"PET SHOP,
O
MUSICÃO"!
ou
(UM BELO E IMPECÁVEL ESPETÁCULO
PARA A FAMÍLIA.)
Infelizmente,
a cada 10 espetáculos infantis ou infantojuvenis montados no Rio
de Janeiro – Creio que, em São Paulo e em outras praças, não seja diferente. -,
apenas menos da metade merecia ser encenada, e os demais não deveriam nem ter suas
montagens cogitadas, muito embora quase todos os envolvidos nos projetos que
deixam a desejar – alguns deixam “muito” (eufemismo para “são PÉSSIMOS) – sejam
pessoas bem intencionadas, que pensam estar prestando um bom serviço à educação
e à cultura, quando, na verdade, ocorre, exatamente o contrário: acabam
prestando um grande desserviço a uma importante causa, que é ajudar na educação
dos pequenos jovens e despertar-lhes o gosto pelo TEATRO, já que são eles
que formariam
as plateias do futuro. Fiz uso do verbo (“formariam”) no futuro do
pretérito do indicativo, porque este tempo verbal expressa, entre outras coisas, incerteza, sendo
utilizado para se referir a algo que poderia ter acontecido, posteriormente a
uma situação no passado. Sinceramente, não podemos ter certeza de que
iremos encontrá-los, na idade adulta, frequentando Teatros. E eu não posso lhes
tirar a razão, até porque, infelizmente, como em qualquer outro ramo
profissional, existem muitos falsos artistas, uns “picaretas”, responsáveis
por montagens medíocres, que só visam ao dinheiro; fazem qualquer coisa, sem
amor e respeito aos pequenos, sob a indecente justificativa de que, “se é
para criança, qualquer coisa serve”. NÃO SERVE, NÃO!!! Criança é muito
importante, em qualquer circunstância e sob qualquer causa!!!” Confesso que isso
muito me preocupa, principalmente, quando, assíduo, que sou, em peças
destinadas ao nicho do TEATRO Infantil / Infantojuvenil, ouço,
muitas vezes, à saída dos Teatros, alguns pequenos
expressando, sobre
sua aquela sua experiência teatral – às vezes, a primeira -,
comentários como: “Isso daí é que é TEATRO? É muito chato (ruim, saco, bobinho, sem-noção...!
Não quero ir de novo, não!”. Entendo-as perfeitamente, porque a razão
está com elas, pelo simples fato de não terem assistido a uma boa peça para a
sua faixa etária.
De uma
forma geral, os dramaturgos só escrevem peças para os adultos ou se especializam
em produzir texto dramáticos para crianças e adolescentes. Poucos se arriscam a
circular nas duas calçadas, e, menos ainda, nos deparamos com os que conseguem
criar dramaturgias de qualidade, tanto para um universo quanto para o outro.
Não vem ao caso, agora, citar os raros exemplos destes, porque o que importa,
nesta apreciação crítica, é jogar luz no trabalho do jovem VITOR ROCHA, indubitavelmente, um dos melhores dramaturgos da sua novíssima
geração. VITOR é ator,
diretor,
escritor
e roteirista.
Tem apenas 26 anos de idade, mas já acumula muitos sucessos, de público e
de crítica, e prêmios de TEATRO, desde quando encenou seu
primeiro espetáculo, “Cargas D’Água – Um Musical de Bolso”,
em 2018,
que lhe rendeu prêmios, logo na primeira experiência, repito, e mereceu
montagens em Londres e Nova Iorque. “Seu
passe é tão caro”, que, em 2019, foi eleito, pela influente revista
Forbes, um dos 90 jovens mais bem sucedidos e promissores do país.
Ainda em 2019, estreou um espetáculo musical que considero sua “OBRA-PRIMA”,
até o momento: “Se Essa Lua Fosse Minha!”. No
mesmo ano, encenou seu primeiro espetáculo infantojuvenil, “O Mágico Di Ó - Um Clássico em Forma de Cordel”, que eu
considero uma ideia tão arrojada quanto criativa e muito bem-sucedida. Agora, VITOR assina a dramaturgia de “PET SHOP, O MUSICÃO”, a convite da cantora
lírica e atriz JULIANNE DAUD, idealizadora
do projeto e produtora, juntamente com o maestro FABIO G. OLIVEIRA.
Vitor Rocha.
SINOPSE:
Quando
vem ao mundo, todo animalzinho recebe uma missão, uma missão que vem gravada em
seu pequeno coração, assim como seu nome na coleira.
Alguns
recebem a missão de guiar; outros recebem a missão de proteger; alguns vêm para
fazer companhia; e outros recebem, até mesmo, a missão de curar.
Bom,
é nisso que acredita M.C. (LUIZA PORTO), a chihuahua que
lidera todos os animaizinhos na Pet Shop da Dra. Maggie e cuida para
que tudo esteja sempre na mais perfeita ordem.
O
problema é que essa ordem parece estar com os dias contados, depois da chegada
de Mussarela (Com "SS" mesmo) (ARTHUR BERGES), um cãozinho com
nome de queijo, que foi criado pelas ruas e que, depois de se envolver com o bando
de cachorros errados, acabou precisando de abrigo e foi se esconder por lá.
Como
se não fosse o bastante, para tirar o sono de M.C., a notícia de que a Pet Shop
poderá ser demolida, para dar lugar a um estacionamento, acerta todos em cheio.
Agora,
bichinhos adestrados e de rua vão precisar trabalhar juntos e superar suas
diferenças, se quiserem sair dessa!
Guardadas as devidas proporções, pode-se enxergar, neste
espetáculo, algo bem próximo à mensagem maior do icônico musical “Os
Saltimbancos” (1977) versão do original italiano “I
Musicanti”, inspirado no conto “Os Músicos de Bremen”, dos irmãos
Grimm. Na peça original, em
italiano, as canções têm letra de Sergio Bardotti e música de Luis
Enríquez Bacalov. No Brasil, a versão e as adaptações
levam o nome de Chico Buarque. Em “Os Saltimbancos”, fica a mensagem
do quanto quatro animais podem se tornar fortes, para combater um inimigo
comum, quando juntam forças: “Todos
juntos somos fortes / Somos flecha e somos arco / Todos nós no mesmo barco /
Não há nada pra temer.”. Ou seja, põe-se
em prática a velha e boa máxima de que “a união faz a força”. E isso só pode
ser conseguido quando as fortalezas se unem por uma única e justa causa, com
amor e respeito recíproco. Uma bela mensagem, que qualquer pequeno ser humano,
um(a) cidadão(ã) em formação, deve, e precisa, ouvir. Na peça “Os
Saltimbancos”, nota-se, quase escancarada, uma alegoria política, na
qual a Galinha representaria a classe operária; o Jumento, os trabalhadores
do campo; o Cachorro, os militares; e a Gata, os artistas. E o Barão,
inimigo dos animais, seria a personificação da elite, ou dos “detentores
do meio de produção”.
É claro que os pequenos não faziam essa
leitura, porém seus acompanhantes adultos sim. Por oportuno, faz-se necessário
dizer que as obras infantis, notadamente o TEATRO, sempre foram, durante o
período de ditadura militar, instaurada no Brasil em 1964, um terreno fértil
para que os autores, os dramaturgos, fizessem suas críticas aos que detinham o
poder à força, valendo-se de metáforas e alegorias, na maior parte das vezes
não captadas pela Censura, cujos membros não eram lá muito inteligentes.
Aparentemente, o texto de VITOR ROCHA
pode não dar margem a leituras mais “politizadas”, nas entrelinhas,
contudo a imaginação do ser humano é sempre muito fértil. De uma coisa, porém,
não há a menor dúvida: em “PET SHOP, O
MUSICÃO”, a mensagem da união entre amigos, para o fortalecimento de um grupo,
com o objetivo de lutar por uma justa conquista, está presente no palco do Teatro
Bravos, que fica no belíssimo prédio que abriga o Instituto Tomie Ohtake,
em São
Pulo, em cartaz, infelizmente, apenas até o próximo domingo, dia
19 de maio (2024).
Trata-se de um texto bonito, alegre, divertido, inteligente e de fácil compreensão, escrito para os pequenos, de verdade, mas que agrada a estes e aos grandes que os acompanham, cheio de diálogos ágeis e criativos, como se deve escrever para as crianças, sem fazê-las de “bobinhas”. Em resumo, é um espetáculo para divertir a família, e caiu em boas mãos, de gente muito competente. JULIANNE DAUD e FABIO G. OLIVEIRA são os responsáveis pela direção geral e idealização da peça. Foram eles que encomendaram o texto a VITOR ROCHA. O trio demonstra um grande amor aos animais, o que deveria ser seguido por todos. A dupla convidou FERNANDA CHAMMA, para a direção artística, a qual realizou uma bela e inteligente leitura do texto, além de ter assinado todas as alegres coreografias do musical, à exceção dos números de sapateado, criados por CHRIS MATALLO. A diretora contou com uma ótima equipe de colaboradores: artistas de criação, elencos e técnicos. E o resultado é o melhor possível, como já se poderia esperar.
No que diz respeito à parte musical, o maestro FABIO G. OLIVEIRA é o responsável pela
correta direção musical, além de assinar as melodias, ao lado de VITÓRIA MALDONADO. São muitas canções,
de fácil aceitação, e alguns trechos delas podem ser considerados “chicletes”,
por ficarem “grudados” em nossa mente, após o espetáculo. Eu mesmo, um
adulto de 74 anos, saí do Teatro com algumas linhas melódicas
na cabeça. Em tempo: as letras dessas canções, que ajudam na
narrativa, também foram escritas por VITOR
ROCHA. ANDRÉ ABUJAMRA ainda colabora, neste quesito, responsável pela
produção musical das bases. É bom que se diga que a trilha sonora
original é bastante eclética, pela qual desfilam ritmos musicais bem distintos,
como samba, reggae, tango, jazz e música orquestral.
Não importa se a produção não é voltada ao público
adulto. Tem que ser feito aquilo que se pode fazer de melhor.
Aqui, é muito fácil constatar isso, nos interessantíssimos figurinos, assinados por THEODORO
COCHRANE, e os cenários, de MARCO LIMA, que parecem ser reais, ganhar vida, por conta dos
muitos movimentos de passagem de um “set” a outro. Ambos os elementos,
bastante coloridos, são, a meu juízo, dois dos pontos altos desta montagem, o
que também pode, e deve, ser dito com relação ao caprichado visagismo,
criado por ANDERSON BUENO. A riqueza
de detalhes da plasticidade desta encenação é coroada pela brilhante luz de um
craque em seu ofício, WAGNER FREIRE. E mais um detalhe importantíssimo: nada do
que é dito e/ou cantado em cena é perdido, graças ao impecável trabalho de desenho
de som, a cargo de TOCKO
MICHELAZZO.
Como “o TEATRO é a arte do coletivo”, tal
preceito precisa ser seguido, à risca, numa relação que reúna todos os
envolvidos num projeto, porém é no palco que isso é mais notado pelo grande público.
Num elenco,
são importantes tanto os atores que interpretam os principais papéis como
também todos os demais. É preciso que haja uma grande sintonia entre todos, uma
homogeneidade ímpar, em termos de concentração e dedicação a cada um dos
personagens. Isso é o que notamos no palco, nesta produção. São 16
atores, todos interpretando personagens animais, misturados a bonecos
manipulados. Há, entre eles, alguns nomes que já vêm, há algum tempo, se
destacando em outros musicais, e muito aplaudidos por mim, como é o caso de ARTHUR BERGES, LUIZA PORTO, ADRIANO TUNES,
WILLIAN SANCAR, VINICIUS LOYOLA e GIOVANNA
ZOTTI, e há aqueles que me deram motivos para que os aplaudisse pela
primeira vez e ficasse bastante entusiasmado e satisfeito com suas “performances”.
A propósito, no dia em que assisti à peça, e me diverti muito com ela, a personagem
de LUIZA PORTO (M.C.), pelo fato de a atriz estar adoentada, foi interpretado pela jovem atriz JULIA BERLIM, titular da personagem Belinha. (A
maioria do elenco é formada por atores bem jovens; inCipientes,
porém jamais inSipientes. Momento descontração!
Consultem o Tio GOOGLE!), cujo trabalho, sob o meu crivo, foi
excelente. Uma substituição à altura do talento de LUIZA.
FICHA
TÉCNICA (SIMPLIFICADA):
Direção
Geral e Idealização: Julianne Daud e Fabio G. Oliveira
Texto e
Letras: Vitor Rocha
Músicas:
Vitória Maldonado e Maestro Fabio G. Oliveira
Direção
Artística e Coreografias: Fernanda Chamma
Direção
Musical: Maestro Fabio G. Oliveira
ELENCO:
Mussarela (Arthur Berges), M.C. (Luiza
Porto), Ferrugem (Adriano Tunes), Lola (Isabella
Oya), Caláf (Willian Sancar), Dibruço (Vinícius Loyola), Fedora (Giovanna Zotti), Maya (Anaiza), Peteca (Isabella
Daneluz), Bola (Theo Barreto), Polyvox (Pedro Meireles), Safira (Roberto
Justino), Peixoto (Rodrigo Spinosa), Shoyu (Andreas Trotta), Belinha (Julia
Berlim) e Bartolomeu (Gustavo Ferreira).
Cenários: Marco Lima
Figurinos:
Theodoro Cochrane
“Design” de
Luz: Wagner Freire
“Design” de Som:
Tocko Michelazzo
Visagismo:
Anderson Bueno
Coreografias
de Sapateado: Chris Matallo
Produção
Musical / Bases: André Abujamra
Preparação
Vocal: Julianne Daud
Fonoaudióloga:
Drª. Thays Vaiano
Conteúdo
Projeções: Rodrigo Abreu – Estúdio
Confecção
de Bonecos: Marco Lima
“Design”
Gráfico: Ebert Wheeler
Diretora
de Produção: Julianne Daud
Produção
Geral: Erika Altimeyer
Produção
Executiva: Camila Rodrigues
Diretora
Assistente e Residente: Victória Ariante
Estagiária:
Theodora Prandini
Planejamento
de comunicação e divulgação: Morente Forte
Fotos: Helena Mello
Mídias
Sociais: Savoir Comunicação
SERVIÇO:
Temporada: De 09 de março a 19 de maio de
2024.
Local: Teatro Bravos (Complexo Aché Cultural).
Endereço: Rua
Coropé, nº 88 – Pinheiros, São Paulo.
Capacidade: 611 lugares.
Acessibilidade: O teatro
possui acessibilidade e ar
condicionado. Libras e Áudiodescrição disponíveis em algumas sessões. Entre em
contato com a produção por e-mail para verificar as datas em que o serviço é
prestado: contato@maestroentretenimento.com.br
Dias e Horários: Sábado, às
15h e 17h, e domingos, às 11h e 15h.
VENDAS (“on-line”, com taxa): sympla.com.br
Valores dos Ingressos: Plateia
Premium / Plateia Inferior: R$ 120 (inteira) + R$ 18 (taxa) e R$ 60 (meia-entrada)
+ R$ 9 (taxa). Balcão / Mezanino: R$ 90 (inteira) + R$ 13,50 (taxa) e R$ 45
(meia) + R$ 6,75 (taxa); Balcão / Mezanino (Preço Popular): R$ 40 (preço único
- verificar disponibilidade no “site”
de vendas.
Vendas (física, sem taxa): Bilheteria
do Teatro Bravos, de terça-feira a domingo, das 13h às 19h, ou até o início do
último espetáculo. Informações: (11)
99008-4859.
Duração: 70 minutos.
Classificação Etária: Livre.
Recomendado para maiores de 6 anos. Menores de 12 anos acompanhados de
responsáveis.
Gênero: Musical Infantil.
Para fechar estes modestos comentários críticos, merece ser
dito que “A ideia do musical ‘PET SHOP, O MUSICÃO’ surgiu durante a pandemia (de COVID-19). O longo período que a cantora (JULIANNE DAUD) passou em casa, com seus seis
cachorros, observando como eles interagiam, levou-a a imaginar os ‘diálogos’
animados entre eles. Apaixonada por animais, desde a infância, ela quis
realizar um musical que retratasse esse universo...”. Também não pode
ser omitido o fato de que, segundo o “release”, que me chegou às mãos, via
BETH GALLO (Assessoria de Imprensa),
“O
objetivo do espetáculo é levar tutores de pets e o público em geral a uma
experiência única de divertimento, que visa, ao mesmo tempo, informar, educar e
conscientizar as pessoas sobre questões importantes ligadas ao bem-estar
animal. Ao mesmo tempo, o musical aborda temas e valores das relações humanas,
como amizade, o cuidado com o outro, a força de vontade, a disciplina e a
empatia.”. Agora, a pergunta que não pode calar: E esse objetivo foi atingido? Respondo eu: Para
muito além do que eu já esperava, o que me leva a RECOMENDAR, COM EMPENHO, O
ESPETÁCULO.
Também sou apaixonado por animais, mormente por cachorros. Já
criei alguns e sempre foi utilizado o termo “dono”, fazendo-se
referência à(s) pessoa(s) que cuidam dos pets. De uns tempos para cá, todavia,
essa coisa chata, burra e desagradabilíssima, chamada “politicamente correto(a),
cismou de nos querer impor a troca do termo “dono(a)” pelo vocábulo “TUTOR”,
com o qual muito me antipatizo e me recuso a empregar. Por outro lado, não
posso deixar de admitir, que estamos errados, sim, quando nos consideramos seus
“donos”,
porque, “no frigir dos ovos”, eles é que são os nossos. E que São Francisco
de Assis proteja a todos!!!
FOTOS: HELENA MELLO
GALERIA PARTICULAR:
(Fotos: Gilberto Bartholo
e
Guilherme de Rose.)
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E
SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA
QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!
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