“O ÚLTIMO
ATO”
ou
(NA ARTE, NÃO
HÁ DIFERENÇA
ENTRE O “SAGRADO”
E O “PROFANO”.)
ou
(FECHA-SE UMA
PORTA
E ABREM-SE
OUTRAS.)
ou
(DE VOLTA ÀS
RAÍZES.)
ou
(DO “BREAKDANCE”
E O “HIP-HOP”
AO “ROYAL
BALLET
DE LONDRES”.)
Sou
apenas um modesto crítico de TEATRO, entretanto não é a primeira
vez que, amando a dança, o balé, embora sem entender absolutamente nada do
assunto, tecnicamente falando, ouso escrever um texto – não é
uma crítica, no sentido aplicado às ARTES – sobre um espetáculo daquele
gênero. No caso, é “O ÚLTIMO ATO”, ao
qual assisti no dia 14 de março de 2024, como convidado de LIÈGE MONTEIRO e LUIZ
FERNANDO COUTINHO (Liège Monteiro Assessoria), no Teatro
Casa Grande. O motivo de eu estar publicando esta “matéria” (Também não sou
jornalista.) apenas agora – O TEXTO FOI ESCRITO NO DIA SEGUINTE AO DA SESSÃO A
QUE TIVE O PRAZER DE ASSISTIR. - deve-se
ao fato de ter ficado sem internet, DURANTE 35 DIAS, por total incompetência e
descaso da operadora VIVO (VIVO FIBRA), pelo que peço desculpas a todos os
envolvidos neste projeto.
Meu olhar, de um
privilegiado lugar, numa poltrona da terceira fileira do Teatro, naquela noite
inesquecível, não era o de um crítico, um técnico imparcial, como deve ser a
análise do todos os críticos de ARTE, mas o de um ardoroso
fã do trabalho de THIAGO SOARES,
por todo o seu incalculável talento e sua linda e brilhante trajetória
artística. THIAGO é das poucas
pessoas das quais me orgulho muito, por ter nascido na terra do pau-brasil.
Infelizmente são poucos os brasileiros que me dão motivo de ufanismo, em
qualquer setor de atuação, mas essa minoria merece todo o meu reconhecimento e
admiração. A razão foi expulsa pela emoção, durante aqueles 90
minutos, que me marcaram indelevelmente. Assim como reagi lá, o que estou
escrevendo no início da manhã deste “day after”, também está sendo feito
sob forte emoção. Sai do coração, onde acumulei tudo o que THIAGO e seus cinco companheiros de elenco, LETÍCIA DIAS (solista do Royal Ballet de Londres), TAIRINE BARBOSA, ALYNE MACH, ELENILSON
GRECCHI e HÉLIO CAVALCKANTI, me ofereceram - a mim e a mais de 900
pessoas, que lotavam o Casa Grande.
De
origem humilde, nascido em São Gonçalo, cidade do Rio
de Janeiro, e criado em Vila Isabel, um bairro da zona
norte carioca, THIAGO se voltou para
as ARTES aos 9 anos de idade, quando
passou a frequentar aulas na Escola Nacional de Circo. Depois,
interessou-se pela dança e buscou um caminho acadêmico para aperfeiçoar o que
já sabia de “street dance” (“breakdance” e “hip-hop”). O começo do caminho para o seu estupendo sucesso
internacional, na dança clássica, se deu quando tinha 15 anos, ao iniciar, com
afinco, seus estudos no Centro de Dança Rio, ainda num
subúrbio do Rio de Janeiro (Méier). Bastaram apenas dois anos
para que, aos 17, ele estivesse integrado ao Corpo de Baile do Theatro
Municipal do Rio de Janeiro, onde foi o protagonista em balés como “O
Quebra-Nozes”, “Dom Quixote”, “Floresta Amazônica”, “O
Lago dos Cisnes”, para citar apenas alguns dos mais importantes, de uma
extensa lista. Conquistou, desde muito jovem, vários prêmios, como a medalha de
prata no “Concurso Internacional e Dança de Paris” e a medalha de ouro
no “Concurso
Internacional do Ballet Bolshoi”, após o que foi convidado a estagiar
no
Balé Kirov. Um ano depois, foi convidado a fazer parte do Royal
Ballet de Londres, tendo sido conduzido à posição de solista,
em 2002;
depois, a primeiro solista, em 2004. Galgando a cobiçada escada do
sucesso, em 2006, passou a ser o Primeiro Bailarino do Royal Ballet,
láurea que defendeu por 13 anos.
Após ter
abandonado a consagrada companhia inglesa, em 2019, THIAGO foi convidado a se apresentar,
com o destaque merecido, nos principais Teatros do mundo, como o Teatro
Alla Scalla di Milano, o Teatro Argentino de La Plata, o Teatro
Bolshoi, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o Estonian National Opera,
o Teatro
dell’Opera di Roma e o Munich National Theatre. Em 2008,
salvo engano, aplaudi-o, vigorosamente, no Rio de Janeiro, quando reuniu
estrelas da dança mundial, primeiros bailarinos e solistas internacionais, num
espetáculo criado por ele: “Thiago Soares & Friends”. Nos
últimos anos, tem se dedicado a outros projetos pessoais, todos com aclamado
sucesso, de público e de crítica. Em 2016, por exemplo, dividiu o palco
do Teatro
Oi Casa Grande, nome, na época, daquela casa de espetáculos, com Danilo D’Alma, bailarino e
coreógrafo de renome no universo da dança de rua, no Rio de Janeiro. Era o início,
a meu juízo, do retorno às origens. Começava ali, sob a produção de Miguel
Colker, o início de um profícuo diálogo entre a dança clássica e a
dança de rua contemporânea. E o “namoro” com o popular continuou,
quando, em 2021, foi contratado como coreógrafo da comissão de frente da Escola
de Samba Imperatriz Leopoldinense, do Rio de Janeiro, ocasião
em que conheceu a excepcional bailarina TAIRINE
BARBOSA, que logo convidou para trabalhar consigo. Atualmente, divide seu
tempo com a direção do Ballet de Monterrey, no México,
e as demais ocupações.
É muito difícil - acho que não só para mim - destacar alguma parte de “O ÚLTIMO ATO”. Todas as cenas são apaixonantes, como uma em que THIAGO dança com a tradicional barra, das salas de estudos e ensaios, a qual pode ser considerada uma personagem no palco, uma "partner". Também a cena de uma dança com o sol, assim como outra, um número de tango, jamais serão esquecidas. Não posso omitir um comovente “pas de deux”, dançado, sem música, com LETÍCIA DIAS, “de tirar o fôlego”. O fato de eu ter utilizado o vocábulo “cena(s)” pode ser entendido no parágrafo abaixo. “Cena” remonta a TEATRO, principalmente.
Quem foi
ao Teatro
Casa Grande viu um espetáculo totalmente diferente do que poderia
esperar, já que não se trata apenas de um balé; na verdade, fica-se diante de
uma experiência
teatral, um espetáculo de dança em que a linguagem utilizada, na sua
essência, não é a verbal, mas a cinética, a corporal, coreografada, embora os
bailarinos, todos, tenham algumas falas, no decorrer da apresentação. Como não
são atores, por mais que tenham ensaiado, “escorregam” na “interpretação”,
o que, absolutamente, em nada, embaça o brilho do
trabalho, no todo. Esse “não-domínio” da ARTE
de representar é mais do que compensado pelo talento de todos no palco. Um
detalhe sobre o qual não posso dar nenhum tipo de “spoiler” é que o final
do espetáculo comporta dois desfechos, propostos por THIAGO SOARES, cabendo à plateia optar por um, uma ideia assaz
interessante.
(NA ARTE, NÃO
HÁ DIFERENÇA ENTRE O “SAGRADO” E O “PROFANO”.)
Um dos grandes motivos de importância deste espetáculo, uma das intenções de seu idealizador e grande protagonista, é mostrar que o “sagrado”, representado belo balé clássico, pode coexistir com o “profano”, a arte popular, na figura da dança de rua, que ele tanto praticou, antes de se tornar uma celebridade no mundo da dança clássica, apresentando-se em números de “street dance”, sob o Viaduto Negrão de Lima, em Madureira, outro subúrbio carioca, e outros lugares semelhantes. Vestindo traje de gala, figurinos de época ou roupa do dia a dia, a ARTE é uma só, vista como manifestação daquilo que emociona o artista. Não importa tanto se ele tem uma formação acadêmica ou se seu talento foi forjado pela “escola da vida”. Toda ARTE vem de dentro e tem que ser respeitada.
(FECHA-SE UMA
PORTA E ABREM-SE OUTRAS.)
THIAGO SOARES é um dos mais consagrados bailarinos do mundo, assim reconhecido por seus pares, pelo público e pela crítica especializada. Faço parte do segundo grupo. Com relação ao espetáculo aqui comentado, o próprio artista disse: “É sobre fechar uma porta e abrir outras.”. E o que isso significa? Simplesmente, que um dos maiores bailarinos do mundo, que, durante anos, foi o primeiro, no Royal Ballet de Londres, sendo Doutor Honoris Causa, pelo “King’s College London”, já tendo se apresentado em mais de 30 países, “encerrou” (até a página cinco) sua carreira de bailarino, para se dedicar a coreografar e produzir espetáculos de dança, além de estar envolvido em outras atividades relacionadas a esta manifestação artística, incluindo obras sociais, contribuindo, com seu talento e experiência, para tornar, cada vez mais vivo e pulsante o balé, além de mais popular, que possa atingir públicos que não são “habituées” desse tipo nobre de ARTE.
(DE VOLTA ÀS
RAÍZES.)
THIAGO é um artista que tem consciência de todo o seu esforço para ser acreditado e provar que não há barreiras para os sonhos, quando existem, de sobra, talento e determinação. Como pessoa, valoriza sua identidade artística, ao reconhecer, e jamais negar, suas raízes, sabedor de que tem um incalculável potencial para atrair pessoas mais simples aos Teatros, também com seu invejável carisma e sua perene humildade, e incentivando aqueles jovens que ainda não acreditam que podem concretizar suas “quimeras” e “utopias”.
Aos 42 anos
e com um corpo escultural e muito bem cuidado, do ponto de vista da saúde e da
técnica, o bailarino, neste trabalho, se permite brincar com a ideia da despedida
dos palcos, deixando bem claro que “O
ÚLTIMO ATO” é um adeus a uma turnê, mas não o fim de uma carreira sobre as
tábuas. Apesar de falar da questão do etarismo, assunto tão em moda e que
precisa ser discutido à farta, e até da morte, ele o faz em tom jocoso,
provando que ainda está muito em forma e que o conceito de “prazo de validade”, no
universo da dança, não é nada pertinente. Todos conhecemos grandes bailarinos
internacionais que ultrapassaram, em muito, a atual idade de THIAGO SOARES ainda brilhando nos
palcos. A inglesa Margot Fonteyn, o russo Rodolf Nureyev, a cubana Alicia
Alonso e a nossa Tatiana Leskova, russa, naturalizada
brasileira, comprovam isso. E é assim que a legião de seus admiradores, da
qual, com muito orgulho, faço parte, o quer. Por
muitos anos mais de THIAGO SOARES dançando!!!
FICHA TÉCNICA:
Idealização e
Direção: Thiago Soares
Coreografias:
Thiago Soares
Bailarinos:
Thiago Soares, Letícia Dias, Tairine Barbosa, Aline Mach, Elenilson Grecchi e
Hélio Cavalckanti
Trilha Sonora:
Thiago Soares
Cenografia:
Thiago Soares
Figurinos:
Thiago Soares e Amir Slama
Iluminação:
Maneco Quinderé
Sonoplastia:
Lina Nunes
Relações
Públicas / Convidados: Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho
Fotos: Luciano
Belford
Produção:
Levitar Produções
Por
motivos óbvios, visto que o espetáculo não está mais em cartaz, infelizmente,
não há sentido para a publicação do SERVIÇO. “O ÚLTIMO ATO” é um grande afago nos nossos corações, motivo pelo
qual RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO,
se, e quando, um dia, voltar a ser montado, lamentando, profundamente, não ter
podido revê-lo, por falta de disponibilidade na agenda.
FOTOS:
LUCIANO BELFORD
VAMOS AO
TEATRO!
OCUPEMOS
TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA
E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!
RESISTAMOS
SEMPRE MAIS!
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BRASILEIRO!
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