificadas as falas em linguagem corrente, do dia a dia, como, de fato, falariam os personagens, se existissem de verdade e não tivessem saído da cabeça de TÚLIO RIVADÁVIA, que assina o texto. O autor deitou-se mesmo, intencionalmente, num leito novelesco, para contar a história de amor entre Tom e Diana. Não se trata, absolutamente, de um musical biográfico, sem nada ter a ver com as vidas de Geraldo, Alceu, Elba e Zé Ramalho. TÚLIO, partindo de uma apurada pesquisa, pautou-se nos grandes sucessos musicais do quarteto, para encontrar os ganchos da história que criou. A partir dessa pesquisa, fez uso também de fatos e locais relacionados àqueles artistas, apenas como referências em suas vidas pessoais.

 


 

     Dos elementos principais que englobam o lado plástico da montagem – cenografia, figurinos e iluminação – desafio quem possa fazer qualquer crítica negativa a CARMEN GUERRA, BRUNO OLIVEIRA e WAGNER FREIRE, que assinam, respectivamente, as três rubricas em destaque.

 

 

    As ações se passam em vários lugares bem distintos e isso poderia se tornar um grande óbice para qualquer cenógrafo, que tem que se moldar aos cifrões de que a produção dispõe, e para esta também, mas CARMEN encontrou um criativo, prático e econômico modo de fazer caber tudo o que precisava mostrar naquele palco giratório, dependendo de cada cena. Os lugares são todos urbanos, porém com características culturais bem diferentes uns dos outros. Para chegar a detalhes de cada espaço, a artista deve ter mergulhado numa pesquisa profunda, visto que observei, em todas as partes do cenário, pormenores marcantes da arquitetura e da cultura local. Lá está, por exemplo, uma rampa, ao fundo, representando as ladeiras de Olinda, e as fachadas do casario colonial daquela cidade. Lá está o interior humilde da casa de um nordestino. Lá estão as cores alegres das festas populares e suas decorações. Lá está uma perfeição cenográfica.

 


 

 

    Os figurinos são um detalhe à parte, que me faz aplaudir, com muito vigor, BRUNO OLIVEIRA, a quem já tive a oportunidade de elogiar, sem economia de adjetivos, quando escrevi uma crítica sobre um musical infantil, “A Fabulosa Fábrica de Música”, ao qual assisti, em outubro do ano passado, no Rio de Janeiro, no qual, salvo engano, foi quando, pela primeira vez, conheci o seu primoroso trabalho, algo inesquecível. Concluí lá, e repito aqui, que não há limites para a criatividade e o bom gosto desse artista, na criação de seus trajes, confeccionados em materiais e texturas os mais diversos possíveis, com detalhes de colagens, bordados e aplicações de elementos muito significativos, em alto relevo, sobre as bases de tecidos e plásticos, sem falar da vivacidade de cores, quentes e alegres, exploradas numa vasta paleta. Verdadeiras obras de arte! 

 


   WAGNER FREIRE embarcou na mesma “vibe” dos dois colegas de FICHA TÉCNICA, e nos brinda com uma explosão de cores, intensidades e muitas variações, com seu desenho de luz festivo e exuberante, alegre e envolvente, vivíssimo, ajustado e preciso.

 

 

    Por se tratar de um musical, de certo que a música e a coreografia ganham relevo nesta produção. Não há como não dedicar comentários elogiosos aos trabalhos de direção musical, a cargo de DANIEL ROCHA, e de coreografia, desenhada por SABRINA MIRABELI. Desta, creio que seja o primeiro trabalho seu que tenho a oportunidade de conhecer, e já gostei. Quanto a DANIEL, já é um velho conhecido meu, de tantos outros musicais e, por várias vez vencedor de prêmios, todos muito merecidos.

  


          O trabalho de DANIEL está totalmente condicionado às necessidades do texto e a serviço da montagem, dividido em fazer os arranjos, vocais e musicais, e dirigir, musicalmente, atores que têm quer cantar e, como, já de há muito, vem ocorrendo em musicais, tocar instrumentos, nem que sejam os que não exigem muito esforço nem talento para serem aprendidos. Do enorme elenco de 20 atores, quase todos, além de cantar ajustadamente, alguns de forma surpreendente, para mim, ainda ajudam no acompanhamento das 35 canções que fazem parte de trilha sonora do espetáculo, com o devido destaque para “Frevo Mulher”, “Tropicana”, “Coração Bobo”, “Anunciação”, “Olinda”, “La Belle de Jour”, “Dona da Minha Cabeça”, “Moça Bonita”, “O Ciúme”, “Canção da Despedida”, “Caravana” e “Admirável Gado Novo”, as mais conhecidas, um convite a que o público também as cante. Segundo o competentíssimo diretor musical, com relação ao elencouma coleção impressionante de talentos, que não só cantam, mas também tocam, desde rabeca e flauta até saxofone e violão”, fora pequenos instrumentos regionais de percussão, acrescento eu. Mas sobre o elenco, falarei em outro momento.

  

 

         No que se refere à coreografia, SABRINA explora, corretamente, o potencial de cada ator/atriz, em recortes coreográficos variados, viajando, em passos simples e harmoniosos, o mais próximo possível às danças regionais nordestinas, um riquíssimo patrimônio da cultura brasileira. Uns atores demonstram já ter trazido um conhecimento técnico da dança e outros se atêm a reproduzir os passos ensaiados e, no final, todos se entendem e o resultado é bastante favorável.

 


           Por mais despretensioso que o espetáculo possa parecer a alguns, não é assim que o vejo. Ao contrário, recuso-me a acreditar que JARBAS HOMEM DE MELLO, um dos nomes mais respeitados e competentes no TEATRO MUSICAL BRASILEIRO, não se proporia a assinar uma direção artística de um musical, gênero teatral que ele traz de berço, genuinamente brasileiro, se não fosse para brilhar, para deixar lá sua marca de diretor consagrado, criativo e de muito bom gosto. Ele divide a responsabilidade desse trabalho de reger duas dezenas de atores/cantores/dançarinos/músicos com TÚLIO RIVADÁVIA, o já citado dramaturgo. Os dois se apoiam numa estética tropicalista/carnavalesca, com ênfase no carnaval do nordeste, para criar um espetáculo lindo de se ver, alegre, azeitado e contagiante. A direção acerta no centro do alvo, em todas as suas proposições, às quais o elenco responde de forma muito profissional.

 


         Agora, sin. E o que dizer do elenco de “UM GRANDE ENCONTRO – O MUSICAL”? Sabendo que não serei nada original, começo por dizer que, após as audições, o material que ficou retido na peneira, para formar o “cast” resultou num “grande encontro” (Acreditem: Eu não quis ser engraçado. Eu não me considero engraçado. Ninguém tem, portanto, que achar graça de um trocadilho tão “5ª série Z”, “sem-gracinha”. Outro momento descontração!). Ao tomar conhecimento do elenco da peça, ainda no hotel em que estava hospedado, verifiquei que, dos 20 artistas, eu só conhecia OSMAR SILVEIRA, desde os velhos tempos de “Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz, O Musical” (2013) e Gabriel Vicente (Vincte). Um detalhe: Conheci OSMAR no antigo Theatro NET Rio, onde funcionava o Teatro Tereza Rachel. Pensei, bastante intrigado: como eu, um “rato de TEATRO Musical”, não conheço essa gente (Que bom que passei a conhecer!)?! Levei isso para o Marte Hall e, quando vi o elenco entrando em cena, quase todos muito jovens, imaginei que se tratasse de alunos de algum curso de TEATRO Musical, ministrado pelo JARBAS, e que aquilo pudesse ser uma espécie de montagem acadêmica; um “espetáculo de formatura”, talvez. Vai-se lá saber? Mas, quando pude perceber quão competentes eram todos, fui construindo a certeza de que aquilo ali “daria um bom caldo” e comecei a achar que eu estava precisando assistir a mais musicais em São Paulo, mais ainda do que já assisto, o que não é pouco. Onde, para mim, estava toda aquela gente talentosa até agora? 

 

 

      Um detalhe chamou-me a atenção: a corretíssima prosódia dos personagens nordestinos. Como trabalharam bem essa questão da fala regional! Era o que eu pensava. Ledo engano! Não sabia eu que o diretor houve por bem priorizar atores nordestinos, uma ideia genial, totalmente aprovada por mim, o que só vim a saber após o espetáculo, por meio de uma conversa informal, por acaso, com um jovem que trabalhava na produção e puxou conversa, para saber a minha opinião sobre o espetáculo (Acho que ele soube que eu era crítico de TEATRO.). Foi ele quem esclareceu tudo. Disse-me que o grupo era formado, em sua maioria, por jovens – grandes talentos, acrescento eu, novamente- vindos de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia, daí a autêntica pronúncia exigida. São, ao todo 3 músicos e 17 atores, na verdade, encarregados de contar a história. E como a contam bem! Não destacarei ninguém, porque avalio como bom o conjunto das atuações, todos nivelados no mesmo prumo.

  


 

 

FICHA TÉCNICA: 

Idealização: Rose Dalney, Túlio Rivadávia e Márcio Sam

Texto: Túlio Rivadávia
Direção Artística: Jarbas Homem de Mello e Túlio Rivadávia
Direção Musical: Daniel Rocha
 

Elenco / Personagem: Victor Medeiros (Tom), Marina Braga (Diana), Osmar Silveira (Tião), Márcio Sam (Lito), Marica Clara Aquino (Mara), Larissa Carneiro (Dona Anunciação), Gabriel Vicente (Apresentador / Líder da Caravana), Nestor Fonseca (Cicinho), Paulinho Ramos (Nico), Rodrigo Sestrem (Matias), Mikael Marmorato (Valencia), Clayson Charles (Fofoqueiro), Roma Oliveira (Zé Raimundo), Vinícius Loyola (Geraldinho), Júlia Perré (Elma), Walerie Gondim (Fofoqueira) e Sémada Rodrigues (Fofoqueira)

Músicos Regentes e Pianistas: Andrei Presser  e Renan Achar
Percussionista: Daniel Alfaro
 

Cenografia: Carmen Guerra
Figurinos: Bruno Oliveira
Iluminação: Wagner Freire

Coreografia: Sabrina Mirabelli
Visagismo: Dicko Lorenzo
“Designer” de Som: Tocko Michelazzo
Consultoria  em Danças Regionais: Sémada Rodrigues
Produtora de Elenco: Giselle Lima
Assistentes de Produção de Elenco: Fabi Tolentino e Lurryan Nascimento
Produção Executiva: Clayton Epfani
Produção: Rose Dalney e Márcio Sam

Assessoria de Imprensa: Arteplural

Fotos: Caio Gallucci

APRESENTADO PELO Ministério da Cultura e Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas

Patrocínio: UOL
Copatronínio: Movida, Grupo Vamos
Apoios: Apsen, Hortifruti, Tubos Ipiranga
Realização: Rivadavia Comunicação
Produção: Miniatura 9 e Religar


 

 


 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 21 de junho a 01 de setembro de 2024.
Local: Marte Hall São Paulo.

Endereço: Rua Domingos de Morais, nº 348, Vila Mariana – São Paulo.

Telefone: (11) 3542-4680 / Whatsapp: (11) 97608-5261.

ACESSIBILIDADE PCD: SIM.

Dias e Horários: 6ª feira, às 21h; sábados e domingo, às 15h30min e 19h.
Valor dos Ingressos: De R$ 35 a R$ 160 (inteira), dependendo da localização do assento.

Vendas: (física, sem taxa): Bilheteria: De 3ª feira a Domingo, das 14h às 20h ou até o início do último show  /   (“on-line”, com taxa): olhaoingresso.com.br

Duração: 100 minutos.

Classificação Etária: Livre.

Gênero: Musical

 

 


 

            Gostei muito deste musical, que pode ser assistido por toda a família e que, além de uma história contada, também presta uma merecida homenagem a quatro dignos representantes da Música Popular Brasileira, todos ainda vivos, e em atividade, felizmente, o que – é bom lembrar – é algo raro num país em que as homenagens costumam ser prestadas “post mortem”, isso quando os artistas não são esquecidos de vez, visto que vivemos num pátria “sem memória” e que se presta mais a valorizar, no campo das artes, o que vem de fora.

VIVA O ARTISTA BRASILEIRO!

VIVA O TEATRO BRASILEIRO!

VIVA O TEATRO MUSICAL BRASILEIRO!

RECOMENDO O ESPETÁCULO!!!

 

 


 

 

FOTOS: CAIO GALLUCCI

  

 

GALERIA PARTICULAR:

 



 

 

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