segunda-feira, 30 de outubro de 2023

 

 “À SOMBRA DO PAI”

ou

(PARADOXALMENTE,

UM HUMOR ESCRACHADO

E REFINADO.

ou

(DA ARTE DE 

FAZER RIR,

DA PARTE DE QUEM

SABE FAZÊ-LO.)

 



            Há quem torça o nariz para a COMÉDIA. Não gosto desse tipo de gente, a qual, antes de qualquer coisa, é digna de pena. Há os que torcem o nariz para este ou aquele ator cômico, pelos mais diferentes motivos, indo desde sua orientação sexual até seu posicionamento político, passando por vários outros “motivos”. Também não me entendo com esses. Sou daqueles que, embora na “reserva”, jogam no time do saudoso Paulo Gustavo, que disse, com muita propriedade que a gente não vive sem a graça, sem humor”. E mais: “O humor salva, transforma, alivia, cura, traz esperança pra vida da gente.”.

       Não querendo, mas sendo obrigado a bater na mesma tecla, no óbvio, fazer rir é extremamente muito mais difícil do que fazer chorar; a COMÉDIA é muito mais desafiadora e exigente, para os atores, do que o drama. Do ponto de vista teórico e prático, a meu juízo – e posso estar errado -, qualquer ator cômico pode se sair bem numa interpretação dramática, entretanto a reciproca, via de regra, não é verdadeira, visto que aqueles que se propõem a fazer COMÉDIA são atores “diferenciados", porque têm que ter um “timing” específico, exigido pelo gênero, bem como ser dotados de uma inteligência acima do que é considerado normal e um forte poder de improvisação, para tirar partido de uma situação não prevista e “faturar” em cima dela, arrancando gargalhadas de uma plateia. É muito desagradável ver quem não tem graça querendo ser engraçado. Ser chistoso, jocoso, não é para quem quer; é para quem pode. Formar-se em ator/atriz qualquer um pode, desde que estude muito e se esforce para tanto, embora possa vir a se tornar um(a) “canastrão/ona”. Para ser um(a) ator/atriz cômico(a), a pessoa precisa ter algo intrínseco, que já nasce com ela, faz parte da sua essência.

         O Brasil é um grande celeiro de artistas cômicos, não só os veteranos, a maioria, infelizmente, já fazendo rir em outras dimensões, como também uma nova geração e os “do meio”, entre os 40 e os 70 anos, dentre os quais destaco PEDRO CARDOSO, que vem merecendo destaque do público e da crítica com o monólogo “À SOMBRA DO PAI”, ocupando o palco do Espaço Tom Jobim, do Hall EcoVilla Ri Happy, localizado dentro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde cumprirá uma temporada, já considerada de sucesso, até o dia 10 de dezembro próximo (VER SERVIÇO.).



         A forma como se deve fazer humor, no Brasil, veio passando por várias transformações e ressignificações, até chegar ao estágio atual, quando, ao se ter em mente produzir algo que faça o outro rir, é preciso que se pense “trocentas mil vezes”, até que fique bem clara e definida a certeza de que o que vai ser dito cabe nos limites do “politicamente correto”. Sim, há limites para o humor; para mim, perlo menos. Esse conceito, embora, algumas vezes, considerado “chato, castrador, repressor”, sem a menor sombra de dúvidas, é importantíssimo de ser seguido, visto que chega a ser uma crueldade explorar os “defeitos, imperfeições, deficiências, desvirtudes, fraquezas e senões” de terceiros.

Sou um inveterado amante do humor e da COMÉDIA e, por conta disso, me tornei um telespectador assíduo do Canal VIVA, que exibe muitos programas antigos na TV, a maioria já fora das grades, há bastante tempo, e fico me perguntando como eu e milhões de outras pessoas podíamos achar graça em piadas que exploram seres humanos, como todos nós: negros, “gays”, deficientes físicos e mentais, profissionais subalternos... Haja “tira manchas” para remover essa mácula de nós, muito embora nem tenhamos tanta culpa por aqueles deslizes, uma vez que não havia, por parte da grande mídia, um trabalho conscientizador de que “não há a menor graça em se rir da ‘desgraça’ alheia”.

     O humor só nos atinge, provocando o nosso riso, quando não estamos inseridos na situação que provocou aquela “graça”. Se, por exemplo, um indivíduo escorrega numa casca de banana e eu acho graça, ele há de me perguntar: “Está rido de quê?!”. E completar, muito “P...” da vida: “Não acho a menor graça!”. Se, logo depois, for eu a vítima da casa de banana, quem escorregou nela, antes de mim, há de rir, enquanto eu “não acho a menor graça nisso”. Eu, que ri do outro, antes. Acho que, de uma forma bem simples, consegui me fazer entender. Mas passemos aos comentários que tenho a fazer sobre a peça em tela.



 

 SINOPSE:

“À SOMBRA DO PAI” é uma COMÉDIA absoluta, que provoca o público, pedindo a ele que se procure em algum dos personagens da história.

Em tom de blague, PEDRO CARDOSO diz que quem não se reconhecer em nenhum dois cinco protagonistas da história que ele representa, no palco, deve voltar no dia seguinte e tentar novamente.

Mas tal hipótese é muito improvável, pois, para quem não se reconhecer em nenhum daqueles, existe ainda a chance de se ver espelhado num sexto personagem.

(Para não dar nenhum “spoiler”, suprimi o final da SINOPSE.)

 

 



         PEDRO CARDOSO estava fazendo falta nos palcos cariocas, visto que, há oito anos, mantém uma residência fixa em Portugal e, há quatro se apresentou por aqui pela última vez, em 2019, quando, juntamente com Graziella Moretto, realizou sete espetáculos em uma ocupação artística que, merecidamente, venceu o “Prêmio do Humor”, idealizado por Fábio Porchat, na categoria “Prêmio Especial”. PEDRO retorna ao Rio de Janeiro, depois de um imenso sucesso em São Paulo, trazendo na mala a COMÉDIA-solo “À SOMBRA DO PAI, espetáculo escrito e dirigido por ele mesmo.

Ainda que distante, geograficamente, do Brasil, o artista mantém viva sua ligação com o país, através de aclamadas crônicas políticas, publicadas em suas redes sociais e, em 2019, transformadas, pela Editora Record no livro “Pedro Cardoso Eu Mesmo: Em busca de um diálogo contra o fascismo brasileiro”. Segundo o ator, “a pandemia foi o principal impedimento para que eu estivesse em cena no Brasil, nos últimos anos, e, por esse motivo, considero que a volta aos palcos, neste momento de reconstrução do país, tem um significado particular”. São suas palavras: “É comédia, a mais desavergonhada comédia, pois, na minha opinião, apenas o humor é linguagem ampla o suficiente para dar conta de descrever o Brasil”. E eu acrescento: O Brasil não é para amadores.

Quando assisti às suas duas mais recentes peças, “O Auto Falante” (com essa grafia mesmo) e “Os Ignorantes”, confesso que me diverti muito e dei boas gargalhadas, mas não esperava que iria quase explodir, de tanto gargalhar com a trama de “À SOMBRA DO PAI”. De uma forma extremamente inteligente e criativa, PEDRO escreveu um texto "fatiado" em seis partes, sendo que todas se entrelaçam; os elementos de uma aparecem em outras, com novos desdobramentos, criando, a cada momento, uma situação de surpresa. E tudo vai se desenrolando como uma “bola de neve” que tem como limite o infinito.

Segundo o “release” que recebi, de HERNANE CARDOSO, produtor e diretor técnico do espetáculo, a peça “é uma provocação ao espírito crítico da plateia, e à nossa capacidade (ou falta dela) de nos colocarmos uns no lugar dos outros”. Como podem perceber, é uma espécie de “empatiômetro”.


(Foto: Gilberto Bartholo.)


O espetáculo, que começa no horário cravado PALMAS PARA PEDRO CARDOSO E SUA EQUIPE!!! com o ator se apresentando ao público e mostrando a proposta do espetáculo. Diz que vai representar cinco tipos bem diferentes de pessoas e que cada espectador deve procurar se reconhecer em alguma delas, ou, até mesmo, em mais de uma. E complementa, convidando a voltar, no dia seguinte, pagando um novo ingresso, naturalmente, aqueles que não o conseguirem. Mas também acrescenta que seria, praticamente, impossível isso acontecer, já que, em caso de uma não identificação com qualquer um dos cinco personagens, ainda haveria uma sexta chance, na qual ele considera impossível alguém não se encaixar.

Pela ordem de apresentação, as cinco personalidades são: um homem de DIREITA, um de ESQUERDA, um POETA, um NINGUÉM e um de CENTRO. Quanto ao sexto, não revelo nada, nem sob a tortura de ter que ouvir uma entrevista do atual (DES)governador do Rio de Janeiro, dizendo como pretende acabar coma milícia na EX-Cidade Maravilhosa. (Momento descontração.)

A meu juízo, o mais hilário de todos é o primeiro – “Seria cômico, se não fosse sério.”. O personagem fala e gesticula como um dos “trogloditas” que faziam parte da “entourage” que sempre acompanhava o nefasto e inominável sujeito que ocupou a cadeira de presidente da República, nos últimos quatro anos, sem ter a menor noção do que o cargo exige e representa, em termos de tudo.

O segundo não difere muito do primeiro, em termos de extremismo, e também provoca muitos risos. No fundo, quando rimos do que dizem os dois personagens, sabemos que não há nada de engraçado neles. Talvez – é melhor pensar assim – a gente ache graça é da da corretíssima forma como um ator os representa.

Nas duas primeiras “fatias”, PEDRO se movimenta livremente no palco, totalmente desengonçado, o que é muito hilário, e não há como não ter saudade do personagem “Agostinho” – entonações, máscaras faciais e gestos lembram muito o personagem -, que ele interpretou, durante quase 14 anos, no “sitcom” “A Grande Família”, transmitido pela TV Globo. Na terceira, porém, o ator permanece sentado no chão, de costas para o público, com um microfone na mão, e vai lendo um texto, sério, projetado, aos poucos, num telão que fica no fundo do palco.

Seguem-se as participações de um Ninguém e de um homem de Centro, durante as quais a história vai se encaminhando para o final, sem falar – nada de “spoiler” – no que virá na sexta, e última, “fatia”.

O espetáculo é muito simples, em termos de elementos de apoio, como cenário, figurino e luz, por exemplo. Basicamente, é um ator e um texto, ambos excelentes. A cenografia, assinada por GRINGO CARDIA, se limita a um telão, ao fundo do palco; uma arara, com algumas peças de roupa (camisetas), num dos cantos do palco; e uma espécie de cavalete, de pintura, onde há placas, com a identificação de cada personagem, que o ator vai retirando, ao final de cada cena (“fatia”). O figurino, idealizado e criado por GIOVANNA MORETTO, contempla uma calça básica, tênis e seis ou sete camisetas, que o ator vai trocando, a cada cena, com inscrições relativas ao tema da peça. RODRIGO BELAY não pensou em nada especial, para a iluminação, até porque não seria mesmo necessário, e bolou uma luz quase perene. A produção do espetáculo é impecável, tudo acontecendo a tempo e hora precisos, graças ao trabalho de HERNANE CARDOSO.

 

 

(Foto: Gilberto Bartholo.)

 

 

 FICHA TÉCNICA:

Idealização: Pedro Cardoso

Texto: Pedro Cardoso

Direção: Pedro Cardoso

 

Atuação: Pedro Cardoso


Cenografia (Imagens): Gringo Cardia

Figurino: Giovanna Moretto

Iluminação: Rodrigo Belay

Operação de Luz: Rafael Maia

Produção: Hernane Cardoso

Operação Audiovisual : Hernane Cardoso

Direção Técnica: Hernane Cardoso

Assistência de Produção: Lucca Valor

Fotos: Produção / Divulgação

 

 

 

 

 

 

 SERVIÇO:

Temporada: De 06 de outubro a 10 de dezembro de 2023 (exceto dias 20, 21 e 22 de outubro).

Local: Espaço Tom Jobim - Hall EcoVilla Ri Happy – (dentro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro).

Endereço: Rua Jardim Botânico, nº 1008 – Jardim Botânico – Rio de Janeiro.

Telefone: (21)2018-0394.

Dias e Horários: 6ªs feiras e sábados, às 20h; domingos, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$100,00 e R$50,00 (meia-entrada).

Vendas presenciais (sem taxa de conveniência) e pela plataforma EVENTIM (com taxa de serviço.).

Lotação: 325 lugares.

Classificação Etária: 12 anos.

Duração: 90 minutos.

Gênero: COMÉDIA.

 

 

 


         Para sintetizar, valho-me de uma parte do “release” da peça, quando diz que PEDRO CARDOSO encena a fábula sobre o uso pervertido do cristianismo, para um projeto de poder”.

Antes de dizer que RECOMENDO MUITO este espetáculo, divulgo uma excelente novidade, oferecida ao público pelo Hall Ecovilla Ri Happy, que inaugura seu horário noturno de atrações para adultos com este excelente solo de PEDRO CARDOSO. Como muitos pais desejam ir ao Teatro, porém não têm com quem deixar seus filhos pequenos, este agradabilíssimo espaço oferece um serviço que me parece pioneiro no Brasil. Os pais, enquanto assistem à peça, podem deixar suas crianças, de 05 a 12 anos, sob a responsabilidade de recreadores, só às sextas-feiras, inicialmente, das19h30min às 21h30min. Além de atividades recreativas, os pequenos podem jantar. O valor cobrado pelo serviço é de R$150,00, por criança. Para grupos de dois ou mais pequenos, o valor é de R$120,00, por cada um.

Estão curiosos para saber com qual dos cinco personagens eu me identifiquei? Ou com o sexto? Respondo que minha identificação total vai mesmo para PEDRO CARDOSO.


 

 

FOTOS: PRODUÇÃO / DIVULGAÇÃO.

 

 

 

 

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sábado, 28 de outubro de 2023

 DIÁRIO DE PILAR

NA AMAZÔNIA”

ou

(O TEATRO PODE SER UMA “ESCOLA”.)

ou

(PRESERVAR É PRECISO; DESMATAR NÃO É PRECISO.)

 


         Para que serve o TEATRO? E, em especial, o TEATRO INFANTIL? Qual a sua função? Que papel ele pode assumir na educação dos pequenos e na formação do caráter de futuros cidadãos? De uma forma geral, ele é visto como mera fonte de lazer, entretanto sabemos que pode ir muito além disso, tanto no segmento direcionado aos adultos como no que é produzido visando a atingir o público mirim. Neste caso, tem grande importância o “combo” divertir e educar. Quando tenho acesso a espetáculos com esse objetivo, fico muito feliz e vibro demais, no caso de a produção ter sido pensada com o maior cuidado, bastante caprichada, como um espetáculo a que assisti no último sábado, no Teatro Clara Nunes (VER SERVIÇO.): “DIÁRIO DE PILAR NA AMAZÔNIA”, idealizado por MIRIAM FREELAND, que encabeça o elenco, de sete atores, com adaptação e direção de SYMONE STROBEL, para a obra original de FLAVIA LINS E SILVA.



         Produzir ARTE para crianças não é tarefa das mais fáceis. Enganam-se os que pensam ao contrário. É por isso que admiro, substancialmente, o trabalho de FLAVIA LINS E SILVA, escritora e roteirista, mais conhecida, talvez, por sua série de livros da coleção “Detetives do Prédio Azul”, adaptados, por ela mesma, para um seriado de TV, de grande sucesso. Mas FLAVIA também criou, em 2001, uma personagem muito interessante, PILAR, uma menina curiosa e aventureira, que adora descobrir os mitos do mundo todo, sempre defendendo a natureza, os animais e as pessoas. Junto com o seu mais-do-que-amigo Breno e seu gato Samba, a garotinha embarca em sua rede mágica, para se aventurar pelo mundo. De lá para cá, PILAR esteve presente em seis livros de aventuras, percorrendo o planeta azul: Grécia, Amazônia, Egito, Machu Picchu, África e, mais recentemente, Índia. Que novo carimbo será colocado no passaporte da menina?



Flávia Lins e Silva.
(Foto: Fonte desconhecida.)





         Em 2018, a base da mesma equipe envolvida no projeto aqui analisado encenou a peça “Diário de Pilar na Grécia”, com grande sucesso de público e crítica, ganhando prêmios, sendo apresentada em Portugal e seguindo em circulação, por grandes teatros do país, até hoje. A comédia infantil conta a história de PILAR, uma menina aventureira e curiosa, que mora com a mãe e o avô, Pedro. Não conheceu seu pai, que, “misteriosamente”, saiu de sua vida antes mesmo de ela nascer. Um dia, seu avô parte para uma viagem, rumo à Grécia, e ela, morrendo de saudade, resolve viajar também. Mas, logo depois, recebe a notícia de que seu avô não voltará mais de lá. Inconformada e decidida, PILAR encontra um presente deixado por ele: uma rede mágica, que pode levá-la a qualquer lugar que desejar. Ao embarcar para a Grécia, vive histórias incríveis, acompanhada de seu amigo Breno e de seu gatinho Samba. Nessa aventura, PILAR vive grandes momentos, ao lado dos personagens da mitologia grega, como o Rei Midas, que transforma tudo em ouro; Helena, apaixonada por Hércules; Hércules, com sua força descomunal; Dionísio, o rei das festas, das uvas e das colheitas; e Zeus, o deus de todos os deuses. O espetáculo tinha tudo para se tornar um sucesso, como aconteceu, tendo sido merecedor de muitos prêmios.




         E PILAR está de volta, em nova aventura, desta vez com muita ação e um ensinamento fundamental, para os pequenos: a preservação da natureza, representada pela defesa da Amazônia. “DIÁRIO DE PILAR NA AMAZÔNIA” é uma “aula magna” de como assumir o papel de um cidadão, em prol da coletividade.




 SINOPSE:

Preocupados com o desmatamento e a destruição da floresta, a menina Pilar (MIRIAM FREELAND), seu amigo Breno (JORGE NEVES) e o gato Samba se transportam para a Amazônia, onde, ao lado da indígena Maiara (LUDIMILA D’ANGELIS), enfrentam um perigoso grupo de madeireiros, que depreda, sem dó, a floresta, traficando madeira rio abaixo. 

Navegando pelos rios Amazonas, Solimões, Negro e Tapajós, os amigos têm encontros surpreendentes com seres encantados da floresta, como a Iara e o Curupira, os quais se tornam fortes aliados na empreitada dos meninos.


 


 


         Em qualquer momento em que este espetáculo fosse encenado, eu já o consideraria “de utilidade pública”, pelo tom de denúncia e a mensagem do dever de preservação dos nossos recursos naturais. Hoje, após quatro anos de um (DES)governo criminoso, durante o qual nada se fez para defender e resguardar nossas riquezas naturais e, muito pelo contrário, tanto incentivo foi dado para que garimpeiros explorassem, da forma mais desorganizada e criminosa possível, a área da Amazônia, quando um nefasto “ministro do Meio Ambiente” tudo facilitava para que “a boiada passasse”, este texto tem muito mais a contribuir para uma conscientização acerca da necessidade urgente de dar um basta a uma exploração lesiva e desastrosa do “pulmão do planeta”, ainda que alguns estudiosos assim não considerem a vasta área de 7 milhões de quilômetros quadrados, distribuídos em territórios de nove nações (Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa), sendo que a maioria das florestas está contida dentro do Brasil.




         O texto da peça é uma adaptação de SYMONE STROBEL, como já o fizera na primeira aventura de PILAR nos palcos. Agrada-me bastante o trabalho, contudo acredito que o prólogo, quando o personagem do Professor (SÁVIO MOLL) entra pela plateia para “fazer uma pesquisa”, interagindo com o público, poderia ser mais breve. Pareceu-me um pouco enfadonho, fugindo ao interesse da maioria dos pequenos. Pelo menos foi assim que aconteceu na sessão em que estive presente.



         SYMONE também responde pela correta direção do espetáculo, salvo o detalhe a que me referi no parágrafo anterior, que não chega, absolutamente, a desabonar o seu trabalho, porém creio que poderia ser repensado. De certo, aquele momento tem tudo a ver com o desenrolar da trama, entretanto penso que uma “dosimetria” deveria ser aplicada a ele, no sentido de encurtá-lo e fazê-lo mais dinâmico.



         Seguindo o mesmo nível de qualidade de “DIÁRIO DE PILAR NA GRÉCIA”, a produção não mediu esforços para entregar um espetáculo exuberante, digno de ser visto, de uma beleza plástica incomensurável, reunindo alguns dos artistas de criação mais importantes e requisitados, no momento, como é o caso de NATÁLIA LANA, que assina uma belíssima cenografia, ressaltando aspectos da riqueza cultural da Amazônia. O cenário é abastoso em tamanho e cores e preenche todo o palco, com múltiplas e coloridas cordas suspensas, em diferentes camadas, que representam a floresta e sua profundidade e diversidade, e por onde surgem e desaparecem os personagens, ao logo da ação. Uma gigante escavadeira, que, ao entrar, ocupa, praticamente, todo o palco, sintetiza o poder e a gana predadora dos madeireiros clandestinos. Há, ainda, outros elementos icônicos da região amazônica, como as coloridas e típicas redes para deitar, que recriam o grande barco-gaiola, além de uma representação figurativa da árvore Sumaúma (ou Samaúma), considerada a grande mãe da floresta.




         Outro grande artista que empresta seu talento a esta montagem é JOSÉ COHEN, com seus bonecos articulados, manipulados pelos atores, dando vida a diferentes animais da floresta. Como bom paraense, COHEN foi muito preciso, na tradução estilizada de seres da Floresta Amazônica, sem dúvida, uma das belas atrações desta montagem.



         LUCIANA BUARQUE e FELIPE LOURENÇO são mais dois artistas que “agregaram tijolinhos nesta construção”. Ela com seus figurinos e ele assinando o desenho de luz. Todos os trajes vestidos pelo elenco estão bem acordes com os personagens. A iluminação, de FELIPE LOURENÇO, é extremamente voltada para o lúdico e o onírico, esplendorosa, em tons e intensidade, de acordo com as exigências de cada cena.



         Os atores se movimentam, harmoniosamente, no palco, obedecendo a um bom trabalho de direção de movimento a cargo de PAULA ÁGUAS, que também apoia SYMONE STROBEL, na assistência de direção, junto com PEDRO SCOVINO. Toda a trama é embalada por uma ajustada trilha sonora e conta com a direção musical e arranjos de MARCO DE VITA. E, para compor o visual dos personagens, por meio de um correto visagismo, o espetáculo conta com os préstimos de SID ANDRADE.



         No que tange ao elenco, todos se comportam com esmero, atuando em perfeito apuro, dentro do que cada personagem tem a mostrar, sem que nada tenha saltado aos meus olhos, em termos de interpretação, a não ser, talvez, a maneira como uma adulta, MIRIAM FREELAND, se coloca na pele de uma menina, com bastante naturalidade, sem apelar para o grotesco da “imbecilização”, como estamos acostumados a ver, muitas vezes, em atores nessa posição.

 



 FICHA TÉCNICA:

Idealização: Miriam Freeland

Texto: Flávia Lins e Silva

Ilustrações: Joana Penna

Adaptação: Symone Strobel

Direção: Symone Strobel

Assistência de Direção: Paula Águas e Pedro Scovino

 

Elenco: Miriam Freeland, Fernando Melvin, Jorge Neves, Ludimila D’Angelis, Márcio Mattos, Sávio Moll e Valéria Alencar

 

Cenário: Natália Lana

Figurino: Luciana Buarque

Iluminação: Felipe Lourenço 

Direção de Movimento: Paula Águas

Direção Musical e Arranjos: Marco de Vita

Bonecos: José Cohen 

Pesquisa de Trilha Incidental: Pedro Scovino

Preparação Vocal: Chiara Santoro

Visagismo: Sid Andrade

Diretor de Palco: Maycon Soares

Contrarregras: Leonardo Pacheco e Alipia Mattos

Estagiária de Produção e Contrarregra: Ianka de Oliveira

Assistente de Produção: Fernanda Janan

Direção de Produção: Tatianna Trinxet e Miriam Freeland

Coprodução: Constelar - Arte, Diversão e Cultura

Realização: Movimento Carioca Produções Artísticas

Fotos: Gal Oliveira

Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany

 

 

 

 


 

 SERVIÇO: 

Temporada: De 30 de setembro a 26 de novembro de 2023.

Local: Teatro Clara Nunes.

Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52 - 3º piso – Gávea – Rio de Janeiro.

Telefone: (21)2274-9696.

Dias e Horários: Sábados e domingos, às 16h.

Valor dos Ingressos: R$90,00 e R$45,00 (meia-entrada); Ingresso Popular (limitado): R$39,00 e R$19,80 (meia-entrada); Combo Família (4 ingressos): R$240,00; Combo Família (3 ingressos): R$200,00; Valor diferenciado para grupos acima de 25 pessoas: R$45,00 cada ingresso.  

Classificação Etária: LIVRE (indicada para a partir de 3 anos).

DURAÇÃO: 60 minutos.

Gênero: Teatro Infantil. 

 


Qualquer um que assista a esta peça sairá do Teatro com a convicção de que o espetáculo pode ser considerado uma “potencial ferramenta para a educação ambiental das novas gerações”. E o que é melhor: por meio de “um encontro afetivo com a riqueza e o mistério da Floresta Amazônica”, abrangendo um público de todas as idades, trazendo canções originais, personagens da cultura e mitologia dos povos originários e um elenco diverso, formado por indígenas, pretos e brancos, de diferentes gerações, para exaltar, de forma poética e lúdica, o povo, a flora e a fauna da Amazônia, como consta no “release” que me chegou às mãos via STELLA STEPHANY, assessoria de imprensa.



Precisamos mostrar às nossa crianças um Brasil que elas ainda não conhecem e que carecem de conhecer, um Brasil “sem maquiagem”, para que aprendam, desde cedo, a respeitar suas origens e tradições. Nesse sentido, todos os aplausos que possamos direcionar a esta belíssima produção ainda seriam poucos. Ouvi dizer, e espero que venha a ser confirmado, que MIRIAM FREELAND e seus colaboradores têm em mente levar ao palco todos os livros de FLÁVIA LINS E SILVA, sobre as aventuras da menina PILAR. Espero que isso seja verdade, uma vez que seria uma excelente iniciativa, a qual, inclusive, deveria ser encampada pelas autoridades ligadas à educação, no sentido de que essas peças pudessem atingir um número maior possível de crianças, espalhadas por todo o país.





Recomendo, de forma entusiasmada, esta produção,

 para toda a família.

 

 

 

 


FOTOS: GAL OLIVEIRA

 

 

 

 

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